quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Review: Ieper Fest 2012 - Parte 2

Segunda parte da Review feita pelo MVP Daniel Simões. Get on it!


DIA 2
Acordámos no 2º dia já com ideia de ir dar uma volta pela cidade e aproveitar a dica que nos haviam dado sobre umas piscinas municipais em que se pagam 2.50€ para lá passar o dia. Ieper fez-me lembrar um pouco Maastricht onde vivi durante 1 ano. Cidade pequena, com uma catedral engraçada e uma main square simpática. Tudo muito verde, tudo muito limpo, pode-se dizer que fiquei com uma impressão muito positiva da cidade. Após uns momentos a relaxar pela piscina e um almoço de super-mercado, lá voltámos para o recinto do festival.

REIGN SUPREME
Outra das bandas que mais curiosidade tinha para ver neste festival. Ouvi várias vezes o American Violence e prestei alguma atenção ao Testing the Limits of the Infinite, queria saber como se portavam ao vivo. Penso que estavam no final da sua tour europeia, e acima de tudo, pareceram-me cansados. Pausas demasiado longas entre as faixas, discursos clichés para os quais já não tenho muita paciência, e até uma atitude um pouco cocky perante o público europeu. Tocaram umas quantas faixas do seu novo EP que, ou já saiu, ou está para sair, não causando grande impacto no público, e tocaram também malhas dos primeiros trabalhos, estas sim já arrancando uns valentes sing alongs e causando alguma agitação no meio do pit. Overall, não fiquei muito bem impressionado, talvez num espaço fechado o impacto seja outro.

YOUR DEMISE
Queria ter visto MxPx All Stars, mas acabei por me sentar numa das escassas sombras do festival a comer umas fatias de melancia que por lá andavam a vender. Ainda no mesmo sítio, acabei por assistir novamente (de longe) a Your Demise. Vi o concerto em Portugal assim que mudaram de vocalista, e tinha ouvido os novos trabalhos. A minha opinião mantém-se. Banda que acabou assim que o antigo vocalista saiu. Não que este seja particularmente mau, mas o próprio som da banda mudou, e na minha opinião, para pior. A melhor parte do concerto foi estar à sombra.

GRAND MAGUS
Das maiores surpresas do festival. Banda sueca de heavy metal (com umas pitadas de doom aqui e ali), completamente deslocada do cartaz do fest, e que deu um espectáculo total no palco interior. Comecei a ver o concerto sentado cá atrás, naquela que era fixe estar a ouvir um heavy à maneira enquanto descansava. Aguentei apenas uma música sentado. A empatia com o público foi imediata. Riffalhões atrás riffalhões, uma bateria que acompanha como se pede, e umas mega clean vocals bem ao estilo de Maiden. Aaaahhh aquele feeling old school do heavy, adoro! Acreditem, e até pelo que já se escreveu do festival pelas internets, esta turma sueca foi provavelmente a surpresa do festival. Underdogs do festival, mestres no que ao heavy respeita, conquistaram o meu respeito e colocaram-se na minha must-download-list.

TRAPPED UNDER ICE
De volta ao hardcore a sério. Depois de um concerto em Portugal em que o público ficou a festejar os Santos (seriously…), queria mesmo voltar a ver esta banda. Ainda a mastigar o Big Kiss Goodnight, queria que este fosse o concerto que me convencesse que esta é uma das melhores bandas de hardcore da actualidade. Job well done. Que fim do mundo. É que nem consigo particularizar as melhores faixas, foi de facto tudo muito bom. Ok, talvez a Reality Unfolds a fechar o concerto tenha sido o momento que mais gostei. Pergunto-me, quão grande poderá esta banda tornar-se?

THE BLACK DHALIA MURDER
Dizia-me o Gonçalo, talvez uma das maiores desilusões para ele. Eu não conheço particularmente bem a banda, mas ao que parece a setlist foi fraca, conseguiram pegar nalgumas das suas piores malhas, e o público não estava totalmente receptivo à banda. E vice-versa. As dicas de hater do vocalista para o público do hardcore foram constantes ao longo de todo o concerto, uns aplaudiam sem saber aquilo que estava a ser dito, outros mostravam o dedo do meio para o palco. Esteve um ambiente estranho e facilmente diria que foi dos concertos que menos me motivou no palco cá de fora.

EYEHATEGOD
Mais para malta do sludge, ainda sim acompanhei o Gonçalo até à tenda para ver este concerto. Ele mais lá para a frente, eu a dar um olhinho cá de trás. Depois de umas complicações com a equipa do som, o concerto lá entrou em bom ritmo. Durante cerca de 45 minutos mantiveram a tenda consideravelmente cheia, e deram um belíssimo concerto. Tive alguma pena de não conhecer os trabalhos da banda.

IGNITE
Já não tenho paciência, vim ver o concerto cá para trás. Tocaram umas malhas antigas, outras mais recentes, a cover da Sunday Bloody Sunday, nada de novo. Desde que há uns anos me apanhei num concerto destes gajos a ouvir um mini set de música acústica que me desinteressei pela banda. O público pareceu ter curtido e claramente ouve movimento lá para a frente. Bom para os fãs.

PIG DESTROYER
Claramente não sabia no que me estava a meter. O Gonçalo alertou-me para a brutidade que aí vinha, mas não fiz caso. Provavelmente a música mais extrema que vi ao vivo. Tudo demasiado rápido, tudo demasiado bruto. A malta estava a curtir, mas grind não é mesmo para mim.

SICK OF IT ALL
Demasiada bagagem. Nunca vi um mau concerto destes senhores do hardcore nova iorquino. Sempre enérgicos, sempre bem-dispostos e sempre com as palavras certas para puxar pelo público. A setlist pareceu-me bastante sólida, respondendo quer à fome da malta jovem, quer à saudade da malta old school. Os clássicos tiveram lá todos, Scratch the Surface, Buil to Last, Step Down, etc, etc. Pontos negativos, só mesmo o som da guitarra do Pete que mal se ouviu durante quase todo o concerto. Obviamente o concerto terminou com invasão de palco, o que fica sempre bem num final de noite de festival. Fim do 2º dia, o cansaço começava a acumular-se.

DIA 3
A estratégia foi a mesma. Acordar cedo, ir à cidade tomar o pequeno-almoço e seguir para as piscinas. Volta feita, era hora de regressar ao recinto e gastar todas as energias no último dia de festival. Apesar dos concertos começarem sempre por volta das 11 da manhã, para mim o início estava marcado para as 14 com Cruel Hand.

CRUEL HAND
Sim, já sei o que toda gente acha e que estes gajos não são assim tao bons e bla bla bla. Right right, a verdade é que com estes gajos sentimos que são miúdos como nós, os concertos têm feeling, e digam o que disserem, o som mete-me sempre a mexer, demasiado até. Era cedo mas isso não impediu que um bom número de pessoas ali estivesse para ver a banda. Muito movimento, vários sing alongs, poeira no ar, o que se queria. O concerto em si não foi do melhor que já vi deles, mas foi bom o suficiente. Horas depois, tive ainda oportunidade ficar um pouco à conversa com os dois guitarristas que havia conhecido durante a tour de Cold Blooded (big up!). Foi porreiro ver que se lembravam das matraquilhadas que jogaram com os tugas e de alguns dos bons momentos que se passaram em tour. Pessoal 5 estrelas.

7 SECONDS
Tinha-os visto à relativamente pouco tempo em Portugal. Apesar de muitas das minhas bandas preferidas serem straight edge, esta é de facto uma banda que nunca me disse nada. A impressão com que fiquei das duas malhas que vi, foi a mesma com que fiquei em Portugal. Quem cresceu com a banda vai sempre gostar, mas no que a live performance toca, acho que estão prontíssimos para a reforma. Há bandas com formações antigas e que têm energia e passam aquele feeling para o pessoal (creio que foi o caso de Youth of Today há uns tempos em Lisboa). Não é o caso de 7 Seconds. Com pena minha, e a propósito, vi muito pouca gente de X na mão. Esperava ter visto muito mais público straight edge do que aquele que vi.

DEEZ NUTS
Apanhei a mesma sombra do dia anterior e obviamente não iria sair dali para ver esta banda. Podia estar em pé, e então vi-os de longe. Perdoem-me os fãs, mas nos dois painéis que colocaram em palco com patrocínio da Monster (única banda do festival a fazer algo deste género), se lá estivesse o logo do Azeite Galo teria sido muito mais apropriado. Grupo de azeiteiros a desfilar num palco. Cada um gosta do que gosta, e tem todo o direito a fazê-lo, só não pode é chamar Hardcore àquilo que não o é. Deez Nuts pode ser muita coisa, mas Hardcore, na maneira como eu o vejo, não é. Posto isto, o concerto foi uma festa. Os putos todos malucos a representarem os seus melhores moves, sing alongs com fartura, até parecia bom e tudo! Enfim, gosto de pensar que nem tudo está perdido neste mundo e que ainda há esperança. Mas não ali.

TERROR
Digam lá que quando têm oportunidade de ver de novo a Lowest of the Low ou a Keep Your Mouth Shut ao vivo, não lá vão dar olhinho!? Terror é quase garantia de bom concerto de hardcore, e assim foi. Não gostei particularmente do Keepers of the Faith, e tive pena que várias das faixas do set se tenham baseado neste novo álbum. Ainda assim, deu tempo para malhas mais velhinhas, onde naturalmente o pit ficou caótico. É Terror. O Scott sabe o que faz e diz em palco, e os miúdos seguem-no em qualquer palavra que meta cá para fora. Deu para mexer mais um bocadinho, mas por esta altura sentia de facto que o cansaço do último dia de festival se estava apoderar de mim.

CROWBAR
Tive oportunidade de comentar isto com o Gonçalo, esta banda, para mim que não sou um seguidor, pedia uma poltrona bem lá para trás, umas folhas sequinhas da planta de Jah, e depois, bem depois é headbang ao som daqueles riffs mais lentos e arrastados. Penso que por momentos fechei os olhos e fiquei simplesmente sentado a disfrutar do som. Creio não ter tido um impacto como os Eyehategod, por exemplo, mas quis-me parecer que deram um excelente concerto.

RISE AND FALL
Bom, para mim isto era praticamente o fim do festival. Faltavam ainda cerca de 2 ou3 bandas, mas aquelas que queria realmente ver ou rever terminavam aqui. Já os tendo visto ao vivo, sabia o que esperar de Rise and Fall, no entanto, as expectativas estavam um degrau a cima uma vez que aqui jogavam em casa. E notou-se. O público caseiro não os deixou ficar mal. Do princípio ao fim, este foi um concerto exemplar! O vocalista tem uma presença brutal em palco, e o resto são todos bons músicos, não há nada a apontar. Lembro-me particularmente da Forked Tongues em que ficou tudo maluco! Penso que foi um óptimo final de tour (com Converge) para esta turma belga. Estão, sem dúvida, no top daquilo que se faz na Europa.

