quarta-feira, 3 de abril de 2013

Entrevista: Just Say No!

Porto, São João da Madeira, Leiria. Três cidades que em comum se calhar não têm assim tanta coisa, mas que são a proveniência da nova banda que promete trazer groove e old school à cena hardcore. Os Just Say No! já deram uns quantos concertos no Porto e começam cada vez mais a ser figura presente nos cartazes que por esses lados vão acontecendo. Prometem mais concertos, mais novidades e a demo para breve. Segue a entrevista aos Stop & Think portugueses. (Estou a colocar a fasquia alta, depois cobro se me falharem!!)

JSN no Altar Café Concerto © Rebeca Bonjour
Malta, dizer que estou excitado com o vosso projecto é pouco. Hardcore para pisar cabeças é "um bocado" a minha cena...sem merdas, simples e eficaz. Como é que vocês se juntaram, quem pertence à banda e essas coisas para inteirar a malta.

FÁBIO: Bem lá para os finais de 2011, surgiu a ideia de eu formar uma banda youth crew com um amigo meu de Pombal e com o Félix. Mas entretanto houve coisas que mudaram e a ideia inicial da banda tomou outros rumos. Mesmo assim, eu e o Félix decidimos andar com a brincadeira para a frente a ver no que dava. Eu sabia que ia para a voz, visto que não sabia tocar nada. O Félix ou ia para o baixo ou para a guitarra, portanto decidimos começar por procurar um baterista. Então depois de muito procurar e chatear pessoal, um dia lembrei-me de falar com os miúdos dos Destruction Eve a ver se algum deles estava interessado em juntar-se a nós. E o baixista deles, o Xicote, alinhou na cena. Eu sabia que ele tocava baixo, mas quando o vi a tocar bateria até me saltaram os olhos. 14 anos? A tocar daquela maneira? Tu bates mal man! Que classe. Saltou logo para a bateria que foi um mimo. Pah com um gajo na bateria, um na guitarra e um na voz já dava para fazer um ensaio, não? Claro que sim, com a pica que estávamos nem pensamos duas vezes! E assim foi, no Verão mandamo-nos praticamente sem material nenhum para uma sala de ensaio no Porto e tivemos lá a curtir umas horitas.

Depois de três ensaios juntos, sem baixista, lá se decidiu que o Félix ia ser o guitarrista da banda. Mais tarde soube que o Vitor da Shut Up And Play ia organizar um Benefit em Dezembro no Porto. E eu queria que esse fosse o nosso primeiro concerto. E também queria que fosse um concerto surpresa. Mas para isso acontecer, sabia que tínhamos que ensaiar mais e claro, arranjar um baixista. Too much pressure. Até que me lembrei do Bruno Lisboa, porque costumava vê lo nos concertos cá no Norte e porque sabia que ele tinha uma fanzine. E isso é fixe. Falei com ele, e ele disse-me que não sabia tocar nada, mas que curtia juntar-se a nós. Então depois de eu e do Xicote o chatearmos bué para ele começar a tocar baixo, ele lá cedeu. Marcamos o nosso primeiro ensaio de sempre, com todos os elementos da banda, horas antes do benefit começar. O Bruno ainda não sabia tocar baixo e só tínhamos uma hora para o por a tocar duas músicas nossas e duas covers. WILD! Foi duro, mas lá deu para desenrascar. Chegamos lá ao Benefit, pedimos material emprestado e tocamos. Pregos e mais pregos. O que vale é que ninguém conhecia as músicas...hahah. Mas foi bué fixe! Divertimo-nos todos bué durante os 6 minutos de concerto. Lusco-fusco hardcore. E queres saber uma coisa? O Bruno foi o que deu menos pregos! hahah, true. Esse concerto tá gravado, um dia pomos isso online para o pessoal se rir. 

Rótulos é uma cena um bocado manhosa e acaba por meter impressão a muito boa gente. Vocês são uma banda straight edge ou que promove esse modo de estar na vida?

FÁBIO:  Supostamente éramos para ser...hahah. Eu e o Félix somos straight edge. O Bruno e o Xicote não são fãs de droga, tabaco, álcool, etc, mas essa tal cena dos rótulos causa-lhes alguma impressão como tu disseste, e então não se consideram straight edge. AINDA! haha. Mas apesar disso tentamos transmitir através das nossas letras que  viveres uma vida consciente e livre de drogas é a melhor escolha. DRUG FREE YOUTH. 

