quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Cinco Às Quintas: Clean Break

Se a cena não acorda há que a agarrar pelos colarinhos e abaná-la vigorosamente. Este poderia ser o mote por detrás do aparecimento de uma nova banda algarvia, obra do David (Broken Distance, Pressure, Pointing Finger) e do Armando. Se gostas de Betrayed vais gostar de Clean Break, a banda que está aí a rebentar com demo já online, e lançamentos físicos a caminho. Porque há quem ainda acredite no hardcore, as coisas continuam a aparecer. Basta querer! Seguem umas questões ao David Rosado sobre o novo projecto.


Fala-nos um pouco da história por trás desta tua nova banda e o que é que já têm no horizonte para ela.

A história da banda não tem assim muito sumo. Eu e o Armando, que tocou bateria no final de Pressure, combinámos um ensaio com a ideia de fazer uma cena nova. Já não me recordo mas acho que fizemos as malhas em 2 ou 3 ensaios rápidos. Arranjei maneira de captarmos a bateria na sala de ensaio na ARCM. Depois foi gravar as guitarras e o baixo em casa, escrever as letras e gravar novamente a voz na sala de ensaio. O Nuno deu-nos uma ajuda brutal tanto nas gravações como a misturar. Acho que o resultado final ficou bastante acima das minhas expectativas. Agora vamos lançar a demo em cassete e mais tarde talvez em vinil pela Salad Days Records. Vou também tentar arranjar uma formação sólida para começarmos a bombar ao vivo também. Mas acho que o melhor é continuar a fazer as coisas com calma, uma coisa de cada vez. O objectivo imediato é editar a demo e ensaiar. O resto logo se vê.

Esta tua nova cria é de alguma forma uma continuação de alguma das tuas anteriores bandas? Uma espécie de reinvenção de Broken Distance, Critical Point ou Pressure, para falar nas mais recentes, ou é algo com um intuito completamente novo e uma vibe completamente diferente?

A ideia é sempre tentar fazer algo mais fresh, tentar aprender com os erros do passado e criar algo de diferente. É óbvio que não vamos reinventar a roda nem estar na vanguarda do Hardcore. Nada disso. Acho que podemos dizer que Clean Break é um híbrido de Critical Point com Broken Distance. CP porque a maneira como fizemos as malhas foi semelhante, neste caso fui eu e o Armando e em CP fui eu e o Rafael, mas de resto foi tudo muito parecido. Fui eu que escrevi as letras e gravei as guitarras e o baixo. A cena de BD é mais por ser uma nova banda em que estou na voz. Tentei que não soasse tanto a BD e acho que o facto do tipo de som também ser um bocado diferente ajudou. Já agora uma curiosidade, a letra da 'Save Face' era de uma música de BD que nunca chegou a sair e que tentamos reciclar para Pressure, mas que acabou por não ser gravada também.

Que tipo de temas é que podemos ver abordados nas músicas de Clean Break?

Em BD na altura escrevi sobre cenas mais pessoais, essas letras se calhar eram menos directas como por exemplo em CP que era algo mais directo e onde procurei abordar temas como o Straight Edge e o Vegetarianismo. Acho que um dos temas que acabo sempre por escrever é sobre a cena Hardcore. Sobre ver que com o passar dos anos a cena consegue-se transformar tanto e ver o vai e vem de putos. A Cut And Run fala sobre isso. Questiono-me bastante se estes putos novos se preocupam com algo mais para além de T-shirts e música pesada. É como uma afirmação que passados mais de 15 anos ainda me identifico com a cena Hardcore. A Thick as Thieves fala de amizade, de como por vezes as coisas mudam mas ainda existe uma réstia de esperança que as coisas voltem as ser como eram antes. A Behind The Times é talvez a letra mais 'politica' que já escrevi até hoje. Mete-me nojo este governo de merda que nós temos. É como que um desabafo para tentar que as coisas mudem.

Ainda há espaço para bandas straight edge em Portugal?

Claro que sim, nem que seja eu sozinho a fazê-las hahaha!! Agora a sério, acho que a cena Straight Edge está a sofrer um pouco do mal da cena Hardcore em geral e que sofre também do mesmo mal que a nossa economia. Se calhar ando muito desligado das coisas, mas o que vejo é que os putos já não têm vontade de fazer bandas, de aprender a tocar um instrumento. Pode ser por falta de dinheiro para investir, mas não sei se será. Acho que a falta de vontade em criar é bem maior. Mas é óbvio que ainda há espaço para bandas Edge. Se não houver só temos é de o criar. Isto funciona sempre por ciclos, quem sabe não vai começar uma nova vaga de putos Edge com bandas, fanzines, distros, matinés, shows com 300 putos com bandas de hardcore, ska e punk rock como no ritz? Se não fizermos por isso então é que não acontece nada.

O Algarve é provavelmente a capital portuguesa do youth crew, com um sem fim de bandas que tocaram ao longo dos anos, muitas das quais em que inclusivamente foste membro integrante. Mas hoje muitas vezes fala-se no Algarve por razões menos boas. Concertos às moscas, pouca gente activa, poucos miúdos interessados. Como é que olhas para o que se passa aí em baixo neste momento? Achas que há malta para fazer aquela renovação necessária ao género aí em baixo? Parece que sempre que aparece algo é fruto da vontade de um pequeníssimo circulo de pessoas, quase sempre as mesmas.


O Algarve ou a cena em Faro não é diferente dos outros sítios no mundo. Há sempre fases boas e fases más. A cena Hardcore é feita pelos putos. Os putos do secundário são os que a bem ou a mal enchem os shows. Alguns duram anos, outros duram meses, mas a base está aí. Não é com o pessoal de 30 anos que tens uma cena Hardcore com os shows cheios ou muito pessoal activo. Se calhar com mais shows podia haver mais pessoal, mas mais shows implica que hajam mais bandas e isso é algo que não abunda nos dias de hoje. Vai um pouco de encontro ao que já falei, os putos hoje em dia não sentem vontade de aprender um instrumento ou de ter uma banda. É algo que dá trabalho e é preciso algum dinheiro. Se o dinheiro é coisa que já não abunda, o teres de te esforçar para aprender o instrumento pior ainda. É tudo mais descartável.

Mas tenho sempre esperança que as coisas vão mudar. Não é preciso teres uma cena com shows grandes para a cena ser boa. Quantidade não quer sempre dizer qualidade. Se depender de mim, vou continuar a fazer os possíveis para continuar a fazer aquilo que gosto, independentemente de estarem 20 ou 100. Não me serve de nada ficar sentado a queixar-me que antigamente é que era. O 'agora' daqui a 10 anos vai ser o antigamente de muitos putos que se calhar se vão queixar da mesma coisa. Há putos novos a fazer cenas, posso não gostar de tudo o que é feito, mas ao menos há coisas que continuam a acontecer e isso é bom.

Obrigado Tiago pela entrevista e pelo apoio. Acho que estão a fazer um excelente trabalho com o blog. Projectos destes nunca são demais. Gostava que o pessoal passasse pelo bandcamp e ouvisse as malhas e principalmente lesse as letras. Uma coisa que se foi perdendo com o digital foi grande parte do conteúdo. Sem o formato físico a tendência é dar apenas atenção à música e o Hardcore para mim é tão mais do que isso. Acho que é isto, PMA! 

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