CONVERGE
Quem já viu ao vivo, e tal como eu não gosta particularmente da banda, tem que no mínimo concordar que estes gajos têm um estilo ímpar, e que o vocalista é um monstro de palco. O set arrancou de forma improvável com uma faixa bastante longa (Jane Doe se não estou em erro), e foi ganhando ritmo ao longo do show. Ia-me dizendo o Gonçalo que o concerto estava a ser muito bom, e eu não via motivo por onde não concordar. Acima de tudo, é uma banda completa e que sabe marcar a sua posição. É Hardcore? Não. É Metal? Não. É Converge. Tenho pena de não conseguir gostar mais do som desta malta, mas há que reconhecer, em palco, é um luxo vê-los.

BOLT THROWER
Em honra ao meu amigo André, a quem desde já agradeço o convite para participar com este post para o blog, tinha que guardar umas palavras para a banda que fechou o festival. Para um público bem menos numeroso, coube aos Bolt Thrower a difícil tarefa de fechar o festival. Death Metal para fecho de festival? Desejei-lhes sorte. Para minha surpresa, não precisavam de qualquer tipo de sorte. Via-se que era malta já rodada, e muito rapidamente se souberam posicionar de forma a criar uma rápida empatia com o público. Bem, a música, essa a mim não me diz muito. Um paredão de som como me lembro de ouvir o Gonçalo comentar. Death Metal para mim resume-se a At the Gates e pouco mais, ainda assim, há que dar valor a estes gajos. Despretensiosos, tomaram a rédea do público e deram um bom concerto! Estávamos claramente no final do festival, tempo para as últimas loucuras. Pensei já ter visto tudo ou quase tudo em concertos, mas um stage dive de um gajo completamente nu foi algo novo para o repertório. O próprio vocalista não se conteve, e pelo meio do fumo branco, que aliás foi uma constante em palco durante todo o concerto, lá se viram uns sorrisos e umas gargalhadas. Foi nesta toada de festa e boa disposição que terminou o concerto de Bolt Thrower e que terminou o Ieper Hardcore Fest de 2012.

No final das contas, não foram certamente 3 dias de férias para descanso. Acho que nunca tinha visto tantos concertos num tão curto espaço de tempo, e acreditem, a experiência valeu cada momento. Desde a boa música, as boas performances em palco, o ambiente do festival, a enormidade de uma iniciativa DIY, a camaradagem com o meu melhor tropa metaleiro Gonçalo, tudo valeu a pena. Como nota final, gostava de dizer que voltei a Portugal, sabendo que nos encontramos atrasados em muita coisa, mas no que ao feeling de um concerto de hardcore concerne, estamos no topo, e que ao vivo, vivemos a coisa com um feeling que poucos têm. Se tiverem oportunidade, e se o sol estiver do vosso lado, vale bem a pena a visita à Bélgica para este festival. Stay young!

Review gentilmente feita pelo Daniel Simões, aka MVP Limpa Vias. Não se esqueçam de lhe pagar uma birra quando o virem num concerto!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Discos Trocados: Death Or Glory/Victim


Todas as semanas o André e o Tiago trocam um disco e falam um pouco sobre o disco que lhes calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.

Tiago
 Death Or Glory - Your Choice (2002) 

Hardcore rápido para distribuir fruta do principio ao fim, com um "sotaquezinho" alemão para apimentar a coisa? Gotta love zee germans. Esta semana parece que tanto eu como o André fomos buscar bandas que vão roubar a um lugar comum..Agnostic Front. Se é para roubar, rouba-se o que é bom. E quão bom é o Victim In Pain? Agnostic Front tem discos a soarem a cenas tão diferentes, e ainda assim todos eles tão bons!!! Não falo destes últimos que nem ouvi isso como deve ser...perdi alguma coisa? Não creio.

Vão voar martelos na minha direcção, mas nunca vi Agnostic Front ao vivo. Roça o criminoso? Roça. Ainda há de chegar o dia, há clássicos que têm de ser ouvidos ao vivo pelo menos uma vez na vida, nem que seja o velhote do Roger já todo comido a cantá-los.


André
 Victim - Electrocutioner (2006)

Eu pensava que o Tiago curtia de mim. Depois de ele me dar este disco para ouvir? Not so sure. Ao primeiro minuto da Intro já tinha atirado um vaso pela janela fora, acertando em cheio no meio da mesa onde um alegre grupo devorava a comida japonesa servida pelo restaurante no rés-do-chão. "Ups...!" A cena destes manos é descaradamente (a capa... lol) fazer uma banda tipo o meu querido Cause For Alarm, dos Agnostic Front. Os riffs são iguais, a voz é igual, a bateria é igual. É tudo igual. Algumas partes são tão iguais que até tive de ir conferir se não era cover.

AGORA A CENA É, eu ADORO o Cause For Alarm (e o Victim In Pain, e TUDO o que os Agnostic Front fizeram - são a minha Apple do hardcore - fanboy status!) e quando oiço isto dá-me vontade de espetar socos em espelhos enquanto faço granda headbang. Toda a gentxi sabi qui eu não sou muito de ouvir bandas que soem a outras bandas, mas neste caso acho que era capaz de abrir uma excepção. Até porque nos dias que correm, a voz do Roger ao vivo não é assim muito fixe. Bom, vou só abrir a porta que a campainha está a tocar em japonês e acho que o dono do restaurante deve querer uma explicação para o que aconteceu. Que se foda, era Victim.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Review: Ieper Fest 2012 - Parte 1

Férias de verão... Altura de deixar o fato e a gravata de lado e aventurar-me em algo que rompesse com a minha rotina diária. Dois "miúdos", tenda e mochila às costas, convivência internacional, e um dos maiores festivais de Hardcore na Europa - o Ieper Hardcore Fest. 


As coisas não começaram bem. Ainda que o festival tivesse o seu início apenas no dia de 6ª feira, chegámos a Bruxelas 5ª, com ideia de conhecer um pouco a cidade e posteriormente seguir para Ieper. Assim que aterrámos em Bruxelas, damos conta que os senhores da Brussels Airlines haviam perdido a nossa tenda... Escusado será dizer que sem tenda, seria impossível ir para o festival. Foi-nos assegurado que até à noite nos contactariam e entregariam a tenda no hostel em Bruxelas. Não aconteceu. Os nervos e ansiedade aumentavam, o espirito não era o mais positivo, e fomo-nos deitar na 5ª feira sem saber muito bem como seria o nosso dia de 6ª. 7 da manhã de 6ª, toca o meu telemóvel. "Sorry for all the trouble, we have your tent, and it will be delivered right away at your location.". Os sorrisos voltaram, o entusiasmo apoderou-se novamente de nós, olhámos para o relógio, havia tempo para chegar a Ieper e ver o 1º concerto que nos interessava - a turma nacional, For the Glory!

DIA 1 
Chegámos a Ieper e as coisas eram de facto como nos tinham contado. Um descampado enorme, tipicamente utilizado para agricultura, e que, caso chovesse, tornaria o festival num Slide & Splash de lama. Chuva? Nem vê-la. Em 20 anos de festival, muitos disseram que foi o melhor tempo que alguma vez apanharam. Tínhamos a sorte do nosso lado, céu limpo e sol, muito sol. Exactamente ao lado do recinto do festival, encontrava-se o espaço para o acampamento. Montámos o nosso estaminé e seguimos para o recinto. Esperava algo maior, mas ao mesmo tempo algo muito menos organizado. Cartazes de sponsors? Zero. Tinha claramente acabado de entrar na maior iniciativa DIY que já presenciei. Mais tarde, em conversas com o Ricardo de FTG (já habituado a estas lides), percebi que ali tudo era organizado por malta de editoras europeias, amigos e pessoal que se dedica verdadeiramente à cena. No mínimo, impressionante. Tínhamos espaço para comprar bebidas, espaço para ir buscar comida (100% vegan), tenda de merch, tenda de debates, entrevistas e outras iniciativas, um palco exterior, e um palco dentro de uma tenda, que como seria expectável dá aquele ambiente mais cosy aos concertos. Estava impressionado com toda a logística e organização da coisa. Depois da volta de reconhecimento ao recinto, fui apanhar uma imperial para combater o calor que se fazia sentir e segui para o palco interior onde os For the Glory iriam tomar as rédeas do público durante cerca de meia hora.

FOR THE GLORY
A sensação de estar no estrangeiro e vermos amigos e conhecidos portugueses a subir ao palco e a levantar a moral de toda aquela malta desconhecida, é priceless. Já o tinha sentido antes com a tropa algarvia de Broken Distance, Pressure e Critical Point em Roterdão, mas aqui a dimensão era completamente diferente. Sendo uma das bandas que provavelmente já vi mais vezes ao vivo, sabia o que esperar da sua performance, no entanto, estava curioso para saber como o público iria reagir. Acho que ainda não tinha uma noção exacta da quão esta banda cresceu no panorama internacional desde que os vi pela primeira vez na Voz do Operário a abrir para Hatebreed. Belgas, alemães, espanhóis, franceses, todo o público se mexia e ia cantando os refrões das músicas. Desde a Fall in Disgrace, até a malhas mais recentes como a Life is a Carrousel, tudo serviu para deixar a miudagem maluca, com vontade de dançar, fazer circle pits e até navegar em cima de boias em formato de tubarão. Quando a Survival of the Fittest chegou até às colunas, o concerto atingiu o seu auge. For the Glory são sem dúvida das melhores bandas nacionais, e não tenho problemas em dizer que se batem de igual para igual com gigantes europeus. No final do concerto, os miúdos iam ter com os elementos da banda para dar os parabéns, conversar e trocar ideias, comprar t-shirts, enfim, tudo aquilo que acho que um elemento de uma banda deve idealizar para um pós concerto no estrangeiro. Tenham orgulho naquilo que se faz por terras lusas, não ficamos atrás de ninguém.

KYLESA
Mal terminou o ultimo acorde de FTG, começa no palco exterior Kylesa. Foi bom o Gonçalo (verdadeiro amigo e companheiro de concertos que me acompanha nestas lides desde à muitos anos) ter vindo comigo. Eu com um perfil mais hardcore, ele com um perfil mais metaleiro, fomo-nos completando nas escolhas que fazíamos de bandas para ver. Esta era claramente uma das suas must-see! Curioso, acompanhei-o. Acho que foi a primeira vez que vi uma banda tocar com 2 bateristas, mas estranhamente acaba por resultar bastante bem ao vivo. Não sendo fã, nem me podendo pronunciar sobre a setlist, penso que terá sido um concerto bastante bem conseguido.