Tendo tido acesso privilegiado a ficheiros mais bem guardados que os relatórios sobre Abu Ghraib, já consegui ter um cheirinho do que podemos esperar da vossa parte. Para quem está mais a leste, e até porque têm mantido o projecto bem low profile, falem aí do som da banda e as vossas principais influências. 

FÁBIO: Ya nós mantivemos a banda em segredo até tocarmos no Benefit, para ser uma surpresa. Agora já não é segredo nenhum. Mas também só temos intenções de criar uma página online, quando tivermos a demo gravada, para o pessoal ter alguma coisa para ouvir. Quanto ao nosso som, quando eu e o Félix decidimos seguir com a banda, sabíamos que queríamos tocar um som na onda de Mental, Stop And Think, Righteous Jams...Lockin' Out Records style. Não só por adorarmos estas bandas, mas também porque atualmente em Portugal não há bandas a tocar este som. O que é uma ganda merda. Is anybody there? Does anybody care? Does anybody see what I see?

Epah na cena tuga todos dizem que gostam bué dos X-Acto, Sannyasin, New Winds, Time-X…mas eu não vejo quase ninguém a pegar nestas influências e a fazer uma banda. E isso faz me ganda confusão. Principalmente porquê nos dias de hoje as coisas são bem mais acessíveis do que eram na altura destas bandas. Miúdos, por favor parem de bater na mesma tecla…já bastam os More Than A Thousand e os Hills Have Eyes. Se gostam tanto de hardcore como dizem, façam lá o favor de tocar hardcore a sério. 

Passando à frente, as nossas influências não passam só pelas bandas de Boston que mencionei. Principalmente depois da entrada do Xicote e do Bruno. Nem todos na banda gostamos das mesmas coisas, mas todos gostamos de uma coisa em comum: punk hardcore old school. E é nisso que nos focamos. Músicas diretas, rápidas e curtas. E com algumas partes para o pessoal moshar, em vez de lutar karaté invisível. A minha banda favorita são os Youth Of Today e é óbvio que são uma das minhas principais influências. 

BRUNO: Para mim é um pouco difícil saber quais são as bandas que mais me influenciam sem ficar duas horas a olhar para a parede a pensar na vida, por isso deve ser mais fácil pensar nas bandas que mais tempo ficaram a ganhar teias no meu mp3. Assim sendo muito provavelmente serão os álbuns antigos de AFI, Mais Uma Queda (ainda tou com fézada que voltem a fazer alguma cena), Freedoom e mais recentemente Revengeance.

XICOTE: Negative Approach, Gorilla Biscuits e Minor Threat.

JSN na Casa Viva © Rebeca Bonjour
Então mas essa demo tem alguma deadline definida ou tens alguma noção de quando podemos ouvir JSN nos nossos computadores e demais aparelhos de reprodução áudio?

FÁBIO: Para já estamos mais focados em ensaiar e fazer músicas novas, visto que vivemos todos longe uns dos outros e que só ensaiamos praticamente uma vez por mês. Depois de fazermos mais uma ou duas músicas novas, a nossa prioridade vai ser gravar a demo para termos algo cá fora para nós e para o pessoal.

Já falamos entre todos sobre onde íamos gravar a demo e chegamos à conclusão que, depois do trabalho que o João Leonardo e o Vitor Moura de Local Trap fizeram na gravação da demo de Shitmouth, é com eles que queremos gravar! Portanto se tudo correr como estou a planear, a demo vai sair em cassete no primeiro semestre deste ano, pela Be Yourself Records! BY001. 

Sendo vocês quase todos bem miúdos, acho bem fixe fazerem uma cena com uma vibe mais à antiga ou pelo menos com raízes bem mais "hardcorianas" que muito do que é moda hoje em dia. Por um lado, porque acham que este tipo de som parece ter dificuldade em pegar por cá e por outro o que é que vos levou a curtir mais estas coisas que essa música mais modernaça. Gosto pessoal, amigos, ao ambiente dos concertos no Porto, ou foi apenas um acaso que vos juntou à volta da música para partir pedra?

