segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Discos Trocados: Civic Duty/Shipwrecked

Esta semana voltamos a trocar discos. Formato antigo que à muito queria ressuscitar. A piada? É que tanto pode ser um clássico como uma porcaria autêntica, vai sempre dos gostos de cada um (e das escolhas que cada um fizer).

Voltam os convidados e volta o modo "amigo secreto". Desafiei duas pessoas a trocarem um disco entre si, sem saberem quem são. Desta feita a fava caiu ao Miguel Pimentel (um repetente) e ao Fábio Marques. Colaboradores habituais, porque em equipa que ganha não se mexe (muito).

O Miguel escolheu o novo EP de Shipwrecked, saído em 2017 e que chegou, viu e venceu - primeira press esgotada na editora em menos de um mês, três malhas que deixam água na boca e fazem a malta implorar por um LP num futuro próximo. 

Já o Fábio escolheu enviar o novo disco dos Washingtonianos Civic Duty, também lançado em 2017 e que sucede uma demo que deu que falar em 2015 mas que parecia condenada a ser mais uma demo sem o seguimento que merecia. 

Fábio Marques
Shipwrecked - Self Titled (2017)

A forma como este disco começa é brutal. Sentes logo aquela tensão no ar. Fez me passar duas coisas pela cabeça, o início de uma guerra medieval e o início daquele concerto de Killing Frost no Café au Lait... Acho que o André ia curtir desta banda. Para quem não conhece, Shipwrecked toca aquele hardcore mesmo da biqueira de aço, cabeça rapada e t-shirt de Negative FX. Boston style. Mas com sotaque norueguês. Eu por acaso já conhecia a banda e lembro me de que quando ouvi o LP achei bué estranho como é que pouco se ouvia falar desta banda...Talvez se fossem americanos...you know.

Bem underrated esse LP. Mas falando deste disco, este volta a ter aquela abordagem à cena medieval e pagã que já vem fazendo parte da identidade da banda. Tanto nas letras como no artwork. E mais uma vez a capa ficou mesmo boa. A nível de sonoridade, faz me lembrar uma mistura de 86 Mentality com aquelas partes mais melódicas de Battle Ruins. A intro da terceira malha fez me logo ir ouvir a Life Trap. Foda-se. Que estrilho man. Estes gajos sabem. Há um vídeo (este) bué fixe deles a tocar em Valência com o pessoal todo a curtir. Imagino logo o Tiago e o Bica a varrerem aquela sala de uma ponta à outra. Bom disco, rodem isso.


Miguel Pimentel
Civic Duty - Burden of Hate (2017)

Confesso que estava apreensivo e ao mesmo tempo curioso para saber que registo iria “sair na rifa”, mas todos os receios e dúvidas foram dissipados assim que meti som na caixa. Quando comecei a ouvir a intro, disse para mim mesmo “vem aí saraivada da grossa mesmo à Boston”, mas esta rapaziada não é oriunda de lá mas sim da cidade onde o hardcore foi desbravado pelos Bad Brains e depois popularizado pelos Minor Threat. Estamos a falar de Washington DC...há muitas luas atrás estava a falar com o Tiago Gil e a dizer que a cena musical naquela zona estava a perder pujança, que o emo é que tinha tomado conta daquilo tudo e de repente levo com uma chapada de luva branca com o surgimento de uma nova geração que tomou a área de assalto.

Os Civic Duty são uma das muitas bandas que estão a brotar do chão como cogumelos na capital. Lançaram uma demo em 2015 e este ano o EP “Burden of Hate”(Triple B). São compostos por elementos que também partilham bandas como Fury, Protester, Pure Disgust, Red Death ou Clear, ou seja, malta com tarimba e com uma boa rodagem em palco. Se não conhecem estas bandas aconselho a ouvirem porque vale bem a pena!

“Burden of Hate” não tem muita ciência por detrás. É composto por 9 malhas sempre a rasgar pano, não há cá espaço para respirar. São cerca de 8 minutos de punk hardcore furioso e rápido, uma voz roufenha, guitarra com riffs bem rasgados e uma secção rítmica que mais parece um combate de bare knuckle, tamanha a brutidade. Ao longo do registo parece que me consigo ver numa pequena cave apinhada onde só há “putos” a voar, a varreram corpos de um lado ao outro tudo com sorriso na cara enquanto entoam as musicas. Quando oiço a “Choke” e a “Wolf on a Leash” só me dá vontade de andar ao murro as paredes só para azucrinar a vida à snob da minha vizinha.

Isto é um bom registo e é mais do que um som “antigo”. É fresco, é tocado por malta nova que sabe honrar as suas raízes mas ao mesmo tempo sabe que está a viver o seu tempo, sabe que está a meter o seu cunho pessoal, não está a copiar, está a fazer o seu próprio estilo. Para mim punk hardcore é mais do que revivalismo, é continuidade, é algo que se reencarna e é o que os putos de Washington estão a fazer neste momento. E espero que os "putos" na Tuga façam o mesmo. “We are in 2017 and Punk Hardcore is still alive and kicking”.

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