SKARHEAD
Como amante da cena nova iorquina, não iria desperdiçar uma oportunidade para rever novamente esta banda. O concerto foi dentro da tenda, o que penso que terá ajudado ao ambiente, ainda assim, tirando uns quantos clássicos que meteram o pessoal a cantar, não há muito a dizer sobre este concerto. Uns pregos para contabilizar, alguma falta de energia por parte da banda, e uma postura muito do "tass bem!". Foi um concerto OK, sendo que perto do final me lembro de pensar que os senhores do palco se deveriam estar a guardar para Crown of Thornz (uff, estava quase!!).

KNUCKLEDUST
Não sou fã da banda. Não devo ter ouvido os álbuns mais que uma ou duas vezes, mas sou sincero, tinha uma curiosidade brutal para ver esta banda ao vivo (uma sala para 50 pessoas em Londres teria sido ideal). Não demorou muito a perceber que uma larga comunidade inglesa se havia deslocado até Ieper para o festival. Cá fora, o palco exterior estava super bem composto. Desde o início do concerto que se viu um festival de chapadaria! Muita energia, uns quantos ninjas a desfilar na parada, e uma banda em palco que me parecia motivada e satisfeita com o seu concerto. Não desapontaram!

THE CHARRIOT
Surprise, surprise! Ainda tão cedo no festival, e já era tempo de uma das melhores performances a que iria assistir durante todo o fest. Isto vindo de alguém que pouco conhece da banda. É simplesmente de loucos, a performance de cada um dos elementos dos The Charriot. Consta que já no Musicbox em Lisboa as coisas ganharam proporções históricas. Quando vejo o vocalista pegar numa cadeira, dirigir-se para o meio do pit antes de iniciar uma nova malha, pensei que era maluco. Em 5 segundos subiu para cima da cadeira, gritou algo que seriam as lyrics da faixa, e gerou-se um pile-on gigante. Mais 15 segundos, o vocalista continuava em cima da cadeira, e à sua volta um circle pit gigante. De loucos. Lá atrás a malta de Nova Iorque olhava incrédula de boca aberta... Pois é, o ambiente era de facto diferente daquele que haviam proporcionado 1 hora antes.

CROWN OF THORNZ
Antes deste concerto fui descansar. Trocar uns dedos de conversa e beber umas imperiais com o Congas e o João, sentar na relva a ver o desfile de t-shirts do pessoal, não num mau sentido, curto mesmo ver as t-shirts da malta e ver prints e designs de bandas que ainda não conheço (no final acabou por ganhar um rapaz já mais velho com uma tshirt do David Lynch e do seu Mulholland Drive), enfim, garantir que as pernas estavam em ordem para Crown of Thornz.

O concerto. Bom, era provavelmente a banda que mais queria ver do festival, mas por outro lado temia que as coisas dessem para o torto e as minhas expectativas saíssem defraudadas. Tive em conta as circunstâncias e desci à terra. Não estava num local club em Nova Iorque, estava num palco de festival, com um público dividido entre fãs da banda e bartolos com t-shirt de Crown of Thornz acabada de comprar e uns calções de Deez Nuts. A formação era a mesma que havia tocado em Skarhead, e felizmente, encontravam-se sóbrios (o Ezec fez questão de frisar as 24h sem coca... serious shit...). Tendo tudo isto em conta, acho que foi um bom concerto. Não, não era o concerto de reunion que todos os fãs queriam, mas ainda assim foi bom poder ver alguns clássicos ao vivo. Nos primeiros acordes da Icepick, lembro-me de olhar para o lado e ver o vocalista de Knuckledust possuído a distribuir fruta pelo pessoal. Era o que se queria, mas que faltou. Exigia-se mais do público, exigia-se um pouco mais da banda. Acordem-me quando voltarem a tocar num espaço fechado.

CONGRESS 
Lembram-se do gajo que falei com a t-shirt do David Lynch!? Que chefe, tratava-se do guitarrista de Congress. Não sei o seu nome, passei a chamar-lhe Lynch. É ele quem fala, é ele quem acerta o sound check, é ele quem dá a cara pela banda (pelo menos neste show foi assim), e era na cara dele que estava espelhado o feeling e a mística deste concerto. A minha alma ficou parva. "The H8000 kings" como vi numa ou duas t-shirts, foram de facto reis. A tenda encheu como não haveria de encher para mais nenhum show do festival, e os belgas, especialmente a malta mais velha e não tanto os miúdos, ficaram completamente possuídos para o regresso de Congress após 6 anos de terem terminado a banda. É indiscutível que este foi um dos melhores, se não mesmo o melhor (a par de The Charriot) concerto do festival. Os riffs e solos do Lynch fizeram-me fã. Foi tão bom que tiveram direito a encore, e tocaram mais do que o tempo estipulado (provavelmente dos concertos mais longos do fest), enquanto do outro lado do recinto o Roger e o Stigma tinham mais era que esperar para subir ao palco. Numa palavra, monstruoso.

AGNOSTIC FRONT
O que se pode esperar de Agnostic Front, depois de já os ter visto tantas vezes? Eu não esperava muito, e ainda bem. Saí surpreendido e a perguntar-me há quantos anos não meto um álbum de Agnostic a tocar. Dando um desconto à voz do Roger, o concerto foi um óptimo final de noite. Não tem que enganar quando se abre com a Victim in Pain! Seguiram-se outras malhas da velha guarda, aqui e ali interrompidas por trabalhos mais recentes, que no final compuseram uma setlist muito satisfatória. O público curtia como se não houvesse amanhã, com dives, circle pits e o bom antigo pogo. Eu que estava mais resguardado cá para trás, tive que dar uns passos em frente e aquecer a voz para a Friend or Foe ou a Crucified, não há como evitar. Houve direito ainda a uma Gotta Go com participação do Danny Diablo, e por último uma coverzinha de Ramones que gerou invasão de palco e meteu todo o fest a cantar. Para mim estava feito o 1º dia.

Review feita pelo Daniel Simões, aka MVP Limpa Vias. A segunda parte será publicada brevemente. Não se esqueçam de lhe pagar uma birra quando o virem num concerto!

domingo, 26 de agosto de 2012

Playlist da Semana #8

Todas as semanas, a Playlist da Semana. Porque no partilhar é que está o ganho.


Eric B. & Rakim - Follow The Leader - Whoaaaa! Há por aí fãs de Eric B. & Rakim? Ou melhor é possível gostar de hip hop e não ser fã de Eric B. & Rakim? Já não ouvia isto há algum tempo mas, felizmente, tem feito um bom regresso à minha playlist. Um tracinho acima do primeiro LP, este disco rebenta completamente na escala, for reals. É cada beat que estoira logo a coluna sem dar hipótese.

Poison Idea - Darby Crash Rides Again - É basicamente a primeira demo em vinil. Se me perguntarem, eu sou capaz de responder que prefiro esta demo ao EP, mas também depende dos dias. É mais barulhenta e mais suja (o Cascão da Turma da Mónica ia ficar orgulhoso) que o EP, mas sem perder nem um bocadinho da jarda. A passagem da Bounce The Rubble para a Alright dá-me vontade de correr atrás de pessoas com um machado.

7 Seconds - Skins, Brains and Guts - Dos meus discos de hardcore preferidos, sem dúvida. Se há dias em que tenho saudades da minha colecção de discos (que está em Lisboa) é nestes, em que oiço discos que adoro e não os posso ir pôr a tocar no gira discos. Oh well...! Quanto ao disco, é apenas bom hardcore. Se eu acho que ainda faz sentido eles andarem a tocar? Talvez.

Sannyasin - For Those Who Crucify Us - Provavelmente uma das cinco melhores bandas que Portugal já viu nascer, não? Esta demo é qualquer coisa e os concertos deles eram bem fixes. A cena é que eles em vez de irem atrás do que é que quer que se estivesse a fazer naquele momento, fizeram uma cena deles. Isso vale sempre bué. O resultado? Música intemporal. Eu a nostalgia não nos damos assim tão bem quanto isso, mas ouvir esta demo transporta-me para a Kasa Okupada no meus inocentes 18 ou 19 anos. Bons tempos. Ah, as outras bandas são os X-Acto, os 31, os Renewal e os For The Glory, se era isso que iam perguntar.

Dead Kennedys - Fresh Fruit For Rotting Vegetables - Não sei se é novidade que os Dead Kennedys são uma das minhas duas bandas preferidas de hardcore de sempre, mas se não for, fica aí. Há dias em que acordo a achar que este é o melhor disco deles, há outros em que acho que é o Plastic Surgery Disasters. Ultimamente ando mais nesta onda, muito à pala das "guitarradas infernais". Não vou dizer que é uma bíblia para mim, mas se hardcore fosse água, Dead Kennedys era nascente.


Urban Blight - More Reality - Dizer que Urban Blight é a melhor banda hardcore canadiana desde Career Suicide é uma afirmação forte, mas que não está longe da realidade. Não conheço muito a história da banda, e a última cena que ouvi foi a demo, pelo que acho que fiz o percurso ao contrário. O vocalista da demo era outro? Enfim, a produção ficou bem mais crua e suja desde então, e o vocalista (se é o mesmo) deve ter andado a dar forte no tabaco e no bagaço. Que banda do caralho.

Career Suicide - Cherry Beach - A versão da tour pelo Reino Unido que tem duas faixas mais uma cover. No outro dia pus-me a ouvir isto com mais atenção (isto já saiu há uns três, quatro anos atrás?) e na busca das letras fui dar ao significado da "cherry beach". Parece que é o nome da praia isolada para onde a bófia de Toronto levava a malta para lhes encher a mala...oh, lá se vai a audição inocente a caminho da praia a pensar que eles apanharam o ferry para tomar uns banhos de sol. Não conheces esta banda? A dica no disco em cima já dá umas pistas, mas é um granda abuso. Só tenho um disco destes zés, tenho de tratar dessa grave falha na minha colecção.

The Rival Mob - Mob Justice Tape - Quando é que sai o raio do LP? Super excitado para essa merda na Revelation. Não por ser na Revelation, é mesmo porque esta promo tape tem lugar garantido nos melhores lançamentos do ano, e não serve de mais do que um cheirinho do que a longa duração nos vai trazer...

World War 4 - Demo 2012 - A sério, se ainda não ouviram isto façam o favor de ouvir. E se nao leram a review que o André fez estão igualmente convidados.

