quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Cinco Às Quintas: Holder


Os Holder são uma banda de malta nova de Lisboa, alguns já com alguma rodagem e outros nem tanta. Puseram a sua primeira malha online nos primeiros dias de Janeiro e sei que já tem algumas coisas feitas, andando agora à procura de marcar concertos. Fiz umas perguntas ao Gonçalo e ao Matheus sobre esta banda, desconhecida para grande parte da malta, inclusivamente para mim. Aproveitem para conferir se "metalcore do diabo" é um género musical.

Falem-me aí um bocado de quem vocês são, e de que profundezas do inferno apareceram os Holder. Sei que o Gonçalo já tocou um par de concertos com Inyanga e que vocês os dois já tinham feito umas brincadeiras, mas quando apanhei a faixa que meteram online fiquei meio surpreendido.

G: Nós somos quatro miúdos que têm prazer na música que fazem e que tocam apenas para agradar a sí próprios. pode parecer que somos um bocado filhos do enxofre por causa deste som malévolo mas, no fundo, até que somos gente amorosa. Eu, o Matheus e o Diogo já tínhamos tido à uns anos uma banda de powerviolence à antiga e ainda aconteceram uns concertos em escritórios que acabaram destruídos. Mas sem dúvida que notamos a evolução de cada um desde essa altura, passando por outro projecto nosso que nunca saiu muito de casa - La Brume Grise, até hoje em dia com Holder. E ainda temos na formação o Lemos que é só um drogado que encontramos aí no lixo à um par de dias. Perguntas-nos se 'metalcore do diabo' é um género musical? Se existe folk/anti-folk, para mim, tudo é possível.

M: Acho que é difícil definir um estilo para incutir como headiner da página e etc. Pegamos na guitarra, tocamos e se sair bem e for do agrado de todos fica uma linha, malha, arranjo ou qualquer coisa feita. O que interessa é fazer cenas e não estar preocupado se o resultado final vai soar a Nails ou Integrity apesar de sentir que todos nos vêem com essa mesma conversa que a banda é uma mistura das duas cenas. Para mim a minha maior influência é Confronto, para o Diogo é Shai Hulud, Lemos é In Flames e Gonçalo é Dystopia.

O que é que podemos esperar dos Holder? Sei que já têm uma data em Abril marcada e provavelmente ainda se estrearão antes, mas que projectos já têm em cima da mesa para o futuro próximo da banda? Quando é que podemos esperar mais música da vossa parte, lançamentos, essas coisas todas.

M: Estamos neste momento a gravar a nossa Demo que vai ser lançada pela Dirty Crown. Depois disso é esperar para ver se os concertos aparecem. Estamos com planos para que nas férias da Páscoa organizemos uma mini-tour de fim-de-semana com Nihilistic Bastard. 2 ou 3 datas para mostrar duas bandas que ainda estão fresquinhas.

G: Acho que falo por todos quando digo que estamos cheios de vontade de nos lançar à estrada para irmos espalhar alguma magia - e muita sensualidade - por Portugal inteiro. Temos andado a tentar gravar as cenas em casa, tudo ao espírito antigo do DIY e sem qualquer custo. Não papamos grupos, não queremos ser os reis da cena, estamos aqui para fazer o que gostamos e de braços abertos para quem gostar do que temos vindo a criar. Estamos muito satisfeitos também com a vontade do Edgar (props!) da Dirty Crown por nos querer lançar a demo, gostamos muito do ambiente nas Caldas da Rainha e mal podemos esperar por ir lá tocar em Abril. Entretanto essa tal mini-tour que estamos a tentar marcar também nos anda a encarquilhar os pelinhos do rabo - se bem que ao Lemos ainda não lhe cresceu nenhum.

