Eu sei o que vocês estão a pensar: “Mas que raio é que esta
review está a fazer num blog de Punk Hardcore?"
Bem, para começar, um dos manos de Daylight tocou com uma t’shirt
de Warzone. Sim, aquela do Lower East Side, e a dele já estava bem velha e
cansada. Digam-me quantos miúdos do hardcore hoje em dia têm sequer mp3 de
Warzone no pc, e quantas bandas em tour estão na banca do merch, acessíveis
para ires lá falar na boa com eles, quando não estão em cima do palco, e
depois falamos sobre punk hardcore ok?
Falando do concerto: pela primeira vez fui a este
Borderline, que é uma sala já com bom historial em Londres, escondida num canto
à entrada do Soho e com um espaço perfeito para um concerto hardcore. 300
pessoas e está cheio, palco com a altura ideal, 3 degraus à volta de todo pit
para quem não quer levar com maluqueiras, com zona de “lounge” e de merch cá
atrás, até os bares nos sítios certos. Mas como nesta noite sabia que nem para
o stage dive ia dar, fiquei-me mesmo pelos degraus, mesmo à frente da mesa de
som, centradíssimo com o palco, para apanhar o melhor som possível, e já não
mudei de spot.
O concerto começou com os Chain of Flowers, banda de Wales
acho eu, completamente horrível. O vocalista parecia que tinha dado em 30
drogas diferentes mas acho que era só a maneira de ele ser em palco, tinha uma
voz horrível, um dos guitarristas parecia que tinha saído de um vídeo de Oasis e
não mexeu um único pé o tempo todo, e o baterista só sabia tocar 2 ritmos, e
nem estou a gozar. Indie songa-monga com toques mais punk aqui e ali, em que as
músicas soavam todas ao mesmo. E o baixista com uma t’shirt que tinha o Jesus
Cristo e qualquer coisa lá escrita, mesmo do shock value? Que tortura.
O que vale é que quando levas com merdas destas depois a
seguir aprecias muito mais quem realmente sabe tocar música. Daylight subiram
ao palco e bastou um acorde para a diferença ser abismal em relação aos
anteriores.
Começaram logo com a “On the Way to Dads” que tem um groove
mesmo fixe, e dividiram muito bem o set entre o último EP e as músicas mais
antigas. A “Selfish” foi um dos pontos altos também.
Gosto bué da postura da banda em palco, pouco comunicativos,
mandam sempre uma piada ou duas para cortar com o clima liricamente pesado das
letras, e percebe-se sempre aquele feeling do “nós sabemos que somos apenas a
banda suporte e por isso não vamos tentar ser mais que isso em palco, ainda que
haja aqui pessoal que veio só para nos ver”. Dito isto, sinceramente acho que
eles já merecem uma tour como cabeças de cartaz, porque só ao UK já contei umas
3 vezes que cá vieram desde que cá estou e nunca tocam mais que 25/30 minutos,
o que não lhes faz justiça de todo. São excelentes músicos e das poucas bandas
da onda “revivalismo do grunge” que cresceu em mim de uma maneira bruta (aliás
o disco que gosto mais deles é o último).
Ah, nota especial para o pessoal de Basement que estava todo
no concerto, e cujo vocalista entrou a meio no palco e cantou um bocadinho de
uma das músicas. Os putos ficaram excitados lol. Isso e o único stage dive da
noite, que deixou duas miúdas com cara de pânico assim que viram um mano a
cair-lhe em cima.
Depois vieram os Make Do And Mend, que em tempos lançaram um
dos meus discos favoritos, o Bodies of Water, uma autêntica lição de como
misturar punk rock e hardcore, mas hoje em dia tenho imensa pena de os ver cada
vez mais a cair no poço sem fundo do rock com sonoridade mais comercial.
O último disco tem no máximo 3 músicas realmente boas, e
ainda que as letras sempre tenham sido o forte da banda e sejam muito bem
escritas mesmo neste LP, ao vivo ressaca um bocado porque o som não tem
momentos altos nem momentos de grande genialidade instrumental que justifiquem
um set de 50 minutos. Fat props para o vocalista no entanto, que não sei como
consegue manter aquela voz entre o gritado/cantado o tempo todo, mesmo a
sentir-se a garganta a arranhar toda por dentro, e para o guitarrista Chico-fininho
que tem os tiques mais gays de sempre a tocar mas está o tempo todo a fazer solos
e cenas de fazer inveja ao Prince na guitarra. Lá tocaram a “Winter Wasteland”
que fez a minha noite, e mais 2 ou 3 malhas do disco End Measure Mile que
sobressaem, mas no geral acho que a banda precisa de clicar na tecla “refresh”
e voltar às raízes do Bodies of Water, porque a este ritmo ou saltam para uma
editora super major e conseguem mesmo viver do que tocam agora, ou daqui uns 5
anos já ninguém se lembra deles.
Review por Emanuel Matos.
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