quinta-feira, 7 de março de 2013

Coluna: A Uma Só Voz (por Ricardo Servo)

Crippled Youth - Já que se fala em miudos novos...

"This goes out to all the new bands… ‘Cause this kids that played before us are the future of this music, and without support they’re gonna move on and go to college and all that shit, so you got to keep it real…”

Comprometi-me a escrever um pequeno texto com algumas opiniões, estava um pouco reticente sobre o que escrever, e estava agora a ver o Trailer do “No Delusions”, que é um doc sobre o Hardcore de Chicago, e deparei-me com esta frase que, se a minha ignorância me permite, não sei quem disse, mas também não quero saber. Era exactamente isto que queria dizer no fundo nestas últimas semanas em que tive discussões sobre o assunto…

Os putos novos, os meninos do new age hardcore ou new school ou o que lhe queiram chamar… Algumas bandas andam aí a rebentar, cada vez mais caras novas a cada novo concerto a que tenho ido, e isso é lindo. É bom ver que cada vez mais putos estão a vir. Se cá estão daqui a um ano ou não, who cares? Destes 100 novos ficam 40 que vão fazer qualquer coisa por isto e que se vão esforçar possivelmente para dar continuidade a uma coisa que tanto nos diz hoje. A realidade, é que muitos dos que hoje estão aqui, por muitos anos que já pertençam à cena, daqui por algum tempo deixam de acreditar nisto, ou pelo menos deixam de aparecer e de se mexer tanto como hoje em dia.

O que acho mais engraçado no meio disto é que as pessoas que mais vejo refilar com putos novos e afins, são na sua maioria pessoas que nada vejo fazer. E às vezes o "fazer" é tão simples como fazer um blog como este, poder espalhar a palavra ou dar voz a alguém que queira participar e dizer as coisas que lhe vão na alma, partilhar a sua opinião.

Hardcore é diferente para cada um, para mim é respeito acima de tudo, e isso é algo que cada vez mais vejo faltar, quer seja dos “putos novos” seja dos “cotas”, por assim dizer, vendo que a minha mãe para pena minha não vai a concertos nem para me ver tocar, é uma chatice, mas adiante…

É verdade que os putos desta nova vaga pouco ou nada sabem do que é hardcore, é verdade que cada vez há mais ninjas nos pits e stage dives são um bicho em vias de extinção. Isso é uma merda, tenho saudades de concertos do stage dive e sing along, em que palavra de ordem no pit era um bacano no palco a gritar “circle pit” para depois ver uma sala a correr à roda. Não há melhor feeling para alguém de uma banda que ver gente a rodar e a mandar-se à maluca para cima do pessoal que está a cantar. Mas hey, isso vai lá com tempo! Também já fui mais da cena de bater em pessoas (mas tinha respeito), e se sabia que magoava alguém pedia desculpa e parava ou afastava-me, mas fecho-me bué em mim em concertos, é algo meu. Nem todos funcionam assim, é verdade, mas vai lá com os anos, com o perder algum tempo com as "crianças" e falar com eles, contar histórias sobre isto, o que nos deu e ensinou. E as bandas novas deviam perder mais tempo a falar sobre o Hardcore, como se fazia no antigamente…

Pessoalmente tive o meu “avô do core”, como gosto de chamar ao gajo. Tomava cafés comigo mostrando-me o que era o hardcore. À muito que não o vejo, já que se fala nisso. Devia dizer-lhe alguma coisa, tenho saudades do sócio! O Hardcore ensinou-me a respeitar e deu-me amigos que podem ou não ser para a vida. Em concertos de hardcore conheci gente do caralho, já tive a hipótese de viajar, pouco ainda, mas viajar, ir a sítios novos e ver caras novas.

Já chorei, já ri, já me arrepiei, já cai no chão e fodi as costas, já fiquei com olhos negros e músculos do braço fodidos, já fiquei uma vez sem sola nuns ténis e andei uma noite inteira de pé no chão…worth it! Isto é lindo, estragar algo tão bonito com dicas feias e discussões parvas sobre quem faz o quê e sobre quem é mais thug que seja quem for é ridículo. Já dizia outro “Se não vem do coração então não é Hardcore”. Não foi o Jesus, mas é parecido!

Devia haver mais união nisto, entre gente velha e nova, tenhas 40 ou 10 anos. Se vens, abre os olhos e o coração, não fiques só com manias que mandas o rotativo mais fodido, é um erro de todos o falar à toa.

Curto dos putos novos, têm energia e vontade, agora é perder um tempinho, tomar uns cafés, contar umas histórias e acho que vão ao sítio. Se comigo e com 40 manos antes de mim foi assim, com estes também vai ser. Não acredito na história do “agora temos a internet e coisas para poder aprender”. E então? Eu também tinha e se não me viéssem dar umas luzes antes, muito provavelmente ainda ia para concertos só porque anda ao biqueiro é fixe…

Isto é algo de putos para os putos, não o deixem morrer por não quererem perder algum tempo. Às vezes o pessoal mais thug até é porreiro e nem tem tanta mania como aparenta, give the new kids a chance…

Mas para os putos novos, da mesma maneira que os “cotas” pecam por falar bué, também muitos de vocês sofrem desse mal… Para haver "família" tem de haver respeito. E acho que é a coisa que anda mais em falta. Respeito entre as pessoas, e que as pessoas que hoje em dia falam tanto em “família do underground” então que não seja só da boca pra fora. "Família" é um conceito muita fodido de acompanhar de ânimo leve, se se batem tanto por isso, então ajam em conformidade com o que dizem, se não até eu tenho de concordar com os sócios que me deram nos cornos e me deixaram negro nos meus primeiros concertos. Faz parte da praxe. Ou te aguentas ou vais andando…


Texto por Ricardo Servo

1 comentário: