terça-feira, 31 de julho de 2012

Mais Que Música: Filler (Minor Threat)

Que aconteceu a dar importância às letras das músicas? O hardcore não era sobre isso? Agora só se vê letras que não interessam à prima. Todas as segundas, fica aqui uma letra com significado que me tenha feito pensar no seu significado mais do que uma vez. Afinal de contas, o hardcore também é sobre isso mesmo: pensar.




What happened to you?
You're not the same
Something in your head
Made a violent change
It's in your head
Filler
You call it religion
You're full of shit
Was she really worth it?
She cost you your life
You'll never leave her side
She's gonna be your wife
You call it romance
You're full of shit
Your brain is clay
What's going on?
You picked up a bible
And now you're gone
You call it religion
You're full of shit
Filler

Eu sei, eu sei... a maioria do pessoal prefere a Straightedge ou a In My Eyes, mas eu, eu prefiro esta. Foi uma daquelas que fez sentido desde a primeira vez que a li. Não querendo voltar à lenga lenga do que é ser do hardcore e desse bla bla bla aborrecido, o que eu gosto de perguntar é até que ponto é que o hardcore evoluiu para uma (sub) cultura vazia e sobre nada? Hardcore para sorrir, com pouca mensagem, muito pessoal, muito sentimental e muito pouco ligado às razões que originaram o movimento. Evolução, oiço dizer? Bullshit. Hardcore é a agressão do som, a raiva por dentro, o não querer coadunar com as normas sociais que nos são impostas desde miúdos, o não ser igual a todos os outros e não fazer as mesmas coisas só porque sim. Ou era, como movimento. 

Mas adiante, esta letra diz tudo. Não só isso, é também a primeira do primeiro EP, fazendo com que o impacto triplique. Eu tenho alguma dificuldade em perceber como é que ainda há pessoas a deixarem-se levar pela religião, principalmente pessoas do hardcore, mas para além disso, tenho dificuldade em perceber quanta obsessão existe à volta de casar e ser feliz. Eu concordo que as pessoas casem e tudo o mais mas para aí mais de metade podia pelo menos pensar nisso antes de o fazer. Nos dias que correm casar é mais para ver na foto do que para ser feliz, e depois isso vê-se nos número de divórcios e famílias infelizes com miúdos infelizes. É triste. Se as pessoas "normais" não se rendessem à religião e fossem atrás de uma felicidade artificial, talvez o mundo tivesse algo mais positivo para lhes dar. 

Entrevista: Expire

Os Expire são uma banda de Milwaukee que conta já com três discos na bagagem, sendo o último um LP recentemente editado pela Bridge 9. Assim sendo, fiz algumas perguntas ao Zach Dear, guitarrista da banda, sobre o último registo, sobre como é andar em tour quase non-stop e sobre os grandes festivais de hardcore norte-americanos.


Olá Zach! Antes de mais, parabéns não só por terem assinado pela Bridge 9 como pelo novo disco, que é um digno sucessor do Suffer The Cycle, disco que gostei imenso. Como tem sido a recepção ao LP?

Hey, miúdo. Muito obrigado. Para já, tem superado tudo o que poderíamos esperar. Não só fizemos um disco  do qual estamos extremamente felizes e orgulhosos, como ver o pessoal a gostar tanto dele como nós é espectacular. Sinceramente, não podíamos esperar melhor recepção.

Vocês têm andado bastante em tour nos últimos tempos (nota para o leitor: se este documentário da tour que está no youtube não vos faz querer fazer uma banda e andar a tocar por aí, algo de errado se passa com vocês...). Como é que é para vocês manterem uma relação familiar e profissional forte enquanto andam a viajar?

Bom, as nossas famílias têm sido extremamente compreensivas e apoiam o que fazemos. Claro que isso coloca alguma tensão nas nossas relações pessoais, mas aqueles que não conseguiram acompanhar isto acabaram por bazar em algum ponto, pelo que acabam por não contar. No que toca ao trabalho, alguns de nós têm trabalhos porreiros, que nos dão alguma flexibilidade no calendário, outros vão fazendo alguns biscates para ganhar algum dinheiro entre tours.

Os Expire têm sido um nome habitual nos cartazes dos maiores festivais hardcore norte-americanos. Como é que é tocar para um público maior, o ambiente e a maluqueira do merch que geralmente os acompanha, especialmente comparado com shows em salas mais pequenas. E quais preferes? 

É sempre uma honra participar em festivais. O Rainfest e o Sound & Fury foram aqueles em que mais gostámos de tocar. Já este ano, o Breast Fest na Carolina do Norte e o Heartfest no Canadá também foram muito bons. É uma mentalidade completamente diferente de um concerto normal.
Há coisas que adoro, como ter a oportunidade de tocar para mais pessoal, pessoal que nunca teve oportunidade de te ver ou nunca sequer ouviu falar na tua banda, mas por outro lado os festivais dão à luz os “míudos dos festivais”. São aqueles míudos que estão batidos nos festivais todos os anos, mas que não vão aos concertos mais pequenas na sua cidade, não apoiam as bandas que lá passam em tour, e pior, não apoiam as bandas locais com potencial para fazerem tours e representarem o local de onde eles são.
Parece que ultimamente se dá mais importância aos festivais do que em organizar tours porreiras para as bandas. Gostava de ver um regresso ao tempo em que existiam apenas um par de festivais e era dado mais ênfase à existência de tours.

Tens alguma história de alguma tour que gostásses de partilhar? Adoro histórias de tours...

Ainda há pouco tempo tocámos num festival de rock no Canadá com Dream Theater, GWAR, Sublime, Terror e Naysayer, para dizer apenas alguns. Eu e o meu amigo TomDom de Naysayer andámos o dia inteiro pelo festival a fazer merda e a pedir trocos ao pessoal, na brincadeira, a ver no que é que dava. No fim do dia fomos contar, e fizémos 140 dólares! Modéstia à parte, nada mau para um dia de trabalho. De vez em quando parávamos para ir até à piscina, em que estava o pessoal de GWAR numa ponta com a família, e os Reel Big Fish a tocar os êxitos do Tony Hawk’s Pro Skater. Foi um dia muito bem passado.

Têm planeada alguma visita à Europa em breve? Ou a algum sítio fora dos Estados Unidos?

É engraçado, mal acabe de responder a esta entrevista tenho de dar a confirmação a uns planos porreiros que temos nesse sentido. Vamos estar pelo mundo inteiro nos próximos 6 meses, mantenham-se atentos!

Agora uma questão mais “séria”. Há algum motivo em especial para o Josh ter cortado o cabelo?  A minha reacção quando vi videos mais recentes vossos foi “Então? Mudaram de vocalista?”, haha.

É engraçado, não és a primeira pessoa que eu ouço dizer que pensou que tinhamos um vocalista novo, haha. Sinceramente, ele deve-se ter fartado do cabelo comprido. Eu já tive cabelo comprido, e chega a um ponto em que acordas neste calor húmido do Midwest e tens o cabelo colado à cara acabas por dizer basta. Eu acho que ele atingiu o ponto de ruptura.

Muito obrigado pelo teu tempo. Estás à vontade para mandar uns shout outs, recomendar bandas ou começar um beef. O que preferires.

Haha, não há cá beefs. Vão escutar Black Ice aqui de Iowa e Bent Life do Nebraska. Bandas bem fixes aqui do Midwest, e que brevemente vão dar muito que falar. Fora isso, estou aqui deitado na cama a ouvir Incubus e a pensar que preciso de me levantar para ir jogar basquetebol com o pessoal. Um shout out para todo o pessoal que faz bandas, marca concertos na sua cidade e escreve zines. Essas são as coisas que mantêm isto vivo. Muito obrigado pela entrevista!

segunda-feira, 30 de julho de 2012

News Flash: julho 2012

Mini apanhado das novidades da cena nacional, uma cena quase tão rápida como o Flash Gordon a fazer os cem metros. Sim, faltam aí um monte de cenas, mas não estou aqui 24 horas por dia a ver o que é que cada um diz...



Encontra-se a decorrer a tour europeia de For The Glory, intitulada "Life Is a Carousel", em que estarão a promover o lançamento do split com os World Eater. Os Lifedeceiver fizeram jus ao nome, e para quem os julgava mortos aí estão eles de volta ao activo, já com concertos marcados. Já que se falaram em tours, os Hard To Deal e os A Thousand Words precisam de ajuda para marcar algumas datas na tour europeia que estão a planear fazer no Inverno. Quem conhecer estrangeiros ou estiver emigrado, dê a dica.


Os caldenses Challenge vão ter a sua demo lançada na Indonésia. Até ficas de olhos em bico! E quem se internacionaliza também são os The Skrotes, que vão lançar em breve o split 7" com os eslovacos Boiling Point. Mais lançamentos na calha: os Backflip encontram-se a produzir novo trabalho e prometem novidades para breve, o mesmo se pode dizer dos Revengeance. Os PxHxT tem a cena um bocado atrasada depois de umas trocas no estúdio onde estão a gravar mas está tudo a andar. Ah, e antes que me esqueça Neighborz também tem aí as Tácticaz da Fé a rebentar. Deve ser tipo 3-5-2 all attack.


O Congas está a últimar o novo número da Overpower Overcome, e o Fábio também me diz que o número 2 da Be Yourself está bem encaminhado. É fixe aparecerem aí zines, e mais fixe ainda é haver malta a comprar e ler! Chegou-me aos ouvidos que anda aí uma banda a ensaiar com um som na onda de Trapped Under Ice/Turnstile/Backtrack, riffs para moshar e tal, não posso adiantar muito mais, mas pareceu-me bem. Vai ser lançada uma petição para o regresso de Never Fail aos concertos. E quem não moshar leva nos cornos.

