Desbravando o frio londrino, eu e o Ricardo saímos da casa mais portuguesa de Stepney Green até Liverpool Street para ir ao encontro do Fábio e das mais altas personalidades da Ratel Records para almoço antes do show. O gorro perdido no dia anterior foi diversas vezes chorado, mas como o frio apertava, e a fome também, depois de nos encontrarmos fomos todos em passo rápido para o Boxpark almoçar.
Mil anos depois, e quase por acaso, conheci pessoalmente um alemão com quem troquei mensagens e cassetes quando esse formato começou a reaparecer, que estava connosco a almoçar. Gajo cinco estrelas, fã número um de True Blue e Gut Instinct! O triplo aquecimento do almoço - "High Grade" no Cookdaily bem picante (da próxima com Scotch Bonnet, Fábio!), os aquecedores por cima de nós e a converseta - foi o aperitivo perfeito para o que daí viria.
Dois autocarros depois estávamos no sul de Londres, à porta do DIY Space for London, um espaço comunitário com sala de concertos, loja de discos, livraria, printing room, bar e mais umas coisas que nem deu bem para explorar, tamanha a quantidade de malta já no local.
Quem abriu o concerto foram os Rapture, de Leeds. Com uma rapariga a cantar e outra na guitarra, o concerto foi altamente prejudicado por um feedback insurdecedor que se sobrepunha a todo e qualquer instrumento. Falta um bocado de andamento à banda, era praí o segundo ou terceiro concerto da banda e a vocalista não parecia muito à vontade. Cover da Discriminate Me (das melhores mosh parts alguma vez feitas) foi o ponto alto. O set durou nem dez minutos e marcou o tom para o resto da noite. Lusco fusco hardcore? Sim, obrigado.
Up next: Big motherfucking Cheese. Primeiro concerto destes miúdos que mantiveram a guitarrista de Rapture em palco e puseram o baterista a agarrar no micro. Adoro a pausa da tshirt para dentro das calças, calças essas curtas, mesmo para a apanha do berbigão. Mas como mais importante que o estilo é o conteúdo, o set foi demolidor. O Henry (o tal alemão) tinha confidenciado ao almoço ter voado para o show para os ver, e nem ele, nem acho que ninguém, saiu desapontado. Os problemas de feedback foram minimizados o que foi um óbvio sinal mais. Esta banda tem tuuudo para rebentar. Lembram-me uns DMIZE.
Os Higher Power tiveram de desmarcar o show poucos dias antes pelo que deu para assistir pela primeira vez a um concerto dos Unjust, que os substituíram. A dica foi "atitude". Mantiveram o lusco fusco, aquele set que tocas quatro malhas, uma cover e tá a andar de mota. LIKE!
Já não me lembro se foi a meio do set de Insist ou de Unjust que o André apareceu. Houve uma desistência de última hora e conseguimos levá-lo (a custo) a sair de casa, não sem antes visualizar o jogo do United. Escusado será dizer que mal entrou na sala e rebentou uma cover já não sei bem qual (Floorpunch? Confront? A tarde teve um desfile gigante de covers...) e a ferrugem saiu bem rápido!
O youth crew dos Insist foi talvez o som que mais destoou das restantes bandas. O rápido e furioso foi trocado pela adoração a YOT e afins. Os miúdos de Manchester (ex-Survival) já estão com outro andamento, incluindo datas na América já na bagagem, o que se nota no palco. Ainda assim, foi dos sets que, olhando para trás, menos ficaram na minha retina e na minha cabeça.
Já tinha saudades de ver os Arms Race. O LP foi dos meus discos favoritos de 2016, e revê-los foi uma prazer. O Nick é um frontman como se quer e aquele esgar raivoso na cara é a cereja no topo do bolo. Tal como o André mais tarde disse, The Rival Mob precisava de um vocalista assim - mais chateado, menos piadolas. Cover de 4 Skins incluída.
Nestes concertos com bué bandas calha sempre a fava a alguma de ser deixada para segundo plano. E a fava calhou aos velhotes Voorhees. Era hora de jantar, um gajo tem de se alimentar, se não parece uma folha de papel no pit...Havia catering vegan, e a escolha recaiu numa sandes de almôndegas de beringela, regada com bom picante caseiro.
Quando reentrei na sala cheguei a tempo de apanhar as últimas duas músicas. Não deu para ver grande coisa, mas havia malta suada, deve ter sido fixe.
Up next: The Flex! O powerlifting está a fazer efeito, o Sam já era grande, mas agora parece um monstro, especialmente visto em cima do palco. Foram talvez a banda mais prejudicada pelo som durante a tarde toda (a par dos Rapture), havia ali algo na mistura do volume da voz com os instrumentos que não estava a sair bem. Adoro a banda e óbvio que curti mil mas ficou aquele gostinho a pouco no canto da boca.
Felizmente a noite ainda não tinha acabado, e havia convidados de Boston a entrar em acção.
Melhor design? Melhor design. |
Ainda cheio de comichões por ter comprado o bilhete para o show de Waste Management (e Peacebreakers e Boston Strangler) em Londres em 2014 e não ter chegado a ir, felizmente eles fizeram a viagem até ao velho continente e deu para sentir uma das melhores bandas de hardcore da atualidade. Por esta altura já estava de t-shirt mesmo tendo havido um inteligente qualquer que abriu uma porta para o frio entrar em força para dentro da sala...Estava lá o Jonah Falco de Career Suicide que saltou para a bateria para (à terceira!) tocar a Power Abuse. Malta do #renteaochão teria curtido milhões.
Para o fim estava reservado o melhor. Ainda que a celebrar o seu fim, os Violent Reaction deram um showzaço, dividido entre mil agradecimentos, participações especiais e um palco e pit craaaaazyyy.
Daqueles concertos em que só estando lá é que dá para explicar, as palavras são curtas. Haviam três camâras de filmar a funcionar, pelo que é suposto aparecer multi-cam em breve (a não ser que seja como Portugal, que os vídeos nunca aparecem...).
Houve tempo para buéda covers, ainda que não fosse preciso conhecer a letra para haver mocada e dives a rebentar de todos os lados. O Mirko de Foreseen cantou a Victim In Pain de AF, o DFJ subiu ao palco para a It's My Life de Madball, um tipo americano que tinha ajudado na tour americana a Straight Ahead e no fim ainda houve tempo para o clássico de Warzone, As One, mesmo para o momento posi-unity-hardcore-forever da noite.
/50 |
Estava lá o australiano da Rain On The Parade Records que editou o 7" Dead End versão australiana. Para ajudar a pagar custos trouxe cinquenta discos com uma capa nova que vendeu como sendo "Last Show Edition". Bom item de coleccionador.
Começar 2017 com potencial melhor concerto do ano? Venham mais que ainda é janeiro!
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