quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Quem é Quem: Luis Machado

Este espaço é dedicado a pequenas entrevistas ao pessoal que faz parte da nossa cena, e que de alguma forma ajuda a dinamizar o hardcore.
 

O Luis Machado é um tipo porreiro, com um pulmão maior que os quenianos que, ano após ano, ganham a Meia-Maratona de Lisboa. Uma das coisas  que mais admiro nele é que não tem papas na língua nem quer saber o que os outros pensam dele. Um habitual dos concertos da cena nacional, já organizou uns quantos, um deles o lendário show de Mr. Miyagi e Cold Ones no Rock In Chiado. Seguem umas perguntas ao moço com a melhor vista para o Estádio Alvalade XXI.

Para começar, fala-me um bocado como é que é um cartaxense de gema começa a ganhar o gosto pelo punk rock e pelo hardcore. Também foi o Tony Hawk para a Playstation?

Foi mais ou menos isso, apesar de no final dos 90 e inícios de 2000 haverem bandas de punk rock no Cartaxo que eu não fazia a minima ideia da sua existência, nem que havia montes de malta do Cartaxo a ir a concertos de punk rock/hardcore. Muitos de lá foram ver NOFX em 97 a Faro e foram à Warped Tour e Decontructions, inclusive as que actualmente são todas betinhas e das discos. A diferença é que na altura elas curtiam era andar de volta dos skaters/”rebeldes”.

O primeiro contacto foi em 95/96 com uma K7 com Mata Ratos e Face To Face (entre bandas como Iris, Mercuriocromos, Xutos, Sitiados, etc), gravada pelo neto da minha empregada, quando tinha disso. Na mesma altura também a minha irmã me mostrou o Insomiac dos Green Day (que foi a única banda que continuei a seguir, pela facilidade em fazê-lo, ao contrário das outras bandas...), mas na altura para mim era tudo música e não havia distinção de géneros musicais, nem me instruía quando tinha gosto pelas coisas como agora. Depois mais tarde, não em 99 com o primeiro Tony Hawk, como a maior parte, porque eu nao tinha dinheiro para o comprar, mas foi em 2000 com o jogo do Dave Mirra que descobri a minha paixão pelo punk rock ao ouvir Swinging Utters, Pennywise, Sublime, 59 Times The Pain, etc. A partir daí até 2002/2003 foi crescendo muito devagar a minha biblioteca de punk rock/hardcore, porque fui o último dos meus colegas a ter computador, a ter internet e a quem comprava CDs não sacava punk rock ou hardcore. 

A partir de 2003 conheci uma pessoa que me emprestou o From The Ashes de Pennywise que não parou de rodar durante semanas e depois através do namorado duma rapariga da minha turma descobri uma quantidade ridicula de bandas. A partir daí, comecei a ouvir regularmente, porque ele me gravava CDs. Final de 2003/início de 2004 fui aos primeiros shows pequenos de punk rock na região, depois Tara Perdida foi ao Cartaxo em 2004 e depois daquele concerto foi impossivel não ter presença assídua nos concertos. Quanto ao que a malta chama de hardcore por assim dizer só comecei a ir a concertos prai no final de 2005. Foi a pior coisa que aconteceu às finanças na minha vida.

Tens tido uma presença assídua no Ressurection Fest, em Viveiro, Espanha. Imensa malta portuguesa faz a viagem até à Galiza para ir a esse festival, sendo que muita dessa malta são o típico miúdo festivaleiro, versão hardcore (sim, eu bato sempre na mesma tecla). Fala-me um bocadinho da tua experiência no Resu, e o que é que te leva a continuares a lá ir, se ainda te lembrares do que por lá aconteceu, ahah.

Sim concordo contigo, no último par de anos há muitos assim como dizes lá. Este ano andavam lá uns que parecia que tavam numa passarelle. Mas foi bom, deu para rir, pena é este ser o futuro público que iremos ter. Para te ser sincero odeio festivais, não tenho o mínimo “espirito festivaleiro”, porque para mim ir a um festival é pela musica e não pelo dito convivio que moranguitos aí falam para justificar a ida a festivais que estão na moda e e em que nem conhecem uma banda. Se quero convívio marco um “ajuntamento” de amigos e faz-se algo, e para se conhecer gente nova é só sair a rua, não é preciso alimentar a máquina dos festivais “xulos” em Portugal.

Eu não gosto de comida espanhola, não gosto de andar de carro, muito menos viagens de 8 horas para cima, não vou “à bola” com a maior parte dos espanhóis, odeio as condições higiénicas do festival, acho que está mal organizado, etc etc etc, mas depois os sacanas sempre trouxeram bandas que tinha de ver à força toda, como No Fun At All no meu primeiro ano ou Descendents este ano.  A única coisa que me faz mesmo ir ao festival é só mesmo as bandas. Desculpa não romantizar a resposta, ahah!