ATENÇÃO: Procura-se baterista na zona de Lisboa para a formação da banda mais fodida. Se curtes pisar cabeças (neste caso sentado atrás de uma bateria...), por favor chega-te à frente!


No campo das distros, a BACKWASH está à espera das cópias do novo disco de Iron Curtain (que estão complicados de chegar), e provavelmente receberá em breve o novo disco de Iron To Gold (é só "ferro"...) e de Desperate Times. Ainda há uma data de cópias da demo de SHAPE para despachar! A Salad Days ainda tem cópias do disco de Out Crowd. Acho que nunca o disse antes, mas não durmam, granda disco! O Pontes está no Canadá, logo fará umas actualizações (e quem sabe trazer umas coisas boas). O Boris de Skrotes esteve recentemente na Holanda e trouxe umas cenas porreiras, dêem uma olhada na Destroy It Yourself: demo de Total Abuse, disco de Major DamageVile Nation, e mais uma data de cenas boas.


No que toca a concertos, se não tens que fazer ao fim de semana e queres ir conviver com boa música de fundo, suar um bocadinho e ver miúdas a abanar a cabeça (pa, pode ser que tenhas sorte...sei lá), ficam aqui os concertos que consegui pescar. Para começar, um fest macaco com o nome "Rambóia Fest", com dois dias mas em que só conheço as que tocam no primeiro. Tem PxHxT, Revengeance, Local Trap e Skrotes. Depois da fritaria do Milhões, Barcelos continua a bombar. Evento aqui.


Depois, Ralph Macchio e Vendetta - hardcore do Brasil com duas datas na tuga, o Rafa (já leram a entrevista com ele? Check it out!) vem a conduzir os moços e já prometeu covers das bandas cruciais. Assim, para a malta que não faz puto de quem este pessoal é pode sempre vir e fazer a festa. Para abrir os Challenge nas duas datas e mais duas bandas. Checkem aqui para o evento em Lisboa e aqui para o das Caldas. Ainda nas Caldas, Still Strong, Challenge e mais duas bandas. Única data em Portugal destes brasileiros, patrocinada pela Dirty Crown Bookings. É hardcore straightedge muito irado, viu? Evento aqui.

Creio que seja tudo, certamente faltam aí umas quantas novidades, mas acho que é o que se vai passando aqui no burgo. Agora é mesmo do "get of your couch and act like an idiot, do the mosh!".

Se quiseres participar, enviar notícias, escrever textos, entra em contacto - se não disseres nada nós também não vamos saber. Atinge-nos nos comentários ou no página do Facebook.

domingo, 29 de julho de 2012

Playlist da Semana #4

Todas as semanas, a Playlist da Semana. Porque no partilhar é que está o ganho.




Iron To Gold - The Power of One - Comecei a ouvir aí umas cenas polacas meio à toa, li algo sobre a Ratel Records e como a cena na Polónia estava a maior maluquice. A julgar pelos vídeos de Iron To Gold e pelo facto de terem vendido 100 cópias no record release (!!!!) a audição foi obrigatória. Se eu colei a Inherit esta banda segue a mesma linha, crossover à Mags, com bons riffs e boas letras. De uma press total de 500 cópias 300 já voaram em duas semanas, o que para um banda pequena E europeia só pode dizer que a banda é realmente boa. Devo orientar umas cópias disto para a malta que curte do vinil (colorido!).


Direct Control - You're Controlled - Direct Control é não só das minhas bandas favoritas como das melhores bandas de sempre. SEMPRE a abrir, três bacanos que lançaram discos ESSENCIAIS para quem curte hardcore sem merdas.


Title Fight - The Last Thing You Forget - Ya, ya, o Shed é mais fixe e não sei quê, mas curto mais este, pelo menos tem as faixas que mais me fizeram gostar da banda. Ainda me lembro de quando fui com o PZ e o Luz ver os putos a Madrid e das mil histórias dessa viagem. Bons putos, prometeram vir a Portugal. Yeah, right.


GZA - Liquid Swords - Que disco fodido. O GZA sempre foi dos meus membros favoritos de Wu-Tang, e este deve ser o disco dele que mais curto. Por acaso o Beneath The Surface foi praí dos primeiros CDs que comprei na vida de música (a sério...o resto não interessa).

Nas - Life Is Good - Disco novo do Nas. Epa, não ouvia com atenção um disco dele praí desde o God's Son. Aconteceu ter-me apetecido ir ver o Colbert Report e ele era o convidado. Achei meio estranha a parte em que ele explica que o vestido que tem na mão na capa do disco era da ex-mulher, e que foi a única cena que ela deixou em casa depois de bazar...não percebi bem a cena, mas tasse bem. Ao menos riu-se quando o Stephen lhe perguntou se o divórcio surgiu porque os batidos da Kelis traziam os rapazes todos para o quintal, ahah. O disco está engraçado, não é o Illmatic, mas até se ouve bem, vê-se que o tipo já está a ficar velhote e com filhos pelos temas que abrange, mas a rimar não falha.

The Weeknd - Echoes Of Silence - É como diz o tipo na sexta faixa, "music to make ladies panties get wet". Este bacano tem uma voz do caraças, e letras mesmo boas sobre amor e relacionamentos falhados, sem ser piroso. Granda cover do Michael Jackson. Não é aquele r&b podre da MTV do vou-te lamber toda e "grind me all night long", é uma cena mesmo romântica para meter com umas velas a acompanhar. Claramente, apela ao meu lado mais fofinho, ahah.


Cradle of Filth - Cruelty And The Beast - Tem piada, não sei se é guilty pleasure ou não mas eu curto bué de Cradle of Filth. Quer dizer, é raro dar por mim a ouvir discos deles mas a realidade é que tenho mais de metade da discografia no meu iPod - e até a conheço relativamente bem! Este é um dos meus discos preferidos (junto com o V Empire e o Midian) e normalmente dá-me vontade de ouvi-lo de manhã, algumas vezes durante o ano. É granda som!

Waka Flocka Flame - Flockaveli - Yup, de novo. Esta semana esteve calor em Londres e não pude deixar de ir buscar este disco. Será que é porque me lembra da viagem que fiz à Costa Oeste, vai fazer agora um ano? (www.destinocostaoeste.com) Possível. Não é como se não tivesse sido a minha companhia de viagem! I go hard in the muthafuckin' paint nigga!!

Strife - One Truth - Depois de ver o Leo a mandar vir com eles por irem lançar um disco novo, não pude deixar de ir à arca de memórias buscar as do concerto deles em Londres no ano passado e pôr este disco a tocar. Foi dos primeiros CDs de hardcore que comprei, na Carbono ao pé da Portugália. Acho que ainda paguei por ele em Euros. Granda disco!!

Stop And Think - 10.17.02 - É, se me perguntarem o que é hardcore... eu se calhar respondo que é Stop And Think. Letras, som, tudo. Daquela vez que os Mental tocaram uma malha deles com o AJ a cantar. Yup, dessa vez. O AJ é granda sócio, ainda me lembro dele a dormir uma sesta no quarto do meu irmão antes de irmos para o concerto, LOL! E o Greg a mandar uma borra de porta aberta, mas essa história fica para outro dia.

Crass - The Feeding Of The 5000 - A banda punk das bandas punks. Sempre que oiço dá-me vontade de ir para a rua cuspir nas pessoas que passam por mim. Mais áspero que isto é impossível. É directo e é a sério, não há cá cristas e modinhas giras. A mensagem, a mensagem.

X-Acto - Split c/Inkisição - Depois de escrever sobre a Anchor para o Mais Que Música desta semana, acabei por colar um bocado na discografia deles. Acontece de vez em quando. Não sei se este é o meu disco preferido de X-Acto, mas é bem provável que o seja. Não. Será? Quer dizer, o Benefit é buéda bom, mas há ali muitas influências descaradas. Este é mais genuíno, mais in your face e... em português! Man, "X-Acto! Para cortar com o que está errado." Claro que adoro!

Coluna: A invasão do merch: sinal dos tempos?


Foto à toa de bué merch. Não é meu...
Power Trip
há 3 horas

Mais uma vez a questão do merch a fazer-me levantar questões sobre como o Hardcore funciona hoje em dia, e de que forma as bandas e editoras arranjaram um modo de sobreviver numa altura em que os discos vendem cada vez menos, especialmente quando são provenientes de editoras pequenas.

Não que as editoras maiores tenham esquecido o diy, mas a facilidade de escoar produto é bem mais fácil. Ainda no outro dia mandei vir uns discos da Reaper e (a preços de Portugal) o gajo só em postais, autocolantes e posters teria gasto quase metade do que eu lhe paguei para me enviar 10 discos. É outra divisão...

Bom, voltando ali ao quote inicial, no dia 24 de Julho à tarde os Power Trip meteram no bigcartel os leftovers da tour americana. Escusado será dizer que parte dos designs de t-shirts tinham o cadeado da Lockin' Out nas costas. Ora bem, duas horas depois novo status update, o tal aí em cima referido. Epa...ya, $1500 é guita!

Curto Power Trip, tocam um crossover mais thrash metal que outra coisa, e até estava com fezada para os ver na Europa mas acabaram por cancelar a tour, com pena minha. Por acaso tinham um rip off do boneco da Kool Aid com uma referência ao Juicy J que achei um piadão, é claro que foi o primeiro a esgotar...

Bom, é um facto que há um hype do demónio com o merch da LOC, mas não deixa de ser uma editora pequena, e Power Trip uma banda com pouca expressão (quantos de vocês os conheciam?). Não que o merch das bandas da Lockin' Out não tenham cenas bem fixes, até têm. Não que o dito cadeado não seja cool. Não que não goste ou não compre merch, porque o faço. No dia a dia uso t-shirts de bandas (enquanto a vida estudantil o permitir) por gosto, pelo que até tenho uma quantidade razoável de t-shirts de bandas, por isso ya, acompanho uma bocado estas cenas.