Madlib - The Beat Konducta Vol 3-4: Beat Konducta in India - Os meus amigos sabem o quanto gosto de um bom caril. E se não sabem, também deviam saber o quanto Madlib é bom produtor (e bom é dizer pouco). Este disco de instrumentais é tão bom, com samples de filmes de Bollywood e aquelas melodias que te transportam para o meio das ruas e mercados indianos, e não me refiro ao Centro Comercial do Martim Moniz.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Discos Trocados: Congress/E.T.A

Todas as semanas o André e o Tiago trocam um disco e falam um pouco sobre o disco que lhes calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.


Tiago
Congress - Euridium (1994)

Eish, Congress é uma daquelas bandas que tinha ouvido falar milhões de vezes mas que nunca tive curiosidade de ir ouvir. A simples referência a "metalcore dos anos 90" tem esse efeito em mim. Sei que há aí um pessoal todo maluco da H8000 e da cena belga dessa altura, mas nunca me puxou minimamente, ainda que (até à audição deste disco) tivesse ouvido Liar e pouco mais. Já sei que muitos dos que vão ler isto vão dizer que sou parvo ou que não percebo nada disto ao dizer que não é a minha cena, mas sou um gajo esquisito.

Mas hey, olhem que isto não é mau. Quer dizer, não vai ficar aqui a rodar nos mp3 habituais nem me aguça o apetite em ouvir o resto do catálogo, mas tem partes a esgalhar que estão...bem esgalhadas! O facto de não ir muito à bola com metalcore como género ajuda, se calhar porque não vivi na altura em que isso "estava a dar", mas prefiro umas coisas mais rápidas. Por acaso ao ouvir o disco só imagino o Leo, o Nuno Mota e essa malta que curte esta onda a espalhar o terror no pit ao som disto. E só de imaginar já tremo, ahah.

André
E.T.A - No Faith (2001)

Epá, onde é que eu começo? Acho que nunca tinha ouvido esta banda, muito por fazer parte do pacote obrigatório de bandas PCs de há uma década atrás. Bandas dessas - que tem como característica comum terem riffs um bocado simples e apenas uma velocidade de bateria - nunca foram muito a minha cena. Tipo, o som não é mau de todo e até se ouve bem (uma ou duas vezes na vida) mas é a tal cena... muito básico, muito "siga fazer uma banda que seja tipo DYS e Negative FX?", "Ya, ya, bora!! Lindo!!" e depois pegam no papel químico e siga para bingo. Havia mais bandas assim, principalmente na Europa. Mas ya, I digress. Não é a minha cena, já os Sectarian Violence que ouvi esta semana pela primeira vez... oupa oupa! Tipo apalpar as mamas à namorada de um moteiro na concentração de Faro e ficar à espera de levar nos cornos. Sabes (e gostas).

Ps: A última música do disco é uma cover de Circle Jerks tão manhosa que tive de ir ouvir a versão original para limpar os ouvidos.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Review: World War 4 - Demo 2012 (2012)


Quem conhece aqui o Andrécas, sabe que basta vir o nome do Mark Porter à baila para a minha atenção ser arrebatada por completo. Anger Management era ok, confesso que só os tenho no iTunes por ser ele a cantar, LOL! Mas na boa. Ontem no Facebook alguém mencionou esta banda e os membros. Os outros também são fixes (o DFJ, um mano que não sei onde toca e outro gajo de Floorpunch) mas foi mesmo o Marquito que me fez fazer o download.

Então mas é que é que isto soa? Exactamente àquilo que eu estava à espera que soasse... acreditem ou não. A sério, vindo dele só podia soar a duas coisas: ou Breakdown, ou Outburst - e é a isso mesmo que soa. É uma beca mais rápido que Outburst e tem um bocadinho de menos groove que Breakdown, mas o feeling está lá 100%. Também ouvi um bocadinho de Straight Ahead. Enfim, vocês percebem. Se não perceberem é porque estudar mal a lição que vai de 1985 até 1989.

Dúvido que isto alguma vez venha à Europa (o Mark já tá velho para isso) mas espero casar com uma americana entretanto e vê-los nos Estados Unidos um dia destes. True story. BUST!

À Conversa Com... Emanuel Matos

E quem é que não conhece o Ema? Só pessoal que tem andado a dormir debaixo de um calhau nos últimos anos, de certeza. O Ema, para além de ser um granda buddy e meu vizinho aqui em Londres, é o patrão da editora mais sumarenta que aí anda: a Juicy Records. Acreditem quando digo que o esforço que ele põe na editora merece todo o apoio que lhe possam dar, o miúdo dá o litro! Sempre que estamos juntos conversamos quilómetros sobre isto e aquilo, de forma que achei que seria boa ideia dar a conhecer um pouco do backstage da Juicy, passando por outros detalhes não tão sumarentos, mas igualmente excitantes!


Ema, creio que nos dias que correm poucas pessoas te conheçam como o "Ema de Words of Hate", no entanto acho que há aí uma história interessante por descobrir. Do que me lembro, os Words of Hate não eram bem como as outras bandas da Margem Sul da altura. Fala um pouco sobre a origem e percurso da banda, para os mais curiosos.

Eish, Words of Hate…o que tu foste pegar. Pá a banda começou como qualquer banda de putos, cena de amigos, letras que eu escrevia num caderno ou que todos contribuíamos nos ensaios (3 vocalistas é complicado ahah)…penso que tinha 14 ou 15 anos quando dei o meu primeiro concerto com WOH, nem sabia bem o que estava a fazer lol. A nossa onda inicial era meio hardcore new school, acho eu, mas depois entrou o Gil, que era um gajo mais do metal que fomos desencantar no mIRC, que tocava riffs de Slayer para aquecer os dedos, e começámos a entrar numa onda mais pesadona e metalada…não tenho bem noção mas acho que durámos uns 2 anos, gravámos 2 demos, as duas em take directo, portanto cheias de pregos, demos uns bons 10 ou 15 concertos, uma cover de Terror (“Life & Death”, ainda hoje uma das letras que faz mais sentido para mim), e depois acabámos por deixar a coisa morrer porque o Pissarra decidiu sair da banda e era complicado encontrar bateristas na MS. Ainda hoje alguns dos membros da banda são dos meus melhores amigos, outros é uma festa quando os vejo, por isso foram sem dúvida bons tempos.

Ya, lembro-me de ver um concerto vosso na Casa Amarela e vibrei bué com essa cover de Terror. Creio que essa tenha sido a tua única banda, certo? Qual é que foi o teu percurso entre o fim da banda e o começo da Juicy? Os estudos tiveram alguma influência nisso?

Nah ainda tive mais uma banda, Bulletproof! Tu chegaste a meter-nos a tocar com Justice no último concerto que els deram cá pah! Essa sim já foi uma banda com pés e cabeça musicalmente.
Curiosamente foi o Pissarra, o ex-baterista de WOH que me chamou para um ensaio, portanto foi a minha segunda banda com ele…depois tínhamos os irmãos Matos, o que curiosamente fazia 3 gajos com sobrenome Matos na banda, e o Paulinho da Fruta, segundo vocalista que acabou por sair a meio. Ainda entrou o Kolde, que hoje toca em Steal Your Crown…essa banda foi bué fixe, liricamente consegui deixar muito de mim nesse projecto, e musicalmente a banda estava no ponto.
Bulletproof durou enquanto eu estudava em Setúbal, portanto os meus anos de ensino superior…os estudos afectavam-me na carteira, porque estudar mesmo nunca foi algo que me preenchesse o tempo. Andava sempre sem guita, muitas vezes não pagava os ensaios porque só tinha guito para o comboio até Almada ou Corroios…depois a banda terminou, acalmei, andei a fazer umas brincadeiras com a malta de Never Fail (aka Nail Fail quando eu fazia macacadas em palco), e finalmente foi já em 2010, quando estava a tirar outro curso na Restart, que acabei por fundar a Juicy, justamente para editar o split de Never Fail com Pussy Hole Treatment.

Ahah, sabes que memória para isso já não dá. Mas sim, claro que me lembro. Não acredito é que o propósito da editora tenha sido só lançar esse disco? Desde o início que acho que a Juicy é um projecto interessante e com muito por onde se lhe pegue. De onde é que surgiu a tua inspiração para começar a editora e o conceito por trás da imagem (de marca) que adopta desde o começo? Claramente não foi uma coisa feita às três pancadas.

A fonte da inspiração em si acho que surgiu da coisa mais óbvia para alguém que cresce dentro do punk hardcore: o do it yourself. Queria ver uma editora coerente, com ideias novas, que fizesse coisas dinâmicas, além do editar discos e promover concertos… como achei que não havia disso em Portugal, fiz eu.
Tirei ideias da Deathwish principalmente, que para mim ainda hoje é das coisas mais bem feitas no underground norte-americano, tanto em termos estéticos como na forma como promove os seus discos e como mantém uma certa ética por detrás do que é feito. A cena da imagem para mim sempre foi fulcral, porque já de há muitos anos leio coisas sobre design gráfico e sei como os conceitos de branding afectam a percepção que as pessoas têm da informação que recebem. Quis distanciar-me dos estereótipos gráficos que já existem no hardcore, porque nunca quis que a editora fosse só sobre hardcore, e por isso acabei por dar com o “Juicy” à pala do Notorious BIG, e criar o conceito e o grafismo minimalista todo a partir daí.

A Juicy foi pensada como um projecto de comunidade, de colaborar com pessoas para fazer coisas acontecer. Desde o início que só saíram discos porque as próprias bandas ou outras editoras entraram com guita, só começaram a haver mais vídeos porque o Verduras se empenhou na Juicy TV, só houve distro porque o PZ, e mais tarde o Nets e agora o Gaiola têm ajudado nessa parte. No fundo, depois de as ideias surgirem penso em pessoas ou elas vêm até mim e experimentamos e fazemos acontecer. Acho que essa é uma das grandes lições que tirei do hardcore e que tento aplicar na minha vida e na Juicy.


Como é que foi a aceitação ao início? Um dos problemas que encontro no público português é haver alguma dificuldade em abraçar ideias novas ou diferentes. Isto é algo que noto desde que comecei a sair de Portugal para viajar ou ver concertos, em 2002. O "lá fora" parece estar sempre um bocado à frente e o tuga parece ficar à espera dois ou três anos até se actualizar. Concordas com isto? Ou dirias que a tua experiência com a Juicy foi diferente?

Sim, Portugal está sempre atrasado na cultura… na música uns 2 ou 3 anos, em outras áreas até mais. Mas no hardcore, e até no underground em geral, penso que as pessoas estão mais atentas ao que se passa lá fora, e por isso se calhar absorveram as ideias da Juicy com relativa boa aceitação. Quer dizer, se me falares em vendas, aí não posso dizer que tenhamos o maior sucesso, o único item que está esgotado é o livro do Nuno (andamos a falar numa 2ª edição há meses e meses). Mas no resto das iniciativas tivemos sucesso: a distro, que desde sempre foi suposto ser uma cena curada, com selecção de discos e editoras que eram relevantes, chegou a esgotar discos em 30 minutos depois de eu anunciar online que os tinha; a Juicy TV, emulando o que o mano da hate5six faz nos EUA, tem vídeos com milhares de plays, incluindo bandas portuguesas. Antes da Juicy TV tu não vias vídeos com “pós-produção” de concertos de hardcore, havia pessoal que filmava tudo ou uma música ou outra e metia no YouTube, mas eu notei claramente que depois de começarmos com esse projecto outras pessoas começaram a fazer isso, e outras editoras perceberam que o vídeo era um meio de promoção muito importante - especialmente na era das redes sociais.

O primeiro podcast, que saiu no dia de Natal de 2011, foi a cena mais partilhada que tivemos. Eu acordei no dia seguinte e haviam pessoas que eu não conhecia de lado nenhum a partilhar o link, e tivemos 300 plays ao fim de uma semana ou lá o que foi. Eu pensava que só os meus amigos é que iam ouvir aquilo!
No fundo acho que as pessoas perceberam a cena de na Juicy estarmos a importar ideias e coisas que já se faziam lá fora, dando-lhe o nosso toque pessoal, e sempre tentando manter uma certa qualidade na medida do possível. Acho que ainda temos muita evolução e melhoramentos a fazer, e ainda há muita gente que se calhar fez like na página do facebook mas nem sequer percebeu quais são as ideias por detrás, mas por isso mesmo é que nunca paro de tentar novas ideias e friso sempre que o projecto é aberto à colaboração de qualquer pessoa.

Não vou mentir, esses motivos foram exactamente os que me despertaram interesse na Juicy - para além de aparentar ser uma editora com pés e cabeça. Quando se opta pela rota DIY, a estrada acaba por sem sempre mais longa, mas também o é a satisfação no fim. De todos os lançamentos até agora, qual foi aquele em que te deu mais gozo concretizar e porquê?

Hmm, essa é uma pergunta difícil. É como perguntares ao pai qual é o filho favorito, cada um foi especial e deu-me gozo por motivos diferentes. Deixa lá ver, o primeiro é sempre o primeiro. O split de Never Fail e PxHxT foi eu a descobrir como se fazia tudo, acabei por fazer o design do artwork excepto a ilustração da capa (que foi desenhada por um senhor turco, professor de animação e mega fã de basketball), e tive uma aventura engraçada com o PZ para conseguirmos ir buscar as capas. Depois em termos de qualidade nos detalhes e acabamento, as tapes surpreenderam-me bué, e a colaboração com o Gaiola (Best.Of.Me Records) foi super fixe. O disco dos Resposta Simples foi o que me deu mais prazer em termos de colaboração com a banda, eles foram super empenhados, arranjaram os fundos quase todos para a press sozinhos e organizaram concerto de apresentação e tudo mais - tomara todas as bandas serem assim!

Mas ok, acho que sendo bem honesto o que mais me orgulho é do livro do Nuno. Não só porque foi um parto difícil (mais de 1 ano desde que lhe fiz o "pitch" da ideia num concerto em Lisboa, fora meses e meses de revisões e de paginação), onde tive que aprender como fazer um livro e como o publicar, mas principalmente pelo resultado final. Nem foi a cena de esgotar ou não. Foi mesmo os bons momentos que se proporcionara...ter ido de propósito a Portugal fazer a apresentação, no dia dos meus anos, com o Nuno a dormir em minha casa, a conhecer a minha mãe e a apanhar bezanas com os meus amigos e pessoal a vir de Penafiel de propósito, fora o resto da malta amiga que apareceu... foi especial. Foi daquelas cenas que criam laços importantes entre as pessoas. Nesse aspecto essa edição ficou marcada por um carinho especial.
E nem falemos depois da apresentação no Norte, onde ele teve umas 100 pessoas e uma cena super bem organizada, e depois nem tinha livros para vender, ahah!


E essa segunda edição vai acontecer? Como é que foi a transição do HQ da Juicy da Torre da Marinha para Londres? Achas que isso afectou um bocado o futuro da editora ou, por outro lado, abriu novas portas? Tinhas a editora há quanto quando te decidiste mudar?

A segunda edição tem que acontecer porque houve montes de gente que ficou sem livro, familiares do Nuno inclusive, e um gajo não vai fazer um repress só por fazer, quando for para sair a segunda press é feita é com capa diferente e revisões de texto e tudo mais. Por isso é que está a levar um ano novamente.
Quanto à transição, pah foi complicado… eu comecei a Juicy em Março de 2010, em Novembro mudei-me para cá, e acabei por lançar dois discos no período do Natal desse ano, o que ainda foi mais caótico. Ainda fui lá em Dezembro para acertar coisas só da Juicy mas a mudança acabou por afectar bastante, porque passou a ser tudo à distância: mais emails, comunicação mais demorada, detalhes que escaparam porque nem cheguei a ver certos discos antes de eles serem lançados. Tudo a um ritmo dez vezes mais lento. Por isso é que em 2011 só saíram duas cenas, e este ano se saírem duas vai ser porque os emails finalmente foram respondidos! 

Abrir portas nem por isso, tentei fazer alguns contactos e fui bem recebido por algumas pessoas (o Tom e pessoal da Rucktion foi super boa onda), mas outras cagaram mesmo e nem se deram ao trabalho de responder a meia dúzia de perguntas. Acho que a onda aqui é mais do cada um faz o seu projecto muito isolado e só se estiveres na mesma “cena” é que comunicas com os teus “pares”. O que é estúpido, porque para alguém que vem de fora, ou que está a começar a ir a concertos, não dá para comunicares com os mais “experientes” com tanta facilidade, e depois o que acontece é os putos irem para Internet em vez de haver aquela humildade de aprender com quem já faz há mais tempo. Falta o senso de comunidade, fora algum pessoal mais da velha guarda de cá que já se conhecem aos anos. Definitivamente a cena hardcore em Portugal está bem melhor nesse aspecto, talvez por sermos um país pequeno. No fundo o HQ ainda continua dividido, a distro e todos os nossos discos continuam a ser enviados de Portugal, por isso até certo ponto posso sempre gozar e dizer que agora somos uma multi-nacional, ahah. Mas a longo prazo quero a Juicy mais activa no UK, daí que desde há uns meses para cá a comunicação via site e redes sociais é maioritariamente em inglês. Não é esconder as raízes tugas da editora das quais me orgulho bastante, é mesmo porque um gajo vai ao Vimeo ver as estatísticas dos vídeos e 50% dos plays são americanos e de outras zonas do mundo, por isso tem que se direccionar a comunicação para toda a gente que possa vir a querer acompanhar o que fazemos.

Quais são então os planos para o futuro da Juicy? Já deu para perceber (com as colaborações, o podcast, etc) que tens interesse em explorar várias áreas que não o habitual "disco em formato X ou Y". Falando do podcast, por favor elucida-me em relação à proveniência dessa tua magnífica voz de locutor - decerto que não sou o único que está curioso! 

Os planos é continuar a fazer mais e melhor. Discos novos em vinil vai ser complicado até ao final do ano porque financeiramente não tenho meios para mandar nada cá para fora já, mas em 2013 quero tentar lançar pelo menos um LP, de uma banda em que acredite mesmo, tipo Step Back que estão a gravar, e a segunda edição do livro também vai ter que sair. A ideia é também manter as cenas mais dinâmicas e online que temos e experimentar coisas novas. O podcast e agora as mixtapes que estão a começar são 2 coisas para manter, assim com a newsletter que vai passar cada vez mais ao formato mini-zine, só versão online, e vai ser cada vez mais internacional. Aliás, em termos de internacionalidade quero ver se pelo menos consigo fazer mais coisas aqui no UK, contactos com bandas e vídeos de concertos, e em Portugal meter mais discos na distro quando tiver guito (se alguém quiser movimentar a cena comigo que avise; o PZ em tempos entrou na cena 50/50 e penso que não ficou a perder guito, hehe).

Podcast e voz de locutor, pah não sei só tu é que me vieste com essa, ahah! Pah sinceramente o podcast dá um trabalhão porque eu não gravo tudo de uma vez e faço inúmeros takes até a coisa ficar como eu quero, é o mal de ser perfeccionista. Acaba por parecer uma coisa bué smooth mas é porque regravo até ficar assim, e faço a mistura de tudo, meto música que ando a ouvir na altura como background quando estou a falar, tudo em várias pistas - à pala disso é que temos o 3º episódio para sair há meses, o Joel escolheu músicas e escreveu sobre elas e tudo bonito, e depois eu ando sem tempo para montar o aparato da gravação e passar umas boas horas a falar para o micro (sem muito barulho da rua, portanto convém ser à noite). Ou seja as coisas dão trabalho, basicamente, mas também dão um gosto enorme claro, senão nem ao meu ritmo as fazia.

Boa sorte com isso e venham daí mais ideias frescas e sumarentas. Para terminar, queria só saber se concordas comigo quando digo que a Da Mystery Of Chessboxin' é a melhor malha do 36 Chambers?

Essa pergunta é complicada. A parte do Ghost nessa música é a minha favorita do disco, a agressividade com que ele entra na música faz esquecer os versos dos outros todos, mas acho que a minha favorita como música/letra será sempre a C.R.E.A.M. O que concordo de certeza é que o 36 Chambers é o melhor disco de hip-hop de sempre, em empate técnico com o Illmatic e o Ready to Die.

Valeu Ema! Para os interessados, fica aqui o link para o site da Juicy: http://juicyrecs.com. Apoiem produto nacional porque "o que é Nacional é bom!"

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Review: Resurrection Fest 2012


Mais um ano, mais uma peregrinação à Galiza. Destino: Resurrection Fest. Desde 2007 (?) para cá que este festival organizado na pequena cidade de Viveiro se tornou ponto de romaria da comunidade portuguesa do punk/hardcore durante a época de Verão. Digo 2007 porque se a memória não me falha foi o ano em que começou a “bater” na atenção do pessoal português, ainda que a primeira edição tenha sido em 2005 e… bom, digamos que não teve NADA a ver com aquilo que se passa hoje em dia. Tinha dito para mim mesmo “este ano não vou, não há nada que me puxe” e mais bla bla bla, mas assim que anunciaram a presença dos Descendents, foi o que bastou para mudar completamente de ideias. Afinal de contas não é todos os dias que se tem a oportunidade de ver uma das bandas mais antigas e influentes da história do punk/hardcore, certo?

