quinta-feira, 22 de junho de 2017

Review: Leftöver Crack + Kids Decay @ Disgraça, Lisboa


A fome de concertos levou-me até à Disgraça numa quarta-feira à noite. Ultimamente as coisas têm andado demasiado paradas por estes lados, e a estreia dos Leftöver Crack em Portugal pareceu-me boa dica para sair de casa. Também nunca tinha visto Kids Decay, havia algum pessoal amigo que ia aparecer que já não via faz tempo e ainda uns discos para entregar/trocar. Tiago 1, preguiça 0.

Cheguei cedo do trabalho e para evitar os stresses de estacionar na Penha de França (missão quase impossível) pensei ir de bus. Mas como era cedo, bora fazer exercício e ir a pé. De Campolide até lá...para queimar de avanço as calorias do que iria ser o jantar.

Disgraça já bem composta, com muita rapaziada nova, do punk, do skate, e alguns amigos já presentes. Apesar de estar uma tarde mais amena que o habitual nos últimos dias, o calor humano e o calor das panelas já davam um cheirinho do que iria ser o resto da noite. Valeu a Cristal enquanto o jantar não chegava - hot dog de tofu. Bem bom por acaso e que soube pela vida (devia ter ido para o segundo, mas um gajo não quer ficar gordo).

O concerto era para começar às 20h30 e nem dez minutos de atraso volvidos começaram a tocar os Kids Decay. Concertos que começam a horas (ou quase): adoro! Não era a primeira nem segunda vez que ia à Disgraça, mas foi a primeira vez que lá fui ver um concerto. Creio ter havido alguns desenvolvimentos no que à insonorização diz respeito relativamente a alguns concertos do passado, digo isto com base em feedback e não por experiência. Pelo menos o som esteve bastante aceitável nas duas bandas. Um corredor, a parte mais ampla junto ao palco, mesa de mistura e "bar" no canto.

Como era noite de estreias, primeira vez que vi Kids Decay ao vivo. Se as bandas da No Way/Grave Mistake/Deranged circa 2005-2010 são a tua praia, esta banda faz-te voltar atrás no tempo. Aquele revival USHC mais punk que hoje terá sido substituído por outras influências e caiu no esquecimento de muitos, mas não de todos! Sei que a ideia da banda era fazer uma coisa à Government Warning, mas com uma voz que me lembra mais uns Cardiac Arrest - rouca. Uns preguinhos a mistura que com mais óleo não farão tanta mossa. Miúdos do skate a moshar que nem doidos, com Don Simon e as benditas médias de Cristal a tentar refrescar o interior, que no exterior não havia muito a fazer: caloooor.


Boa dica do Moleiro quanto à "cena morta", encorajando os novos a fazer algo novo e não ficando só à espera que sejam os do costume a fazer acontecer. Espero que essas palavras tenham feito efeitos no muitos miúdos novos presentes. Se chegou a um, está feito!

Sou sincero, conhecia muito mal Leftöver Crack, mas se há alturas em que ir às cegas a algo dá resultados positivos, esta foi uma delas.

Se conheces a banda sabes o que a casa gasta, se não sabes é mais ou menos isto: muitas vezes é ska, muitas vezes é punk, outras vezes tás a ouvir blast beats do demónio sendo que ainda havia uma malha que parecia black metal. Se curtes salada russa tás na boa, se és mais carne ou peixe (ou opção veggie) se calhar já vais torcer o nariz. Pá, os gajos tinham um teclado no palco, e de vez em quando o vocalista ia lá fazer umas coisas! E a voz do gajo...bom, eu já sabia que era assim mas é muita marada. Eu sou um bocado esquisito, mas quando a música é de festa (ainda que altamente politizada) e a festa tá montada, como negar o óbvio? Showzaço.


A cave estava super bom composta, tudo maluco, rapazes, raparigas, punks, skaters, tudo ao mosh, crowd surfs malucos, e sing alongs. O concerto durou pelo menos uma hora, ainda que com umas pausas aqui e ali, mas sem nunca deixarem a energia acalmar.

O único ponto negativo é fruto dessa festa toda. Se em cima disse que estava  "caloooor" agora tenho de dizer que estava um "CALOR DE MORTE!". A dada altura houve uma pausa técnica por motivos que me ultrapassaram em que disseram à malta para ir apanhar um bocado de ar, sendo que nem todos voltaram a descer. Antes já alguns guerreiros tinham abandonado a batalha que aquilo estava efetivamente quente (props Machado). Eu estive sempre quieto perto da parede, mas saí de lá a escorrer suor por todo o lado. Obrigado sauna grátis!


Merch forte, com quantidade e humor. Havia uns com uns gatos mascarados de índios que não atingi mas tasse bem. Não percebi foi a dica de vender LP's a 20€ (e o mais recente a 25€!), mas acredito que alguns vícios sejam caros...

