terça-feira, 19 de março de 2013

Review: Make Do And Mend + Daylight + Chain of Flowers @ Borderline, Londres


Eu sei o que vocês estão a pensar: “Mas que raio é que esta review está a fazer num blog de Punk Hardcore?"

Bem, para começar, um dos manos de Daylight tocou com uma t’shirt de Warzone. Sim, aquela do Lower East Side, e a dele já estava bem velha e cansada. Digam-me quantos miúdos do hardcore hoje em dia têm sequer mp3 de Warzone no pc, e quantas bandas em tour estão na banca do merch, acessíveis para ires lá falar na boa com eles, quando não estão em cima do palco, e depois falamos sobre punk hardcore ok?

Falando do concerto: pela primeira vez fui a este Borderline, que é uma sala já com bom historial em Londres, escondida num canto à entrada do Soho e com um espaço perfeito para um concerto hardcore. 300 pessoas e está cheio, palco com a altura ideal, 3 degraus à volta de todo pit para quem não quer levar com maluqueiras, com zona de “lounge” e de merch cá atrás, até os bares nos sítios certos. Mas como nesta noite sabia que nem para o stage dive ia dar, fiquei-me mesmo pelos degraus, mesmo à frente da mesa de som, centradíssimo com o palco, para apanhar o melhor som possível, e já não mudei de spot.

O concerto começou com os Chain of Flowers, banda de Wales acho eu, completamente horrível. O vocalista parecia que tinha dado em 30 drogas diferentes mas acho que era só a maneira de ele ser em palco, tinha uma voz horrível, um dos guitarristas parecia que tinha saído de um vídeo de Oasis e não mexeu um único pé o tempo todo, e o baterista só sabia tocar 2 ritmos, e nem estou a gozar. Indie songa-monga com toques mais punk aqui e ali, em que as músicas soavam todas ao mesmo. E o baixista com uma t’shirt que tinha o Jesus Cristo e qualquer coisa lá escrita, mesmo do shock value? Que tortura.
O que vale é que quando levas com merdas destas depois a seguir aprecias muito mais quem realmente sabe tocar música. Daylight subiram ao palco e bastou um acorde para a diferença ser abismal em relação aos anteriores.

Começaram logo com a “On the Way to Dads” que tem um groove mesmo fixe, e dividiram muito bem o set entre o último EP e as músicas mais antigas. A “Selfish” foi um dos pontos altos também.
Gosto bué da postura da banda em palco, pouco comunicativos, mandam sempre uma piada ou duas para cortar com o clima liricamente pesado das letras, e percebe-se sempre aquele feeling do “nós sabemos que somos apenas a banda suporte e por isso não vamos tentar ser mais que isso em palco, ainda que haja aqui pessoal que veio só para nos ver”. Dito isto, sinceramente acho que eles já merecem uma tour como cabeças de cartaz, porque só ao UK já contei umas 3 vezes que cá vieram desde que cá estou e nunca tocam mais que 25/30 minutos, o que não lhes faz justiça de todo. São excelentes músicos e das poucas bandas da onda “revivalismo do grunge” que cresceu em mim de uma maneira bruta (aliás o disco que gosto mais deles é o último).
Ah, nota especial para o pessoal de Basement que estava todo no concerto, e cujo vocalista entrou a meio no palco e cantou um bocadinho de uma das músicas. Os putos ficaram excitados lol. Isso e o único stage dive da noite, que deixou duas miúdas com cara de pânico assim que viram um mano a cair-lhe em cima.

Depois vieram os Make Do And Mend, que em tempos lançaram um dos meus discos favoritos, o Bodies of Water, uma autêntica lição de como misturar punk rock e hardcore, mas hoje em dia tenho imensa pena de os ver cada vez mais a cair no poço sem fundo do rock com sonoridade mais comercial.

O último disco tem no máximo 3 músicas realmente boas, e ainda que as letras sempre tenham sido o forte da banda e sejam muito bem escritas mesmo neste LP, ao vivo ressaca um bocado porque o som não tem momentos altos nem momentos de grande genialidade instrumental que justifiquem um set de 50 minutos. Fat props para o vocalista no entanto, que não sei como consegue manter aquela voz entre o gritado/cantado o tempo todo, mesmo a sentir-se a garganta a arranhar toda por dentro, e para o guitarrista Chico-fininho que tem os tiques mais gays de sempre a tocar mas está o tempo todo a fazer solos e cenas de fazer inveja ao Prince na guitarra. Lá tocaram a “Winter Wasteland” que fez a minha noite, e mais 2 ou 3 malhas do disco End Measure Mile que sobressaem, mas no geral acho que a banda precisa de clicar na tecla “refresh” e voltar às raízes do Bodies of Water, porque a este ritmo ou saltam para uma editora super major e conseguem mesmo viver do que tocam agora, ou daqui uns 5 anos já ninguém se lembra deles.

Review por Emanuel Matos.

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