Estava para ir sozinho, independentemente das dificuldades previsíveis, mas à última da hora consegui arranjar 2 pessoas que estavam enrascadas de boleia e lá fomos. Viagem tranquila durante a noite, ainda que tenhamos andado meio perdidos às voltas em Ourense às 5h da madrugada; por sorte conseguimos apanhar um velhote que estava a fazer o seu jogging matinal e nos indicou o caminho certo. Fucking roadsigns, how do they work? Após o percalço, rolámos tranquilamente sem mais demoras até ao destino e chegámos a Viveiro eram 8h e pouco da manhã. O pensamento inicial foi logo montar as tendas para dormir um pouco e compensar a noite inteira em claro, mas mesmo chegando bem cedo penámos para encontrar um espaço paras as nossas tendas, dado o “camping” estar, aparentemente, quase lotado. A custo lá conseguimos um espacinho à sombra – ou assim pensávamos – e após montarmos as tendas, recolhemos para uma merecida pausa. Um par de horas volvidas acordo com uma ligeira sensação de estufa dentro da tenda, deito a cabeça de fora e reparo que a pseudo-sombra providenciada por um ramo de árvore relativamente grande por cima da minha tenda não passava disso. Estava exposto aos elementos, mas mudar de poiso não era opção dada a lotação quase esgotada do espaço e também como não estava propriamente a contar ficar na tenda à hora do cancro, optei pelo prejuízo.

Falando do festival propriamente dito, de salientar pela negativa o preço do bilhete, que tem aumentado quase exponencialmente com o passar dos anos; depois – em 2007 foi grátis, salvo erro; o "novo" recinto – no mesmo local do ano passado, mas com uma disposição diferente – longe até dizer chega do camping, embora este ano tenha havido transporte bem organizado com venda prévia de bilhetes (1€ por viagem, ganda lucro!). Chulice, poderão dizer uns; menos uma cerveja por dia para poupar 40-45min a andar para cada lado, digo eu. All in all, creio que compensava bastante, especialmente saindo do recinto às tantas e depois de passar uma tarde/noite aos pinotes e/ou nos copos.

Quanto ao recinto, tínhamos o palco Monster gigante, a tenda secundária da Jagermeister ao fundo em posição transversal (more on that later), agora ladeada da novidade deste ano – o palco Arnette, vulgo palco “dos tristes”. Digo palco dos tristes porque, não obstante seja de valor quererem dar uma oportunidade de destaque às bandas locais da Galiza num festival desta dimensão, a maneira como fizeram a coisa foi simplesmente uma tristeza. Um belo exemplo da competência de organização neste caso foi estar a meio da tarde a tentar ver Converge com o pior som de sempre, a par e passo duma banda de merda a tocar ao lado e ouvir sons de sacrifícios de cabras a satanás e sucedâneos afins em sobreposição, com um som AINDA pior. O guitarrista com as suas formas redondas e cabelo comprido aparentava mais ser uma gaja que outra coisa; e ainda debatemos o facto durante alguns minutos, o que deu para umas boas risadas e tentar pôr de lado o facto do concerto dos americanos estar a ser simplesmente sofrível de assistir. Fecharam o concerto com a Concubine e o som tava com uma qualidade tal que nos riffs iniciais eu pensava que fosse a Saddest Day. Top notch!

Mas a maior novidade deste ano foi sem dúvida o facto de cobrarem 20% de comissão às bandas sobre a venda do merch. Como os custos intermédios são sempre reflectidos sobre o consumidor final, o preço mínimo duma tee era 15€ (as de Agnostic eram 18-20€!). Escusado será dizer que não comprei absolutamente nada, salvo dois recuerdos para pessoas que me tinham pedido expressamente. Questionei o Emanuel sobre o assunto e, segundo ele, a organização queixou-se que as vendas das entradas não chegam para pagar as despesas. Com uma audiência recorde este ano de 30.000 pessoas e entradas a 55€, I call bullshit! Pilar do festival – o pó! Escolheram tão bem o local – sem qualquer mancha de relva que fosse – que nas bandas que puxavam mais pelo pessoal, ao mínimo sururu levantava-se uma nuvem de pó sem precedentes. Claro que em minutos encostava tudo à box a morrer entupido porque nem as bandanas salvavam. Escusado será dizer que nestas condições também não dava jeito para voar por não haver massa humana para amparar o peso dum gajo a cair do céu. Ainda deu para fazer o gosto ao dedo, mas à 2ª tentativa cai-se num buraco, dá-se um toque mínimo com o pé depois fica tudo a olhar "ai estúpido, aleijaste-me!". Já ia precavido para esta situação depois da amostra do ano passado, mas mesmo com uma máscara industrial grande, confesso que não passei muito bem durante os concertos de maior agitação. Nota mental: não esquecer os óculos de soldar para o ano. 

Relativamente às bandas, o cartaz era muito diverso, mas como mais de metade também não interessava nem ao menino Jesus, apenas retive lembrança daquelas que queria mesmo ver e/ou que prestei atenção “só naquela”:

Reel Big Fish – Nunca tinha ouvido na vida. Disseram-me que "é na onda de Catch 22, assim punk ska com trompetes" e lá decidi dar o benefício da dúvida. Bazei ao fim de 15min. Cópia downtempo de Less Than Jake, aborrecido que feria os ouvidos, nem para dançar feito tontinho presta.

Set Your Goals – Mais uma fornada de punk-pop da MTV para putos, agora com com o Justin Bieber na 2ª voz. O concerto foi giro mas não passou disso.

Good Riddance - Estive no concerto do Garage em 2003 e curti imenso, mesmo sem conhecer qualquer música. Nove anos depois, arrependo-me profundamente de nunca ter prestado a devida atenção à banda, o porquê nem consigo explicar. Bons músicos, presença em palco irrepreensível, tiveram a sorte do som estar bom e mesmo a tocar ao final da tarde tiveram uma aderência do público ao nível dos headliners. Tudo ao pontapé e a cantar, é sempre bom de ver. Ponto alto da actuação foi a dedicatória que fizeram em memória do Tony Sly.

Anti-Flag - Só conhecia de nome, nunca sequer ouvi uma música. Não é banda que vá meter a tocar no carro ou na aparelhagem, mas o concerto foi muito bom. Sempre a interagirem com o público apesar da bazezice inerente ao mesmo, musicas engraçadas com alguma influência política nas letras apesar da onda sonora demasiado batida (punk-pop, estilo MTV, refrões catchy… vocês sabem). Na última música meteram a bateria no meio do pasto e tocaram uma música a abrir com um circle pit à volta da mesma. Deve ter sido giro para quem andou a comer pó, eu só vi a nuvem de longe. Ainda assim gostei de ver a prestação deles.

Suicidal Tendencies – O concerto! Melhor actuação do festival sem qualquer sombra de dúvida. Os homens tocam que se desunham e o baterista é qualquer coisa de surreal. A Institutionalized foi qualquer coisa de assombroso e a Cyco Vision foi a banda sonora da porrada gratuita, com ou sem pó. Fim do concerto com mil pessoas em cima do palco e a banda a tocar. Claro que ao fim de 30 segundos só se ouvia voz e bateria, mas a festa não parou. Épico!

Agnostic Front - Nunca vacilam, mesmo que o Stigma só lá esteja a fazer figura de corpo presente. O Roger é o pai do NYHC e demonstra-o em cada concerto. Para não variar, a conjugação som de merda+pó estragou uma prestação a que um gajo já está habituado a ver. Estava à espera que tocassem a Last Warning para poder ir dar um pezinho de dança e esquecer o pó que me fustigava, mas por outro lado, ali seria provavelmente o mesmo que a tocarem uma cover do Quim Barreiros.

Descendents - A razão que me levou a ir, fiquei um bocado triste só por causa da qualidade do som. Outro baterista que toca que é uma coisa parva, até arrepia! Tocaram praticamente todos os hits, deu para cantarolar e foi fixe ver os velhotes a rockar como se ainda estivessem em 1982. Dá-lhe, Camilo!

H2O - Uma das minhas favoritas de sempre, não desiludem mesmo nas condições que se verificaram. O Toby continua a ser grande frontman, mas estar ali a falar é bater em mortos porque os espanhóis são os maiores otários, labregos incultos atrasados à face da terra. Acho ridículo um vocalista estar a falar para o público e tentar interagir com as pessoas e ficar tudo calado quando ele perde tempo com eles. Tocaram praticamente quase todo o último álbum, quando tocavam antigas ficava tudo a apanhar papéis e a olhar para o boneco. Até a Sunday tocaram... Voltam para o encore, pergunta "querem ouvir músicas antigas ou querem das novas?", tudo a gritar "das novas! das novas!", quando se notava perfeitamente que preferiam tocar as antigas porque sabe que trazem a festa em qualquer lado. Acho que ele ficou tão atordoado que foi mesmo do "pessoal, bora tocar a What Happened para eles ficarem contentes e vamos embora daqui que estes gajos são uma merda" Banda: 4,5; público: -20.

Skarhead - A única coisa que posso dizer deste concerto é ZERO ABSOLUTO! Todos ressacados da noite anterior, o Ezec a dizer nada de jeito e a fazer um ganda frete. 30min de música com um som miserável e “that’s all, folks”. Quem os queria ver deve ter ficado bem desiludido, afinal de contas uma banda que é conhecida por ter 3 vocalistas e só 1 é apresentado em palco deixa bem a desejar. TCOB? Taking Care of Coke...
Tinha curiosidade em ver Hatebreed, apesar de saber de antemão que não os iria apreciar muito na onda estádio – talvez por achar que eles são banda de sala e a tocar só o Satisfaction is the Death of Desire – mas a tocarem às 2h da manhã na véspera da viagem de regresso foi mesmo do “maybe next year, Jamey”.

Para terminar, não posso deixar de referir a barraca das batatas fritas com Salsa Brava à porta do recinto. Nota máxima!

Review escrita por Tiago Inês AKA El Gran Capitán Tofu

domingo, 19 de agosto de 2012

Playlist da Semana #7

Todas as semanas, a Playlist da Semana. Porque no partilhar é que está o ganho.


The Exploited - Troops Of Tomorrow - Fala sério, se és do hardcore (da boa colheita) e este disco não está no teu top de discos preferidos, então nunca iremos ser amigos. É abrasador? Pá, ya, deve ser qualquer cena por aí. Lá uma esgalhada dos demónios é, e não pode haver ninguém que diga o contrário.

Biohazard - Mata Leão - Curto bué deste disco. Claro que não é o meu preferido deles, mas às vezes dá-me para o vir ouvir. Os riffs são uma beca mais baratos que nos outros discos (os anteriores, acho que não conheço nada que tenha saído depois deste) e também mais faceis de mastigar e digerir. Não vou dizer que é pimba, porque ainda é Biohazard, mas é uma beca mais "yo, man"! Eu faço o quê? Boné para trás e tou lá com eles! Fuck the rules, né? Sigaaaa!