Fica o convite ao pessoal para ir à Disgraça, seja para ir a concertos ou não. Bom spot que tem sido pouco aproveitado pelos visitantes, não obstante o esforço da equipa local em dinamizá-lo. Faço a minha mea culpa também, mas o potencial está lá todo.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

News Flash: junho 2017

Em maio houve descanso, mas um junho abrasador pede banda sonora a condizer. Confiram aí as novidades de discos, concertos e afins.


The New York Hardcore Chronicles


Fruto de alguns aninhos de trabalho (lembro-me de ouvir falar nisto pelo menos à três/quatro), já está finalmente disponível o documentário sobre a cena nova-iorquina realizado pelo Drew Stone de Antidote. Qual a melhor forma de conhecer algo do que por as pessoas que o viveram a falar disso? Desejoso de ver este filme!

Roger Miret - My Riot: Agnostic Front, Grit, Guts & Glory


A moda pegou, e começam a surgir mais memórias escritas (ou ditadas) sobre o que era viver o hardcore na sua génese. Desta feita é o Roger de AF que acaba de editar um livro sobre a sua vida nas ruas de Nova Iorque. Mesmo que não seja para ler aposto que manda granda pausa na estante. E eu que ainda não acabei o livro do Harley, pá!

Salad Days Podcast


Provavelmente a coisa mais fixe a aparecer na cena nacional no último par de anos. O David dá voz a velhas e novas personagens, sempre com histórias e factos fixes. Já vai no episódio #7, por isso se andas a dormir é bom que acordes para a vida! Episódios novos a cada quinze dias.

Novos Lançamentos


Open Your Eyes - Building A Better World Demo CS 2017 - Vou ter de roubar a descrição que o André deu, porque não dá para suplantar: banda com "elenco mesmo à Mercenários", tamanho o lineup de estrelas do core. Ora vejamos, Crucial John (GIVE) na voz, Connor de Protester na bateria, CC (Mental, No Tolerance, all things BHC) e Ian Marshall (GIVE) nas guitarras e a fechar Doug Free (GIVE, No Tolerance, WW4...) no baixo. A demo já saiu mas está difícil cair na net, mas o que vale é que um gajo tem amigos com connects cruciais e já escutei 5 das 7 faixas. The edge hasn't gone dull! LP já a ser fabricado, que é para a coisa nem arrefecer!

Mil-Spec - When The Fever Broke...Promo CS - Promo do novo disco que irá sair em breve. O André e o Fábio dizem que esse disco vai devolver a Lockin' Out Records à ribalta. Espero que sim. Musicalidade um bocado diferente da demo, quero ver esse disco para tirar conclusões.

Agression Pact - Instant Execution EP - Daqueles discos que eram esperados com alguma ansiedade, este era daqueles que se sabia que não iam desapontar. E obviamente não desapontou. Obrigado aos Ottawan pela dica, isto é D.I.S.C.O.

Diztort - Demo CS 2017 - This is Diztort, mas não é Distort Japan. Riffalhada interessante, vale os 9:03 minutos.


Stand Point - Demo CS 2017 - Arranjar nomes originais para bandas hardcore nem sempre é fácil. O cliché é ir roubar nomes de música ou "ideias gerais" por trás das mesmas, mas estes gajos claramente não estão a par da cena caldense. Ao menos deram um espaço para a rapaziada distinguir as coisas no Discogs. Mas falando do que interessa, o Tom Pimlott ficou com demasiado tempo livre com o fim dos Violent Reaction (mesmo tendo mais uma data de bandas ativas), e desta vez quis fazer uma roubadíssima a Uniform Choice e à cena de Orange County: objectivo (bem) atingido.

Incendiary - Thousand Mile Stare LP- O mais recente LP dos rapazes de Long Island vem contestar a dica que "mais do mesmo" é algo chato ou mau. Peso com conteúdo. Riffs com mensagem. Disco sólido, que merece muita atenção. Das bandas atuais que mais gostava de ver ao vivo. A Juicy Records tem cópias deste disco e dos anteriores.

Fit For Abuse - Too Little To Late EP - Depois de julgada perdida no tempo, foi encontrada a master tape que foi utilizada para o EP Mindless Violence, em 96. Nessa tape estavam mais cinco faixas, agora editadas pela Painkiller numa press única de 500 cópias. Boston meat and potatoes hardcore misturada com aquela rudeza à Necros. Vou ter algumas cópias na distro brevemente, a par do "Psycho Ray Sessions" 7" que saiu ao mesmo tempo.

Concertos


Estreia dos Leftöver Crack em Portugal. Punk rock político na lendária Fat Wreck Records do Fat Mike. HOJE, com Kids Decay a abrir.


E o próximo fim de semana promete ser duro, muito duro. Duro na carteira, nos ouvidos e nas canelas. Os Ratos de Porão tomaram-lhe o gosto e têm-nos visitado com alguma frequência - sábado tocam no RCA. No dia seguinte a festa desloca-se para uns quilómetros mais a sul, e no Cine Teatro em Corroios os Suicidal Tendencies regressam, com CJ Ramone, Reality Slap e 31 a abrir. Meses e meses à fome de concertos, e de repente é avalanche de shows.