quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Discos Trocados: Prisoner Abuse/Agitator

Todas as semanas trocamos um disco entre nós e falamos um pouco sobre o disco que nos calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.

O André tem o gang todo lá em casa pelo que anda a fazer-lhes a visita turística por Londres. Assim, arranjou-se meio em cima da hora um convidado para partilhar comigo um disco.


Ricardo Luz

Prisoner Abuse - Self Titled (2012)

Boa cena! Já tinha ouvido isto há umas semanas e gostei. Não é o tipo de som que mais oiço, decidi dar uma oportunidade, e ainda bem que o fiz. Acho que a melhor maneira de descrever este album é dizer que é "good old fashioned Boston hardcore"(como dizem no site da Painkiller) mas feito em 2012, e com montes de malta que já andam ai aos anos, de bandas como No Tolerance, Waste Management e Think I Care. De facto eles sabem o que fazem qualquer cena que venha das mãos deles já sabes que é bom. Como o LP é recente não consegui encontrar as letras, mas não duvido que digam alguma coisa de jeito.

Há uns tempos vi o documentário sobre a cena de Boston nos primeiros anos (xxx ALL AGES xxx) e tinha lá uma parte em que basicamente perguntam aos entrevistados se achavam que o Hardcore estava morto ou vivo (os gajos até fizeram o ultimo concerto de hardcore em 1984...), e muitos disseram que sim. Tenho a certeza que se fossem ouvir este álbum, pensavam duas vezes.

Tiago

Agitator - Bleak (2012)

Agitator é mesmo do straight edge pesadão todo true till death morte aos caídos (aquela faixa a falar de Force Fed no ep, ahah). Curti os dois primeiros eps e estava naquela para saber como seria o full length dos moços. Intro cliché a abrir para uma segunda faixa que me estragou a audição do disco. Opa, a sério, de quem foi a ideia de merda de enfiar uma vozinha toda clean rock & roll azeite. O Cordeiro (que foi quem me enviou o link) bem me avisou mas essa faixa é má demais, ainda por cima logo a abrir o disco!

Estive a um click de condenar a pasta do disco aos confins da lixeira mas o "tem a certeza que pretende enviar...para a lixeira" fez-me repensar o assunto. Dei-lhe mais uma ou outra chance e posso dizer que o resto do disco não inventa muito, é aquele som que eles já tocavam nos dois primeiros eps. Ainda assim, as malhas favoritas do lp são antigas, o que já diz alguma coisa. Epa, mas aquela segunda faixa, fiquei logo traumatizado para a vida.

O Baú do Congas: Killing Frost + Larkin + For The Glory no Ribeirinha Bar

Um cartaz dá sempre azo a mil histórias, isso é algo que felizmente nunca irá mudar. Quem melhor que o Congas para lembrar de algumas que aconteceram em concertos de For The Glory? Se estiveram lá não se esqueçam de deixar um comentário.


Parece que adivinharam! Haha! Ainda esta semana tive a ver um vídeo deste concerto. Não poderiam ter escolhido melhor para a rubrica desta semana! Por onde começar?! Bem, o Ribeirinha Bar era um spot pequeno, escuro, sem acústica, situado na Ribeira do Porto. Os concertos aconteciam na cave, que era deveras pequena e apertadinha, digamos que para ir de um lado ao outro da sala davas literalmente dois passos! Imaginem quando o Netz começava a levantar os braços, meu deus, aquilo era o ver se te avias!

É engraçado como neste concerto estaria aquele que agora é baterista de For The Glory, mas a tocar noutra banda. Lá no meio, de óculos e com uma camisola de Hatebreed, meio perdido estava aquele que passado uns anos acompanha a banda e trata de tudo o que é merch da mesma. E também alguns dos miudos que se encontravam do lado da sala em cima de uma bancadinha eram aqueles que agoram formam a banda Step Back!, bem miúdos na altura.

O concerto em si foi porreiro, teve uma boa afluência de pessoas e dada a limitação do espaço, tornou-se bastante porreiro. Ao ver o vídeo, lembro-me perfeitamente que nesta altura foi quando apareceu o mosh ou slam dance, notava-se que erámos tão novos, cheios de energia e pica. Tem tanta piada!

Killing Frost - Estavam a dar os primeiros passos, e muita gente nem sequer sabia o que fazer com o som de uma banda que soava a anos 80 como eles. Bons músicos e com ganda feeling, o André (um dos bosses aqui deste blog) tinha uma ganda pica. Saudades desta banda!

This is Mafia ou This is Melo como ficou apelidado entre a malta - Era a banda do Melo aka Dj Melo. Ele cantava nesta banda, salvo erro. Para quem não sabe quem é o Melo, é o gajo que costumava muitas vezes fazer o som em vários concertos e várias bandas da tuga. Agora já não mora por cá, infelizmente como muitos dos jovens da nossa idade dos 30, teve de bazar deste país.

Larkin - Vou ser sincero, não me recordo sequer de eles terem tocado. Já foi há muitos anos e não quero estar a mandar aquela paleta do "ah ya foi muita bom e bla bla bla bla".

Genoflie - Aqui é que me tramaram, na altura nem liguem muito à banda, nem nada disso. O que leva aos acontecimentos que se seguiram. Depois do Miguel ter saído de For The Glory, tivémos um tempo sem baterista fixo e andámos à procura de alguém para esse lugar e mal sabia eu que a pessoa que viria a entrar na banda já tinha estado comigo e nem sequer nos conhecíamos! O Cláudio era guitarrista ou baterista destes manos e isso tem bué piada, porque eu sem ligar à banda naquele momento, iria ficar ligado a ela passado uns anos até à data de hoje. Um dia gostava que alguém fizesse uma árvore genealógica das bandas, para ver as várias ramificações e até onde vão. Tinha piada!!

For The Glory - Na altura estávamos reduzidos a um 4 piece, na bateria ainda estava o Mike que mais tarde fez os Men Eater e dá umas perninhas em várias bandas aqui e ali. Este é o dia de todos os concertos que nunca me vou esquecer de duas coisas:
1ª - O Miguel tava a tocar as músicas tão rápido que soava tudo fora de tempo haha!
2ª - O MEGA TRALHO do Rui durante a Worth To Try haha, epá eu vejo as imagens mil vezes, eu paro em todos os momentos e não me aguento, rio-me sempre como se não houvesse amanhã. Foi deveras um tralho monumental, e a forma como ele se levanta e a cara que faz haha! PRICELESS!

Bons tempos em que tudo era muito mais ingénuo. Qualquer buraco servia para montar um palco e siga... O Porto sempre nos recebeu bem, desde 2004 até agora, por isso considero a cidade do Porto como a minha segunda casa e também os vários amigos que ganhei nessa mesma cidade, é algo que jamais irei esquecer! Obrigado!

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Review: Overpower Overcome #4



Nunca fiz uma review de uma zine, por isso nem sei bem como começar, mas se tivésse de escolher uma para fazer review era mesmo esta. Começando pela história, esta zine fez Lisboa-Porto-Londres-Argel-Ghardaia até eu começar a lê-la. Pode-se dizer que é uma zine viajada e que a li integralmente no deserto, as fotos comprovam-no. Acho que dos números anteriores só li o primeiro. Lembro-me que houve uma com um poster do Benfica que - por razões óbvias - boicotei, olha a merda. À parte de alguns erros ortográficos aqui e ali, bem como algumas das páginas com muito texto (de um lado ao outro da página, sem estar dividido por colunas) que dificulta um pouco a leitura, no que interessa não falha: conteúdo. Na introdução dá logo para perceber o amor e dedicação com que é feita, coisa que é de valorizar numa era em que tudo é de plástico.

A zine começa com uma rubrica que me despertou muita curiosidade: uma secção com fotos do Valter Simões e comentários dele sobre as mesmas, sobre o que sentiu quando as tirou. Li com muito interesse porque, verdade seja dita, nunca percebi como é que alguém que gosta de hardcore consegue estar um concerto inteiro a olhar pela objectiva, sem curtir o concerto. É algo que não me cabe na cabeça, mas ainda bem que temos pessoas como ele senão depois não haviam fotos do Cabeças a voar por cima da malta. Espero que o Congas continue com esta rubrica, é bastante interessante e nunca tinha visto nada do género em zines cá na tuga.

Segue-se um texto do meu brother Emanuel “Words of Hate” wifebeater Matos, que fala sobre a facilidade em obter informação sobre bandas, sobre os downloads estarem a dois clicks de distância, e sobre como isso influencia negativamente o sentido de comunidade no hardcore. O Ema pegou no que tinha e deu tudo à Juicy, lutando contra este conformismo de que fala. Um texto inspirador que espero que vá ter algum impacto na malta mais nova na cena, para que façam algo para além de moldar o sofá ao formato do cú.

O texto que nos aparece logo de seguida é um texto mais sério e no qual fiquei a reflectir durante um bocado. É um texto do Congas onde explica porque vai deixar de fazer concertos. Neste aspecto temos de ser realistas. Portugal está na merda. Na merda mesmo. Cada vez é mais fodido as famílias terem guito para comer, pagar contas, pagar casas, etc. É normal que isto tenha algum impacto na quantidade de gente que vai aos concertos, é normal que mais vezes dê buraco. Trazer bandas de fora é sempre um risco e grande parte das vezes não corre bem. Portugal tem uma boa quantidade de gente que vai a concertos, mas por vezes há três concertos numa semana. É muito? Não, mas fica muito caro para quem vai a todos. Se falarmos de Londres ou de Berlim, podemos ter uma semana em que há concertos em todos os sete dias da semana, e então? A malta tem guito para os ir ver e vão todos estar ao barrote. Preferia que houvesse menos concertos de bandas internacionais em Portugal mas que os que houvesse fossem mesmo bons. Em vez de trazer tantas bandas de fora, podemos apostar mais nos concertos apenas com bandas nacionais. Há bandas em Portugal com muito mais valor que muitas bandas que às vezes trazem. Se tiverem amigos que têm uma casa grande, falem com os pais deles e façam um concerto em casa, assim não pagam o espaço.

