quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Cinco Às Quintas: Tiago Gil (Backwash Recs)

Esta é uma rubrica em que colocaremos (quase) todas as semanas, à quinta-feira, uma pequena entrevista com cinco questões a uma banda. Esta semana decidi mandar umas perguntas ao meu co-autor aqui do blog, que acho o projecto dele bem fixe e digno de relevo aqui por estas bandas. 

Muito rapidamente, como é que surgiu a Backwash Records e qual foi a motivação principal por trás dela? Tenho ideia que sejas a única pessoa por trás da editora, estou enganado?

A Backwash surgiu depois de algum tempo a pensar como poderia fazer algo mais no hardcore, sendo uma cena da qual me sinto pertencente já há uns 8 ou 9 anitos. Sempre quis fazer uma banda mas as poucas tentativas para tal acontecer nunca deram fruto. Simultaneamente, o meu romance com os discos de vinil e as cassetes foi-se tornando algo cada vez mais sério até que pensei se não seria fixe dar à luz uns quantos rebentos fruto dessa relação (olha para mim todo literário e cheio de metáforas). Por acaso a ideia andava a ser pensada há algum tempo mas depois de uma visita a casa do Miguel e de ter andado a ver parte da colecção dele é que se deu aquele click e comecei a querer andar com as coisas para a frente. Falei com o PZ e o Louie da Black Rain e com o Ema da Juicy, bem como com o Vítor da Shut Up And Play para ter uma noção de como fazer as coisas e alguns meses depois saiu a tape de SHAPE e o split de Local Trap (quase em simultâneo, o que não era suposto) e comecei a mandar vir umas coisas para a distro.

A editora sou apenas eu, mas conto com vários amigos que me vão ajudando nas mais diversas coisas. Desde ajuda a nivel de artworks e trabalho gráfico onde sou um zero, a questões de logística com o fabrico das tapes até à simples promoção e ajuda em trocas com outras editoras e afins. O volume de negócios ainda não me obriga a contratar meia dúzia de chineses a baixo custo, ahah.

Como é ter uma editora/distribuidora em Portugal? Dirias que é um trabalho ingrato ou consegues encontrar apoio suficiente para continuar a alimentar novos lançamentos e discos para a distribuidora?

Não diria que é um trabalho ingrato, mas obviamente que tem as suas dificuldades, especialmente pelo facto de existir pouca malta a comprar discos. É assim, eu também tenho pouca coisa à venda, poucas cópias, e nem sempre o que tenho são de bandas conhecidas ou do hype o que não ajuda a um escoamento rápido, mas muito sinceramente não me posso queixar. Tenho um punhado de "clientes" habituais, que têm gostos similares aos meus e que acabam por me ficar com as coisas.

Costumo mandar vir coisas que gosto, por vezes numa tentativa de mostrar o que se vai fazendo fora das grandes editoras norte-americanas. Obviamente que curtia arranjar mais discos, chegar ali à Revelation ou à Deathwish, pegar na enorme lista de titulos que têm disponíveis para distros e mandar vir mil coisas, mas o dinheiro não dá para tudo, a alfândega não ajuda, e depois pensar que não me posso meter em tonteiras e empatar bué guita em algo que não sei quando serei ressarcido (se é que o serei). Pá, mas a chama ainda arde forte, e a vontade é de apostar em mais cenas para a distro, é surgirem bons deals e eu tentarei estar lá a mandar mails às editoras. Convem é que me respondam, ahah.

Os dois lançamentos até à data correram bem, ainda me sobram umas quantas cópias mas não estou demasiado preocupado com isso. Agora com mais tempo a ver se faço um forcing aí numas trocas e se tento libertar esse peso extra no caixote da editora. Pá, e depois cá em Portugal acho que tens pouca cultura de compra de discos. O pessoal cá acho que quer é merch. Aliás, isso nem é uma fenómeno nosso, acho que é mesmo a maneira de as coisas serem um pouco por todo o lado, a diferença é que tens um rácio maior de malta a comprar discos/malta a comprar merch. Eu já falei um bocado sobre isso num texto que está no blog, toda esta predominância do merchandise e no fundo da solvência financeira das bandas/editoras. É irem dar uma olhada!

A situação económica do país é outra coisa que acaba por afectar o pessoal. Largar 4 ou 5€ por um disco de vinil, quando podem ouvir isso à pala em casa é algo que faz sentido para muita gente. Mas o que interessa é que há malta interessada em vinil e em cassetes, e vou conseguindo aos poucos escoar o que mando vir para poder mandar vir coisas novas.

Qual é o teu modus operandi? Trabalhas só online ou também levas a banca para concertos, Feira da Ladra, Colombo, etc?