Floorpunch - Fast Times At The Jersey Shore - Sim, sim e sim. Olá top das melhores bandas dos anos 90, diz olá aos Floorpunch. Dude, are you out of your mind? Adoro tanto esta banda. Adoro tanto as letras desta banda. Uma coisa é certa: repito sempre a dose!

Righteous Jams - Rage Of Discipline - Tem bué piada, porque eu lá para 2005 ou 2006 já não conseguia ouvir mais este disco (e outros da mesma altura, tirando Mental). No entanto, no ano passado fui buscá-lo ao meu extenso arquivo de milhares de megabytes de música e decidi passá-lo para a minha colecção pessoal e dar-lhe uma segunda chance. Colei logo. E Invasion, alguém curte Invasion? Duro, né?

The Offspring - Ignition - Não foi assim há tanto tempo atrás que eu decidi começar a investigar o que se tinha passado na discografia dos Offspring antes de ter saído o Smash (eu sei, eu sei, mas eu nunca fui um puto do punk rock) e este Ignition entrou logo directamente para o iTunes sem sequer ir a segunda prova de audição (é raro acontecer!). É tipo o Smash, mas se calhar mais inocente. Eu curto bué.


Esta playlist vai ser mesmo das "mini-reviews" a lançamentos bem recentes, graças à dica do João Cordeiro, que me mostrou um daqueles blogs macacos da pirataria.

Such Gold -  Misadventures - Pop punk com toques mais rápidos, na linha de Man Overboard ou Title Fight, mas sem ser tão bom como esses dreads de Kingston. É porreiro, das pouquíssimas bandas desta linha que ouço e aprecio, não são nem demasiado genéricos nem farsolas. Se isto te diz algo faz-te à vida e vai ouvir isso, não dói nada.

Xibalba - Hasta la Muerte - Conheço esta banda à conta do video da "Cold". É daqueles vídeos da malta a dar um house show com barbecue no quintal, no biggie. Peso com fartura, mas isto tem demasiadas faixas, com demasiada duração cada uma. Torna-se chato bem rápido. Até curti o split com Incendiary (que é alta banda, vejam as letras!) que passava rápido, agora neste LP apetece-me dar granda fast forward à cena.

Wolf Whistle - MA Glory - Aqui acho o contrário, faixas curtas e rápidas, num disco que podia ter mais umas quantas. Isto são 11 faixas em 8 minutos, por isso sabes como é que é. É meio powerviolence com hardcore "moderno" misturado, e por moderno entendo o que se faz neste momento nos EUA, não é cá metalcores nem nada. Malta de Have Heart e Blacklisted(?). Bom lançamento da Six Feet Under, que pareceu-me ter passado bem despercebido. Acho que o pre-order saiu na altura dos pre-orders da Triple B que ofuscaram um bocado a cena.

Swamps - Seven Sides - Conhecia o trabalho anterior destes gajos, tinham um single bué forte (Swamp Stomp/Corroding Kings), sendo que as restantes faixas eram um bocado diferentes, e não tão "hardcore". Este disco pega um bocado na linha desse single, e traz mosh parts a dar com um pau. Algumas faixas fraquinhas, mas acho que no geral vale a pena.

VA - The Extermination: A Flatspot Hardcore Compilation - Compilação da Flatspot, sabes? É a editora que lançou as demos de Trapped Under Ice, MINUS e Backtrack em vinil. 5 faixas novas de Suburban Scum, Soul Search, Backtrack, Turnstile e King 9. A compilação já saiu à algum tempo, mas está fixe e têm aqui um bom update se curtem algumas das bandas top actuais dos EUA.

Review: Still Strong + Challenge + 74 @ Caldas da Rainha


Andei a semana toda a pensar como seria fixe juntar uma malta para ir até às Caldas ver Still Strong e Challenge, ainda para mais depois da conversa do Edgar sobre como são os shows nas Caldas me andarem a abrir o apetite. No entanto, motivos familiares já me tinham reservado o dia. Sexta-feira à noite parece que a minha tia se tinha chegado à frente e já não precisava de levar os meus pais a passar o dia ali perto do Cartaxo. Ainda assim, o plano não diferia muito do passar o dia em casa.

Bendita a hora em que estou ali a passear no Facebook e vejo um post do Congas a perguntar se havia interessados em ir dar um salto às Caldas, claro que foi mesmo no brainer, siga! Seis horas da tarde, partimos aí pela estrada nacional, com direito a visita guiada aos locais míticos da cena antiga e respectivas memórias em Loures e arredores, histórias da tour de For The Glory e demais conversa. Se a viagem já se fazia bem, assim o prazer ainda foi maior.

Chegamos ainda antes do Benfica começar, estacionamos o carro nos Silos, damos o olá ao Edgar e vamos ter com o Frodo a um cafézito para ver a bola e trincar qualquer cena. Parece que o Bairro Azul das Caldas não é tão fino e sossegado com o seu homónimo lisboeta, mas sem stress. O avô cigano que estava ao nosso lado a ver o jogo só se ria das reacções do Rodolfo ao jogo. Escusado será dizer que para um sportinguista ver a bola rodeado de benfiquistas tem a sua piada, ainda para mais com a borrada que se veio a desenrolar. Nota vinte para o banquinho público na parte de fora do café, expoente máximo do bom planeamento urbanístico.

Bom, só referir que nunca tinha ido a um concerto nas Caldas. Nunca. Até ir às Caldas foi algo que fiz praí duas vezes, comprar a cavaca e os beijinhos e dar o fora. Chego ao local do concerto, fico na conversa com o Luis de Lousada e alguns dos miúdos que estavam com ele à porta, entro bem rápido para ver o spot e ainda apanho uma faixa de Morde a Rolha. Era meio rock, não sei, sei que o chamamento de estar cá fora à conversa era bem mais forte. Passado um bocado tocou 74, não era mau, punk rock rápido com umas partes meio d-beat, e já alguma miudagem no mosh e a correr em círculos.

Depois de ter visto Challenge duas vezes em Lisboa, sempre com público todo apático (e casa vazias) este concerto não podia ter sido melhor. A sério, a banda é bem boa, quem não viu está a falhar grandemente. Bastante gente no concerto, espaço pequeno, só faltou a malta ter-se chegado ainda mais à frente. Segunda música já o nariz do Luis jorrava sangue. "Isto aqui nas Caldas é a sério!!" dizia-me o Congas. Yep, a miudagem a moshar, tudo suado, tudo a curtir, tudo a cantar. Side to side, boa onda. Cinco estrelas. Still Strong conhecia praí uma ou duas músicas que têm no bandcamp, e deram um show do caraças. Som pesado, a malta do público ainda com pilha para gastar, muito bom. Ainda ficámos até as 2h e tal à conversa com eles, malta cinco estrelas. Sabiam que no Brasil "bico" é biscate, e "biscate" no Brasil é "se prostituir"? As coisas que um gajo aprende...

Concertos assim, fora das grandes cidades, só me fazem pensar como às vezes esta merda nas cidades grandes (e refiro-me a Lisboa, que é onde vivo) está viciada. Aqui não havia putos mais preocupados em não sujar os ténis ou rasgar a tshirt, em ficar lá no canto a mandar pausa ou a fazer os moves de kung fu aprendidos no youtube, aqui vias os putos a suar e a moshar como se não houvésse amanhã, e a sentirem mesmo a cena. Hardcore também é isto, não é só ir picar o ponto. Tinhas aqui miúdos que não eram o típico "miúdo do hardcore" a divertirem-se mais que metade dos habituais em concertos da cena.

Se num dia de pleno Agosto o show foi assim, quando houver algo em tempo de aulas contem comigo para mais visitas às Caldas. Outra cena é a mania do pessoal de Lisboa se cortar dos shows fora do centro porque "são longe". Um gajo mete-se nas Caldas em uma hora e picos, gota a dividir por cinco dá nem cinco euros, só a conversa na viagem vale esse preço. Há hábitos que deviam ser mantidos. Dito isto, quando houver cenas assim, dêem a dica que a malta arranca!

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Entrevista: Iron To Gold

Com tanta banda norte-americana a inundar o mercado musical, muitas vezes passamos ao lado do que é feito no velho continente. Ouvi falar nos Iron To Gold algures no fórum da Bridge 9 (ou terá sido no Facebook?), graças ao Adam da The Essence. Para além da banda me ter chamado logo à atenção, abriu-me um bocadinho os olhos sobre o que se está a passar na Polónia, onde bandas, editoras, zines e miúdos parecem estar a criar uma das melhores cenas actuais. Fiz algumas questões ao Patryk, o vocalista, sobre as origens da banda, o feedback ao mais recente registo The Power of One, a cena polaca e os planos para o futuro. Check it out!

Straight Edge Fest, Varsóvia © wildow.blogspot.com
Antes de mais, gostava de saber como é que vocês se juntaram, e qual foi a ideia por trás da formação dos Iron To Gold. Sei que alguns de vocês já tinham tocado em outras bandas anteriormente, mas pouco mais informação consegui encontrar pelo que estou mesmo às escuras.

Sim, todos nós pertencíamos a outras bandas, mas esta banda aconteceu de forma bastante engraçada - o Daniel (guitarrista) gravou algumas faixas com a intenção de as lançar online e tocar um concerto (supostamente seria uma banda de um só concerto ou algo do género), ele completou a formação e pediu-me para entrar. Eu gravei a voz nas faixas que estavam penduradas há algum tempo e alguns dias depois pusémos as músicas online, e tocámos o dito concerto. Avançando para 2012 - estamos juntos já faz perto de dois anos, lançámos uma demo em cassete, dois 7"s e tocámos uns dez concertos. Afinal, tocar juntos tornou-se numa grande experiência. Funcionou de forma natural e estamos a adorar a viagem até agora.

Quais são as maiores influências para vocês como banda? Eu sei que às vezes é complicado de o dizer, e ainda mais estarem-se a comparar a alguém, mas como descreveriam o vosso som alguém que não vos conhece?

Por acaso, desta vez, até é bastante fácil. A nossa maior influência são os Judge. E Cro-Mags. Hardcore pesado e intenso.

Pelo que me apercebi o vosso novo disco tem "voado das prateleiras". As cópias do record release desapareceram quase instantâneamente, e grande parte do total dos discos feitos já foi vendida em menos de um mês. Se é que discos vendidos o indicam de alguma forma (e é bom que o façam), diria que estamos na presença de um disco bem bom. Qual tem sido a reacção dos míudos polacos e estrangeiros ao The Power Of One?

