terça-feira, 21 de maio de 2013

Entrevista: Vasco e Ricardo (Suburban Bookings)

Como em quase tudo na vida, falar é o mais fácil, fazer é sempre o mais difícil. A Suburban Bookings é uma promotora que apareceu à relativamente pouco tempo meio de surpresa. Miúdos novos, na idade e na cena, a marcarem concertos com frequência e a apostarem em trazer bandas de fora, algo sempre complicado neste buraco na cauda da Europa.


Bom, para quem não vos conhece, apresentem-se e falem-nos um pouco de como surgiu a vontade de começarem a marcar concertos. É sempre mais complicado desenvolver contactos, falar com as bandas, dar a cara e perder dinheiro do que ir para as páginas das bandas dizer "come play Portugal" e esperar que as coisas caiam do céu...

Boas Tiago, desde já queremos agradecer o teu convite. Bem, nós somos dois amigos, Ricardo e Vasco, que começamos a ir a shows há cerca de 2/3 anos e desde aí que surgiu aquele bichinho de tornar-mos possível a vinda de certas bandas que gostamos de ouvir ou que já ca estiveram mas não tivemos a oportunidade de ver. A primeira ideia de começarmos a marcar os nossos proprios shows começou no inicio de 2012, ideia que ao longo do ano se foi materializando numa promotora com nome, logo, ideias, datas e muita vontade, e foi assim que em outubro do ano passado , começamos a planear o nosso primeiro show, sábado dia 8 de Dezembro.

Para a malta que pensa que marcar um concerto é um bicho de sete cabeças, e que as bandas são os U2 a pedir comida gourmet e papel higiénico preto, como é que tem funcionado o vosso processo de marcação de bandas e concertos?

Até à data temos tido muita sorte, porque temos marcado bandas que pouco ou nada pedem de extraordinário.

O nosso processo passa por trocas de emails ou falando pelo facebook (tecnologias!) com as bandas/membros, e orientamo-nos com datas e com as exigências de cada um. Para o pessoal que pensa que isto é um bicho de sete cabeças, apenas tem que perceber que as bandas não fazem tours de borla e não podem estar a espera que eles venham tocar sem lhes dar o mínimo de condições. Ah e acima de tudo não se conformem se alguma coisa vos parecer exagerada, discutam o assunto e cheguem a um consenso que o pessoal costuma ser acessível. E nós temos aquela ideia de "hoje são eles amanhã podemos ser nós"!

Hoje em dia o pessoal mais novo parece estar mais inclinado para sonoridades mais pesadas, do beatdown ao metalcore e coisas do género. Sem vos querer catalogar como uma promotora de bandas do tipo X ou Y, vocês têm conseguido trazer cá bastantes bandas europeias e mais recentemente Warhound nessa onda. Achas que esta é realmente uma tendência actual ou uma moda passageira? Há um público grande e fiel o suficiente para esta sonoridade em Portugal? Já fui a um par de concertos vossos, mas não à grande maioria, e a minha ideia neste momento baseia-se na acção/reacção no pit na grande maioria dos concertos em Lisboa: tudo parado nas partes rápidas, tudo de braço cruzado à espera do breakdown pesado para aí soltar a franga.

Sim é verdade que o pessoal agora vai mais na onda do quanto mais pesado melhor, mas mesmo assim ( e vimos isso com Warhound e No Second Chance) achamos que o publico ainda está muito longe de ser fiável no que toca a estas bandas e o beatdown está muito longe de ser uma tendência, dai também não marcarmos certas bandas que sabíamos que não iriam mais de 50/60 pessoas.

Infelizmente Tiago temos que te dar razão, o pessoal anda a esquecer um bocado os circle pits e os stage dives e está mais na onda dos ninjas, não é que desgostemos isso, mas também não tem piada ver o pessoal parado o som inteiro, mas poder ser que isso mude agora e que o pessoal se manque.

Até à data, qual foi aquele concerto que mais pica tiveram de marcar? E qual foi aquele que, no final, mais sorrisos vos arrancou?

O primeiro show é e sempre será o "show". Não tínhamos experiência, nem estofo nestas andanças, mas o que certamente nos deu mais pica de marcar foi Dirty Fingers, porque era uma banda que ambos sempre gostámos e foi a primeira banda que queríamos marcar quando tudo começou e no final o show correu super bem e eles adoraram Lisboa. E são pessoal 5 estrelas pelo que também foi o que mais sorrisos nos deu, pelas pessoas que são, pela sua maneira de ser (que se fodam os rock stars!) e onde, talvez por termos ido com eles a Coimbra, criámos ali um inicio de uma amizade...

Quais são as vossas bandas favoritas e quais aquelas que gostariam de trazer a Portugal, haja dinheiro e possibilidade? Assim uma espécie de dream lineup.

Apesar de partilharmos os mesmos gostos existe uma variedade no que toca a bandas favoritas ou de referência. Para mim (Ricardo), o meu dream-lineup seria algo como: Trapped Under Ice, Backtrack, Rude Awakening, Turnstile e Rotting Out.

Para mim (Vasco), seria: Nasty, Rotting Out, Trapped Under Ice, Words Of Concrete e Shattered Realm .

Isto são apenas 5 bandas que gostaríamos de ver no momento, existem muitas mais que já vimos ou que queremos ver.

Em relação à nossa possibilidade de marcar concertos, vontade é o que não nos falta mas infelizmente os nossos últimos concertos não correram como esperávamos. Nós estudamos os dois, não temos emprego e agora o dinheiro está escasso!

Como é habitual nestas rubricas do Nós Contra Eles, dedicamos sempre uma das questões às vossas origens no hardcore. Como é que vieram cá parar? O que é que vos tem feito ficar?

Começámos a ir a concertos por convites de amigos. Já íamos a alguns concertos punks de bandas de garagem aqui da nossa zona e depois com a descoberta de mais bandas na onda do hardcore começámos a pesquisar eventos e sítios e começámos a ir aos shows para vermos aquelas bandas ao vivo que vibravam nos nossos mp3s.

O que nos fez ficar até hoje foram as novas amizades, as novas bandas, o convívio e um pouco tudo o que leva o pessoal a ir aos shows. Tal como disse o Futre, são duas horas que o pessoal esquece o mundo de merda lá fora e todos os problemas.

Obrigado outra vez pela oportunidade e um abraço para ti e para todas as pessoas que nos apoiam à sua maneira. Ainda somos uma promotora pequena, mas esperamos que isso um dia mude e que possamos trazer sorrisos não a 150 pessoas mas a 400 ou 500 pessoas. Lembrem-se que o hardcore é cooperação e não competição, não deixem de ir aos shows mais pequenos, porque acreditem que a vossa contribuição faz toda a diferença entre passar um dia em casa no facebook ou irem ao show para estar com o pessoal e se divertirem.

Tiago continua com o teu ótimo trabalho, projectos como teu fazem falta nesta pequena comunidade. Abraços!


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