A minha forma de trabalhar é um bocado "personalizada", o que se calhar dificulta uma maior promoção e captação de público. Também fruto da minha maneira de ser, não gosto de ser chato e andar a melgar o pessoal para fazer likes, procuro promover a editora com calma, sem forçar ajudas, porque a meu ver tem de ser algo que devo ser eu, como responsável, a fazer. Mas a parte da promoção é sem dúvida algo que tenho de começar a focar-me e a investir um pouco mais, ter mais material promocional e tentar dar mais visibilidade à editora. Isto sem ser chato, que não sou os gajos do CityBank a tentar arranjar clientes.

Costumo levar a banca para parte dos concertos a que me desloco, tendo em conta a minha disponibilidade e a possibilidade de o fazer. Acho que é o mais importante se tens uma editora ou distro, estares presente para mostrares o que tens, falares do que tens e no fundo criares ligações com as pessoas. É um complemento essencial ao teu catálogo na Internet. Ainda não fui para feiras nem para a porta do Colombo, mas é uma ideia a estudar. Há a vontade de fazer aí uma pequena feira do disco/zines/etc num futuro próximo, é algo que alguns amigos estão a planear e que conto fazer parte.

Fala-me um pouco dos lançamentos que já fizeste e apresenta-os um pouco aos nossos leitores, decerto que há muita gente que ainda não ouviu falar das bandas e - eventualmente - até queira abrir os cordões à bolsa (dica).

Bom, até agora fiz pouca coisa, ahah. Lancei a tape de SHAPE e fiz parte do conjunto de editoras que lançou a split tape de Local Trap e Knives Out. O primeiro lançamento foi a demo regravada de SHAPE, que era uma banda que na altura estava a dar dos melhores concertos em Portugal e que não tinha nada editado (fora a primeira demo, ainda com a primeira formação), pelo que me cheguei à frente e falei com o Cabeças e o Peter e eles curtiram a ideia. Depois de vários atrasos (que expliquei em maior detalhe num post do Coisas Com História), ela lá saiu, praticamente em simultâneo com o split. Depois de um período de pausa na banda eles voltaram ao concertos e o gás não se perdeu, das melhores bandas ao vivo que temos no nosso país. Quem andou a dormir é bom que abra a pestana e os vá ver!

A minha participação no split surgiu em conversa com o Vitor da Shut Up And Play, que me falou no lançamento e perguntou se estaria interessado em participar. A resposta foi rápida, e em pouco tempo a tape estava cá fora. Os Local Trap tocam um hardcore mais sujo, com cenas meio crust, e os Knives Out (que acho que entretanto acabaram e deram lugar aos Nihilistic Bastard) também vagueavam por esses antros de escuridão.

Bom, desde esses dois lançamentos já se passaram uns quantos meses, e restam-me meia dúzia de cópias da tape de Shape. As tapes do split já foram todas à vida e creio que poucas cópias ainda circulam pelas diversas editoras do split, o que é bom sinal. Aproveito para deixar aqui o meu sincero obrigado a quem me ajudou a recuperar o investimento ao comprar as ditas! Quem não o fez ainda está bem a tempo!

O que é que o futuro reserva à Backwash? Que tipo de lançamentos podemos esperar? Para os que não estão acerca, deixa aí a melhor forma de entrarem em contacto contigo.

O futuro... Bom, no horizonte existem duas coisas mais ou menos acertadas: Uma já anunciada, a live tape de Challenge, que entretanto foi adiada para início de 2013, e a participação num lançamento, em vinil, de uma banda nacional. Depois estou um bocado dependente do aparecimento de novas bandas no panorama nacional que me digam algo e que me façam querer apostar nelas. Se elas surgirão já é outra questão, ahah. Mas tenho confiança, há malta nova a mexer-se, e alguma coisa excitante há de acontecer.

Fora isso vão continuar a surgir as newsletters, com maior ou menor regularidade, em que vou falando das novidades da editora e tendo umas reviews e umas entrevistas e algo do género. Distribuição gratuita, claro. Na distro hão de surgir novidades, haja dinheiro e malta a comprar o que vou tendo e não prevejo abrandamentos na busca de novas coisas, pelo contrário.

Bom, então para quem não me conhece podem sempre fazer gosto na página do Facebook da Backwash em www.facebook.com/bckwshrecs, ir dando uma olhada na página do bigcartel em http://backwashrecords.bigcartel.com/ e contactar-me para o email backwashrecs@gmail.com. Respondo sempre a tudo e a todos, e procuro manter sempre o pessoal a par do que se vai passando no império da Backwash.

Sem comentários:

Enviar um comentário