Mas mais do que estar aqui a discutir se é fixe ou não pausar com a t-shirt da cena, ou se os preços no eBay a que se encontra algum merch mais procurado são vendidos, ou até se esta doideira tem ou não razão de ser, acho que é mais interessante ver que esta foi a forma que as bandas e editoras encontraram (com sucesso, aparentemente) de contornar a crise que se abateu sobre a venda da sua música nos diversos formatos.

Ya, há alguma malta a comprar discos ainda, ainda vês press's grandes a esgotarem, mas numa relação custo/benefício, ganha-se bem mais com merch. E uma t-shirt ou um hoodie é uma cena que podes usar no dia a dia, é mais portátil que andares com um disco de vinil ou walkman mesmo à antiga. Não sei dizer números de vendas online, mas não sei até que ponto os mp3's comprados representam alguma coisa extraordinária para os bolsos dos envolvidos...Não creio.

Assim, cada vez mais se vêem bandas a lançar um monte de designs de t-shirt, camisolas, casacos, calças de fato de treino, meias, cintos, bonés...tudo! (já há cuecas? se não há deviam fazer!), porque no fim de contas, há contas para pagar, custos de produção dos discos, gravações, deslocações, ensaios, toda uma panóplia de coisas que nem sempre são fáceis de coexistir com uma vida familiar e profissional.

Até aplaudo essa decisão, estás a ver? A malta tem de se mexer e tem de se orientar, e se é isto que os putos papam? Foda-se, nem se pensa duas vezes! É preciso é um gajo pensar que isto aqui centra-se na música! Senão é aquela cena de haver múltiplas t-shirts à venda e discos ou concertos está quieto...

Infelizmente não tenho nenhuma banda (yo, bateristas do Portugal, cheguem-se à frente para fazer-mos os Stop & Think portugueses!!), mas tenho uma noção mínima das coisas. A cena é que há malta que não tem.
Seja o pessoal que se queixa que cinco euros é muita guita para um show, sejam os dreads que curtem comprar aquela tshirt a 25 paus que parece que despejaram três baldes de tinta para cima dela mandada vir da internet mas depois queixa-se do preço dos cds ou das tshirts que passaram de 10 para 12, talvez vítimas da inflação e do IVA, ahah.

Não vou estar aqui com merdas do capitalismo e não sei quê, não tenho muita paciência para esse discurso sem fim (e quase sempre sem grande sentido). Se curtes as cenas e tens a guita para gastar, quem sou eu para te recriminar? Mas ao menos se o fazes tem noção do que estás a fazer, e se curtes uma banda cá da terra a quem os trocos fazem falta, vai lá comprar o cd ou lá o que seja, sempre podes ter isso para depois mostrar aos teus filhos (ou então para venderes a boa guita quando cagares no hardcore). Elas não vendem milhares de cópias nem tem licenças para vender o merch na Fnac. "Support your local scene"? Um bocado isto.

Acho que ainda estamos aqui pela música, e não para andar a mandar estilo sem ter nada na cabeça. Apoia as bandas e as editoras. E já agora, leiam e façam zines.

PS: Se houver malta interessada em escrever textos entre em contacto, é sempre fixe a malta dar a sua opinião sobre as cenas. Mais do que estarmos aqui a escrever e vocês a lerem, é sempre fixe a malta trocar ideias e discutir as coisas.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Cinco Às Quintas: Boris (The Skrotes)

Esta é uma rubrica em que colocaremos todas as semanas, à quinta-feira, uma pequena entrevista com cinco questões a uma banda.


Os The Skrotes são uma banda do Seixal que gosta de andar de skate e tocar música rápida (ênfase no rápida!). Se procuram por uma bateria furiosa e faixas com menos de um minuto, look no further! Fiz umas questões ao baterista da banda, o Boris, sobre o futuro da banda, a Destroy It Yourself e um bocadinho sobre ele.

Para iniciar as hostilidades, a pergunta da praxe, fala-me um bocadinho de como surgiu a ideia de formar os The Skrotes e dos planos que têm para o futuro.

Bem, já há uns belos anos (isto bem antes de darmos o primeiro show) depois de descobrirmos o que era punk, tinhamos uma panca, que ainda temos, que era "bora fazer uma banda que toca rápido, o pessoal pára bués, bora fazer uma sempre a abrir", ahah, e pronto, o Pedro tava a aprender baixo e eu guitarra, o Micael berrava e bateria não tivemos durante prai 2 anos.
Depois arranjamos bateria e o Zuca entrou. Trocámos de lugares todos menos o Micael que ficou sempre na voz, e cá estamos, 4 amigos a fazer barulho. Planos, hum..nunca tivemos muitos planos...vamos tocando e fazendo 3 musicas por ano, ahah. Gravámos há uns 2 meses 4 musicas novas para um split 7" com os eslovacos Boiling Point que vai sair em breve!

Lançar em vinil é sempre um bocadinho arriscado, especialmente quando em Portugal quase não tens mercado para ele. Este gosto pelo vinil, aliás, é algo que partilho contigo e sobre o qual já falámos um pouco noutras ocasiões, mas esclarece-nos lá os motivos pelo qual pretendem lançar um 7", e já agora o que é que te leva a gostar tanto do formato.

Ahah o vinil ta complicado de vender em qualquer lado! desde a crise ao facto de haver tanta banda a lançar discos, o pessoal vai tendo menos dinheiro para discos. Mas é uma coisa que vale apena e que dentro do circuito DIY da para fazer bem, porque há sempre pessoal disposto a ajudar.
Quando gravámos o EP o ano passado pensamos logo em mete-lo em vinil, ta para sair ha ano e meio mas a label responsavel teve uns atrasos, mas ha de sair! O split vai ser uma colaboração entre 6 labels, o que o vai fazer tornar muito mais facil de sair porque fica mais leve nos bolsos de todos, e vai ser uma boa maneira de espalhar o disco.
O vinil, especialmente o 7", para mim é o formato mais "bonito", gosto do tamanho, gosto de tirar o disco do plastico, ver as letras, e essas nerdisses todas! É fixe o disco ter tão pouco espaço, o que me deixa a ver as letras e o artwork até ter que mudar o lado do disco, ahaha.

Já que estamos a falar de discos, tens uma editora, a Destroy It Yourself, bem como uma distro onde tens uma data de discos bons daquele Hardcore menos “mainstream”, se é que se lhe pode chamar isso, e eu sou uma merda a etiquetar géneros. Vende aí um bocadinho do teu peixe, e conta como é que tem sido a experiência de vender discos em Portugal?

Bem, como qualquer puto que curte punk acho que tanto a ideia de lançar um disco, ou ajudar uma banda que gosto a tocar cá, bem como poder ter uma distro sempre me deu curiosidade de o fazer. Quando Skrotes começou a tocar tivémos que organizar nós uns concertos para podermos tocar, depois gravamos a demo e como qualquer banda pequena, lançamos nós a cena, e eu entretido em casa a fazer as capas, cortar e dobrar 138 cópias de uma demo chunga, ahaha.
A distro, tal como a label é um bocado como eu, um bocado do contra! Tento ter disco que acho bons, de bandas que ninguém conhece, ahah. Tento sempre ter os discos a um preço barato para o pessoal que tiver disposto a ouvir a banda não tenha que pagar muito. Os discos vão-se vendendo! Sei que vendia mais se vendesse de bandas mais conhecidas ou se fosse mais das internets mas não é isso que quero, e divirto-me a fazer tudo como tenho feito! Podem ver a distro, shows, e discos lançados aqui: www.destroyityourselfdiy.wordpress.com

Isso acho que é mesmo o mais importante, que a malta se divirta e goste do que faz, se não também acaba por perder o interesse e se fartar. Aproveitem e peguem a demo de Total Abuse e Major Damage (o Brandon de Direct Control/Government Warning a fazer tudo). Agora passemos à questão recorrente aqui da rubrica, como é que começaste a ouvir Punk Rock e este tipo de música mais rápida? Deduzo que o skate tenha tido um dedinho aí pelo meio...

Ahha tem sim! Musicas em filmes de skate, no jogo do Tony Hawk e mesmo a necessidade de ouvir alguma coisa rápida para acompanhar o skate empurraram-me um bocado em direcção ao barulho. Mas o gosto a sério começou quando ouvi o Walk Among Us dos Misfits...bateu bem forte! Já tinha ouvido bandas que gostava um bocado mas quando ouvi aquele disco fiquei mesmo agarrado, e continua a ser a minha banda favorita (com o Glenn Danzig só...)
A partir daí, se sentia falta de alguma coisa quando ouvia música, e depois de ir descobrindo sobre o movimento diy, concertos, ideias e tudo isso, descobri que tava mesmo no sitio certo. É fixe tar numa cena que não é nada "fixe", ahah.

Melhor faixa desse disco? É uma questão complicada, bem sei, só faixas boas. Acho que o meu voto cai na All Hell Breaks Loose, aqueles sons que parecem um rosnar antes dos versos do refrão partem-me todo. Estás igualmente à vontade para mandares beijinhos e abraços para quem quiseres, recomendar cenas, mandar as pessoas comprarem-te discos, etc.