O Congas escreve logo depois outro texto sobre o que mudou durante dez anos de hardcore. Escreve não, tinha escrito. É um texto que já tinha sido publicado na RocknHeavy há uns tempos, mas segundo o autor com bastante actualidade. Tem algumas histórias interessantes de coisas que aconteceram back in the days e foi uma leitura agradável. 

Pausa para descer uma duna a escorregar.

Entrevista aos All For Nothing. Desculpa aí Congas, mas esta foi só encher chouriço. Nem tanto da tua parte, mas da parte da miúda que respondeu. As respostas são fraquinhas, pequenas, e sem muito sumo depois de espremer. Nunca ouvi a banda e não fiquei com curiosidade para. Se estiver a perder algo de bom digam-me.

Chamem-me homem das cavernas, digam que vivo debaixo de um calhau, mas nem sabia que a Backwash Recs era do Tiago e que já tinha lançamentos em cassete. Ganda falha, mas compreendam um gajo, entre a Palestina e a Argélia, com ligações de net de 56k, é complicado chegar a informação toda. Gostei da entrevista, o Tiago é um miúdo à maneira e não o deixem ficar com cassetes por vender.
Segue-se uma entrevista aos Challenge, outra banda que nunca ouvi nem vi. Penso que só começaram a dar concertos depois de eu sair de Portugal por isso nunca consegui apanhá-los ao vivo. No entanto do que tenho visto de fotos de concertos tem corrido bem para eles, ainda bem. Depois de ler a entrevista fiquei com bastante vontade de botar atenção neles, props por manterem viva a cena das Caldas.
Bem, ler esta zine foi um pouco reality check para mim. Se calhar estou a ficar um pouco comodista como o Ema disse no texto dele, mas também ainda não dei uma ouvidela no trabalho dos Northern Blue. 

Sempre gostei de Day of the Dead e o Gaiola é um grande amigo meu, lembro-me de ouvir umas cenas que ele me mostrou há uns tempos quando a banda ainda estava no início, mas não cheguei a ouvir o resultado final. A ver se compro a cena quando estiver com ele agora em Portugal. Pelas iniciais acho que foi o Nuno que respondeu (e bem) à entrevista, um dos meus companheiros de bola em Alvalade até ao ano passado, antes de eu ter dado uma de emigrante. Abraço para ti.

A entrevista de Look My Way não deu mesmo. Permitam-me um pouco de trash talk. Na terceira pergunta o Congas pergunta sobre as trends andarem em círculos e diz que os miúdos apenas ouvem cenas melódicas, ao que o rapaz responde que hoje em dia quer tudo ser tough e andam de boné e etc. Depois olhei para as fotos da banda e estão todos com ar de tough e de boné. Soltei uma risada e virei a página. Talvez numa próxima oportunidade.

O André escreveu um livro sobre a sua descidada costa oeste dos Estados Unidos em pouco mais de duas semanas e é sobre isso a entrevista que se segue. Para quem leu o livro, este é um complemento perfeito visto que algumas das histórias que são retratadas na história estão aqui mais desenvolvidas, por exemplo o concerto de Agnostic Front. Para além disso, há perguntas sobre a vida no UK (o André vive em Londres há cinco anos), a adaptação a uma vida fora de Portugal, e a próxima viagem do André, uma volta ao mundo de ano e meio. Estive com ele aqui na Argélia há uns dias e por isso foi apenas (outra vez) um complemento ao que já sabia. Muita força para o planeamento dessa viagem e aguardo ansiosamente o livro que aí vem. Ponham os olhos no exemplo, façam a mala e vão ver o mundo. Vale a pena.

A zine termina com uma review “roubada” a este mesmo blog, que já tinha lido. Como quem está a ler isto já está na página, não vale a pena fazer pub ao blog. Congas, boa cena ainda teres estes amor pelas zines. Continua com a Overpower Overcome e eu prometo que a vou continuar a ler, desde que não me inpinjas mais cenas do Benfica, dá-me descanso à cabeça. Não deixes isto morrer como o Diogo deixou a Wake up and Live. Força!


Review escrita pelo viajante do deserto João Fonseca AKA Grande PZ Master. O quê? O PZ lançou um livro sobre o tempo que passou na Palestina. A leitura do Inverno? Possível, possível. Comprem aqui, fácil e barato.


domingo, 28 de outubro de 2012

Playlist da Semana #17

Todas as semanas, a Playlist da Semana. Porque no partilhar é que está o ganho.


Irate - 11:34 - Eh, cambada! Mas o que é que se passa aqui? Riffagem bem pesada este disco, não? Foi para condizer com a semana. Irate não é banda que eu consiga digerir frequentemente, é mesmo daquelas bandas que só dá quando dá. Eu acho que os vi uma vez cá em Londres, mas posso estar enganado. Agora gostava de saber.

M.I.A. - Kala - Curto bué desta miúda. Gostava de a conhecer um dia, parece ser bem fixe e inteligente. Este disco é bem sólido e tem bastantes malhas boas, mas a razão que me fez voltar a ele foi mesmo esta malha. Fala sério material, né? Where were you in 92?

Outburst - Miles To Go - Bem clássico este EP. Já é audição obrigatória para todos os miúdos que queiram ser do hardcore? Não estou a par de que matéria é que se aprende nos dias de hoje. A SGI, sempre aquela risota. Mas ya, é aquele midtempo fodido, aqueles riffs bem groovy e um granda feeling. Boa onda do início ao fim. E o City que perdeu com o Ajax para a Champions League e não deve passar da fase de grupos? LOL! Afinal os petrodollars não conseguem comprar tudo.

Congress - Angry With The Sun - Se os vou ter visto ontem (estou a escrever isto na quinta à noite, bear with me) na Bélgica? Sim! É porque não vai ser brutal. Eu, o Tofu, o Leo e o Nuno a irmos de carro mesmo à antiga. Tu bates mal man!! Tu és tolo moço!! Vai ser brutal. Bom, o disco... ya, do mejor metalcore que essa Europa já viu. Quais Nasty e bandecas que tais, lol. Dêem-me descanso, oiçam boa metalada e bebam Coca-Cola de baunilha.

Crawlspace - The Art Of Warfare - Não percebi... Se Crawlspace TAMBÉM vai tocar nesse mesmo concerto? Sim, vai! LOL! Não é lindo? Vai ser a segunda vez que os vou ver e já tive a massajar o pescoço para não haver stresses de distensões musculares. Homem prevenido...! Pah, este disco é fodidão. Split com Full Court Press, mas só oiço as malhas de Crawlspace porque é killerada de meia-noite e nem sequer vale a pena. O meu lançamento preferido deles? Sim. Até porque o LP perdeu brilho depois de eu descobrir que é BEM BANHADO a Six Feet Under do início. Malandragem.



Satanic Surfers - Skate To Hell - O Machado ficou todo eriçado e agora pensa que a minha playlist é tipo discos pedidos. Esta semana veio-me dizer para ouvir este disco e falar dele. Por acaso gosto. Mesmo que não gostásse se calhar dizia que era fixe, só para ele me deixar sossegado (e porque daqui a meia dúzia de meses vai estar forte tipo Schwarznegger no Commando e há que respeitar). Não, mas a sério, granda malha, sempre a esgalhar, granda pastilha, mesmo como manda a lei. Pelo menos aquela lei que eu sigo.

Hounds of Hate - 2012 Cassete - Esta banda foi uma das que passou ao lado da malta menos nerdária do hardcore o ano passado, a par com boa parte das bandas do catálogo da Katorga Works (CREEM, Natural Law, Nomad, Wiccans...), numa editora que está cada vez a ganhar mais nome naquele hardcore mais ruidoso e crú. Bom, mas falando da banda em si, se eles se autoassumem como uma banda straight edge o som pouco ou nada tem a ver com o som cliché das bandas edge. Hardcore com aquela produção suja como se quer, na boa linha do final dos anos 80 e uns refrões meio Oi!. O No Redemption foi uma das pérolas do ano passado a ficar incógnitas!


Judas Priest - Painkiller - Resquícios ainda do autorádio do Pontes? Talvez. Não tenho grande escola no thrash metal, por isso ando a sacar as discografias das bandas grandes, mesmo à autodidacta. Granda disco, a malha que lhe dá o nome então...se querem roubar riffs podem pegar neste que têm boa matéria prima.

VA - The Man With The Iron Fists OST - It's the...Wuuuu! Opa, acho que não há que enganar. Banda sonora para filmes de Kung-Fu com o RZA no leme e os resto do clan a tratar dos resto dos trabalhos a bordo? Foda-se, sabes que só pode ser bom. Convidados de luxo, malhas com o feeling e selo de qualidade que são características do W. Discaço!

VA - America's Hardcore Vol. 2 - A Triple B já colocou em stream o segundo volume da compilação America's Hardcore. Depois do sucesso de vendas do primeiro já era algo expectável, e sempre é uma boa forma de um gajo ver faixas inéditas de grande parte das bandas que estão na moda nos Estados Unidos. Tens desde bandas que estão a começar até nomes mais sonantes, tipo Expire ou Bane (e Ringworm, meio caído do espaço). Compilações é sempre aquela coisa, é complicado teres uma compilação perfeita em que curtes as faixas todas (ou as bandas todas), e este caso é mais um em que tem umas faixas mesmo ruins e outras engraçadas. Em 16 músicas ter mais de metade porreiras já é um bom rácio. Não curti nada a faixa de Disengage, aquilo é o Ned a cantar? Boston Mayhem pareceu-me engraçado, ainda que a produção mega chunga destoe no geral. Como compilação para promover cenas novas das bandas cumpre bem o papel.

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Discos Trocados: Trash Talk/Gayrilla Biscuits

Todas as semanas trocamos um disco entre nós e falamos um pouco sobre o disco que nos calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.

André
Trash Talk - 119 (2012)
É granda má onda eu começar logo isto a dizer que eles faziam bem em tirar a segunda parte do nome? LOL! Granda má onda. Just kidding. Para perceber o que eu acho desta banda, vamos voltar aos meus early 20s, a curtir grandas Outbreak, Violent Minds, Knife Fight, Shark Attack, Insurance Risk, Direct Control e outras bandas do género. Sim, rápido, bem esgalhado, sem grandes merdas e um valente chapadão nos cornos.