Bem fixe ver uma banda tão nova já com coisas na cabeça e ideias para avançar. Já sabem que vos desejo a maior das sortes. Pa, pegando um bocado na vossa sonoridade, como já ficou explicado em cima vocês têm um som algo fora daquele que se costuma tocar por cá, fugindo ao rancancan do costume. Se por um lado a originalidade é algo de louvar isso traz algumas dificuldades quando se fala em cativar mais público, tocar para novas audiências e talvez até a própria facilidade em se marcarem concertos. Se é que me dão alguma razão, de que forma é que acham que a malta devia contornar o problema, se é que ele existe.

M: Não sinto que criar um som fora do comum seja um problema. É arriscado, podemos nunca sair da sala de ensaios ou nunca passar do primeiro concerto mas acho que estamos todos aqui a tocar o que gostamos e isso é o mais importante de tudo. Como o Gonçalo disse em cima, temos estado a receber boas críticas em relação à música disponível online e achei bastante positivo uma miscelânea de gente que não fazia puta de idea que apreciavam o tipo de som que tocamos chegar-se à frente e dizer "muita bom quero ver gigs disso!" É importante haver variedade, e estamos dispostos a sair da zona de conforto para apelar à diversidade. Desde mixtapes, splits, gigs diversos, estamos na boa com tudo isso. O que interessa é apoiar e não deixar estagnado.

G: Obrigado! "Estamos juntos", como diz o outro...Realmente o nosso som não é tão habitual por cá como o que tem vindo a ser feito nos últimos anos, acho que ou existe algum receio por parte das pessoas em criar algo diferente (se bem que têm aparecido bandas com uma musicalidade mais 'original' every now and then) ou simplesmente ficam presos ao que estão habituados. Sair daquela zona de conforto é complicado para muito boa gente que por aí anda mas, de facto, até temos vindo a ter uma recepção mais positiva do que inicialmente esperavamos: têm-nos convidado para alguns concertos (inclusive fora de lisboa), a Dirty Crown chegou-se à frente para lançar a nossa demo e no geral temos vindo a ouvir boas críticas à cerca do nosso som em sí. Uma boa solução, a meu ver, para contornar esse tal "problema" é criar a oportunidade de dar a conhecer bandas de diferentes géneros e ideias ao público, organizar concertos com múltiplas sonoridades ou até mixtapes com bandas bastante diferentes entre sí, e deixar aos que estão "de fora" pelo menos a oportunidade de verem o que é feito para além dos seus limites, porque, no fundo, estamos (quase) todos aqui pelo mesmo.

Para quem acompanha o blog já sabe da existência da pergunta da praxe. Aquela em que vos pergunto como é que ficaram a conhecer o punk e o hardcore, como é que começaram a gostar disto e porque é que ficaram. Digo "ficaram" porque já vos conheço há uns tempos, aliás, acho que a primeira vez que conheci o Gonçalo foi à porta da Casa de Lafões porque lhe fui entregar uma cena qualquer, já não sei se uns ténis se o que era praí em 2009 se calhar, mas sei que já foi há um tempo valente. E tu tás mudado pa, ahah!

G: Eu lembro-me desse dia! Apareceste-me com um saco e alguma coisa andava lá dentro, não seria vinil? Já não me consigo recordar também, o tempo voa...

O meu pai fez o favor de me incumbir logo litros de azeite com os grandes clássicos do metal/hard rock, e só aos meus 13/14 anos é que a iniciativa de procurar algo para além desses mundos começou a surgir. Lembro-me de na altura ficar fascinado com UK Subs, The Varukers e Censurados, mas foi só mesmo uns meses. Mais tarde é que vim a descobrir um dos álbuns que me encheu de chapadas a torto e a direito, para mim um dos discos mais cruciais do movimento punk/hardcore - "Damaged" de Black Flag. Foi mesmo a partir daí que comecei a explorar mais esta subcultura, a descobrir mais e mais bandas, a frequentar a mítica Academia de Linda-a-Velha e a sentir-me mais enquadrado no geral...Foi aquela altura em que fugir aos padrões habituais - do que era aceitável ou não nesta sociedade podre - e resgatar algum senso de liberdade fazia todo o sentido e quase que se tornava em algo automatizado à medida que ia passando os olhos pelas letras das bandas que ouvia, ou das zines que ia lendo. Tenho a noção que já não sigo tanto o hardcore em sí como o punk - apesar de saber que ambos andam de mão dada - mas infelizmente cansei-me de aturar as personagens que por aí andam e bandas que não dizem coisa com coisa. Cada um vai atrás do que melhor o identifica e a "scene", por aqui - claro que não na sua totalidade, já deixou de me fazer sentido à muito tempo.