Ichh, não consigo mesmo escolher só uma..Andei aqui a tentar mas acho que escolho mesmo o disco todo! A All Hell Breaks Loose é brutal e devias ouvir a cover que os portugueses We Were Wolves fizeram deles, abuso. Deve ser das unicas 2 ou 3 covers de jeito que fizeram deles, ahah.
Bem então ja agora, quem quiser mandar vir discos, trocar, falar mal e tudo isso, podem ir a um show ou mandar mail para destroyityourself@gmail.com. Obrigado pela entrevista e trocamos mais umas cenas em breve!
Quem não tiver mais nada que fazer hoje, deviam ouvir o novo LP de Sickoids, as cenas da nova banda francesa The Night Stalkers e Local Trap e Decreto 77. Se alguem quiser alguma cena dos escrotos, é aqui: www.theskrotes.wordpress.com, não tem muitos updates, só os que interessam.
Live Fast, Die Punk
Boris

Bandcamp: http://theskrotes.bandcamp.com/
Página: http://theskrotes.wordpress.com/

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Discos Trocados: HHH/Out Of Hand

Todas as semanas o André e o Tiago trocam um disco e falam um pouco sobre o disco que lhes calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.

André 
 HHH - Intelectual Punks (1986)

Epá, nunca tinha ouvido isto mas é certo que vai directo para o iPod. Confesso que nunca me dei ao trabalho de investigar punk espanhol mas é certo que estou a perder algo. Ah, conhecia algumas malhas Eskorbuto, conta? LOL! Era boa malha. Mucha polizia, poca diversion!! Mas a sério, adorei isto - é mesmo a minha praia. Punk rápido, mal tocado e com um cheirinho a d-beat, como quem passou muitas horas a ouvir Discharge. Será que o André se importa com isso? Não, o André está-se completamente nas tintas para isso. Ele curte rápido, ele curte barulhento e ele curte agressivo. É a cena dele! Directo para o iPod, eu não minto!

Ps: Por acaso antes de ouvir pensei que isto fossem os SSS, que também nunca ouvi. Oops!

 Tiago
Out Of Hand - Dirty South (2006)

Nunca tinha ouvido falar nesta banda, mas isto é bom que se farta! Parece que são de Kent, mas não encontrei grande informação sobre isto, para além de uma referência aos concertos que eram o caos completo. Rápido do princípio ao fim, faz-me lembrar Bracewar ou Internal Affairs, mas com a voz ainda mais esganiçada. Por acaso há aí uma data de bandas inglesas que ando a colar. Não é aquela cena de Knuckledust e LBU's e não sei quê que não papo disso, mas bandas tipo Inherit, Iron Curtain, Abolition, Broken Teeth (cópia de TUI mas de Manchester), Wardogs... têm tido espaço para audição. Boas cenas vindas das terras de sua majestade. Mas voltando ao disco em questão, granda dica André, bom disco!

Review: All American Rejects + Blink 182 @ Pavilhão Atlântico (Lisboa)


Aqui há uns meses saiu a notícia que Blink 182 vinha a Portugal. Fiquei bastante entusiasmado, sempre fui grande fã da banda desde os meus tempos de adolescente em que ouvia a Hypercore, programa de rádio do Xibanga em que a entrada era com a Don’t Leave Me, e estava com uma expectativa enorme para os ver, embora este concerto tenha chegado cá com mais de dez anos de atraso. Os mp3 do The Mark, Tom and Travis Show rodaram tantas vezes nos meus ouvidos que pensei mesmo que ia ter uma experiência brutal, para sempre memorável tal como é aquele CD ao vivo cheio das melhores músicas e com piadas de chorar a rir. Tal não aconteceu. 

Cheguei ao Parque das Nações por volta das sete e meia e ainda fui trincar qualquer coisa. Quando estava a entrar no Pavilhão Atlântico já All American Rejects tinham começado e até estavam a tocar aquele clássico deles chamado Swing Swing. Não sou fã da banda e o concerto deles também não me agradou minimamente. A sala estava um pouco vazia mas os que estavam até sabiam as letras e tocaram uma ou outra mais antiga que eu reconheci, tal como a Dirty Little Secret, mas como nunca liguei à banda e o vocalista tinha um aspecto a roçar o ridículo e umas atitudes que até causavam vergonha alheia, digamos que apanhei uma valente seca de trinta minutos. (c’mon, calças de pirata às riscas brancas e pretas e casaco de ganga com cintado ultra apertado? Eh pá…)

Meia hora ou quarenta minutos depois entram os Blink 182. Set list bastante direccionada para os dois últimos trabalhos (Neighborhoods, de 2011 e Blink182, de 2003) tocando apenas seis ou sete músicas mais antigas, o que de certeza fez com que os fãs mais antigos da banda tenham ficado bastante decepcionados, como eu fiquei. Abriram com a Feeling This e a Up All Night, ambos trabalhos destes dois últimos álbuns e tal era o meu ar de seca que um amigo me pergunta: “Não conheces nenhuma destas pois não? Eu também não”, ao que confirmei que não com a cabeça e espantado (ou não) por não ser único. Lá tocaram a The Rock Show e a What’s My Age Again e voltaram de novo aos trabalhos mais recentes, o que era uma quebra enorme no ritmo do concerto e fazia morrer um pouco toda a gente. Lá se ouviu o típico coro tipo futebol a gritar PORTUGAL pelo meio (a sério, ninguém mata esta gente labrega? São piores que os americanos) e o Tom a dizer que tinha sido o melhor público da tour ao que toda a gente ficou bué contente… sou o único nestes casos a achar que dizer isso é só demasiado rídiculo? Além de que se este era o melhor público da tour, então ou tocaram para salas vazias ou era tipo cinema, com tudo sentado, porque é muito difícil que tenha havido um público tão mauzinho e com tão pouca empatia. Dumpweed, Man Overboard e All The Small Things com mais uma catrefadas dessas músicas chatas deles e abandonaram a sala para o encore. Se calhar o encore foi das coisas que mais gostei, com o Travis a solo a tocar com o seu projecto de hip hop e substep, foram ali uns minutos pesadíssimos e com um espectáculo de luzes muito bom, qual disconight qual quê. Entretanto tocaram a Caroussel, Dammit e Family Reunion e o concerto acaba logo quando eu pensava que iam tocar mais clássicos, deixando uma frustração no ar por um lado compreensível devido aos dez anos de atraso para vir a Portugal e terem-se focado mais nos últimos trabalhos.

No geral achei que foi demais ter gasto €35 para ver Blink 182, devia ter ficado em casa e ia ao YouTube ver os concertos mais antigos e acho que tinha ficado mais contente. O som não estava o melhor, a bateria ridiculamente alta, a guitarra estava baixa, ou assim parecia devido à bateria e a voz do Mark mal se ouvia também. Às vezes era um martírio para perceber que música estavam a tocar. Por um lado rendeu por ter estado com amigos de longa data e ter ido a seguir para Telheiras pôr a conversa em dia com toda a gente, mas isso é uma outra história.

Review por Leandro Afonso (http://leoxfury.tumblr.com)

Mais Que Música: Anchor (X-Acto)

Que aconteceu a dar importância às letras das músicas? O hardcore não era sobre isso? Agora só se vê letras que não interessam à prima. Todas as segundas, fica aqui uma letra com significado que me tenha feito pensar no seu significado mais do que uma vez. Afinal de contas, o hardcore também é sobre isso mesmo: pensar.


Too fast, we're going to fast
Living the future and mourning the past, 
Set your priorities, live today, 
That`s why I scream to say: 
I want my life back and I, 
I'm gonna get it back - Anchor

Slow down and take a look around, 
We're all living someone else's life, 
The few who don't are cast aside 
- Be strong this is your life! 
I want my life back and I, 
I'm gonna get it back, no matter what

Your pace corrupts me, but now, 
I'm gonna break free. 
I've got to break free from your mind, 
I've got to drop my anchor, 
Slow down, live here now for today. 
I need to pull my breaks on, slap my face, 
This time I'm lost inside, 
Inside myself living a lie. Anchor

Blissfulness, live your life to the fullest, 
Enjoy each and every day, 
Like if it is your last day here. 
I want my life back and I'm, 
I'm gonna get it back, no matter what!

Numa altura em que toda a gente preferia o bonitismo idílico da Hope, a letra de X-Acto que eu mais gostava era a da Anchor. A razão é simples: em vez de falar de sonhos, fala de libertação pessoal - fala de olharmos para nós mesmos e vivermos a nossa vida por nós próprios. Fala de viver um dia de cada vez e sem pressa. Sou capaz de ir tão longe e afirmar que esta é a melhor e mais bem construída letra de X-Acto. Se calhar ajuda que também seja a minha música preferida.

Relações. Sempre aquele assunto perigoso. Sempre causa de lágrimas, desgostos e, para alguns, depressões. Eu entendo. Mas, curiosamente, foi o hardcore que me ensinou a ser mais forte que isso. A conseguir dar o passo em frente e continuar. A vida é fixe porque anda para a frente e tempo perdido a olhar para memórias de ontem e desejar que elas voltem a acontecer é pura perder de tempo. Claro que cada um vai ter a sua opinião sobre isto, claro que os mais romanticamente melancólicos vão discordar, mas eu pessoalmente não gosto de acordar com pesos na consciência ou desejos de dias melhor. No fim de uma relação, enterram-se as memórias no fundo de uma gaveta e segue-se em frente. Quem diz que "falar é fácil" simplesmente não tentou o suficiente. LIVE HERE NOW FOR TODAY! 

terça-feira, 24 de julho de 2012

À Conversa Com... Rafael Madeira

Se houver quem precise de apresentações, o Rafael é um dos pilares da cena hardcore portuguesa actual. Porquê? Porque conhece todas as pessoas do hardcore do mundo, marca concertos, tours e ajuda bandas há mais tempo do que a internet faz parte da cena portuguesa. Não chega? Era baterista de Pointing Finger e já deve ter tocado em trinta bandas nos últimos dez ou doze anos (incluindo algumas de fora...!). Basicamente: o Rafa é uma lenda vida – e eu não pude perder a hipótese de o deixar inaugurar este espaço!


