terça-feira, 26 de março de 2013

Entrevista: Altercado Espiritual

Os Altercado Espiritual são uma banda de Valência, Espanha, em que uma malta pegou nos discos da X-Claim!, meteu-os na misturadora e depois bebeu o sumo daí resultante. Boston hardcore cantado em espanhol feito por cotas que não estão aqui para brincadeiras. Esta entrevista sai com algum atraso pois estava destinada para outros fins, mas como entretanto a demo tape de Poder Absoluto (a outra banda de parte dos membros de AxE) já está disponível, sem mais demoras, segue a entrevista ao vocalista, Fácil-E.

Demo art. © Nerdo

Bom, para começar a pergunta cliché de como é que surgiu a vontade de criar os Altercado Espiritual. Fala-nos um bocadinho da história por detrás da banda.

A história por detrás dos Altercado surgiu quando quatro rapazes desiquilibrados a entrar na meia idade começaram um projecto chamado Muerte A La Muerte. Eu sempre quis fazer uma banda hardcore, e quando cheguei aos trinta o desejo tornou-se ainda maior. Chamei alguns amigos para a causa e lá começámos. Os Altercado Espiritual começaram quando os M.A.L.M. morreram, e desde início que nos queríamos certificar que queríamos focar o projecto no estilo de Boston nos 80's, X-Claim! style, que foi algo que sempre ficou connosco desde miúdos e queriamos assim fazer um pequeno tributo a essa era, adicionando aquele gostinho espanhol.

A formação actual dos AxE é: Derechos Humanos, Ninja L, Perpiñan e Fácil-E (eu). Utilizamos pseudónimos porque as pessoas nunca nos conseguem odiar o suficiente, ahahah.

Quando li a descrição da vossa demo tape ela apresentava a banda como sendo a única banda hardcore de Valência. Isto é verdade? Se sim, fala-nos como é que vocês se vão safando por esses lados.

Em relação a sermos a única banda hardcore de Valência digo-te desde já que não há maior verdade que essa. Valência é a minha gloriosa cidade, mas digo-te também que odeio tudo o que há dentro dela. Corrupção e faggots em todo o lado, é a cidade mais corrupta de Espanha e isso vê-se em todo o lado.

Musicalmente falando, a malta está mais focada no crust, rock'n'roll, garage e merdas do género, por isso mando-os foder a todos. A pior cena é mesmo não haver miúdos do hardcore. A cena existe unicamente graças ao pessoal de Muerte A La Muerte que ainda continuam a fazer a sua cena, e à melhor editora do mundo, a Stomp! Records que é de cá, não esquecendo a SuperSoldierTapes também.

Ainda assim, quando digo isto estou extremamente orgulhoso por ser da melhor/pior cidade. Ah, e existe aqui um sítio chamado La Resistencia onde é possível fazer concertos e assim.


Tenho de te perguntar isto porque foi uma das coisas que mais me chamou a atenção nos lançamentos de Altercado Espiritual. O artwork: Quem é que o fez, e, para além das referências óbvias à cultura hindu, qual foi a vossa intenção ao utilizar esses desenhos? Os desenhos na tape, em especial, são fantásticos, e apaixonei-me logo por eles.

O artwork é feito pelo fantastico Nerdo, membro dos Altercado. Nós queremos utilizar aquela iconologia Hindu e Budista do hardcore dos anos 90 que toda a gente parece querer esquecer. Sei que ele está a meio do processo de lançar um livro que compila grande parte dos flyers que ele foi fazendo ao longo dos anos.

Como é que começaste a ouvir hardcore num sítio com tão poucas referências nesse género musical? Que bandas te despertaram a atenção e quais te fizeram ficar? Nesta cena é tão banal ver pessoas a chegar e a partir, apenas com meia dúzia de resistentes a permanecerem activos, pelo que acho sempre interessante saber o que é que mantêm a chama acesa do pessoal.

