terça-feira, 6 de dezembro de 2016
Review: The Sound of Revolution @ Klokgebouw, Eindhoven
Marcar esta viagem foi uma maluquice. Ir num dia de manhã e voltar na madrugada doa dia seguinte para ir apenas e só a um concerto parecia uma ideia meio tresloucada, mas a promessa de muita malta portuguesa combinada com atuação de Judge (acima de tudo), voos e bilhete para o festival muito em conta fizeram com que a escolha fosse rápida e sem grandes conjecturas. You're only young once, so do it right, já diziam os Side By Side.
O Ivo das Caldas tinha ficado lá em casa a dormir, por isso já tinha companhia até ao aeroporto. Ia voar pela primeira vez, e a primeira chapada de realidade aeroportuária foi logo dada na conta do café, já na zona de embarque ("da próxima já sei!"). Já na porta encontrámos o Tiago Mateus e vimos ao longe o resto do pessoal.
A partida atrasou, como é habitual - tráfego congestionado no espaço aéreo de Lisboa. Já estávamos a contar chegar a Eindhoven pelas 14h15 locais para um concerto que começava às 13h00, com check-in no hotel por fazer, viagem até à venue, e entrada propriamente dita, pelo que já se faziam contas ao que é que íamos perder.
Desta vez não houve cornetas da Ryanair (pudera!) mas o facto do hotel ser literalmente dentro do aeroporto fez-nos ganhar tempo. Ou assim pensámos, não fossem ter dado o quarto de um de nós a um Zé Maria qualquer (bom trabalho na recepção!), que nos valeu mais quinze minutos de atraso. Ao menos deu para trincar algo do Albert Heijn que ficava no piso de baixo e matar o bicho (s/o para os preços à portuguesa).
Todos juntos apanhámos o bus que acabou por sair grátis, tendo como bónus serviço de guia turístico do Congas, que viveu naquela cidade uns tempos. Lá chegámos ao Klokgebouw que tinha uma fila respeitável cá fora. Era um edifício enorme com uma data de andares, que posteriormente vim a saber tinha sido uma fábrica de resina da Phillips. Fomos para a fila onde ficamos ainda mais uns vinte minutos, sendo que deu para reconhecer caras conhecidas da terra mãe que entretanto por ali já andavam.
Tudo contado, quando entrámos estava a tocar Discipline no palco grande. Jogavam em casa e provavelmente até estava a ser um bom show, mas a mistura de fome e vontade de encontrar amigos que já não via faz tempo fez-me esquivar logo para a zona do merch e bancas de comida.
Reencontro com o Fabinho, Fábio Godinho e Emilia para aquele update das novidades. Quick stop para pegar um cachorro para aconchegar o estômago.
Acabei por ir ver Lifeless com o André (de passagem por Eindhoven em trânsito para o Médio Oriente), o Leo e o Nuno. "Tu gostas disto? Isto é só pancada!" Não estava muito a par, só sabia que o Hermano curtia bué a banda, por isso já trazia comigo o rótulo de "pesado". Bem dito, bem feito, mal soa o primeiro rancancan começamos a ver uma confusão do caraças do pit, que nem a floresta de holandeses grandalhões conseguia esconder. Eu confesso que ao fim de três músicas já estava a tornar-se chato para o meu gosto, e aceitei o convite do Fabinho e fomos para a sala ao lado guardar lugar.
A seguir ia tocar Madball no palco grande, e como nunca tinha visto Madball ao vivo (como?) tentei chegar-me o mais à frente possível, sem me meter no meio da confusão e com vista para o palco - tarefa difícil. Tocaram uma data de malhas recentes que nem conhecia, com uma pitada do Madball que gosto aqui e ali (Smell the Bacon, Set if Off, Down By Law, Pride, etc). O fator palco grande (e grades) foi turn down, mas para primeira vez não foi nada mau. Isto numa sala pequena há de ser um feeling completamente diferente. Como passam por Portugal de quando em vez sei que mais tarde ou mais cedo vai acontecer...
O festival decorria com uma "pontualidade holandesa", sendo que mal acaba o concerto num palco logo recomeçava no outro. Os próximos a atuar eram os ingleses Dead Swans que eu pensava que eram uma coisa meio chorona tipo More Than Life. Dei lá um check, vi o Fabinho junto ao palco e acabei por bazar nem ao fim de uma música. Mais tarde ele veio-me dar na cabeça a dizer que aquilo era fixe e não tinha nada a ver com MTL. Lágrimas não foram derramadas no entanto.