Rafa, eu já te conheço há buéda anos. Até assusta um bocado, olhando assim para trás. Tenho muitas memórias de tempos passados no Algarve para ver concertos de Pointing Finger, antes de virem tocar a Lisboa pela primeira vez. Como é que era a cena hardcore de Faro nessa altura (início de 2000)? Como é que as coisas aconteciam numa altura em que a internet ainda não tinha ganho a dimensão que tem hoje, mais de uma década depois?

O tempo voa. Já passaram tipo catorze anos desde esses tempos e continuo sendo a mesma pessoa, com as mesmas convicções – Faro foi uma escola do punk hardcore para mim! Cada vez que oiço falar das histórias antigas do NYHC das ruas, associo logo a Faro, porque foi nesse ambiente nas ruas de Faro, de manhã à noite, em que vivi, absorvi e aprendi todos os valores e ideias por detrás da cena hardcore. Sim, era por vezes uma beca auto-destrutiva, muito álcool, muita anarquia mental e muita destruição, mas acima de tudo havia um espírito de irmandade! Nunca gosto de mencionar a meu background como tempos que foram melhores do que agora, mas sim, gostava que as pessoas dessem valor a quem ainda está aqui de alma e coração, porque quando era miúdo no meu quarto só tinha uma cama, um guarda-fato e uma mesa de cabeceira. Jogos de computador, telemóveis, internet, Facebook... nada disso existia! Tinha um walkman da Sony que vivia anexado ao meu corpo onde cassetes mal gravadas (em que se ouviam as músicas que tinham sido gravadas antes quando passava de uma música para a outra) fluíam pela minha mente vinte e quatro horas por dia. Chegava a esperar um mês por cassetes que me gravavam com punk hardcore e que me chegavam pelo correio – era a maior felicidade do mundo!

Se houvesse concertos com duas bandas locais na minha cidade nem dormia na noite anterior! Nesse tempo em Faro tive uma granda escola! Tive, tenho e terei sempre a sorte de o meu vizinho e amigo de infância ser o Pedro Bica de Kontrattack (banda que formámos nos princípios de 1999) que é uma enciclopédia viva de punk hardcore em Portugal! Mas Faro era escola, muita escola. Lembro-me que ouvi vezes sem conta, todos os dias durante mais de um mês sem parar uma cassete muita chunga com os Ratos de Porão ao vivo! Faro tinha mil bandas boas: Nestrum, Xunga Core, Porks, Punk-Kecas. Estamos a falar de princípios dos anos noventa! Punk-Kecas fazia uma cover de Olho Seco, a “Nada”, mas cantavam “Não se pode andar mais nas ruas de Faro!” em vez de São Paulo! Eram tempos dourados, em que a comunicação fazia-se pessoalmente, escreviam-se cartas, trocava-se som por correio e era uma grande irmandade.

Eu sei que costumavas vir a Lisboa ver concertos, que idade tinhas nessa altura? Suponho que cada viagem fosse uma aventura digna desse nome e acredito que pensar nisso te traga boas memórias. Notavas que havia uma maior distância entre a cena de Lisboa e o resto do país?

Man, ya, mega aventuras! Não ia propriamente a Lisboa, das primeiras vezes que fui a Lisboa foi mais para ir para Linda-a-Velha! Na altura, em 94/96, o Blitz anunciava todos os concertos de hardcore que aconteciam na Academia de Linda-a-Velha, então o ritual era passar fome durante a semana, poupar a guita que o meu pai me dava para comer na escola e dar uma granda tanga ao meu pai e ir de autocarro para Lisboa! Nessa altura a estação era no Arco do Cego, mas na antiga estação mega chunga, para quem se lembra! Depois como tinha tempo ia a pé até ao Marquês de Pombal e apanhava o autocarro para Linda-a-Velha. A Academia não era muito longe de onde parava. Os concertos acabavam sempre antes da meia-noite, então mal acabava apanhava um táxi muito rápido, a tempo de conseguir apanhar o autocarro da uma da manhã para Faro e chegar às seis e meia da manhã (era o autocarro que parava em todos os sítios e vinha sempre cheio de chungaria).

A cena em Faro nesse tempo era super parecida com a cena de Linda-a-Velha, tanto que existiu sempre uma irmandade enorme entre o pessoal de Linda-a-Velha e o de Faro. Por exemplo, lembro-me de ver Trinta & Um em Faro ainda com dois vocalistas e Metralhas e Punk-Kecas também tocaram em Linda-a-Velha e uma vez no Hardcore Café na 24 de Julho! Eram cenas hardcore bué parecidas, Faro era totalmente trips, bongos, álcool, siga a marinha! Vi bandas brutais em Linda-a-Velha, desde Trinta & Um, Metralhas, Ás de Chapadas, Braço de Ferro e vi um concerto de X-Acto na Academia que foi um dos melhores de sempre: não havia muitos straightedge na sala, mas estava toda a gente a curtir – o pit estava violentíssimo, stage diving mesmo do maluco –, o Rodrigo bem avisou várias vezes para o pessoal não enlouquecer mas foi impossível, estávamos em Linda-a-Velha e aquele pit era demoníaco –parecia que estava em Faro, onde o pessoal fazia stage dives do primeiro do Tal Bar nos concertos de Punk Kecas. Impossível não haver sangue, nódoas negras e pessoal todo aleijado no dia seguinte! No último instante desse concerto de X-Acto, um maluco fez um dive de cabeça pró chão, resultado: sangue por todos os lados. WILD!

Mas sim, voltando ao tópico, não existia internet como hoje em dia e obviamente a cena hardcore na zona de Lisboa era mais “organizada”, tinham mais acesso às coisas, mas tipo imagina... Faro era uma mistura entre a cena da MSHC e Linda-a-Velha! Loures também tinha uma cena hardcore distinta no tempo da SPOC e também tinham uma boa relação com a cena de Faro, com amizade entre o pessoal dos Punk-Kecas e o pessoal de Omited Grass Reaction. A cena era mais centralizada em Lisboa, mas logo de seguida tinhas o Algarve, Faro e Loulé principalmente. Sempre foi assim. Também sempre houve hardcore no Porto, mas só começou a ficar maior a partir do princípio dos anos 2000. Lisboa era mais central e era onde acontecia tudo! Sei lá, histórias assim mais brutais para mim foi quando fui ver GBH no Cais do Sodré em 1996, com os punks de Faro e mais algum pessoal do hardcore. Foi brutal, man! Mas a melhor recordação foi o concerto de Madball no Paradise Garage em 1999 onde foram na boa uns trinta manos do Algarve e o pessoal de Faro na maior destruição! Primeiro foi um arraial de banhadas no Pingo Doce lá ao pé, com os seguranças a verem e a não fazerem nada, depois foi a surrealidade de um bacano de Faro ter conseguido a proeza de entrar no Paradise Garage com uma garrafa de Jack Daniels! De salientar que dentro da garrafa, já sem tampa ou que raio fizeram, misturam uns ácidos e toda a gente que bebeu daquilo tava maluca!

Lembro-me do Matos ter tocado com Omited Grass Reaction! Trinta & Um estava no cartaz mas não tocaram por causa de uns estrilhos. No fim da noite houve um arraial de porrada à porta do Paradise entre pessoal de Linda-a-Velha e da Margem Sul. MEGA WILD! Outra memória foi o concerto de Agnostic Front no Paradise Garage. O Roger Miret tocou com uma t-shirt preta a dizer MSHC. Deu estrilho! No final do concerto, mais um arraial de porrada – a história do costume! Por fim, outro concerto memorável para mim: toquei com Kontrattack em Beja, num sábado, e no dia seguinte apanhei o comboio para Lisboa e fui ver Skarhead na Jukebox, matiné de domingo! Tocou Omited Grass Reaction e Last Hope! Fui com a minha hoodie straightedge do Drinking Sucks e o Vilela da Margem Sul, que estava à porta, com um garrafão de cinco litros de vinho, viu-me a entrar e disse: Ó PUTO, SÓ POR TERES TIDO CORAGEM DE VIR PARA ESTE CONCERTO SOZINHO, COM ESSA SWEAT, DEIXO TE ENTRAR À PALA! Foi granda concerto! O Raykar de Day Of The Dead e o Perez de Shift estavam lá! Respect! É preciso dizer o que é que aconteceu no final do concerto?


Quando (e como) é que o straightedge apareceu na tua vida e o que é que te levou a adoptá-lo? Na altura dessas idas a Lisboa já eras straightedge ou aproveitavas também um bocado para ir para a maluqueira?

Eu tenho um background uma beca auto-destrutivo. No tempo das “trips, bongos, álcool, siga a marinha” eu era igual. Nas histórias que contei antes ainda não era straightedge, à excepção do concerto de Skarhead. Era uma maluquice gigante, nada importava – era a destruição total! A primeira vez que ouvi falar de straightedge foi através de uma revista de metal que o irmão do Bica comprava, a Terrorizer. O Bica mais velho já tem mais de quarenta anos agora e fez parte da primeira geração do hardcore de Faro. Nessa altura (meados dos anos 90), as bandas do NYHC venderam-se uma beca à cena metal mainstream e começaram a aparecer em editoras grandes tipo Century Media, começando também a aparecer entrevistas em revistas mainstream do metal tipo Terrorizer. Ainda me lembro duma entrevista a Agnostic Front que tinha o Craig Setari (Straight Ahead, Sick Of It All) na foto da banda! Nessa entrevista eles falaram de muitas bandas de Nova Iorque, incluindo Youth Of Today, que referiram como sendo “a” banda straightedge de Nova Iorque. Nessa altura pessoal de Faro tinha cassetes aqui e ali com 7 Seconds, Uniform Choice, Up Front, Minor Threat, Gorilla Biscuits e Youth Of Today. Lembro-me que o Sonecas de Punk-Kecas tinha aquele CD antigo da Lost & Found, com Youth Of Today ao vivo. Então o meu primeiro contacto que tive hardcore straightedge acabou por ser com Youth Of Today.