Será que o problema é os Trash Talk não serem assim? Não necessariamente. Eu, confesso, nunca os tinha ouvido. Nunca. E tipo, cá em Londres não há concerto onde não haja pelos menos 35 t-shirts deles (aquela do símbolo da paz). Não sei, falta-lhes um bocadinho aquele WOW factor que me faça querer voltar. Que faça querer ser violado por eles, devagar e sem vaselina, sabem? Um pouco aquilo que os Bracewar e os Rival Mob conseguiram fazer na perfeição (ainda me dói, confesso). Se calhar sou eu que estou a ficar velho.

Hmmm, na. Ainda está para chegar esse dia.

Tiago
Gayrilla Biscuits - The Demos (2010)
Ahaha, mal vejo o link sabia que o disco desta semana me ia trazer boa disposição. Conhecia a banda de algumas malhas, acho que acaba sempre por ser aquela banda de mostrar aos amigos para rir uma beca. Aqui tens os clássicos todos do youth crew, with a twist...a gay twist. Os gajos pegaram aí nas faixas de Youth of Today, Bold, Inside Out, etc etc e alteraram-lhes a letra para a cena mais homosexual possível, ahah. Isto é sair do armário, hardcore style. 

Com faixas inesquecíveis como Flaming Ass Still Burns, Nailed in the Ass, Gay Till Death ou a fantástica Get Hard (i want you to fuck my ass, i want you to fuck my ass, get hard, get hard, get hard, get fucking hard!) este é um disco clássico para quem curte toda a onda do youth crew dos anos 80 e está-se a cagar para o politicamente correcto e tem sentido de humor. Ah, já me ia esquecendo, a cover de Inside Out (No Homosexual Surrender) é um verdadeiro hino pro-gay e boa malha. Provavelmente a menos explícita também, ahah.

Review: Bicho do Mato + Cruel Mind + Shitmouth @ Casa Viva, Porto


A Casa Viva é conhecida por tirar a virgindade às novas bandas que vão nascendo no underground nortenho, e no passado Sábado o concerto de Shitmouth, Cruel Mind e Bicho do Mato não foi excepção.

Primeiro concerto de sempre de Shitmouth (o baixista e baterista são também membros dos Destruction Eve), e confesso que foi por eles que fui ao concerto, porque todos os membros da banda são meus amigos e queria ver comigo os putos se safavam... e não me desiludiram! Tocaram um punk bem à antiga, 80's style! Surgiram também entre os discursos clichés do Borges umas covers de Circle Jerks e Descendents (In your eyes e Coffee Mug respectivamente), e ainda houve tempo também para uma cover do rei do 8-bit, Rudolfo, a Xó Xatanas, e também a “Your pussy stinks”, dedicado a uma bela donzela cá da zona. Sem duvida que foi a cereja no topo do bolo!

Shitmouth

Os gladiadores nortenhos (e um leiriense), Cruel Mind, tocaram de seguida, abriram com a “Babylon CA” de Trash Talk e foi porradão na sala toda até o pessoal lá de baixo se vir queixar para não saltarem todos ao mesmo tempo se não o gesso do tecto vinha abaixo! Apesar destes avisos os punhos continuaram a girar por mais uns minutos de batidas pesadas. As habituais covers de Ceremony e Trash Talk foram seguidas da No servants de NAILS, mas desta vez com o Terres (baixista) na voz. Como esta malha só tem 1 minuto, esta teve de ser repetida mais umas boas 4 vezes para a malta ficar de barriga cheia.

Cruel Mind

Para terminar a noite os bicharocos subiram ao palco (tou a brincar, não existia palco, eheh) e após os primeiros gritos prolongados da Rute, os Bichos do Mato começaram a acelar com o pessoal, que já estava cansado de tanta porrada mas que não parou de fazer a festa, com um som a fazer lembrar Common Enemy. Tocaram uns covers bem abusadas de Sexo no Anexo (COMES MERDA COMES MERDA) e Morto pela Escola (não consegui evitar e corri para agarrar o micro! SIM AO SKATE! SIM AO THRASH!). Apesar das boas malhas ainda sacaram de um tema anti-straight edge...not cool guys, not cool.

E assim foi mais um concerto nestas maratonas de gigs ao fim de semana, não sei se a minha coluna vai aguentar muito mais!

Review por Bruno Lisboa
Fotos por Zita Moura

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O Darby Responde #4 - Opiniões

Agradecemos a todos - do fundo do nosso coração - a quantidade de cartas, mensagens, emails e telegramas que nos têm sido enviados. Infelizmente não temos tempo para vos responder a todos pessoalmente, de modo que decidimos falar com o nosso buddy Darby, que se disponibilizou de imediato para responder a todas as vossas dúvidas! Semanalmente, a melhor carta - escolhida e respondida pelo Darby - ganha destaque nesta rubrica.


Olá pessoal! O meu nome é Filipa e comecei a ler o vosso blog há pouco tempo, por indicação de um amigo. Antes de mais quero dar-vos os parabéns pela iniciativa que, a meu ver, foi como que uma lufada de ar fresco no meio da cena hardcore. Apesar de gostar imenso dos artigos que vocês publicam (principalmente as entrevistas!), houve uma coisa que não pude deixar de reparar: a forma ligeiramente tendenciosa como abrangem alguns temas. Claro que toda a gente tem uma opinião (e o direito a ela!), mas não acham que deviam ser mais flexíveis nas vossas opiniões, de forma a serem menos parciais na mensagem que passam? Espero que não levem a mal o meu e-mail. Continuem o bom trabalho! :)

Filipa Mariano - Estoril

Olá Filipa,

Obrigado pelo teu e-mail e palavras simpáticas. Ficamos mais do que contentes por saber que nos achas uma lufada de ar fresco e nos gostas de ler - não nos esforçamos para receber menos do que isso em troca. Em relação à tua dúvida... bom, nem sei bem o que te responder. Nós somos miúdos do hardcore, certo? Certo. Não sei até que ponto estás envolvida com a cena hardcore, mas existe uma pequena pandemia social chamada "politicamente correcto" que infelizmente não deixa de ter o seu lugar entre nós. O objectivo deste blog não é agradar a toda a gente. Quer dizer, o objectivo do blog não é agradar a ninguém - por isso é que não andamos a coleccionar Likes no Facebook ou a angariar pessoas e bandas para fazer concursos macacos que não lembram a Deus nosso senhor. Como tal, seria errado esperar que fossemos ter cuidado com a forma como tratamos A, B, ou C. 

Nós escrevemos da forma que sabemos escrever e sobre aquilo que gostamos de escrever no que toca a hardcore. Como te disse, não procuramos agradar a ninguém, mas estamos cá para todos aqueles que quiserem curtir esta viagem connosco. Uma coisa que me faz confusão é ler textos que são tão bonitinhos que até me deixam enjoado. Se eu quiser ler um jornal, leio um jornal. Se quiser ler uma revista, leio uma revista. Sei o que me espera. Se quiser ler um blog de hardcore, feito por miúdos do hardcore, sem grandes papas na língua... leio um blog de hardcore, feito por miúdos do hardcore, sem grandes papas na língua. Simples! :)

Darby

O Baú do Congas: Before The Torn + Not Without Fighting + For The Glory

Um cartaz dá sempre azo a mil histórias, isso é algo que felizmente nunca irá mudar. Quem melhor que o Congas para lembrar de algumas que aconteceram em concertos de For The Glory? Se estiveram lá não se esqueçam de deixar um comentário.


Este cartaz tem um sabor agridoce pois foi uma festa do cacete, com um ganda feeling, mas também foi a última data de uma tour que acabou por ficar cortada a meio devido a uma carrinha que avariou.
Vários episódios marcaram a atribulada tour, que acabou no Ieper Fest seguida de uma viagem longa até Lisboa. Mas como nós não desistimos, decidimos fazer as ultimas três datas da tour conforme estavam marcadas, se não me engano foi Girona, Madrid e Cacilhas.

Quando vínhamos a passar a 25 de Abril para ir para o Culto Bar (agora chamado Revolver), iam saltando palpites sobre a quantidade de pessoas que iria aparecer. O mais favorável dizia que seriam cerca de 50 pessoas. Para bem da organização e das bandas todas, apareceram umas três vezes mais em termos de quantidade, o que para aquela sala (na altura era bem mais pequena) faria com que o show fosse épico! E foi...

A Subcave Produções era composta por duas pessoas: o Pedro Canarias e o Duarte Cavalinhos, que davam tudo pela cena hardcore. Organizaram concertos brutais e sempre com o máximo respeito tanto pelas bandas como pelas pessoas que iam a concertos. Foram uma das forças motrizes naquela altura em termos de movimento de marcação de shows DIY. Trouxeram cenas altamente que para uma booking de tamanho pequeno já era meio arriscado, mas eles fizeram-no porque acreditavam que podiam lá chegar e fazer as cenas bem feitas!

Esta sala tem e sempre teve uma boa mistica, desde quando era um pequeno corredor sem palco, ao tamanho médio até aos dias de hoje onde é para mim uma das salas com mais feeling para concertos de punk hardcore. Na altura o PA era miserável e eu sabia que aquilo ia dar raia porque as vozes decerto que não se iam ouvir, mas nada interessava, porque para um concerto ter um grande feeling não precisa de ter o melhor som do mundo, só precisa mesmo de bom ambiente e um granda vibe entre todas as pessoas presentes na sala!!

Há por ai pela net o audio deste concerto e que termina da maneira mais brutal, a energia foi abaixo durante a cover de Madball (Down By Law) que costumávamos tocar, deixando com que a parte final da música fosse cantada em uníssono! Sem dúvida que foi um fim de tour que nunca mais irei esquecer.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mais Que Música: Just Another Fool (The Abused)

Que aconteceu a dar importância às letras das músicas? O hardcore não era sobre isso? Agora só se vê letras que não interessam à prima. Às segundas, fica aqui uma letra com significado que nos tenha feito pensar no seu significado mais do que uma vez. Afinal de contas, o hardcore também é sobre isso mesmo: pensar.



