quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Cinco Às Quintas: Bruno Boavida (Lifedeceiver)

Esta é uma rubrica em que colocaremos todas as semanas, à quinta-feira, uma pequena entrevista com cinco questões a uma banda.


Depois de um período de hiatus, os Lifedeceiver estão de volta, com lineup renovado e já com shows marcados. Fiz umas perguntas ao Bruno, guitarrista, sobre a banda, a Ruins Records e como é que ele vê a cena nacional.

Bruno, depois da saída do Michael, antigo vocalista da banda para o estrangeiro os Lifedeceiver estiveram ali um bocadinho no limbo. Fala-nos um pouco do novo lineup, do regresso à actividade e aos palcos e o que é que tens planeado para o futuro próximo da banda.


Eu não diria que estivemos no limbo, estivemos foi a estudar todas as hipóteses calmamente para decidir qual o melhor rumo para banda sem nunca termos ponderado acabar a banda. O novo line up só tem novidades no baixo e na voz. No baixo está o Jay (Utopium / Revengeance) e em relação à voz vão ter de esperar até dia 15 de Setembro para descobrirem quem é o novo frontman mas posso adiantar que é do Norte. Em relação aos planos, decidimos apostar mais na composição e passar a tocar ao vivo menos vezes mas no entanto lançar mais discos. Tal como já anunciámos ainda este ano vai sair o nosso primeiro disco de longa duração.

Os Lifedeceiver distinguem-se de grande parte das bandas pelo seu som diferente, o que faz com que haja tanto malta do metal, como do hardcore ou do crust a gostar do que vocês apresentam. Estas mudanças no lineup vão trazer novas influências para a sonoridade da banda ou podemos esperar algo na linha do que já tinha vindo sendo feito?

Influências novas surgem todos os dias uma vez que somos 4 e ouvimos todos bandas e estilos diferentes uns dos outros apesar de termos gostos em comum. Acho que finalmente conseguimos fazer o nosso próprio som e fazer algo com continuidade a partir do que sempre fizemos.
O nosso método de composição é algo que surge naturalmente e quando isso acontece numa banda é bom sinal. É sinal de que te identificas com os teus colegas de banda e que estão em sintonia.

Sei que estás ligado à Ruins Records, uma editora nova de Vila do Conde. Pelo que tenho acompanhado, está previsto o lançamento do ep de A Thousand Words em vinil bem como (cheira-me) algo com os Revengeance. Que editora é esta e como é que foste lá parar?

A Ruins Records é uma editora 100 % DIY composta por três amigos com uma base temática e onde só lançamos Vynil. Fui parar a trabalhar à Ruins visto ser amigo de um dos CEO's da editora à algum tempo. Não posso adiantar grande coisa pois a minha função prende-se na promoção e no booking das bandas com que trabalhamos.
Mas temos tido um bom feedback e bastante pessoal a incentivar-nos a fazer cada vez mais coisas.

Ainda bem, é sempre fixe ver editoras a aparecer e a não só lançar discos como a tentar ajudar as bandas a encontrar shows e a promoverem o seu trabalho.
Falando um bocadinho da realidade nacional, como é que vês a cena em termos de bandas, concertos e ambiente entre o pessoal? Ainda há alguma banda que puxe por ti e te faça sair de casa e ir lá gritar para a frente do palco?


Na minha opinião, o ambiente anda meio estranho. Pelo menos já não me sinto em 'casa' como me sentia à 3/4 anos atrás. Dos concertos que tenho ido noto que há sempre 100 pessoas no mínimo nos shows e isso é fixe! Quanto à cena propriamente dita, acho que fazem faltas mais bandas, o pessoal hoje em dia desiste facilmente das cenas. Pelas minhas contas, nos ultimos anos só me lembro de 4 ou 5 bandas q tenham aparecido e continuado a lutar por mais shows e lançamentos. Claro que ainda há bandas que me fazem perder a cabeça e ir lá pra frente ou para o meio, ahah. Se bem que é um misto, porque são bandas de amigos como A Thousand Words ou Local Trap. A nível internacional, claro, há imensas que até me arrepiam o pêlo mais escondido, eheh. 

Realmente é bem fixe ver que tem aparecido malta nos shows com bandas menos conhecidas. Podiam (e deviam) ser era bem mais, mas isso são outras vidas...Para terminar, conta-nos como é que chegaste ao hardcore e ao punk, um bocadinho o teu percurso até vires parar a este meio, alguma história que curtisses partilhar... 