Mas entretanto, ao longo dos tempos, mesmo antes de ser straightedge, fui conhecendo mais através, principalmente, dos Gorilla Biscuits, dos Youth Of Today e, obviamente, dos X-Acto, que vi algumas vezes antes de ser straightedge. Vi-os em Lisboa e na primeira vez que tocaram no Algarve, em 1996, no Bafo de Baco, salvo erro. O Raykar e o Pernas ajudaram a organizar através dos irmãos Pardais de Quarteira, que conheciam o pessoal de X-Acto. Nesses tempos eu estava uma beca perdido na vida, chumbei dois anos por faltas até que fui parar à turma do David, do Boto e do Diogo (que viriam a fazer parte dos Pointing Finger). Nesse ano eu estava no meu auge de mamadice. Para complementar, na mesma turma estava o Pedro Laranjeira, guitarrista de Punk-Kecas, ainda em altas do Verão que tinha acabado de passar e o Ruben, vocalista de Highest Cost, que começou a fumar ganzas comigo numa visita de estudo a Évora. Aliás, ele nem fumou logo uma ganza, nessa altura eu nem fumava ganzas porque não dava pica nenhuma, só bongos com quebras gigantes e o Ruben a primeira vez que lhe entrou THC no corpo foi logo com um bongo potentíssimo! Vi logo ali que ele tinha potencial, haha!

Bom, então tinha conhecido esses putos que curtiam de NoFX e Bad Religion e essas bandas da Epitaph e da Fat Wreck. Eu dessas bandas só gostava de NoFX, e muito! Nunca gostei de Bad Religion, Pennywise, Lagwagon e essas bandas todas que eram gigantes nos anos 90. Entretanto fui me dando mais com o David, que sempre se mostrou interessado em saber mais sobre punk e hardcore. O Diogo e o Boto igual, mas o David era mais activo. Na altura tanto o David como o Diogo não bebiam nem fumavam, só o Boto é que apanhava umas bezanas de vez em quando. Então depois de me aperceber que estes putos eram mais tranquilos falei-lhes sobre o straightedge um monte de vezes e eles foram conhecendo mais e mais e mais e mostrando-se mais interessados. Eu, apesar de não ser ainda straightedge estava super feliz que eles tivessem interessados na cena – mesmo antes de ser straightedge, sempre achei que o straightedge era a cena mais correcta e lógica que existia na comunidade punk hardcore. Fazia sentido para mim, mas não estava a conseguir deixar a vida que tinha. Muitos dias dava o toque da entreada para primeira aula da manhã e eu já tinha fumado um canhão sozinho nas escadas do Liceu.

Entretanto cheguei a uma altura da minha vida em que não estava a ter rumo nenhum e cada vez mais me estava a despertar interesse a cena toda em redor do straightedge, de viver alerta de mente sã e corpo são. Fazia sentido para mim porque eu sempre tive uma abordagem político-social através de todo o meu background punk hardcore. No princípio e meio dos anos 90 todas as bandas em Portugal, e da cena punk hardcore no geral eram assim político-social, mas não era forçadamente, a cena era mesmo assim. Não se perdia tempo a escrever letras a falar de amizades, desgostos amorosos, da vida e isso tudo – nesse tempo eram sempre letras anti-governo, sei lá. Tal como hoje, havia muita merda a acontecer, mas as pessoas pareciam ser mais conscientes e preocupadas com o mundo à volta delas. Hoje em dia, infelizmente, as pessoas vivem anestesiadas porque os grandes governos e as grandes empresas criaram formas de manter o povo entretido.

Para mim o straightedge é muito mais do que não beber e não fumar. É sobre estar consciente e alerta sobre o mundo à minha volta e eu uso o straightedge como arma para combater toda a alienação que se quer apoderar de mim e acreditem, drogas, cigarros e álcool é mau (para mim) mas o Facebook e tudo o que internet e a televisão fazem à mente das pessoas é mil vezes pior. Criam-se falsas ilusões da vida através das redes sociais e deixam as pessoas viciadas em coisas fúteis e eu uso o straightedge como forma de me tentar abstrair o máximo possível de toda esta alienação e viver alerta em relação ao que se passa à minha volta! Mente sã, corpo são! Consciente e alerta! Straightedge!


Suponho que a ideia de formar os Pointing Finger tenha surgido pouco depois de adoptares o straightedge? Como foram os primeiros tempos da banda, que tipo de dificuldades encontraram por ser uma banda straightedge e que tipo de aceitacao tiveram?

Sim, Pointing Finger foi uma ideia que já tinha surgido mesmo antes de eu ser straightedge! Posso-te dizer, e acho que muito pouca gente sabe disto, que o Vairinhos que era de Day Of The Dead chegou a ensaiar nos primeiros ensaios de sempre do que veio a ser Pointing Finger. Primeira banda straightedge de Faro... claro que ficámos naquela, mas tivemos sempre apoio da velha guarda de Faro. O nosso primeiro concerto foi épico! Um cartaz de luxo: Punk-Kecas, Kontrattack, Revenge (Quarteira) e Time X. Foi brutal! Ainda demos uns concertos em Faro assim meio com pessoal a gozar e mandar bocas, mas era mais no gozo, porque Faro sempre foi uma irmandade!

Eu acho que a aceitação foi bué boa e sempre foi engraçado! Sempre fomos mais bem recebidos e sempre deram mais valor à banda em Lisboa do que no Algarve e sempre tivemos mais aceitação na Europa do que em Portugal. Descobrimos também que somos idolatrados no sudoeste asiático sem nunca lá ter ido! Tive recentemente na Tailândia, Malásia, Singapura e Filipinas e os putos todos assim bué sem jeito ao pé de mim porque era “o gajo dos Pointing Finger”. Parecia que era o Ian MacKaye, ahah! Até descobrimos que havia bandas na Indonésia que faziam covers de Pointing Finger! Lindo! Bem, depois de Punk-Kecas, que teve muita aceitação na cena de Linda-a-Velha nos 90, Kontrattack e Pointing Finger foram as bandas que tiveram mais impacto na cena hardcore algarvia. Kontrattack tinha uma irmandade com o pessoal da Margem Sul e Pointing Finger com a cena toda no geral, tanto em Lisboa, como pelo país fora.

Só houve mesmo uma coisa que atrapalhou sempre o percurso da banda: Pointing Finger nunca foi uma banda assumidamente vegetariana ou vegan e para a maior parte da cena straightedge em Portugal isso não era bem aceite. Fora isso a banda sempre foi muito bem aceite, batalhámos muito para tudo correr bem e no geral foi sempre na boa. Nunca fomos uma banda daquelas polémicas, éramos uma banda de HARDCORE!

Quando os Pointing Finger acabaram, creio que fossem uma das bandas a tocar há mais tempo. Quanto tempo é que a banda durou? Do teu ponto de vista, quais são as maiores diferenças entre a cena portuguesa quando vocês começaram e quando acabaram?

Pointing Finger durou bastante tempo! Infelizmente, por razões profissionais, tive de sair da banda. Comecei a trabalhar no Departamento de Turismo do Resort de Vale do Lobo no Algarve e o meu horário envolvia trabalhar das quatro da tarde à meia-noite, especialmente quintas, sextas, sábados e domingos, o que se tornou impossível para eu dar concertos! O último concerto que toquei foi com Go It Alone em Faro, em 2006, e acabou em beleza, pois um dos meus bateristas e músicos favoritos – o Mark Palm, vocalista de Go It Alone nesse tempo, baterista de Get The Most – estava lá! No fim do set ele foi ter comigo e disse: “Dude, amazing drumming!”. E foi o fim. Depois tocou o Ludgero de Broken Distance (ainda straightedge), ainda fizeram uma tour (em que eu não fui) em 2006 e a banda acabou por morrer em Faro em 2007, num show com For The Glory, onde toquei a ultima musica: o eterno clássico intemporal “New Direction”, dos Gorilla Biscuits.

As maiores diferenças... hm... não sei bem explicar. Acho que a cena hardcore continua boa, mas antigamente existiam mais pessoas dedicadas a organizar outras coisas para além de concertos! A malta antes organizava uns pic-nics de convívio e era muito mais fixe do que ficar em casa a dizer merda no Facebook uma tarde inteira. Lembro-me que havia debates sobre vários assuntos. Cheguei a ir a alguns na casa ocupada e era lindo, todos falavam! Lembro-me por exemplo no Fluff Fest, de manhã haver conversas e debates sobre vários assuntos e eu curtia bué disso, porque hardcore para mim não é só mosh e merch! Lembro-me de nesse tempo existirem mil fanzines (ainda que cada uma fosse pior que a outra). A malta escrevia e dizia o que tinha a dizer e todos comunicávamos uns com os outros nos concertos. Eu acho que a cena continua boa, mas há mais passividade hoje em dia. Antigamente as pessoas tinham muito mais orgulho naquilo que defendiam. Hoje em dia parece que é mais importante ir para uma festa na piscina, fazer uma churrascada, tirar fotos e meter no Instagram e no Facebook da festa super nice com os melhores amigos do mundo do que organizar algo mais construtivo para o mundo à nossa volta. Só isso.