You don't hesitate to judge me

By the way I look or dress

Just stick me in a category
And put your soul to rest
Don't you feel much better
When you say we're not the same
It's so much more convenient
When you have a different name

Well I can think too
Maybe more so than you
I've got freedom of thought
I'm not just another fool

It's become a serious crime
To act or be different
Just because in your mind
It threatens your existence

Eu acho sempre bué engraçado quando um Zé Manel qualquer olha de lado para mim só porque sou "diferente". Nem é olhar de lado, é mais não ser levado a sério só porque sou do hardcore. Decerto que já aconteceu à maioria, mas é mais quando já és crescido que a coisa melhora. Os ténis sujos, com buracos. As calças de ganga gastas, a t-shirt que diz Career Suicide, a barba por fazer e, sendo straightedge, tudo o resto também, claro!

O que eu noto, principalmente, é que os miúdos do hardcore têm uma vantagem claríssima sobre "o resto" da malta. Pelo menos os que se involvem, claro. Marcar concertos, marcar tours, fazer tours, fazer zines, organizar viagens... basicamente: mexer o cu e fazer coisas acontecer. Hoje em dia são raras as vezes em que me dou ao trabalho de explicar o que é o hardcore, o straightedge e porque é que ambos me ensinaram a ser um homenzinho. Há pessoas que merecem o meu tempo, mas a maioria prefiro deixá-los a pensar que são especiais e estão muito mais à frente, até à altura em que os posso provar do contrário, normalmente da pior maneira possível.

Ser diferente, ser diferente, ser diferente. Ser olhado de lado quando se é diferente só porque os outros são um bando de iguais. Boring. Venha o próximo, com suas histórias aborrecidas, atitude não existente e estilo de vida tirado a molde. Boring mesmo, ainda bem que sou do hardcore, diferente e mesmo assim consigo pensar... "maybe more or so than you."

domingo, 21 de outubro de 2012

Review: Brutality Will Prevail + Terror @ The Underworld (Londres)


Ver Terror de novo em Londres? Pela (provavelmente) quarta vez? No brainer. Se há banda que para mim dá um concerto de hardcore como manda a lei são estes gajos, e com a formação de luxo que têm hoje em dia nem dá hipótese de pensar duas vezes. Encontrei-me com o Rui e o André e o convidado especial Zevimetal (“a lenda!” dizia-me o André) pouco depois da abertura de portas, e a desculpa da falta de tampões para os ouvidos do Rui serviu-me para comprar uns belos scones e uma garrafa de água que viriam a revelar-se cruciais lá mais para o fim do concerto. Diz que bazei do supermercado sem pagar mas é mentira, eu meti lá o dinheiro certo, a máquina é que atrofiou e eu estava sem paciência para assistências ao cliente da treta. Foi de ter ouvido o Lowest of the Low umas horas antes só pode.

A abrir supostamente tínhamos 3 bandas inglesas, mas acabaram por ser só duas. Não sei o que se passou, sei que o tempo todo que estava reservado à primeira banda foi utilizado pelos Broken Teeth para sound check, e depois para nos fazerem esperar…A banda estava toda no backstage, sala super bem composta para os ver, e os gajos não só deixam passar 5 minutos depois da hora “oficial” de entrarem em palco (acreditem, aqui no UK isso é coisa rara, mesmo para os headliners), como depois ainda entram em palco cheios de pachorra, voltam a afinar instrumentos…atitude de estrelas meio desnecessária para uma banda de abertura que me deixou logo a querer cagar neles.

Mas yah, deram o seu concerto bem sólido, mas para mim é das bandas mais chatas (já era a terceira vez que os via por isso não estou a mandar para o ar). Para miúdos novos tocam tudo na batata e a coisa soa toda impecável, mas o som não tem absolutamente nada de novo, e ao fim de 3 músicas já soa tudo ao mesmo. E não estou a ser hater, as outras 4 pessoas que estavam comigo acharam o mesmo. Há uns tempos ouvi dizer que eram os Trapped Under Ice de Manchester, mas só se for porque o vocalista tem uns moves e cabelo parecidos ao do Justice, porque o som faz-me mais lembrar uns Cruel Hand (sebem que menos Metallica e mais NYHC e mosh parts à Bulldoze aqui e ali).

De seguida o pessoal decidiu ir assumir um wrap monstruoso no Wood Grill, mas eu como estava orientado de scones decidi ficar mais o Miguel, e foi uma escolha certa (pelo menos no que toca a música, porque no que toca a culinária aqueles wraps arrebentam). Os Brutality Will Prevail entraram em palco pouco depois e a diferença para os rapazes de Manchester foi óbvia. O Miguel tinha-me explicado que a banda já não tem ninguém dos membros originais excepto o vocalista, e que a sonoridade também já não tem muito a ver com o que eles tocavam no início, mas acho que isso só pode ser bom porque deram um concerto que me deixou muito surpreendido pela positiva.

Granda peso no instrumental, naquela onda mais hardcore negro arrastado e a puxar influências do sludge e do metal do sulista, mas muito bem tocado e sem se tornar chato de todo. Para isso também ajuda o vocalista ter uma voz muito bem desenvolvida e uma presença muito segura em palco, que me fez lembrar o George de Blacklisted em partes, e o público estar visivelmente muito participativo, com muito sing along e mais stage dives, o que para mim rende sempre mais do que só sessões de mosh de ginásio no pit, e dá outra pica ao concerto. Fiquei fã, pelo menos ao vivo (porque em disco nunca lhes liguei muito) quero ver esta banda mais vezes.

E depois entraram os Terror em palco e foi o fim do mundo do costume. Concerto sold out, e desta vez diria até que a sala estava com lotação acima da capacidade, porque eu lá na frente tive momentos que quase fui esmagado e nem conseguia respirar…mas nada que uma subida ao palco e um stage dive não resolva. O Vogel estava especialmente comunicativo nesta noite, mas também meio repetitivo. Acho que não preciso ouvir 3 vezes que “Terror is not a fucking rock band” nem que “há bandas de hardcore que não apoiam a cena e só os vemos em concertos quando são eles a tocar”. Mas diz as verdades, isso é certo, e é preciso alguém as dizer, tocar na ferida e chamar as coisas pelos nomes. Isso sim é hardcore (mesmo que de vez em quando meta o pé na poça como foi com Refused). Dispenso é o factor cassete em loop, mas é o Vogel por isso dou-lhe o desconto. “MORE STAGE DIVES!”

O set desta vez teve menos faixas antigas, o que a mim me deixa sempre triste, mas compreende-se porque a banda está prestes a lançar disco novo por isso tem que ir cortando…não tocaram nada do disco novo atenção, mas como passam cá a vida vão habituando o público de concerto para concerto. Ainda assim deu para ouvir a Life & Death (já disse que é das minhas letras favoritas de sempre?) e mais algumas do segundo disco que também me deixam maluco. E a Keepers of the Faith já é um hino, deu para mandar uns 3 dives só nessa música sem tocar no chão. Power.

E como não são uma banda de rock, não há cá encore para ninguém, foram 40 minutos sempre a esgalhar e adeus boa noite. Terror a mostrar que continuam a ser das bandas de topo, tão de topo que se calhar já era preciso uma sala ligeiramente maior para os acolher, e certamente haveria mais público para encher essa sala, mas o Underworld já é como que a segunda casa deles em Londres (DVD ao vivo gravado na sala) por isso duvido que isso alguma vez aconteça.

Playlist da Semana #16

Todas as semanas, a Playlist da Semana. Porque no partilhar é que está o ganho.


One Life Crew - Crime Ridden Society - Dormi sobre One Life Crew durante demasiado tempo e só há um par de meses é que comecei a dar atenção a este disco. A tal banda que vive da (má) fama voltou a dar que falar aí com um show em que tinham um merch manhoso contra o Obama e outro contra os Integrity. Este disco é tão bom que quase dá para esquecer as letras manhosas da Pure Disgust. A sério, uma música contra os imigrantes ilegais mexicanos, e na última (Our Fight 1995 de Confront, que malha!!) uma faixa toda da união entre raças. Ya, claro que eles viram que o caminho a seguir para a notoriedade era mesmo o de criar controvérsia, e nos discos que se seguiram entraram numa cena anti-pc levada ao extremo, que já não interessa nem ao menino jesus. 

Stop And Think - Both Demos - Without words (hint, hint). 

Youth Violence - Self Titled - Vi aí uma publicidade ao bandcamp desta banda nova de Virginia Beach, em que faziam a referência a Violent Minds, 86 Mentality e Oi!. Claro que dei a chance. E vocês deviam dar também! Três faixas sabem a pouquíssimo, mas deu para abrir o apetite. 

Paint It Black - CVA - O Machado anda sempre aí a meter vídeos de tudo e mais alguma coisa, e meteu um video destes gajos num sitio que me fez lembrar os Silos nas Caldas. Como não conhecia a banda disse para eu ir ouvir este disco. Ainda pensei que fosse uma cena manhosa à Snapcase mas até é nice. Hardcore de malta que ouviu muito Punk Rock, sempre a esgalhar e tal. Boa cena. Ele disse logo que os discos a seguir não eram tão bons, pelo que me vou ficar por este. Sou capaz de voltar a ele daqui a uns tempos quando o sol voltar a brilha r, que isto está mesmo a pedir para acompanhar uma granda praia.


No Turning Back - Rise From The Ashes - Tenho imensa dificuldade em escolher um disco preferido de No Turning Back. São quase todos buéda bons. Já não visitava este há algum tempo e no seguimento do tópico que discutimos na nossa página do Facebook decidi dar-lhe mais tempo de antena. É bom. É muito bom. É tão bom, que a única coisa má é mesmo a cover muito fraquinha de Breakdown. Não sei, há ali qualquer coisa no baixo que não me convence. Tirando isso... nada a apontar. Sirvam-me as duas malhas do split com The Deal ao pequeno-almoço todos os dias para o resto da vida que eu sou um homem feliz.

Terror - One With The Underdogs - Claro, semana de concerto de Terror pede discos de Terror. Às vezes pergunto-me se não estará na altura de dar uma chance aos discos que eles lançaram a seguir a este? Talvez deixar de embirrar com o facto deles mandarem thrash a mais para o meu gosto? Hmm, talvez. Quanto a este disco... ya, palavras para quê? Follow up perfeito ao LOTL - mais groove, mais raiva, mais tudo. Sem espinhas.

Rage Against The Machine - Evil Empire - E aquele Verão em Sesimbra, ainda nos anos 90, em que eu levei o rádio, mas esqueci-me de levar as cassetes? Ficaram todas em Lisboa, menos a do Evil Empire, que estava enfiada no deck. É porque não passei duas semanas a ouvir este disco quase em repeat. Eu a música... história interessante. Anyway, estou sempre entre este e o primeiro. Ou é este ou é o primeiro. Já deixei de tentar perceber qual gosto mais... nuns anos é um, noutros é outro. O terceiro também é fixe. Se é das minhas bandas preferidas? Sim, certamente. Obrigado por perguntarem.

Deftones - Around The Fur - Que discão! Há várias bandas que quando me bate, fico a revisitar a discografia durantes umas semanas. Deftones? Check. Black Sabbath? Check. Ringwork? Check. É pior que Skittles, não consigo mesmo parar. E é mau, queres ver? Mais bandas assim, por favor. Pah, Around The Fur. Não é o meu preferido deles, mas é bom demais. Grandas riffs, granda groove e, no geral, granda maluqueira. Aquilo que a malta gosta, basicamente.

Discharge - Why - Fala sério mermão, quem não gosta de Discharge... nem vou acabar a frase. Tenho andado bué a ouvi-los, nem sei bem porquê. Acho que foi desde que voltei da Argélia, deve ser o rebelde dentro de mim a vir ao de cima por ter tido que trabalhar logo sete dias de enfiada como se nada fosse. Ta que pariu. Mas tá-se bem. O importante é isto ser uma bomba de hardcore punk como só os Discharge sabiam fazer. Só a batida chega para tudo o resto. Tu pa tu tu pa tu tu pa tu pa tu tu pa tu tu pa. 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cinco Às Quintas: Carlos Silva (Shitmouth)

Esta é uma rubrica em que colocaremos à quinta-feira uma pequena entrevista rápida com cinco questões a uma banda.
 


Os Shitmouth são uma banda de malta nova do Porto e Gaia que está a dar os primeiros passos. Não sei muito sobre eles, apenas que vão dar este Sábado o seu primeiro concerto e que, a julgar pelos videos dos ensaios que disponibilizaram no seu blog, ouviram muito Circle Jerks e bandas rápidas dos anos 80. Segue uma pequena entrevista ao Carlos, o baterista, para saber o que a rapaziada tem a dizer sobre a banda. A ter em conta!

Para começar, vamos logo ao que interessa, conta-nos um pouco como é que surgiu a ideia de formar a banda. Até porque não sei muita coisa sobre a tua banda, para além de que não só ouvem coisas bem boas como parecem querer fazer um som bem à antiga, o que é cada vez mais raro, especialmente na malta mais nova.

Bem, eu desde que comecei a ouvir mais a cena punk e hardcore, comecei também a apoiar a cena DIY. E desde que comecei a ouvir mais as cenas tipo Black Flag, Circle Jerks, Negative Approach, não deixando de parte OFF!, porque apesar de serem recentes, continuam com o espirito old school, e essas coisas bonitas dos 80's, senti uma necessidade de formar uma banda nesta onda. Acho que o pessoal de agora da nossa idade se esquece um bocado das origens. Um dia em conversa com o João Borges (vocalista), falei-lhe desta minha ideia, de criar uma banda com este espirito do inicio, e ele curtiu. Quando começaram as aulas, conhecemos o Pedro Santos (guitarrista) que toca guitarra, falámos com ele, e ele alinhou de imediato. Entretanto falei com o meu irmão, Alexandre Silva (baixista), sendo que já tocamos juntos em Destruction Eve, e ele aceitou em ir para o baixo. E assim surgiram os Shitmouth.

Pegando só na questão do som antigo e do desinteresse da malta mais nova por ele. Há bem pouco tempo em conversa com um rapaz essa questão veio ao de cima e posteriormente foi discutida pelo pessoal aí no fórum da cena. Achas que isto deve-se ao quê, este descurar as raízes do hardcore e do punk? Eu fico meio sem saber se é falta de vontade em procurar, se é do géneros musicais de onde esses miúdos são provenientes ou se é apenas um sinal dos tempos. Eu também não "entrei" no hardcore a ouvir Bad Brains ou Circle Jerks, acho que é um gosto que se adquire, mas agora parece que se quer tudo bonitinho e limpinho, tudo bem formatado e o resto é merda.

Agora muito pessoal pensa que o hardcore é apenas alargadores e tatuagens, e ligam muito menos ao significado da música. Na minha opinião há menos cena DIY, as pessoas querem tudo muito bem gravado, com alta qualidade e merdas do género. Acho que se baseia um pouco nos dois factores que mencionaste, a falta de vontade para procurar as ditas raízes, porque arranjam mais facilmente as cenas recentes e portanto cagam nas bases, mas também provém dos géneros musicais a que estão habituados, porque estão habituados a ouvir as cenas recentes e ignoram o resto.

Voltando à banda. O que é que nos podes adiantar sobre o futuro da banda? Deduzo que estejam aí a compor umas malhas para uma demo. Já vi que têm no próximo Sábado o primeiro concerto...fala-me um pouco do que é que os Shitmouth estão a preparar.

Ora bem, ainda estamos no inicio mas começamos muito bem, as ideias estão a fluir de uma maneira estrondosa, sempre com pica para ensaiar e criar novas cenas. De momento temos algumas coisas prontas para apresentar, e estamos a criar ainda mais, visto que ideias é cena que não falta. Estamos a pensar gravar uma Demo, em tape, lá para o inverno, já com algumas cantigas para animar a malta. A nível de concertos, como já disseste, temos a nossa estreia neste sábado, na Casa Viva,vai ser muita festa, e esperamos ter muitas mais oportunidades para demonstrar o nosso valor e a nossa vontade!

Isso é que é preciso, força de vontade para por as coisas a mexer. Vocês escolheram um nome bem forte para a banda. Tem algum significado especial? Foi alguma dica para alguém que andava aí só a dizer merda, ou como é que foi.

O nome pode ser relacionado com o que falámos anteriormente mas também pode ser interpretado como uma critica a sociedade actual, que se queixam de tudo e todos mas não fazem nada para mudar o minimo que seja, simplesmente se contentam com o que têm e limitam-se a mandar umas bocas a ver se chove alguma coisa para o lado deles. Mas a interpretação mais directa que se pode fazer é que simplesmente somos um grupo de 4 rapazes que não escondem aquilo que têm para dizer, simplesmente dizemo-lo e não interessa se chocamos sensibilidades ou outras merdas do género. Um dia estávamos reunidos num intervalo das aulas e a dizer nomes para a banda e surgiu Shitmouth, todos nós curtimos e batia certo com a ideologia da banda por isso assim ficou Shitmouth.

Parece-me bem. Este país realmente está mergulhado num abismo do caralho, e cada vez vejo a tal luz ao fundo do túnel mais distante...O que é mais vos inspira quando estão aí a compor as faixas? Musicalmente já deste algumas dicas, mas ao nivel da escrita, falam do quê? Já agora, e como é a última questão, estás à vontade para fazer aí a promoção que entenderes, dares beijinhos e abraços ou prognosticares a chave vencedora do Euromilhões.

A nível da escrita basicamente é deixar fluir toda a raiva, toda a fúria, tudo aquilo que queremos dizer mas que pelas vias normais não o conseguimos fazer chegar a toda a gente, então através das nossas letras conseguimos atingir um número maior de ouvidos e mentalidades às quais pretendemos passar a nossa mensagem. Temos tudo em http://shitmouth.wordpress.com/, lyrics, vids com as músicas, os eventos!

Desde já agradeço-te imenso este convite para esta entrevista, agradeço também a todas as pessoas que lerem isto e a todas as pessoas que contribuem e apoiam a cena hardcore/punk nacional (e internacional também, mas ouçam o nacional que temos grandes cenas). Deixo também grandes cumprimentos a todos os colaboradores deste blog, pois está espectacular, e que continuem com este fantástico trabalho.

Te lougo, passem todos bem!

Review: Devil In Me + Reality Slap + Steal Your Crown @ Ritz, Lisboa


Mais uma vez, combinação em cima do joelho. Parece que resolver tudo em cima da hora e/ou chegar atraso é a minha nova sina. Nem era para ir ao concerto. Não que conhecer o Ritz não fosse por si um bom motivo para ir até à Rua da Glória, mas tinha umas coisas para fazer (não tão urgentes assim) e já estava a contar passar o resto da tarde a ver a NFL enquanto comia umas pipocas. Entretanto liga-me um amigo meio perdido em Lisboa, que ia ao show sozinho, e não sabia onde era, não sei quê...bom, dei uma de bom samaritano e vamos lá. "A carteira depois dá-me na cabeça..."

Chegamos já atrasados ao concerto, já tinha tocado Pura Repressão. Fiquei com pena, banda antiga que nunca tinha visto, nem que fosse para dar o visto na checklist do "já vi" deu. Muita malta à porta. Muito miúdo novo. Alguns já lhes tinha decorado a cara do concerto da semana passada, outros, bastou olhar para as t-shirts e parafernália para ver que certamente não os tinha visto nos concertos que frequento.

T-shirts cheias de gatafunhada e tripas, e outras daquelas tshirts buéda punks que se compram na Zara e na Pull & Bear de Guns N Roses e Ramones, orelhas de cão e cabelos às cores davam-me logo a dica que estava na presença de uma cena diferente da que estava habituado. Depois claro, a malta da pausa do costume, e outros ainda aprendizes. Era isso e haver miúdas bem underage a dar com um pau, algumas com menos roupa que muitas das que vejo à noite no Bairro Alto. Não quero estar aqui a dar uma de segregacionista ou de avôzinho conservador, mas não é algo a que esteja habituado nos concertos de hardcore. Signs of the times...

Não sou do tempo dos shows no Ritz, com pena minha. Um gajo viu os vídeos, e fica sempre a pensar como teria sido estar lá. Fica-nos o presente, e esperar o que o resto da tarde nos reservaria. A sala é muito fixe. Mais pequena que a República da Música, e mais "acolhedora". Uma zona de bar com janelas, um loungezito a seguir à entrada e um "primeiro andar" na zona do concerto, assim na onda do Santiago Alquimista ou da Caixa Económica, sendo que os corredores são bem mais estreitos que nesses dois sítios. Zonas de bar a dar com um pau (e reza a história que as bebidas eram bem caras, não checkei). Palco com a altura certa, sem ser muito grande, enfim, sala bem boa, nem quero é saber o preço do aluguer...