Deixa-me contar-te uma história porreira por trás deste disco. Nós tínhamos uma faixa já gravada, que supostamente devia ter sido lançada noutra sítio, mas as coisas não resultaram e, pouco depois do anterior ep, Soultraveler, ter ficado esgotado no Inverno de 2011 pensámos "hey, porque é que não gravamos mais três músicas e lançamos outro 7" este ano?". Eu parti durante pouco mais de um mês em férias, e quando voltei as faixas já estavam prontas e metade delas já produzidas. Para além disso, fomos convidados para tocar no Straight Edge Fest, aqui em Varsóvia, a meio de Julho. Era a altura perfeita para lançar o 7", ainda que o calendário das gravações/pressing fosse apertado. Nós sabemos como é que as coisas funcionam na cena hardcore, ou como às vezes facilmente acabam por não funcionar, por isso ficámos de boca fechada durante meses para não estragar o projecto.

Nós estávamos certos que a rapaziada das editoras ia dar o seu melhor para tudo dar certo (desde o início que estivémos a trabalhar com a Last Warning Records e a Elephant Skin Records). Recebemos os discos da fábrica dois dias antes do Straight Edge Fest. Esse concerto foi provavelmente o melhor em que já tocámos e os miúdos estavam malucos! Foi um dia espectacular.

Antes do concerto, tirámos uma foto com uma crew enorme à porta da sala, praí quarenta pessoas, sem lhes dizer para que era a foto, para não estragar a surpresa. A malta das editoras ia fazer capas especiais para a festa de lançamento do disco com ela. Tiraram a foto e foram a correr para uma loja de impressões, voltando logo rápido para a sala onde estiveram uma hora ou duas dentro de um carro, a cortar e a dobrar as capas, e a montar tudo. Assim, no fim do concerto, podias ter um disco novo com uma foto tirada praí 4 horas antes! Assim conseguímos ter uma data de pessoal fixe na capa da edição limitada.

E sim, vendemos umas 150 cópias nesse concerto. Pelo que sei já há menos de 100 cópias em vinil preto a esta altura. As reacções não foram menos que boas, tenho de admitir. A cena hardcore polaca apoiou-nos muito e só podemos estar felizes por poder fazer parte dela. No que diz respeito ao pouco pessoal estrangeiro que ouviu o disco - as reacções têm sido igualmente boas.

 
Foto da capa da edição limitada © Lukasz Popielarczyk

Eu já tinha ouvido falar em algumas coisas relacionadas com a Ratel Records e sabia que a Polónia era já um dos destinos habituais de bandas estrangeiras em tour, mas após alguma investigação sobre o país, descobri que as coisas aí parecem estar a ganhar força, com várias editoras, bandas novas a aparecer e público entusiasta. Para alguém de fora, como é que descreverias a cena polaca, os seus prós e contras, e o que é achas que faz com que esse seja um lugar do caraças para se estar se és do hardcore.

É verdade, as coisas estão mesmo a funcionar bem aqui, a cena está a florescer. Eu estou a adorar isto. Mencionar a Ratel Records/Crew (e eu sei que eles adorariam que os chamásses de gang também) faz sentido. Tenho de admitir que me senti, e ainda sinto, bastante inspirado pelo que eles criaram nos últimos 2-4 anos. Eles estão apenas a fazer a cena deles, têm a banda, marcam concertos, zines, divertiram-se e os míudos que viram isso inspiraram-se neles. É aquilo que se chama o efeito bola de neve. Há tanto miúdo novo porreiro que viajam para ir aos concertos e ficam malucos. As bandas locais têm mais reconhecimento do que era habitual. Os miúdos não têm medo de falar.

Há tantas fanzines - se há um concerto podes ter a certeza que vai haver lá zines novas, sejam apenas oito páginas com colunas e ideias soltas, como calhamáços grossos, cheios de entrevistas e tudo o mais. Os miúdos importam-se e sabem o que é que se passa. Eles amam o hardcore, ajudam-se uns aos outros e tentam fazer algo com as suas vidas. E é uma cena bem diversa, também. Tens malta dos 80's, 90's, NYHC, metal, qualquer que seja a inspiração, estão lá.

A sério, há malta que culpa a Internet pelas piores cenas. Para mim, foi graças à Internet que as coisas melhoraram. Melhor comunicação, mais acesso à informação e à música. E não sei, mas acho que mais consciência. Os miúdos estão mais conscientes hoje em dia. E alguns deles são umas personagens bem maradas, nunca há momentos aborrecidos, e isso é outra das razões por que adoro tanto isto. Claro que isto não acontece em todas as cidades, mas na maioria dos concertos a que fui no último ano, saí de lá com um grande sorriso na cara. Eles sentiam o hardcore.

Ok, altura para a lista de nomes: Outbound, Reality Check, Desperate Times, Calm The Fire, Last Dayz, Government Flu, Slip, Identity, Thug Life, Hard To Breathe, Work For It, Fight Them All, Good Looking Out, Moral Breach, Cast In Iron, Burst In, Last Warning Records, Elephant Skin Records, Ratel Records...

E tu tens tanto adolescentes como malta com mais de 30 anos nos mesmos concertos, é uma mistura bem fixe.

Qual a importância da política na cena polaca? Sempre que vejo vídeos de concertos aí, existem quase sempre panos com slogans anti-fascistas e cenas assim. Os fascistas e neo-nazis são um grande problema na Polónia e na cena polaca? Nas democracias mais antigas, a cena hardcore tende a ficar mais despolitizada, às vezes esquecendo um bocado o papel de consciêncialização social e política, de ser mais que música. Provavelmente o contexto social e económico têm aqui alguma influência...

Eu acho que os míudos polacos são muito espertos. Eles sabem as coisas, têm as suas ideias próprias e são bastantes activos a expressá-las. Mas eu cá não gosto de chamar-lhe de "política". A política é a manipulação das pessoas, obrigando-as a tomar partido de lados. É a existência de um conjunto de ideias que te obrigam a ser de esquerda ou de direita, ou o que seja. Isto para mim é um conceito datado. E fico feliz por ver que as pessoas já não alinham nesse esquema. Elas são elas próprias, e estão ocupadas a fazer coisas fixes. Tens aqui laços tão fortes à volta da música que nenhum partido político conseguiria sonhar.

A maioria dos miúdos que conheço nos concertos estão agora a entrar na fria vida adulta - tu sabes, emprego, hipotecas, filhos e eles têm tantas dúvidas e ansiedade em relação ao futuro. E eu consigo ver que por causa disso, eles apreciam o hardcore e os outros ainda mais. E acredito que todos os obstáculos na vida fazem-nos procurar por algo mais do que aquilo que lhes é oferecido quer pela política maistream como pela mais underground. É daqui que as coisas vêm - quando buscas algo e encontras pessoas que estão na mesma busca que tu.

E quanto mais malta estiver contigo, melhores coisas se alcançam, mais radiantes ficam - e assim, os miúdos frustrados encontram alguém a quem se juntar e ficam a saber que há uma forma de enfrentar os problemas sem ser juntando-se a alguns atrasados mentais amantes de Hitler.

© KEEPTHEMOMENT.COM

A banda já tem alguns planos para o futuro que nos possas ir adiantando? Conheço alguma malta aqui nesta ponta da Europa que adorava ter-vos por cá...

Com o nosso dia-a-dia é complicado tocar muito. É tipo gravamos, lançamos a cena cá para fora, tocamos uma data de shows e voltamos ao coma durante uns meses. E nós curtimos a cena assim, estamos sempre frescos e é sempre emocionante quando voltamos à actividade. Vamos voar até à Suécia em Outubro para tocar três shows, estamos bastantes excitados para esta viagem. Para além disso não temos nada marcado ou confirmado, mas temos esperança em ter mais três dias a tocar na Polónia em 2012.

Se há malta a querer-nos ver, nós adoraríamos estar lá, a cena é que só podemos fazer viagens curtas. Mas nunca se sabe. Lembra-te que isto era suposto ser uma banda de um só concerto...

Tens algum pensamento final que gostásses de partilhar com o pessoal? Estás igualmente à vontade para mandar algum abraço ou promover a banda.


O hardcore espanta-me constantemente com a quantidade de pessoal fixe que consegue juntar. Todos os anos conheço malta nova que são todas elas pessoas únicas. E eu adoro quando elas se inspiram com o hardcore e trazem essa inspiração para o seu dia-a-dia. É fantástico ver como consegues construir algo a partir do zero, aprendendo e progredindo e que quando dás por ti ela é tão grande que o resto do mundo não a consegue ignorar. Tipo tu entras nesta música maluca e aprendes que podes ter uma vida bem melhor, e sem crueldade e por isso tornas-te vegetariano. E então as pessoas que estão no teu círculo, no trabalho, na tua escola, na tua família olham para ti como uma fonte de inspiração. É esse o poder de cada um de nós, the power of one".

Certifiquem-se que não perdem as melhores fanzines como a It's The Limit, a It's Just a Phase ou a Law & Order. Boas leituras, sem dúvida vão fazer-vos querer fazer algo. Alguns discos que não podem perder são o novo disco de Desperate Times "Hard Target" 7", Outbound "Far Away" 7" e a compilação de hardcore polaco "Very Cool, Very Core" 7".

Obrigado Tiago!

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quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Review: Sectarian Violence - Sectarian Violence EP (2012)


Ui, mas o que é que temos aqui? Só mesmo a melhor aquisição da cena hardcore nacional dos últimos anos (aka o Fábio de Straight Jacket Mosh) para me recomendar uma banda - não é para todos! E claro que só precisei de música e meia para começar a bater o pé desenfreadamente, a dar socos na mesa e - algo que ainda me vai sair caro - fazer um dive de cabeça para cima do sofá onde as minhas duas flatmates estavam a ver um filme daqueles de comédia romântica manhosa.

Agora a cena é: "ah, lá está ele a exagerar de novo". NOT! Tipo, vamos por partes. Quem é que vai gostar desta banda? Pessoal que gosta, principalmente, de Violent Minds e 86 Mentality. Os gajos na descrição dizem buéda bandas mas eu só eu oiço praticamente estas duas. Se é mau? Não, nem por isso. Eu gosto do meu hardcore com as bolas bem cheias, não há cá parvoíces. A produção é meio manhosa e claramente propositada, mas não vou dizer mal disso. Podiam ter roubado também do primeiro EP de Violent Minds. Esse sim, um verdadeiro estoiro de sabor no que toca a produção.

Eu acho que eles vieram a Londres recentemente e eu não os fui ver. Agora sinto-me mal. Este é o tipo de banda - e estou a falar muito a sério - que me faz ir para o meio do pit sem conhecer nenhuma música. Hardcore, né? Valeu Fábio. Fica aqui o link para ouvirem o EP: http://gravemistakerecords.bandcamp.com/album/sectarian-violence