Ok, a última pergunta! Não te vou roubar mais tempo...! O hardcore continua a significar o mesmo para ti nos dias que correm? Tem tanta importância hoje como tinha quando começaste a fazer parte da cena, ou houve alguma coisa que mudou?

Nada mudou! Tudo aquilo que eu sou é aquilo que sempre fui mesmo, desde quando ainda não era straightedge! Uma das coisas que mais que irrita é quando um cromo desses do "antigamente" me vem com conversas inteligentes da superioridade e me diz: "Então Rafa, mas ainda és straightedge, ainda é vegetariano, ainda és isto e aquilo? Rafa, isso era fixe quando eramos putos, agora estamos mais velhos!"
Mete-me nojo essa conversa de merda. Não tenho nada contra quem mude, mas cuspir na sopa onde comeram, alguns deles eram super dedicados e interessados e de repente mudam e criticam o que foram antes... não entendo! Para mim hardcore é sinónimo de integridade. E sim, para mim tem a mesma importância do que antes, sem dúvida. Talvez até mais, porque com 31 anos, cada vez tenho mais a certeza que straightedge e vegetarianismo está certo e faz sentido!

domingo, 22 de julho de 2012

Playlist da Semana #3

Todas as semanas, a Playlist da Semana. Porque no partilhar é que está o ganho.


The Abused - Loud and Clear - Acho que conheci primeiro a banda belga que pegou no nome do disco do que propriamente os The Abused. Quer dizer, a faixa final (Drug Free Youth) já a conhecia de uma qualquer compilação, mas não conhecia o disco até algum tempo atrás. Ainda assim, isto é só das melhores coisas provenientes de Nova Iorque nos anos 80, e certamente das pérolas menos conhecidas dessa altura. 

Rampage - Heads in a Vice - Das bandas mais underrated. Rápido, engraçado e despreocupado. Começa logo a abrir com a "Cave Bear" em que basicamente te dizem para sair de casa para ganhares alguma cor, que não és um urso para estar enfiado numa caverna. Tem faixas sobre como é fixe puxares pelo cabedal no ginásio ("Lean And Mean") e, para fechar, a minha faixa favorita, "Get Serious" em que basicamente te dão uma motivação extra para várias situações do dia a dia, ao som de um groove fodido.
Não sei se a história do LP que se seguiu ter sido ou não gravado com amplificadores da Radio Shack, tipo a Worten versão americana, é verídica, mas é algo que só alimenta a mística. Rumores de novo disco, mas acho que não passarão disso mesmo (também há o flyer a anunciar novo disco de Invasion em 2013... tu sabes, aqueles do "Invasion used to be this band but now we're playing Righteous Jams"). 

Altered Boys - Demo 2011 - Hardcore de Nova Jérsia altamente influênciado por bandas de Boston antigas (Negative FX!) e umas partes mais à Shark Attack, por isso era óbvio que ia gostar. Mais uma vez, é quase só pegar na fórmula, juntar água e está feita uma banda boa quase instantaneamente, mas não pensem que é só mais uma cópia, isto é bom! Acho que vão lançar um disco em breve, a demo foi lançada na RTF, que tem dos melhores vídeos promocionais/parvos de sempre.


Step Back! - Means To An End - Das melhores bandas nacionais, 'nuff said. Lancem o novo disco, dêem mais concertos!


Top de Boston 2012 - Bom, depois de ter sido ameaçado por uma arma branca pelo Miguel Pimentel após a entrevista que nos concedeu e em que o proibí de mencionar bandas de Boston, aqui ficam as bandas que ele quer que ouças esta semana: The Rival Mob, The Boston Strangler, No Tolerance, Free Spirit e Peacebreakers.


Grog - Odes To The Carnivorous - Ouvi esta banda pela primeira há buéda anos mesmo, à pala do baterista de As Good As Dead também tocar lá, ou uma coisa assim do género. Amor à primeira audição. Tipo os Cannibal Corpse mas de Portugal e ainda mais badalhoco. O baterista toca de uma forma absurda e, para mal dos meus pecados, é uma das bandas que tenho pena de nunca ter tido hipótese de ver ao vivo. Decerto que headbangs seriam tidos.

V/A - New York Hardcore: Where The Wild Things Are - As compilações não são muito a minha cena, deixando sempre um bocado a desejar. Mas claro, como bom miúdo do hardcore que sou, sei admitir que as há boas, ainda que raras. Esta é uma delas. De vez em quando lá retorno a ela... desta vez foi para as malhas de Breakdown, Sheer Terror e Maximum Penalty. Não há melhor. Nova Iorque nesta altura não dava hipótese nenhuma. 

Low Threat Profile - Self Titled EP - Eu não costumo ouvir muita música nova. Ora não tenho tempo, ora preciso de inspiração vinda de uma fonte que conheço, ora não tenho paciência. Agora, se me disserem que alguns dos gajos de Infest tem uma banda nova, nem é preciso acabarem frase... colo logo no Google à procura do disco. A sério, eu podia dizer alguma coisa sobre este disco mas acho que onze malhas em menos de cinco minutos falam por si. Duro. Disco completo aqui.

Supergrass - In It For The Money - Ui, logo assim. Manhã de Verão pede Supergrass para começar o dia. Fãs de bom rock decerto que colocam este disco numa lista discos essenciais, os outros pode ser que lá cheguem um dia. E aquele synth mesmo à Sabbath da altura do Sabbath Bloody Sabbath na Sun Hits the Sky? Pesado demais, bom demais.

Yeah Yeah Yeahs - Fever To Tell - Não descobri esta banda há muito tempo, mas também o que vale é que bateu logo. A música que me colou foi a Date With the Night (a bateria mata só), mas o resto do álbum só precisou de uma rodagem para se tornar favorito. Ah, e tem uma miúda a cantar. Mais positivo que isso só Youth of Today.

Trinta & Um - O Cavalo Mata - Estive à conversa com o Rafa para o primeiro À Conversa Com (que deve sair esta semana!) e ele fartou-se de falar nos Trinta & Um. Claro que tive de ir tirar o pó aos mp3 e voltar a ouvir O Cavalo Mata. Que discão. Acho que é O disco de hardcore feito em Portugal. Hardcore a sério, vá. Hardcorezão. É música boa atrás de música boa. É porque não os via de novo há dez anos atrás já manhã.

Programa do Crazy D e do Hatcha na KISS FM - Pois, é todas as semanas na KISS um programa sobre dub step. Umas vezes é fixe, outras meio aborrecido. Nesta semana convidaram um grupo chamado STINKAHBELL de quem eu nunca tinha ouvido falar e ADOREI COMPLETAMENTE. A miúda é brutal e o set foi bem bacano. Para quem curta dub step (morte ao Skrillex, já agora) que pegue aqui. Bass cannon, ai não!  

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Quem é Quem: Miguel Pimentel

Este espaço é dedicado a pequenas entrevistas ao pessoal que faz parte da nossa cena, e que de alguma forma ajuda a dinamizar o hardcore.


Esta semana o entrevistado não joga em casa mas quase, sendo um leitor assíduo e um colaborador do blog, nem que seja a tentar convencer o André de que The Boston Strangler e Minority Unit são AS bandas da actualidade. Este jovem rapaz algarviu conhecido pela sua distinta barba que lhe dá um ar sapiente, é o terror do side to side, sendo que a maioria das vezes nem se chega à frente porque alguém lhe rogou uma praga e sai sempre todo escavacado (é joelhos, sobrolhos...o que for). Ainda que seja cá dos meus e goste do old school, do "rápido e sujo", é um tipo profundamente apaixonado pela sua profissão e pela música popular portuguesa. Seguem umas perguntinhas ao Miguel Pimentel, o Boston Mike marroquino.

No seguimento da última questão da entrevista da semana passada, surgiu-me a ideia de incluir em todas as entrevistas uma questão sobre o percurso do pessoal até cair no hardcore, e mais que isso, o que é que os fez ficar. Assim, e para abrir as hostilidades, fala-me um pouco de como é que um moço de Olhão, terra de pescadores e bom marisco, veio dar aqui a estas andanças da música rápida e maluca.

É engraçado porque isto foi uma cena de família! A primeira vez que ouvi hardcore foi a partir de uns primos meus mais velhos que moravam em Lisboa e que estavam ligados ao meio punk hardcore e sempre que iam lá abaixo levavam sempre umas tapes para eu ouvir. E tinha outro primo que morava em Boston que morou nos anos 80 até inícios dos anos 90 e trouxe consigo na bagagem uns quantos discos de bandas de lá. Foram eles que me levaram aos primeiros concertos.
Eu antes de ouvir hardcore já ouvia punk rock da onda da Califórnia estás a ver, e eles só diziam "tens é de ouvir quem inspirou essas bandas". Era musica rápida e agressiva, não havia melodia, as letras eram simples e directas.  Não havia muita técnica mas estava lá uma coisa que a mim sempre me apaixonou, e acho que sem ela o punk hardcore não faz sentido, a mensagem. E neste estilo a mensagem era transmitida de uma forma rude mas honesta e sincera, tal como as gentes de Olhão.

És um tipo que não só gosta das suas raízes como as procura aprofundar. Para quem não sabe, tens uma vida "paralela" em que tocas mil e dois instrumentos e pertences a umas quantas tunas académicas. Como é que é para ti conciliar este tipo de música e instrumentos mais tradicionais com o teu gosto pelo hardcore que pouco tem a ver quer musical quer tecnicamente. Para além disso, fala-nos um pouco de como é que funciona esse straightedge num meio quase sempre associado ao consumo de álcool. Quer dizer, isto pode ser uma ideia pré-concebida, mas decerto aturas muito bebâdo e assistes a cenas hilariantes à pala dos efeitos da vinhaça, para mais tendo tu um olhar sóbrio sobre os acontecimentos, haha.