FÉLIX: Bem eu já não sou bem um "miúdo" pois os anos já começam a pesar mas o espirito jovem está sempre presente. Acho que todos nós temos outros tipos de gostos para além da cena mais Old School mas sempre gostei de ouvir cenas antigas na onda de Ten Yard Fight ou Mental (para não falar de outras) e sempre me identifiquei com esse tipo de som tanto pela mensagem transmitida como pelo feelling presente na musicalidade. Tive a sorte de conhecer estes meninos mais novos que apesar da idade sabem bem quais são as raízes do hardcore.

BRUNO:  Eu tou mais inclinado para o que se fazia mais à uns anos atrás porque para mim é mais apelativo letras sobre vegetariaismo e atitudes positivas do que sobre destroy everything e fuck the police smoke weed bitch.

FÁBIO: O PUNK! O que me fez gostar deste tipo de som, foi o punk que eu ouvia antes de começar a ouvir hardcore! 

Qual é que é a origem do nome Just Say No? Cheira-me que No For An Answer tem aí uma mãozinha...

FÁBIO: Haha, sabes bem. Eu e o Félix andavamos a pensar em nomes para a banda, mas como não estávamos a ter grande imaginação, decidimos pensar numa música que representá-se bem o nosso tipo de som e que ao mesmo tempo tivesse uma letra relacionada com o tipo de mensagem que queremos transmitir a quem nos ouve.

Um dia lembrei-me da música Just Say No dos No For An Answer e achei que fazia todo o sentido dar esse nome à banda! Falei com o resto do pessoal, todos curtiram a ideia e ficou esse o nome. Se não conhecem, vão ouvir essa malha e decorem a letra! Pode ser que um dia façamos cover.

É verdade que querias fazer uma banda porque és dos únicos gajos que defende o stage mosh em Portugal e isso dá-te o direito de fazeres as macacadas que quiseres em cima do palco, porque é esse a tua "posição em campo"? Espero que faças a coisa certa e sempre um zé ficar mais mais de 4 segundos no palco e não fizer dive lhe dês um chuto no cu.

FÁBIO: Hahahah, apanhaste-me. Não. Ao contrário de muita gente cá na em Portugal, eu acho ganda piada ao stage mosh. Talvez por tentar ver o lado positivo disso, em vez de apontar o dedo. Eu cá prefiro ver um gajo a subir ao palco de sorriso na cara e a moshar a caminho do dive, do que tar a levar porrada de um mauzão que decidiu vir para o meu lado praticar artes marciais. O palco é de todos right? Então façam lá o favor de moshar onde bem vos apetecer, que eu também já levei com muito fumo e cerveja em cima de mim, sem pedir nada a ninguém. Divirtam-se mas é! 

Esta é para o Félix. Sendo tu o membro menos jovem (velhos nunca!) como é que é aturar a miudagem aí nos ensaios. É preciso sacar do cinto de vez em quando para os meter na linha, ou é malta que se porta bem? É a tua primeira experiência com uma banda ou houve algum projecto secreto que ficou morto e enterrado e nunca viu a luz do dia?

FÉLIX: Curiosamente o membro mais novo de todos até é o mais bem comportado nos ensaios. Aliás tirando o nosso vocalista que está sempre em pulgas eu devo ser o pior logo a seguir. É caso pra que a idade nem sempre dá juizo.

Já tive 2 projectos que nunca sairam pra fora com muita pena minha.O ultimo até era um pouco na onda deste mas na altura tivemos muita dificuldade em arranjar baterista sendo que o nosso guitarrista tocava bateria nos ensaios e eu alternava entre a guitarra e o baixo acompanhado por um belo leitor de Mp3 a tocar guitarra pré gravada. O outro um pouco entre uns Morning Again um pouco mais choradinho e uns As Friends Rust na altura inicial com dois vocalistas no qual eu só cheguei a ir a um ensaio a tocar baixo. 

Melhor lado do split de Void com The Faith?   

FÁBIO: Boa pergunta. Hmmm…Minor Threat!

Tiago, obrigado pela entrevista, por acreditares em nós, e pelo apoio que nos tens dado! Espero que consigamos ir tocar aí a Lisboa antes do Xicote fazer 18 anos! Se alguém quiser marcar um concerto para nós, pode enviar-me um email para: fabiosxe@hotmail.com. Ah e oiçam também a discografia da Lockin' Out Records, que aquilo vai mudar as vossas vidas. SOBER YOUTH GO! 


Entrevista publicada na newsletter #6 da Backwash Records.
Obrigado à Rebeca Bonjour pela cedência das fotografias. Mais fotos na página dela.

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