Encontro algum pessoal conhecido, aquela conversa da praxe, e lá subo a tempo de ver Steal Your Crown. Concerto animado com direito a OLC e a participações da Carina e do Domy, muita malta já na sala, muita malta a moshar, tudo animado. Engraçado que não vi muita malta da Margel Sul lá a curtir. Não sei, estava cá mais para trás, mas achei piada ao pessoal que mais vibrava com as streets da MS serem miudagem da linha de Cascais. Na volta vi mal...

Depois de mais algum tempo na conversa, veio a vez de Reality Slap. Agora com o João em Londres os shows de Reality Slap são mais escassos, pelo que é sempre uma boa ocasião aproveitar para os ver. Fui lá mais para a frente com o meu amiguinho Machado, e logo nos primeiros acordes foi pancadaria de meia noite, side to side, malta a voar, business as usual. A malta a vibrar mais nas faixas da demo num set que pecou por ser curtíssimo. Em conversa após o set, a cena soube mesmo a pouco, e faltou ali algum feeling extra na performance, que a malta que os acompanha costuma notar. Vim a saber dias depois que tinha havido um stress com o avião do João, e que as poucas (nenhumas?) horas de sono eram o principal culpado desse cansaço. Ainda assim, rendeu.

Hills Have Eyes tocaram pa caralho. Por "caralho" entenda-se tempo de mais, que acho a banda horrível. Não vi nada, fiquei no bar cá em baixo, mas depois de mil anos no soundcheck e outros mil a tocar, já estava a olhar para o relógio.

Depois de combinar formar três bandas em 15 minutos com o Machado e o Bruno das Caldas (lol), lá subimos as escadas para ver Devil In Me. Vim mesmo cá para cima, com vista priviligiada para o mar de gente que estava no Ritz. Mais de 400 pessoas? Check! Logo a abrir, uma intro de dubstep. "Que merda é esta?" pensava eu, enquanto os miudos punham os braços no ar e gritavam todos malucos. "Ok..." pensáva cá para mim. Epa, a banda dá um concerto do caralho, são (certamente) bons no que fazem e o público mais novo estava todo craize. A miúda que estava ao meu lado estava toda maluca, a debruçar-se do varandim e aos berros. A dada altura dá uma música que começa tudo a bater palminhas. Epa...intro de dubstep, palminhas e muito "oooooh", não é decididamente a minha chávena de chá. Mas a malta lá continuou toda maluca, houve tempo para um set em que tocaram os hits todos (digo eu que não acompanho a banda), mas o público sabia as músicas todas e não se cansou de as cantar.

Contas feitas, boa tarde no Ritz, fiquei a conhecer um espaço do caralho, vi uns concertos porreiros, umas personagens engraçadas, boa conversa com amigos, tudo nice. No entanto fiquei com um sabor amargo. Não sei se estou a ficar velho e não acompanho a evolução das coisas, mas faltou uma cena que para mim é importantíssima. Mais do que ter 400 miúdos numa sala aos pinotes, faltou algum feeling a meu ver. Muita coisa é dita, muita coisa é feita, muita coisa acontece que não está bem na linha do que eu entendo ser hardcore, ou que seja saudável para o hardcore. Mas isto é uma review, a conversa cansada de rezingão ficará para um texto que deve sair proximamente.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Discos Trocados: Weekend Nachos/Borrowed Time

Todas as semanas trocamos um disco entre nós e falamos um pouco sobre o disco que nos calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.

Ainda a ressacar do deserto do Sahara, o André voltou a ficar na bancada para o pontapé de saída dos Discos Trocados desta semana. E não é tão fixe ter outras opiniões para além das habituais? Até serve para não se cansarem. A fava caiu ao Hermano Duarte, e aqui seguem os discos que trocámos.

Hermano
Weekend Nachos - Punish & Destroy (2007)

Bem aqui está uma das melhores surpresas dos ultimos tempos. Lançado já no ano de 2007 tenho imensa pena que só agora tenha vindo parar à minha vida. O Punish & Destroy é um album com 25 temas em que cada um tem em média menos de um minuto de duração (nem esperava outra coisa). Liricamente apresenta um desabafo contra os podres sociais da cena hardcore actual assim como umas quantas críticas politicas, letras estas que me deixaram com saudades dos tempos raivosos de Outbreak. A sério, leiam as letras que vale bem a pena.

Musicalmente viajam por diversos mundos, sem nunca se perder a bandeira hardcore punk de vista. Começas a sentir um hardcore rápido a fazer lembrar uns One Life Crew, quando de repente aceleram ainda mais para um thrashcore a passar a barreira do som (como aquele gajo que se mandou lá do espaço), com o baterista a fazer uso dos pratos como se estivésse a compôr um remake do A Blaze in the Northern Sky. Quando pensas que não vai passar dali abrandam repentinamente para uns riffs super sujos, na melhor tradição do sludge metal.

Adorei este álbum e vou procurar mais releases desta banda, obrigado Tiago!


Tiago
Borrowed Time - No Escape From This Life (2006)
Nunca tinha ouvido falar nesta banda, e após a pesquisa do costume para arranjar umas cábulas parece que pouca gente ouviu. Estranho, o disco saiu na Reaper (ainda nos primórdios), mas deve ter passado ao lado. O som é porreiro, riffalhadas à crossover dos anos 90, bué chug chug chug mas com pinta.

Óbvio que tem uma data de breakdowns para o mosh duro, afinal estamos a falar de um disco referênciado pelo Hermano, mas breakdowns de hardcore, se é que estás a perceber a cena. Curto bué a voz do vocalista "principal" (há uma data deles a cantar) faz-me lembrar não sei bem o quê, mas é bem fixe. Riffs bem bons aqui e ali, disco sólido e boa adição à colecção de mp3s. Valeu!

O Darby Responde #3 - Straightedge Revenge

Agradecemos a todos - do fundo do nosso coração - a quantidade de cartas, mensagens, emails e telegramas que nos têm sido enviados. Infelizmente não temos tempo para vos responder a todos pessoalmente, de modo que decidimos falar com o nosso buddy Darby, que se disponibilizou de imediato para responder a todas as vossas dúvidas! Semanalmente, a melhor carta - escolhida e respondida pelo Darby - ganha destaque nesta rubrica.


Oi malta, estou a escrever por causa de algo que se passou comigo recentemente e gostava de ter a vossa opinião. Eu no outro dia estava num concerto de hardcore assim mais punk, aqui na Margem Sul, e no meio da roda houve um selvagem que - literalmente - me despejou um copo de cerveja em cima. Eu sei que não foi de propósito mas fiquei mais que doente com isto, até porque é uma autêntica falta de respeito para alguém straightedge. Fiz questão de levar dois X bem grandes nas mãos, uma t-shirt daquelas a dizer It's OK not to drink e uns patches na mochila a dizer várias coisas tipo "Straightedge means I'm better than you" e isso. Como tal, a minha diferença estava bem assinalada e não há desculpa possível para aquele tipo de atitude desrespeitadora.

Até que ponto é que eu devo tolerar este tipo de falta de respeito? Lembro-me sempre da música dos Project X, a Dance Floor Justice - que fala exactamente deste tipo de situação. Acho que ambos concordamos que straightedge é o standard da pureza, não? Porque é que os selvagens hão-de tomar conta do mosh pit e fazerem pouco de nós como se nada fosse? Será que está na altura de lhes mostrar que os "meninos" - como eles nos chamam - não são assim tão meninos?

Alberto Marques - Cova da Piedade

Olá Alberto,

Eu não sei há quanto tempo és straightedge ou vais a concertos de hardcore, mas acho que estás a levar tudo um bocadinho a sério demais. O concerto de hardcore é um espaço para todos, se tens problemas em te misturar com pessoas que são diferentes de ti e sentes necessidade de te diferenciar assim tanto, acho que estás na cena errada. Já ouviste falar em respeito? Ya, claro que a cena da cerveja é fodida, já nos calhou a todos - mas porque não foste para um sítio onde não houvesse malta com copos de cerveja? 

Straightedge não é standard para nada, muito menos para pureza. E claro, também não significa que és melhor que A, B ou C. O que é ser melhor que alguém? Podes ser mais consciente e ter mais respeito pela tua integridade, saúde e pela forma como encaras a sociedade mas isso não faz de ti melhor que ninguém. A música de que falas fala sobre um bêbedo que estava a arruinar um concerto, não um episódio onde um marreco levou um banho de cerveja. São coisas ligeiramente diferentes. 

Honestamente, acho que está na altura é de levares um granda reality check e perceberes que só recebes tanto respeito como aquele que distribuis. Se andas armado em Capitão Straightedge, o mais provável é ou daqui a uns anos já teres bazado para outra ou acabares a levar nos cornos de alguém que não vai ter paciência para te aturar. Vicissitudes da vida. Mas a sério, abre a pestana. Punks, bêbedos, straights... whatever. Somos todos iguais. Preocupa-te mais com aquilo que és e fazes do que com aquilo que os outros são ou fazem - mesmo que isso afecte o teu espacinho straightedge onde te achas um ser superior. Tasse? Relaxa um pouco e vive a vida devagar, vais ver que vale a pena.

Darby

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Review: Punch + Negative Approach @ The Underworld (Londres)


Depois de voltar de uma magnífica (mas bem craze) semana na Argélia para um autêntico primeiro dia de merda de volta ao escritório, não havia nada como um concerto de Negative Approach para me fazer relaxar um pouco. Mesmo a sério. Não é como se Killing Frost não tivesse tocado praí... umas 4 ou 5 covers deles. Pshi, até da Tied Down. Granda onda. Anyway, encontrei-me com o peeps do costume lá à porta e fomos representar o concerto desde o início - algo que é MUITO raro. Mas hey, era um concerto de hardcore, com bandas de hardcore (dica) por isso até que estava excitado para ver umas bandas que não conhecia.