Eu ouço hardcore praí desde 1988/1989, desde a altura em que os vídeos de skate tinham como banda sonora punk/hardcore e rap antigo. Essas são as minhas duas grandes influências musicais. O resto do pessoal da banda ouve hardcore desde que era puto, e são eles a minha maior inspiração. M.A.L.M. boys e KFC boys unidos!

Eu sei que tocas noutra banda, uma que promete meter o "hard" em hardcore. Quem e o que são os Poder Absoluto e como é que planeiam atingir o domínio mundial?

Sim, digo-te já que o objectivo dos Poder Absoluto será colocar a palavra HARD em Hardcore, que é onde ela merece estar. Acho que neste momento o hardcore é uma brincadeira de putos a tentar criar a próxima moda. Nós queremos quebrar isso, hardcore é para homens não é para escuteiros.

Poder Absoluto é um projecto começado por mim e pelo meu amigo Ninja L. Ele toca guitarra e eu canto e toco bateria. É todo cantado em espanhol para colocar a nossa gloriosa língua no mapa. Musicalmente é uma coisa na onda NYHC/Boston com algum Oi! nas vozes, mas algo que quero deixar bem claro é que apesar dessas influências elas não traduzem o que é o nosso hardcore. Nós somos de Espanha e isso queremos deixar bem vincado!

Os Poder Absoluto são: (em estúdio) eu (voz e bateria) e Ninja L (guitarra e baixo). Ao vivo logo recrutaremos um baixista e um baterista. A nossa demo vai criar uma pandemia fatal no início de 2013.

Poder Absoluto demo tape cover
Bom, também sei que tens uma pequena editora (até foi por causa dela que te conheci e a Altercado Espiritual) chamada SuperSoliders Tapes. Tal como tu, também partilho do gosto pelo formato da cassete, pelo que te pergunto como é que surgiu a editora e o teu gosto pelo formato.

A SuperSoldiers nasceu quando eu e os meus amigos Derechos Humanos e T Stomp regressámos de um concerto de Sheer Terror e pensámos em criar uma editora para lançar umas cassetes, que era algo pouco despendioso e está envolvido na comunidade punk/hardcore e rap desde o início. É um formato bonito e soa bem crú, que mais podemos querer? Não sei se será assim para sempre, mas por enquanto é o meu formato favorito, a seguir ao vinil. 

Como é que vês a cena espanhola? Como um vizinho não tão distante, associamos sempre a cena daí à cena de Barcelona de meados dos anos 2000. As coisas pareceram arrefecer a partir daí sendo que ultimamente voltaram a aparecer uma data de bandas novas com malta antiga da cidade. Fora isso, ouvimos falar de Vigo e do Resurection Fest, para além dos putos zombificados de Madrid. É mais ou menos isto ou estou só a dizer merda, ahah?

A cena espanhola já passou por melhores dias, mas existem sempre boas bandas a fazer um bom trabalho. Nos últimos anos tivemos bandas de Barcelona como Destino Final, Glam, OTAN, Firmeza 10, Fix Me, Cinder, The Few or Tell The Truth; Goodfellaz ou The Hollowmen das Ilhas Canárias, Truth Through Fight de Jerez e algumas outras. Algumas delas ainda estão activas mas grande parte infelizmente já desapareceram. Mas eu conheço umas bandas que ainda andam a fazer umas coisas porreiras, tipo Assac! ou Pay The Cost...

Em relação ao Resurection fest peço desculpa mas não conheço grande coisa. Sei que vão lá bandas grandes todos os anos mas eu estou noutra onda...

Bom, e chegámos ao fim desta entrevista. Para terminar da forma mais habitual possível, deixo este espaço para que o utilizes livremente para promover os teus próximos lançamentos e projectos, as tuas bandas favoritas, os teus discos favoritos...o que quiseres. Muito obrigado pelo teu tempo!

Quero-te agradecer a ti pela entrevista, um enorme obrigado à A.HC, especialmente ao SickxRick, ao grande Meatdog (estejam atentos às bandas dele: Sick People, Gutter Gods...) e claro, aos grandes MALM Boys e à minha gloriosa cidade de Valência.

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