sexta-feira, 5 de junho de 2015

Review: Turnstile + Clean Break + SHAPE @ Rep. Música, Lisboa


Turnstile foi uma banda que pegou de estaca logo de início. Mas depois do segundo EP o hype tomou proporções fora do comum. Com membros de Trapped Under Ice e Mindset, traziam curriculum interessante, mas certamente poucos estariam a prever o salto gigantesco que a banda deu em tão pouco tempo.

O novo LP é um trabalho interessante com colagens a várias bandas dos anos 90 (RATM, Leeway,...) com a atitude de uns Bad Brains, banda que fazem questão de enaltecer seja pela cover que tocam seja pelas palavras que lhes dedicam sempre que o fazem.

Adiante. Na semana anterior tinha visto os Turnstile em Leeds, no que foi provavelmente dos melhores concertos que vi na vida. 1200 pessoas numa armazém para ver um show de hardcore? Tás craze! Saí de lá todo negro e com um corte no nariz que valeu boa história para contar no trabalho (“andaste à pancada, pá?”). Resumindo, as minhas espectativas para este concerto em Lisboa eram altas. Bastante altas.

Numa daquelas primeiras tardes de CALOR do ano há romaria até à República da Música. Não sei o que levou muitos a ficar em casa, se o apelo da praia se o desinteresse em geral (somos muita tolinhos…), mas estava a par do sossego nas reservas e pré-vendas, que sei que tornou os valentes que se aventuraram a marcar este show algo apreensivos.

Depois daquela conversinha da praxe cá fora altura de entrar, os SHAPE já faziam barulho. Sala dividida a meio, com aquele pano preto a dividir o bar da arena. Uma pena que não tenha sido possível fazer o concerto noutro sítio. A sala tem aqueles defeitos que todos lhe conhecemos, e um sítio mais pequeno, com o mesmo número de pessoas, tinha aumentado exponencialmente o fixe que estava para acontecer.

Já não estou bem acerca se os SHAPE já tinham o disco novo cá fora ou não (quem me manda escrever isto quase um mês depois?!) mas o set foi maioritariamente composto por malhas novas. Público morninho, algo pouco normal em concertos de SHAPE, mas deve ter sido do calor que amoleceu o pessoal. Sala ainda a meio gás, provavelmente muitos terão ficado lá fora a aproveitar uma qualquer bebida fresca a um preço mais apetecível. Perderem bom concerto, as usual.

A seguir tocou a rapaziada algarvia, Clean Break. Antes do set começar há instalação de pauzinhos de incenso nos monitores. Para criar ambiente… Vaticino que mais tarde ou mais cedo viram Hare Krishna e passam a soar a 108 ou a Shelter. O David já tem as beads…A banda tem rodagem e mesmo que muitos tenham ficado indiferentes ao youth crew que os algarvios tocam, há valor e escola. Cover de Stop & Think, Cro-Mags e aquela versão de Righteous Jams a abrir. Diz que está para haver novo disco e nova tour.

Para o bem e para o mal, grande parte do público estava ali à espera dos americanos. Sendo a única data na península ibérica houve uma trupe espanhola a descer até à nossa capital para os ver e tudo. E do norte. E do sul. Bom ver aqueles amigos “do core” que vês nestas ocasiões.

E Turnstile, sempre com a paleta habitual, presenteou-nos com a toalhinha habitual do Polo Bear, num branco imaculado, porque a estética também dá pontos. Pouco depois o concerto começava e a partir daqui foi caos na terra.

Se julgavam que o stage dive era uma arte perdida no nosso país ainda há esperança no mundo. Pena que muitos ainda não tenham percebido que se podem chegar ao palco e pelo caminha aproveitar para apanhar quem salta…No entanto surgiu nova categoria no campeonato do stage dive – o dive para a grade. Boa sorte à genitália de quem participou. Ainda houve direito a uma cabeça aberta e algumas pancadas nas colunas (aquilo também está ali um bocado baixo).

O Brandon já tinha dado a entender em Leeds que apesar de ser o vocalista não curte muito cantar, até porque aquilo cansa, pelo que o microfone fartou-se de viajar, principalmente pelas stage potatoes espanholas, que tiveram ali os seus minutos de fama. Isso e os outros cantores em potencia, que tiveram ali tempo e espaço de mostrar os seus dotes. E hooray para a falta de stage moshing.

A banda tem uma presença brutal e consegue pegar no público quando este começa a arrefecer. Basta começar o acorde de qualquer um dos “êxitos” e logo todos despertam. O suor escorria, quer nos americanos, quer no público. E nem era do calor que fazia lá fora.

Sem dúvida dos melhores concertos a ter acontecido nos últimos anos por estes lados, só tenho pena de quem não foi (será que tenho?). Momentos destes com mais frequência precisam-se. Aqueles concertos em que a malta desliga a ficha do bem comportado e solta a franga. Caga no penteado bonito que se pode estragar, na tshirt nova que se pode rasgar, no sapato limpinho que vai para o galheiro. Quando a malta vai a um concerto hardcore para fazer dele um concerto hardcore.

Props gigantes para os suspeitos do costume que fazem estas coisas acontecer. Que arriscam. Que não dormem. Que dão mais do que recebem. Hardcore for hardcore.