Além de ter um grande amor às minhas origens e às minhas raízes tenho também um grande amor à musica e principalmente pela musica feita por nós. Dizem que somos um país pequeno e pobre, mas para mim nós somos uns gigantes, com uma riqueza tão vasta que vai para lá da linha do horizonte! A riqueza de uma país não se abrange apenas à quantia de dinheiro que o estado tem! Para mim a verdadeira riqueza é sem duvida a herança das nossas raízes culturais! Não haja duvida que o nosso património da musica tradicional é o nosso maior bem! Bem haja a esses homens e mulheres que são a voz de uma nação que trabalhava e vivia em comunhão com a terra e os elementos, e a todos aqueles que pela sua dedicação e amor imortalizaram as nossas tradições que são a génese da nossa própria identidade como povo!

O hardcore e a música de cariz tradicional até têm algo em comum sabes? Ambos passam uma mensagem aos seus ouvintes, de formas específicas é claro. mas sempre de forma simples e honesta e mais importante ainda ambas vem da alma e do coração! Tenho o orgulho de pertencer a várias Tunas Académicas há 10 anos e apesar de normalmente este mundo estar relacionado à folia e guitarradas sempre bem "regadas" conheço muita gente ligado a este meio que não segue essa linha, e já encontrei inclusivamente SxE tunantes, por assim dizer! E o pessoal respeita imenso essa escolha! Ainda há outra coisa em comum entre tunas e a cena hardcore: amizade e união.


Está agora então na altura de desvendar um dos grandes mistérios da Humanidade: explica a toda a população portuguesa porque é que tu que dominas tantos instrumentos ainda não fizeste uma banda. Pelas conversas que tenho tido contigo, esta banda seria o equivalente ao Apocalipse, talvez daí a dificuldade em conseguir reunir todas as condições para que esse dia fatídico venha a acontecer.

Ahah! Tu és tramado, com esta já me quilhaste! Simples Mr. T., falta alguém para a bateria!

Pronto, que não seja por isso, fica então aqui o anúncio: quem souber tocar bateria e quiser fazer parte da banda que vai acelerar a chegada do fim do mundo entre em contacto. 
Bom, voltando a pegar no que falaste inicialmente sobre o teu primo de Boston, essa é a cidade de onde são provenientes grande parte das tuas bandas favoritas. Esses discos que ele te trazia e mostrava, foi aí que te começaste a interessar pelo vinil, pela cassete, enfim, pelo bicho do coleccionismo que ainda hoje mantêns?

Este bichinho do vinil veio do meu pai! Ele colecciona há muitos anos discos de vinil! Tem uma colecção impressionante e muito variada, e cassetes também. Sempre tive o fascínio pelo disco de vinil, lembro-me perfeitamente do meu pai retirar o disco com todo o cuidado, colocar no gira discos e pôr a agulha, e depois aquele som característico da agulha a tocar no vinil. Era uma espécie de ritual.
Ele está sempre a dizer "o cd é descartável mas o vinil é eterno". Este gosto pelas tapes e pelo vinil foi aprofundado pelo meu primo depois, mas lá está, a "semente" já estava lá! Eu sinto-me privilegiado nesse aspecto pela educação musical que tive.

Para terminar em beleza, fala-nos um pouco do que gostas de ouvir, a ver se convertes uma malta à boa música e deixam o azeite para fins estrictamente culinários. Para tornar o exercício mental mais complicado se disseres bandas de Boston perdes!

Deixo então aqui um top 10 de bandas que oiço regularmente, excluindo as de Boston que eu não gosto de perder nem a feijões! Bad Brains, Agnostic Front. Black Flag, Cro-Mags, Minor Threat, Gorilla Biscuits, Youth of Today, Negative Approach, Antidote e Dead Kennedys.
Fora da cena punk hardcore oiço um pouco de tudo, não sou esquisito! Amo música! Posso ouvir um fado como a seguir uma "skazada" por exemplo, no que toca à parte musical não tenho barreiras. Descobri recentemente uma label de Nova Iorque chamada Putumayo que basicamente lança compilações de musicas de várias nações, regiões e diversos estilos musicais. Resumindo, música de todo o mundo. São mais de 319 álbuns! Supostamente no dia 31 deste mês vão lançar mais um registo! Há álbuns para todos os gostos, aconselho a escutarem.

Discos Trocados: District 9/Gauze

Todas as semanas o André e o Tiago trocam um disco e falam um pouco sobre o disco que lhes calhou - tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, mas é aí mesmo que está a piada.

Tiago
District 9 - Schoolahardknox (1996)

Conhecia a banda de nome. NYHC dos anos 90 com o Puerto Rican Myke que esteve em Skarhead (banda que abomino), por isso é aquilo que esperava. Curto bué bandas de Nova Iorque, mas a partir dos anos 90 em que metem metal e rap à mistura meto um bocado de lado, não é a minha onda.
A Live Life foi a faixa que mais curti, rápida qb e com o tal groove. De resto, se procuram por breakdowns para andar a rodar o braço e mandar rotativos aqui encontram banda sonora para a práctica dessas artes marciais. Não leva delete, mas não vai levar grande play time.

André
Gauze - Equalizing Distort (1986)

Ok, hora de ir para o confessionário! Quando, praí há cerca de dez anos atrás, ouvi falar de Gauze pela primeira vez, a internet não me deixou arranjar nada deles. Não havia assim tanta coisa ripada para mp3 e não estava tudo disponível à distância de um Google. Outros tempos. Por um motivo ou por outro acabei por nunca ter hipótese de os conferir, até agora. Já era tempo também, valeu Mr T! 

Eu já sabia o que era: hardcore vicioso sem meias medidas, sempre a esgalhar e com muito ride. Curti bué, mas acho que não me bateu tanto como se tivesse ouvido pela primeira vez há dez anos. Muito provavelmente porque descobri os Bastard pelo caminho, que equivalem mais ou menos ao mesmo que ser pontapeado entre as pernas consecutivamente durante cerca de dez minutos e, depois de acabar a tortura, pedir involutariamente por mais. De qualquer forma, thumbs up buddy! Boa escolha, certamente uma que me faltava na lista!

Review: A Thousand Words + Anchor @ Bar Novo da FLUL (Lisboa)


Mais um dia normal de trabalho e treino de Muay Thai às oito horas. Saí um pouco mais cedo para tomar banho pois tinha algo para fazer, algo que me iria quebrar a rotina, uma coisa que já não fazia há algum tempo e faço cada vez menos. Mas que desta vez decidi não deixar escapar. Com o passar dos anos torna-se complicado quebrar a rotina durante a semana, já sei que são os horários alterados, o dia a seguir com ar de zombie á lá Walking Dead e sem vontade de fazer seja o que for. Mas se o Muay Thai me faz bem ao corpo, já o que fui fazer fez-me bem á alma.

Cheguei um pouco tarde, fiquei na conversa cá fora e só entrei mesmo quando A Thousand Words ia começar a tocar. Sempre que tocam em Lisboa tento sempre ir ver estes algarvios do capeta. Têm todos um feeling brutal em cima do palco e as músicas são boas demais. Se são coladas a Rise And Fall? Um pouco, mas e o que interessa isso? Tem feeling e são deste pequeno cantinho da Europa e devemos apoiá-los. Acredito que se fossem da Europa central iam ter granda hype à volta deles. Um set list bastante bom, nada chato, até o achei meio curto o que é sinal que estava mesmo a gostar do concerto. É sempre bom ver o pessoal a mexer-se, a fazer sidewalk, sing-a-long, só faltaram os stage dives. Lancem mas é o vinil numa edição toda bonita para eu comprar.

A seguir subiram ao palco os Anchor, banda straightedge (e vegan penso eu) da Suécia. Não consegui perceber o que me faz lembrar o som deles, se Carry On, se Judge, se Mental ou se uma misturada de todas elas. Foi a segunda vez que os vi e se da primeira vez me chamaram muito a atenção, desta vez já não me disse muito. Não sei há quantos dias andavam na estrada mas se calhar isso fez-se notar. Realmente pareciam mais cansados e a voz já não estava muito boa, o que me fez ficar um pouco de pé atrás com o concerto mas também consigo compreender a prestação visto que andar em tour não é nada fácil. Comprei um EP deles da primeira vez que estiveram cá mas não conheço nenhuma música em especial sobre a qual possa falar. De qualquer maneira a sala estava ao rubro mas um pouco mais vazia do que em ATW, visto também já ser tarde e havia pessoal a ter que ir apanhar os últimos transportes disponíveis. Algumas pessoas a cantarem as letras, com punhos no ar e o X nas costas das mãos a fazerem-se notar o que, devo dizer, me deu um prazer enorme. Afinal o feeling ainda não se esqueceu e o straightedge parece estar a rebentar em força de novo. Vamos lá ver quantos são para ficar. Se estás a ler isto e és straightedge não leves a mal o que digo, prova-me o contrário apenas.

Para finalizar, foi uma boa noite, valeu o ter chegado ao trabalho na sexta-feira com uma cara de zombie enorme. Se fosse numa sala mais pequena se calhar o concerto tinha tido um feeling ainda maior mas foi óptimo o concerto estar muito bem composto para uma quinta-feira à noite e ainda ver caras conhecidas e pessoal mais velho. Tive pena de não ter visto a nova promessa do hardcore vegan straightedge nacional Inyanga. Mas continuo a perguntar, qual é a cena de porem nomes estranhos nestas bandas que aparecem de vez em quando? E porque é que algum do pessoal vegan-edge apenas pôe os pés nos concertos ou monta bancas quando tocam as bandas dos amigos?

Review por Leandro Afonso (http://leoxfury.tumblr.com)