Dia 11 (10/12/2017) - Essen (Alemanha)
Hoje foi um dia de merda...
Nunca na minha vida tive tanto medo de andar na estrada como hoje. Uma viagem de 4 horas transformou-se num pesadelo. Cerca de 8 horas e tal depois chegámos a Essen. Para pessoas do sul, a neve é uma coisa bem bacana de se ver às vezes. Penso que hoje tive a minha dose de neve para sempre. O Ivan é um condutor do cacete, agarrou-se ao volante e ali foi ele a levar com o pessoal e a desbravar os caminhos de uma Alemanha fria e gélida.
Por momentos pensei que o concerto estava cancelado com os consecutivos avisos de tempestade de neve. Pessoas amigas que nos ligavam a dizer que não podiam ir porque a tempestade era forte e nós lá fomos trilhando o caminho até chegarmos com 2 horas de atraso a uma sala linda em Essen. Um club perfeito para concertos, com zona de dormida, zona de backstage tranquilo, bom som, tudo perfeito...a única coisa que faltava hoje eram mesmo pessoas. Pelos vistos aqui levam a sério os avisos vermelhos e não saem de casa mesmo.
Tocaram os Demolition, Tides Denied e a banda do nosso velho amigo Bjoern Esser, Jails. Tocámos para uma sala com 15 pessoas, muitas delas amigos de longa data! Foi possívelmente dos concertos mais divertidos da tour, porque ali estavam alguns dos nossos amigos de muitos anos e estávamos mesmo com o feeling de desbunda.
Não vou esconder os números, toda a gente tem vergonha de falar dos seus fracassos, eu não tenho vergonha de nada. Não sinto que tenha algo a provar, quem vier que venha por bem e isso para mim chega. Existimos há 14 anos, centenas de concertos dados pela Europa de norte a sul, alguns concertos épicos e alguns falhanços, hoje foi uma noite de pouca assistência mas de carga emocional grande.
Durante 11 dias ouvimos pessoas a queixarem-se de que a cena hardcore está em baixo, os concertos grandes estão a absorver os pequenos. Isto só me lembra que muitas vezes em palco falo sobre isso, sobre o facto de que quando as bandas locais e mais pequenas acabarem o que restará? Em Portugal temos a sorte de não sermos tão mimados quanto cá em cima, mas estamos a caminhar para aí.
Quantas bandas novas aparecem? Quantas pessoas aparecem nos concertos locais? Onde estão as 600 do Ritz? Ou as 300 de Lafões ou da República da Música? Quando deixarmos de amar a nossa própria cena hardcore estamos a contribuir para o seu empobrecimento e consequente fim.
Amanhã estamos de volta a Portugal, estamos de volta às nossas famílias. Custa estar longe nestes dias em que as coisas não correm da melhor maneira, mas é mesmo assim. Aqui estaremos até um dia deixarmos de estar. Para já vamos nos encontrando por aí.
Texto por Ricardo Dias. Fotografias por Tiago Mateus.
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