A primeira banda foram os Blasted, que eu nunca tinha ouvido nem tinha ouvido falar. Curti bué, tirando um outro pormenor nalgumas músicas e o facto do baixista não se mexer. Eles eram um trio onde o guitarrista era vocalista e o baixista fazia backing vocals. O som... soou-me muito Nardcore misturado com Life Sentence. Sabem? Se calhar não, mas é boa oportunidade para investigarem - sempre aquele desbloqueador de conversa num date com uma miúda gira, LOL! Brinco. É aquele som sempre a esgalhar, com riffs bem crus, alguma melodia e buéda coros - com a bónus acrescido da voz lembrar bué Zeke. Eu pessoalmente gosto imenso. Se estou a pensar entrevistá-los? Yup. Fica a dica para o peeps que já me perguntou como é de bandas por aqui: http://blastedband.bandcamp.com (hmm, as músicas ao vivo soam bem mais rápidas).

Depois vieram os SSS (que eu acho que o Tiago curte bué), mas que nós nem vimos. Ficámos a bater boa conversa tchillada nos bancos cá fora ao pé do bar. Enfim, miudagem do hardcore... já se sabe como é... sempre danados para a conversa. Thrash? Pareceu thrash, mas não sei dizer - estava meio abafado o som. Sorry guys! Fica para a próxima.

O plano era ver umas malhas de Punch e depois ir representar o já famoso falafel com batata frita lá dentro (o Ema vacilou...!). Punch é boa pomada, hardcore bem rápido de San Francisco com uma miúda a cantar - as partes rápidas lembram Infest, mas só muito ligeiramente. Ela parecia um bocado tímida mas se calhar era porque estava cansada. Vimos quase o concerto todo e bazamos para jantar. Já disse que o Ema vacilou? Disse que ficava muito seco... desculpas! Não admira que tenha sido o primeiro a acabar.

Voltámos mesmo a tempo de apanhar a primeira malha de Negative Approach e... tu bates mal man! A cara do gajo, a energia, a completa despreocupação em mandar pregos, a voz do gajo, a violência no mosh pit, tocarem as músicas todas (sim, incluindo a Lost Cause), a cara do gajo, as covers de Sham 69 e 4 Skins e tudo o resto. Foi brutal. Salvou o meu dia de ser uma granda trampa e é mesmo isso que a malta curte.

Melhor ainda, lembrou-me (não que eu estivesse esquecido) porque é que hardcore ainda faz sentido. Hardcore. HARDcore. Entendem o que digo? É sempre a bombar.

À Conversa Com... Joana Duarte

Acho que ainda não estava escrito em lado nenhum, por isso vou escrevê-lo eu: a Joana é provavelmente a miúda mais activa que a nossa cena hardcore viu na última década de picos. Desde marcar concertos, a fazer zines, gerir distros e editoras e - mais importantemente - marcar sempre presença, ela já fez um pouco de tudo. Para além disso (e de ser cientista!) é uma das pessoas mais doces e dedicadas que eu conheço - dentro e fora do hardcore. Pena que não haja mais como ela - o mundo seria certamente um sítio melhor.


Há bué memórias de "back in the day" que dificilmente irei esquecer (por um motivo ou por outro), uma delas é estar contigo à conversa na Kasa Okupada da Praça de Espanha. Eu tinha sorte, porque morava quase mesmo lá ao lado mas tu, se a memória não me falha, nessa altura não só não vivias em Lisboa (longe de), como ainda não tinhas carro. Como era, há doze anos atrás, ser miúda, não ser de Lisboa, e mesmo assim ainda vir a concertos?

Fogo nem parece que foi assim há tanto tempo e nem acredito que já lá vão 12 anos! É bom relembrar esses tempos! Bom nem sempre os concertos eram só em Lisboa... Haviam alguns concertos em Salvaterra e em Vila Franca. Renewal e Shoal tocaram em Vila Franca, Omited ía muito a Salvaterra, bem como algumas bandas da margem sul, e ir para esses lados era mais fácil, lá ía de boleia com os amigos de samora, o pessoal de nine fingers left, entre outros. Mas pronto, a maior parte dos bons concertos eram em Lisboa e não era nada fácil!

Fazíamos granda ginástica para apanhar o comboio e metro, e principalmente porque muitas vezes com os atrasos dos concertos na Kasa Okupada, aquilo já começava tão tarde, que víamos a primeira banda e tínhamos de bazar a correr para apanhar o último comboio para Vila Franca que era lá pa meia noite! Era uma frustração! Mas pronto lá dava para ir vendo as bandas que adorávamos! Às vezes apanhava boleia com pessoal de Alhandra e depois íamos de taxi para Samora, outras vezes ficava a dormir em casa de amigas em Lisboa...Enfim, esquemas para poder ir ao máximo de concertos possível. Sabes que naquela altura e com aquela idade nada era difícil e estávamos dispostos a tudo!

Sim, isso é verdade. Claro que não haver tanta variedade como há hoje fazia com que as opções fossem muito menores. Ou era aquilo ou não era nada. Tu sempre foste uma miúda muito activa e determinada (pelo menos desde que te conheço), em que altura é que te começaste a dar com as miúdas da Sisterhood e, efectivamente, te juntaste ao grupo?

Bom, na realidade ainda levou algum tempo a conhecer as miúdas da Sisterhood, deixa-me cá fazer contas... Inicialmente ainda lancei duas fanzines minhas que fiz sozinha, a HappyxDays, que só saíram praí 20 cópias que vendi ainda na fase da Kasa Okupada e depois a XunikaX (que era o meu nick do mIRC, lol), 100 cópias que até saíram bem. Se bem me lembro esta última fanzine saiu por volta de 2003, por isso só depois dessa altura é que me juntei à Sisterhood! Até então só me dava com pessoal do Algarve, o pessoal de Pointing Finger e contigo e com o Filipe! Ahaha, bons tempos! Como estava sempre com Pointing Finger, a Duda, a Sofia e a Meg quando vieram falar comigo, disseram que se tinham lembrado de falar "com aquela miúda do algarve"; lá esclareci que não era bem do Algarve. Quando me falaram nisso até fiquei entusiasmada, sentia que era uma maneira de fazer as coisas que gostava e ambicionava fazer, tipo organizar concertos, fazer fanzines, mas com pessoas que partilhavam os meus ideais. Foi uma forma de me divertir e conhecer algumas pessoas que até hoje são minhas grandes amigas!

Claro! Como é que não me lembrei dessas fanzines! Isso por acaso deixa-me curioso em relação a outro assunto: de onde veio a tua motivação para fazeres as fanzines e que tópicos é que te lembras de abordar nelas? Eu acho que as fanzines são uma parte importante da cena e espero, através do blog, fazer com que haja um interesse renovado nelas.

Sim, o vosso blog é uma grande contribuição para o mundo das fanzines cibernéticas no hardcore português e acho que é uma iniciativa de louvar. Quanto a mim e à minha motivação, quando escrevi a primeira fanzine ainda era uma coisa muito verdinha, e saiu-me de uma forma muito natural, escrevi colunas pessoais sobre temas que me incomodavam na altura, alguns ainda muito actuais, como por exemplo as touradas (na altura foi quando foi montes de pessoal que nós conheciamos das manifs ao Prós e Contras), e o texto que escrevi abordou esse mesmo programa, fazendo um paralelismo com as discussões constantes que vivo lá em casa pelo facto de o meu pai ser um ribatejano de gema; teve também uma entrevista a Pointing Finger (por serem meus grandes amigos na altura), e até anedotas parvas a fanzine tinha ahah!

Depois a outra fanzine “XunikaX” surgiu noutro contexto... eu estava fora a estagiar, e escrever uma fanzine mantinha-me como que de alguma forma mais ligada à nossa cena! Escrevi alguns textos mais a título quase de reportagem, sobre a origem do punk e do hardcore, sobre a exploração e discriminação das mulheres nos países árabes e orientais, entre outros. Desta vez tive algumas participações nas colunas, e fiz uma entrevista ao Raycar, e já não sei se foi a Get Lost (o pessoal do Algarve sempre presente, eheh), tinha também reviews de álbuns, playlists, enfim... uma coisa assim mais profissional, mas sempre muito DIY cut & paste style que eu com layouts e coisas mais artísticas sou um granda zero! Depois com a sisterhood as fanzines já saíam assim uma coisa mais bonitinha e mais pensada...

Portanto tu passaste a fazer parte da Sisterhood antes de ires para o estágio (que, estou a supor, foi o de Paris)? Quanto tempo estiveste fora e como é que foi essa experiência? Sentiste falta da cena hardcore portuguesa ou aproveitaste para te integrar com a cena de lá? Que concertos viste?

Hmm, o timing foi diferente: Tive em Paris sim durante uns sete meses, espalhados entre 2003, 2004 e 2005. Portanto 2003 foi quando lancei a minha fanzine xunikax quando ainda não fazia parte da Sisterhood. Entretanto fui "recrutada" algures entre 2003 e 2004 penso! Nunca deu para sentir muitas saudades da cena de Portugal, porque o tempo que lá tive foi relativamente curto e muito distribuído, por isso ia dando para matar saudades de cá! Mesmo assim lembro-me que nessa altura em Lisboa haviam concertos com alguma frequência e lembro-me de ter ficado triste de falhar alguns concertos!
De qualquer forma ainda deu para ver alguns concertos em Paris mas nunca deu para me integrar muito bem na cena Parisiense. Aquilo lá era assim meio estranho, não havia concertos assim com tanta frequência, a cena new school era totalmente à parte e muito misturada com cenas freaks emo e a cena old school deles era assim meio misturada com a cena hip hop.. não me identificava muito com as pessoas e não interagi muito, ia sozinha e saía sozinha. Ainda fui ver Born From Pain com No Turning Back, quase na mesma altura em que tocaram também no Campo Grande, ao qual também fui!

Em 2004 fui a um reunion show de Good Clean Fun ("2004 reunion tour go!" como diz a letra, e assim foi) que por acaso acabou por não acontecer porque a bófia acabou com o concerto antes mesmo dele começar! Mas foi giro na mesma tivemos lá todos na conversa com o Issa, e depois eles ainda venderam algum merch! Foi também nessa altura que tive a tua visita, do Congas e do Pedro. Depois em 2005 não consegui apanhar mesmo nenhum concerto, mas também o tempo passou rápido! Adorei Paris! Nessa fase, em que fui chamada para a Sisterhood até foi bom, porque andava meio desanimada com uma distribuidora que tinha formado com o pessoal de Samora, e tinha dado granda buraco o nosso lançamento... e a Sisterhood veio dar-me alento e motivação para me continuar a dedicar à cena em Portugal!


