A pandemia
trouxe-nos uma espécie de revivalismo das fanzines. O tempo extra que muitos de
nós passámos a ter (não raras vezes pelas piores razões), permite redireccionar
energias para outras coisas para além do trabalho – umas delas hobbies ligados
à nossa cena musical. Desde fanzines que voltaram, a outras que apareceram e
prometem números de estreia, surgiu a Utopia Platafórmica.
A Utopia Platafórmica
é uma fanzine nascida de um blog criado em 2019, onde o Daniel escreve reviews
e fala dos seus gostos musicais, infiel, tal como ele próprio faz questão de
referir no editorial, a um só género musical. Do foco no Black Metal, ao punk,
hardcore, e algum rap, you name it. E se esta breve review é ao Volume II,
existe um Volume I dedicado ao Black Metal – caso precisem de companhia para
dias escuros e chuvosos com Darkthrone na coluna.
Mais importante
ainda, o editorial termina ordenando o leitor a ouvir o “United Front” de Rated-X. Logo aí, já
ganhou, e ainda vamos na primeira página.
A fanzine está em
formato A5, preto e branco, com muitas fotografias a acompanhar o texto (às vezes esticaaaaaadas), sempre
em português, num layout Word-esque, que é a única coisa que me faz comichão –
isto vindo de um gajo que não sabe sequer mexer no Paint e se refugia no cut’n’paste…Mas hey, há sempre arestas a limar.
Como o autor
refere, nesta fanzine dá-se destaque a algumas bandas menos “mediáticas” dentro
da cena Hardcore, Punk e Oi!. Cinco entrevistas a cinco bandas de três territórios
europeus diferentes. No entanto está aqui feita uma seleção musical requintada,
só com bandas boas. Falo por mim, que gosto de todas!
Pressure Pact da
Holanda – aquela bomba sorrateira que fizemos questão de referir várias vezes
no Nós Contra Eles, mas que há quem teime em dormir. Influênciados pelo NWOBHC
(e consequentemente o Boston e New York HC antigo), esta malta tem granda
escola e basta ver o name dropping nas referências para perceber que o assunto
é sério. Ouçam o LP!!!
Youth Avoiders,
uma das pérolas da cena punk francesa de tempos recentes (que faz um mini-scene
report da cena punk francesa atual) e dose dupla do País Basco com Irmo e
Revertt – a Mendeku Diskak tem lançado muita coisa, e tudo bem acima da média,
incluindo estas duas bandas. Para fechar regresso a terras gaulesas com os
Syndrome 81, filhos do betão armado de Brest.
As entrevistas são
maioritariamente rápidas, mas interessantes, daquelas em que as bandas
efetivamente dizem algo e não se ficam por respostas secas. Exceção à brevidade
feita precisamente na entrevista a
Syndrome 81, a mais longa e, ao mesmo tempo, a melhor.
A fanzine termina
com um texto pessoal em que se reflete no conceito de música com conteúdo VS música
sem conteúdo, comparando diferentes géneros musicais. Tudo certo.
Muito sinceramente esta fanzine foi uma boa surpresa, e uma excelente maneira de começar 2021, ano em que se promete muita produção de papel impresso em Portugal. Que venha o próximo volume, que cá estarei para o devorar. Rap francês? Manda vir.
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