Eu felizmente tive a sorte de começar a ouvir punk/hardcore e a relacionar-me com pessoas do meio relativamente cedo. Na cidade de onde sou natural (Vila Franca de Xira) havia um grande circulo de death metal e subgéneros do metal mais extremos e foi por aí que comecei. Tinha eu nove ou dez anos e veio a Vila Franca de Xira Ratos de Porão, Omited Gr e mais uma banda local (Vortex Core). Pedi ao meu pai para ir ao concerto e ele obviamente disse que não. Como eu me dava com pessoal mais velho, houve um vizinho meu que se disponibilizou a responsabilizar-se por mim e pela aquisição do bilhete e lá fui eu. Man, não tens noção... nunca vi tanto punk junto! Eram na boa uns 500/600 e eu fiquei aterrorizado com aquelas figuras. Não fazia a minima ideia para o que ia. Não vi a primeira banda, mas quando Omited começou a tocar senti ali uma cena estranha e agradável ao mesmo tempo. Depois Ratos foi a destruição, e adorei a rapidez e agressivade dos temas.

Escusado será dizer que eu não conhecia nenhuma das bandas mas adorei. Passado pouco tempo esse meu colega faleceu e eu fiquei com uma colecção de discos e CDs dele e ainda os guardo religiosamente. CDs de Napalm Death, Poison Idea, Darkthrone, cenas mais metal! Na altura eu não tinha net, então o meu hobbie era pôr os discos a tocar e ler os booklets para ver as bandas que vinham nos agradecimentos. Foi então que num CD de Crowbar vi-os a agradecer à DMS, Madball, Hatebreed, Agnostic Front... Passado uns dias fui à loja de discos local (que já não existe) e mostrei uma lista de bandas que tinha apontado e perguntei se tinham algum desses títulos. Só tinham o Hold it Down! Comprei-o e amei-o assim que começa a segunda faixa.

Ao lado dessa loja tinha aberto uma loja de skate e streetwear e um dia entro na loja pra comprar um par daqueles ténis bem matrecos da OSIRIS que pesavam mais do que um martelo e o que é que está a dar? Madball! Meti logo conversa, e os dois donos da loja (big up Gibson e Uhgo) acharam piada ao facto de um gajo tão novo ja ouvir aquelas bandas. Disseram para eu passar na loja no dia seguinte que me iam emprestar umas cassetes e uns CDs para ver se eu curtia. Trouxeram-me Sannyasin, Hatebreed, Bullies, Pointing Finger, Indecision e mais umas cenas que não me lembro. Com o fascínio da idade obviamente que adorei tudo, e ouvi tudo tantas vezes sem conta que acabei por ficar com as cenas. Depois chegou a altura dos concertos... eles tinham carta mas não tinham carro e eu mesmo à puto disse: "Venham à minha casa, eu peço o carro à minha mãe e vamos ao concerto mas... têm de me levar!" Obviamente que a conversa com a minha mãe levou na boa umas duas horas mas lá fomos.

Era um show em Campolide com Born From Pain e Zero Mentality. Houve mocada no concerto e esse pessoal que foi comigo até andou a jogar à bola com os BFP. Eu andava para lá de um lado para o outro sem saber para onde me virar, mas adorei o concerto! A partir daí foi só ir a mais concertos e concertos, meter conversa com este e com aquele e cá estou hoje! Algum pessoal fica reticente quando conto a minha história visto ter "começado" tão novo, mas como disse, fui um privilegiado. AH! Lembrei-me agora também de um show em 2006 (?) de Shattered Realm em Cacilhas. Ainda nem metade dos que hoje em dia veneram o beatdown sabiam o que isso era... Eu estava lá e digo-te man... dos concertos mais violentos que já vi! Na semana anterior tinha sido aquele show de MTAT com For The Glory no Lua e se eu tinha achado For The Glory violento naquele dia então não estava mesmo à espera do que vinha em Shattered Realm.

Para acabar com os 'props' da praxe, um grande obrigado e abraço para Local Trap, A Thousand Words, Revengeance, Utopium, Challenge, Burning Man, os meus buddies da Ruins e Lifedeceiver e um grande abraço para ti e para o André (que também me abriu os olhos musicalmente e pessoalmente - lembro-me agora de que em 2007 passei uma semana em casa dele e quase que me vim só de olhar para os discos todos dele da h8000, ahah).

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