Reencontrei o Tiago Mateus que me falou numa hamburgueria fixe na rua, ali nas redondezas. Agarrei no Ivo e fomos à descoberta de uma Eindhoven gelada e deserta para trincar algo. Depois de andar para trás e pra frente a rapar alto frio (FRIO!!), fomos dar com o tal "centro comercial", que tinha encerrado às 19h. A um sábado! Lembrei-me logo da conversa do Congas no bus até à sala do concerto a relatar as rotinas dos locais, nomeadamente os horários das refeições...
Com esta conversa toda não comi e após regressar apanhei Discharge a terminar.
Mais uma moedinha, mais uma voltinha. Altura de tomar posição para o concerto de No Turning Back. Showzaço com a familia do Martijn no palco a assistir, mil dives (com nota máxima para o do Congas). Aquilo era o "concerto hardcore" que eu vinha à procura e que tanto gosto.
Ignite tocaram a seguir no palco grande mas bastaram duas músicas vistas do balcão superior para desistir e ir sentar-me um bocado e arranjar lugar para Judge.
Judge deram o melhor concerto da noite. Meterem Judge a tocar no palco pequeno, sem grades, foi um decisão que precisou de tomates para ser tomada, mas que valeu mais do que a pena. Não sou bom a contar cabeças, mas aquilo estava à pinha. O pit não era pit, era uma onda de pessoas que ora eram empurradas como um bloco para a frente ora para trás, ora para a esquerda ora para a direita. Queria chegar perto do palco mas não dava. Incrível! Os sortudos que o conseguiram ajudaram a tornar aquilo um concerto memorável, ainda que não o tenha desfrutado da forma que tanto gosto (melhor que o de Berlim segundo vários comentários online que vi).
A dada altura tive de recolher ao pé de uma coluna que já estava a passar mal com o calor e acabei por ficar numa posição menos privilegiada para assistir ao último quarto do set. Tocaram tudo o que interessa, com o Mike Judge, apesar do seu porte imponente, a não dar mostras de cansaço, com o nevoeiro no ar, misto de calor corporal e da máquina de fumo, a dar um ambiente intimista a um concerto num sala onde deviam estar pelo menos 2000 pessoas. Vou repetir: incrível!
O set seguinte era o outro pelo qual mais estava curioso - Life of Agony. Não era o maior conhecedor da discografia, muito menos cresci a ouvir a banda, mas esta onda de revival dos 90's do último par de anos trouxe os êxitos incontornáveis até aos meus ouvidos. Isso e a óbvia mudança do Keith para Mina, que colocou a banda nas bocas do mundo.
Fiquei atrás de um casal onde a rapariga era a fã n.º 1 da banda. Passou o concerto TODO aos saltos e a cantar as músicas todas. Nem o holandês ultra bêbado que a dada altura quis entrar na festa a perturbou.
A banda deu um show do caraças. Abriram com a River Runs Red e nem houve tempo para suspense. Energia, comunicação com o público constante e tudo tocado sem espinhas. As coisas no pit foram duras, duas pessoas a saírem de lá sem sentidos, uma delas uma rapariga que acabou por interromper momentaneamente o show enquanto a tiravam pela frente do palco.
Reconheci a maioria das malhas do primeiro disco (o único que conhecia), sendo que durante uma hora nunca deixaram o público arrefecer. A Mina canta muito, com a Ugly a ser o melhor exemplo.
Foi daqueles concertos que te ficam na cabeça, e que mal voltei a Portugal (e ao trabalho) me levaram a ter os discos a rodar no youtube nos dias seguintes...
No fim já não havia muita paciência para Cockney Rejects. As costas já me doíam muito (sem drunfos) e o cansaço já estava a bater forte. Claro que aquela era a hora certa para meter a conversa em dia, ainda que o frio de rachar nos tenha mandado de volta para o hall de entrada do edifício. Deu para ser consensual a coroar os Judge e os LOA como melhores concertos da noite, e ter uma lição rápida da história dos LOA. Acabámos por ficar quase até ao fim de festival até o Congas lá aparecer cheio de tralha às costas e apanharmos todos táxi até ao hotel. Ainda se tentou o tuga discount sem sucesso, mas valeu o rap holandês que rebentava nas colunas.
Subimos, e depois de alguns dedos de conversa sobraram um par de horinhas para dormir. Ponto de encontro seis da manhã para comer algo no supermercado e voltar a Lisboa a tempo de almoçar em casa.
Lusco fusco hardcore. Agora e sempre.
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