Lembro-me dessa distribuidora! Até me lembro de um cliente que te pediu para guardares um disco praí durante... dois ou três anos! Que vergonha! Também me lembro de um concerto que organizaste com uma série de bandas (que, infelizmente, não correu muito bem) aí para os teus lados. É possível que sejas a miúda do hardcore mais activa de sempre na cena portuguesa, tens noção disso? Fala-me um pouco mais desse disco que lançaste e da distribuidora e dos concertos que marcaram. Tudo isto aconteceu enquanto estudavas, certo?

Ahah, André acho que estás a exagerar... nunca tive uma banda! Faltava me isso! Mas bom vamos lá por partes: essa distribuidora, a Hard To Break, durou pouco tempo, falimos rapidamente por causa do nosso primeiro lançamento, que na realidade era para ser Reconcile da Argentina, que eu adorava ter lançado, mas metemo-nos a lançar No More Fear de Itália (que acabaram logo depois do lançamento), porque já estava tudo mais ou menos tratado e era a meias com a Fields of Hope da Alemanha - mas quer-me parecer que nós pagámos o lançamento todo. Isso deixou me um bocado triste na altura e organizámos o Hard To Break Fest para recuperar o dinheiro (esse tal festival em Vila Franca que mencionaste). O festival foi com Omited Grass Reaction, New Winds, Pointing Finger, Get Lost, The Punchskulls e Over The Kitchen Table. Foram tipo 80 pessoas, mas numa sala em que cabiam 500... Fiquei desanimada, mas tenho a noção que a maioria das pessoas que apareceram em Vila Franca foi para me ajudar, e isso foi muito bom - sentir o apoio dos amigos. As bandas também tiveram grande atitude, era tudo pessoal com quem eu me dava muito bem e facilitaram-me a vida! Enfim, hardcore é hardcore.

Bem, nessa altura o David e o Valter do Algarve convidaram-me para me juntar à Take The Risk e as coisas encaminharam-se e até tivemos lançamentos muito bons: o split de Another Year com Death Is Not Glamorous, Rat attack, Broken Distance, e Reality Slap (o último lançamento da Take The Risk)! Foi uma fase muito boa da minha vida, ir em tour com Pointing Finger e Broken Distance, ficar na banca da Take the Risk, ver bandas que eu adorava, dormir na casa de novos amigos por toda a Europa, fazer quilómetros de uma ponta a outra da Alemanha a conduzir a carrinha com o pessoal a dizer merda lá atrás! Saudades...! Mas voltando atrás, sobre a Hard to Break não há muito a dizer, durou praí 2 anos essa distribuidora, depois juntei-me à Take The Risk em 2005 e aí sim foi a sério! Aliás a o disco a que te referes, suspeito que ainda está lá de parte para ti! Ahah!

Marcámos imensos concertos, principalmente no Algarve, claro que o David e o Valter quando era lá em baixo é que se mexiam pa fazer as cenas, eu ia lá ter ao fim de semana pa ajudar! Fizemos Go it Alone, Colligere, Allegiance... sei lá! Também fiz alguns concertos em Lisboa, mas não era só com a Take The Risk. Posso enumerar alguns que me venham à cabeça... organizei muitos com o Raycar (Cinder e Dick Cheney em Setúbal) e com a Sisterhood (o de Death Is Not Glamorous, ou o último de Pointing Finger em Lisboa, por exemplo), ou com a JustxDuet, que era eu e a Sofia (Fired Up e True Colors, que foi um granda concerto), ou até com o Rafa (o de The First Step em Linda-a-Velha).
Tudo isto aconteceu mais no final do meu curso, apanhou o estágio e a fase em que comecei a trabalhar! Mas era algo que sempre me deu imenso prazer, e apesar do meu trabalho exigir muito a nível intelectual e de tempo, sempre consegui arranjar tempo para o que me dava mais gozo! Entre umas coisas e outras imprimia uns cartazes, mandava emails pa fazer umas trocas da distro, ou ia à gráfica tratar das fanzines... também pus amigas minhas a cortar bilhetes e flyers, enfim quem me conhecia já sabia que eu andava sempre atarefada com essas coisas. Hoje em dia ainda tenho amigos meus que me perguntam: Então e os Nine Fingers Left? E os Fight For Change? E os Pointing Finger? Ahah!

Pois, a miúda mais activa da cena...! Eu sabia. Com ou sem banda. O que eu acho curioso é que tanto eu como tu, como outro monte de miúdos daquela altura, sempre arranjámos tempo para fazer as coisas e para apoiar - por cima do quer que fosse que nos ocupasse. Hoje em dia (embora não seja um problema de agora) noto que se dá menos valor ao "fazer" e ao "apreciar o que foi feito" - duas coisas fundamentais numa cena underground independente. Achas que a internet, de certa forma, adormeceu a vontade das pessoas com o fácil acesso ao mp3, aos vídeos em HD no YouTube e ao eBay? Achas que a cena está a ficar mais plástica, com miúdos mais plásticos - que, claramente, não percebem que são a engrenagem da nossa cultura? 

Bom, não gosto de dramatizar... a internet tem vantagens e desvantagens. Talvez a facilidade de acesso a tudo e mais alguma coisa, sacar o som e ver vídeos de todas as bandas e mais algumas acaba por desvalorizar um pouco aquilo que temos mais perto, porque as pessoas não sentem tanto a necessidade de ir aos concertos para adquirir demos e vinil a partir das distribuidoras, ou porque depois vemos as fotos e os vídeos do concerto na net. Da mesma forma acabamos por desvalorizar ou apoiar menos as bandas que nos rodeiam, porque o acesso às bandas de fora é igualmente imediato. Dantes havia aquela urgência de ir ao primeiro concerto das bandas comprar as demos, para ficarmos a conhecer as letras, e cantarmos tudo de uma ponta a outra no próximo concerto. Hoje a variedade que a internet nos oferece é tanta que aqueles que estão mais perto ficam para segundo ou terceiro plano. Por outro lado, claro que a internet tem muito de positivo, a facilidade de divulgação de concertos, álbuns, e desses mesmos mp3 que facilitam o conhecimento daquilo que é nosso lá fora de forma mais rápida.

Mas sem dúvida que o contacto directo com as bandas, e aquilo que elas lançam é essencial para manter vivo este espírito. O enviar de uma carta com uma mixtape para um amigo da Argentina com as bandas de cá, exigia mais esforço e tempo, mas era genuíno e envolvia uma paixão que hoje em dia já dificilmente se encontra alguém com paciência e disponibilidade para tal. Não posso falar muito porque de certa forma também me afastei mais das organizações de concertos, embora ainda vá fazendo umas coisas quando me apetece (por exemplo a Citylights), mas a minha disponibilidade e vontade de enterrar dinheiro em determinados projectos também já é mais limitada, e penso que é altura de outros irem assumindo esse lugar, já que este devia ser de certa forma rotativo. Admiro a vontade e dedicação daqueles dessa mesma altura que continuam a organizar e a fazer tudo e mais alguma coisa para manter isto de pé... é de louvar! Sei também que há muitos miúdos novos com vontade de se mexer, é como em tudo, há sempre aqueles que fazem tudo e os que não fazem nada é preciso é reconhecer isso e continuar a apoiar quem se mexe.

Joaninha, não te roubo mais tempo! Obrigado pela disponibilidade e espero que continuemos cá por muito mais anos - os que temos já ninguém nos rouba. Antes de me atirar para a edição da entrevista nos confins escuros do nosso HQ, fala-me só um pouco da City Lights (para quem não sabe o que é), onde pode ser adquirida (se ainda estiver disponível) e do teu gigante amor pelo Benfica - algo que eu obviamente não ia deixar passar em branco nesta conversa!

Ora essa Andrezito, é sempre bom conversar contigo! Obrigada eu por me teres em tal consideração de me pôr numa entrevista do teu blog. Foi bom relembrar os velhos tempos!

Ok, então vamos à Citylights! É uma fanzine que surgiu da minha necessidade e da Sofia, de estarmos juntas a fazer este tipo de coisas que adoramos. No entanto, como a nossa disponibilidade é mais limitada actualmente, os números não saem com nenhuma regularidade específica. Vão saindo dependendo do tempo que temos para nos juntar e dedicar à zine! Este é um projecto como tantos outros, sobre hardcore, e por vezes com outros temas associados, de coisas que gostamos de fazer.
Normalmente, há quatro rúbricas fixas o "Ganha Pão", que geralmente é algum amigo, alguém do hardcore, a falar da sua vida profissional e paralela; uma entrevista a alguém ou algum projecto que apoie o hardcore (4TheKids no #2 e Juicy Records no #1), uma entrevista a uma banda (No Good Reason no #1 e Critical Point no #2), e uma entrevista a alguém do antigamente (Mano Pedro no #1 e Zevimetal no #2). A partir daí todos os restantes conteúdos vão variando! Reviews de festivais, textos pessoais, contribuições de amigos e de quem quiser! O último número foi mais dedicado à bicicleta que é um tema que tem movido (literalmente, ahah) muita gente em Lisboa, e tem artigos sobre a Roda Gira, a Matilha Cycle Crew e a Camisola Amarela! That's it! Ainda temos alguns números do #2, que podem encomendar através do Facebook da citylights (http://www.facebook.com/citylights.fanzine), por email para citylights.fanzine@gmail.com ou comprar num concerto por aí! Aos interessados, a fanzine #1 pode ser lida online aqui.

Bom finalmente, quanto à minha grande paixão pelo Benfica, essa está no sangue desde pequenina! Sempre fui aos jogos com o meu pai, no tempo do Magnusson e do Schwartz, e do Valdo e do Isaías! Cheguei a chorar quando perdíamos... mas pronto já me deixei disso, ahah! Entretanto continuo a ir aos jogos, mas reconheço que sou menos fanática, mais ponderada! Tudo vem com a maturidade! Mas a propósito, costumo comparar os arrepios que sinto quando vou ao estádio a um bom concerto de hardcore. É paixão na mesma!