quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Tópico de Apreciação: Project X

...porque não há nada como dissecar um bom disco.


Por esta altura, já toda a gente deve saber que os Project X eram uma banda a brincar, não é? Se não sabiam, ficam agora a saber. Basicamente, a banda surgiu porque o Porcell (dos Youth Of Today e dos Judge) e o Alex (dos Side By Side) deviam ter pouco para fazer e decidiram gravar umas músicas para lançar com o número 7 (que é, na verdade, o número 2) da Schism - uma fanzine (e editora) clássica que a cena nova-iorquina nos deu, e que todos os miúdos do hardcore devem ler pelo menos dez vezes até se poderem considerar "do hardcore".

Portanto eles pegaram no Sammy (de todas bandas de Nova Iorque) e no Walter (dos Gorilla Biscuits) e foram gravar cinco músicas que iriam ser prensadas em vinil - naquele que se iria tornar num dos discos mais icónicos para a cena youth crew e para o straightedge em si. Foram prensadas 500 cópias, das quais 300 foram dadas com a fanzine e as outras vendidadas separadamente. Não é de espantar que este seja um disco difícil de arranjar (muito menos em boas condições) - o disco foi prensado na gramagem mais chunga para poupar nos custos e as fotocópias da capa também foi a olhar para os tostões. Claro que isso não impede que qualquer cópia - independentemente do estado - atinja valores relativamente astronómicos. Eu, pessoalmente, guardo o meu bootleg com muito orgulho - mais fixe que a reedição da Bridge 9.

Os Project X praticamente não existiram como banda, tendo apenas tocado cerca de cinco concertos (diz a história, eu não estava lá para confirmar) e não gravado mais nada depois deste EP. Das gravações que tenho de alguns desses concertos, posso confirmar que a banda ao vivo deixava um pouco a desejar - fruto eventualmente de uma falta de ensaios bastante grande. Não é de estranhar, visto que eles nem sequer eram banda paralela e os Manéis deviam estar mais ocupados com outros andamentos. 

A capa do disco é graficamente muito simples mas estupidamente eficaz: Um punho cerrado a fazer um bruto X a marcador nas costas da mão - difícil de igualar. As músicas são simples e muito toscas, ainda que bem directas ao assunto - do jeito que a malta gosta. Claro que se não fosse a música Straight Edge Revenge (pelo conteúdo lírico), eles provavelmente não teriam a "fama" que têm, mas não acredito se me disserem que a ideia por trás daquela letra não era causar um burburinho. Enfim, décadas depois é um disco que continua a dar que falar e que - de uma forma ou de outra - há-de continuar a ser considerado um "clássico". Fica abaixo uma pequena análise música a música.

   Project X - Project X (1988)

1. Straightedge Revenge

Ah, uma das músicas de hardcore mais polémicas de sempre. Infelizmente há demasiadas pessoas que a levam demasiado a sério, mas não é isso que está em questão. Apesar de - como straightedge - sentir aquela pontinha de arrogância sempre que a oiço, não deixo de achar que, no fundo, o conteúdo da letra é absolutamente imbecil. O Porcell, apesar de ter escrito, admitiu achar o mesmo anos depois.

 Uma das linhas de baixo mais facilmente reconhecíveis de sempre, uma batida para pôr uma sala a correr de um lado ao outro e uma parte rápida mais que curta que só pede stage dives? Ok, I'll take that.

2. Shutdown


A Shutdown é a minha música de Project X preferida. Posso até dizer que é das minhas músicas de hardcore preferidas. Começa com o 1, 2, 3, 4 da praxe, tem o riff malandro youth crew à abrir, tem muitas guitarras soltas, muitos slides, muitos stop and go's e uma parte lenta para varrer tudo o que está à volta... é perfeita. 

Portanto um dia os Project X foram banidos de tocar no CBGB porque eles decidiram implementar uma regra contra os stage dives. Será que houve stage dives num concerto deles? Sim. Será que eles foram banidos por isso? Sim. Daí a revolta. Acontece.

3. Cross Me


Nove (!) segundos de música, sabes. Não há muito a dizer sobre esta, que só acrescenta ao sabor clássico do disco. Nove segundos, a sério? A música é sobre a banda Half Off, porque eles tinham um beef qualquer. Who cares? 

4. Dance Floor Justice


E quando se fala de entradas brutais, tem de se falar desta. Provavelmente a minha segunda malha preferida deles (e escolha óbvia para o nome de uma crew que ainda representa com bastantes old cats), tanto pelo som como pela música. Vou longe ao ponto de dizer que o riff que entra depois da intro é dos mais dilacerantes que conheço. 

A letra é óbvia... sobre as pessoas que estão no pit para arranjar confusão e não para se divertir. Portugal sofreu um bocado com isto nos primeiros 5 anos da década passada, com muita gente a não querer aceitar o "slam dance" ou o "mosh" como dança do hardcore - quando era estranho dançar e quando a maioria se ria disso. Talvez seja daí que me identifique tanto com ela. Circle pits positivos e sorrisinhos na cara de dedo apontado para o ar? Yeah right, dance floor justice... you'll fucking get! Just kidding, a luta é outra (com mais álcool ou atitude em cima) mas continuo a gostar tanto de PCs como há dez anos atrás.

5. Where It Ends

A minha despreferida do disco, nem sei bem porquê. Será por ser assim mais lenta? Menos estruturalmente excitante? Claramente que se a influência das outras veio dos Youth of Today, esta veio dos Judge - é óbvio. Curiosamente é a melhor letra do disco e uma que faz bastante sentido até aos dias de hoje. Fala sobre crescer e continuar a acreditar e sobre amigos que deixam de ser amigos porque o hardcore ou o straightedge são, na visão deles, uma coisa de crianças. Oh well, os Stop and Think já diziam: "We're the ones cursed with sight, the only ones who can see things right."

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