M: Eu tive a sorte ter chegado a Portugal em 2002, e calhado viver em Linda-a-Velha. Na altura era um bom centro de divulgação do Hardcore/Punk nacional. Tenho muita pena que hoje em dia por estas bandas esteja tudo tão parado. Mas sim, comecei a ir a concertos e fiquei apaixonado pela cena e nunca mais larguei. Já desloquei o joelho, já fodi a cabeça mas isso para mim foi sempre irrelevante. Hardcore/punk e esses mambos todos undergrounds têm tudo a ver comigo e com aquilo que acredito. Não estarmos à espera sentados e ver as coisas acontecerem, mas a mexer o cu e sermos nós aquilo que move a cena.

Compreendo em parte essa frustração, mas aí entra em jogo a necessidade de alterar a forma como as bandas expoem as suas ideias (quando as há), como os assuntos são debatidos, como as coisas são explanadas e tiradas dos confins da internet ou da cabeça das pessoas e partilhadas. Sei que tenho uma ideia um bocado idílica de como o hardcore podia funcionar, mas quando se fala tanto na educação dos mais novos e aceitação da novidade pelos mais velhos, era fixe que essa troca de ideias realmente existisse. Ela tenta ser feita, mas nem sempre a disponibilidade está lá.

Bom, mas voltando à banda, e para fechar com chave de ouro, até vos ia perguntar se gostavam mais de Black Flag com o Ron, o Keith ou o Henry mas creio que essa provavelmente será uma questão merecedora de um referendo popular. Assim, fico-me por algo mais suave: se rebentásse aí uma guerra nuclear e só tivésses tempo de levar cinco discos para o abrigo, o que é que levavam para mais tarde mostrar aos mutantes resultantes da radiação e/ou aos visitantes extraterrestres que porventura cá viessem checkar o planeta. Aproveitem a deixa para mandar beijinhos e desejar a paz mundial, nem que seja para não terem de fazer a escolha que acabei de vos pedir que fizéssem.


G: (Em atitude o Rollins ganha, mas o meu preferido é o Reyes). Essa dos discos não é fácil, mas acho que até consigo responder com uma certa rapidez:
Catharsis - Passion
Nails - Unsilent Death
Godflesh - Streetcleaner
Dystopia - Human=Garbage
NAS - It Was Written

Queria mandar um grande abraço para o núcleo do Nós Contra Eles pela oportunidade e pelo bom trabalho que têm vindo a fazer neste tão curto espaço de tempo. Outro para o Edgar/Dirty Crown por todo o apoio e um beijo quente para todos os que têm vindo a dar tanto amor à banda.

M: Pergunta difícil, alguns discos da lista não são os mais ouvidos hoje em dia mas marcaram de alguma forma a minha juventude, mas aqui vai:
Confronto - Causa Mortis
Trinta e Um - Terceiro Assalto
(A) New Found Glory - Nothing Gold Can Stay
SK6 - Bem-vindos à Extinção
August Burns Red - Messengers

Obrigado Tiago/Nós Contra Eles pelo interesse em nos contactar. Agradecemos a oportunidade. Apareçam nos shows, falem connosco, todo o feedback é bem vindo. Temos 3 shows confirmados por enquanto, dia 23 de Fevereiro em Caldas da rainha, 31 de Março em Lisboa, e 25 de Abril em Caldas da Rainha outra vez.


1 comentário:

  1. esse album de sk6 é lindo. ora tem uma musica de lagwagon com a letra cantada em portugues, ora tem uma de strike anywhere...LOL

    compor melodia original é foda LOL

    mas no entanto como é roubado a bom ouve se bem

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