Há um par de anos atrás ainda chegaste a marcar alguns shows, assim logo à cabeça vieram-me os shows de Anchor em Lafões e Miyagi no Chiado (a sério... que concerto tão bom). Agora começam-se a ver miúdos novos a tomar as  “rédeas da cena” e a tentar marcar shows cá, seja em Lisboa, como no norte do país. Como é que surgiu essa ideia na altura de organizares concertos? E hoje não tens saudades de o fazer? (da carteira mais leve deduzo que não tenhas, mas tu entendes o que quero dizer). 

Na altura surgiu com a Freebase PT Records que comecei sozinho em 2008 mas que mais tarde se juntou um amigo que apenas ajudou na parte de divulgação, e a ideia era divulgar bandas estrangeiras pequenas de qualidade em Portugal. Tanto que fizemos um top semanal de bandas, como que para ajudar a divulgar as bandas portuguesas boas lá fora, e queríamos também editar CDs e marcar concertos.

Lancei a primeiro demo de Lifedeceiver, fiz parte da edição europeia do vinil 12’ da banda americana Common Enemy, pus uma música de No Time To Waste a sair numa compilação no UK ao lado de bandas como Good Clean Fun e Outlie (membros de Good Riddance) - compilação essa que nunca cheguei a receber as cópias - e marquei 3 concertos sozinho. Mais tarde surgiu outra pessoa que se quis juntar, demos um novo nome à coisa e queriamos apenas marcar concertos: foi aí que surgiu a Fatneck e os concertos que referiste. Infelizmente, quando supostamente há mais que uma pessoa a trabalhar e a investir nisto, mas sai tudo do teu cabedal e carteira, uma pessoa farta-se, principalmente quando começas a ser enganado pelos proprietários das venues.

Se tenho saudades? Todos os dias penso nisso, mas arranjar malta com quem organizar, haver condições para organizar em termos de venues de preço acessível, acreditar que vale a pena correr os riscos e passar mal de preocupação como dantes, lidar com as bandas portuguesas, entre muitas outras coisas do meu muro das lamentações, tudo isso é complicado e faz-me perder vontade de organizar concertos e de ver bom ambiente e sorrisos em algo que faço, bem como conhecer novas pessoas, de novas culturas (adorei conhecer a malta de This Routine Is Hell por exemplo).

A todos os miúdos só tenho a dizer que continuem aí com força e saibam escolher as pessoas que devem manter por perto. Tentem sempre escolher bem as bandas para ter o melhor ambiente possível num concerto que isso faz bastante diferença (como tu podes ter constatado no “meu show” de Anchor e no de Miyagi com Cold Ones no RIC).

Falaste-me aí numas cenas que andavas a fazer, riffs do diabo e não sei quê. Como é que ficou isso, a vontade de fazer uma banda ainda se mantém? Há desenvolvimentos, ou o teu tempo tem sido preenchido com outras coisas?

Pá, eu querer fazer banda quero, tanto que continuo a investir em material de baixo para poder tocar ao vivo e assim, e tento compôr qualquer coisa na guitarra com o meu pouco de skill na 6-string, mas sinceramente tou um pouco farto de procurar pessoal, porque aqui é tudo tesão do mijo. Muitas vezes desistem poucos ensaios depois, ou arranjam namorada nova e deixam de poder ensaiar, ou vão para os ensaios para brincar e não para criar e melhorar, ou não querem investir nem tempo nem dinheiro na banda, ou simplesmente falam mas ou não sabem tocar nada ou não têm material. Ou ambas. Por isso se aparecer, bacano, caso contrário acabo de compor as minhas cenas e convido malta da terrinha e fazemos uma banda só para dar uns concertos e conhecer malta nova.

O meu tempo tem sido preenchido em grande parte pela minha inutilidade neste mundo e pela faculdade, mas agora ja comecei a procurar novos projectos colectivos e pessoais para fazer para o ano, porque para mestrado já tou velho e para ganhar vantagem no mercado tenho de ter CV, que é o tipo de oportunidades que estou a procurar neste momento e têm surgido umas coisas engraçadas na música e nos desportos radicais. Por isso para o ano mais selectividade nas noite de “rock”, mas não irei deixar de tentar contribuir para este meio, e se possível a tocar.

Que bandas é que costumas ter aí a rodar no MP3? Já sei que és alto fâ de Good Riddance, mas curtia saber o que é que deixa o Machadinho aos saltos no quarto.

Ahah, agora é que me lixaste com F maiúsculo!!! Eu tornei-me naquilo que mais critiquei durante anos: nos mais velhos, que ouvem sempre as mesmas bandas. Sou sincero, neste momento sou um gajo muito desactualizado e não tenho ouvido muita música sequer, porque me fartei de tar sempre à frente e a pesquisar e depois as coisas terem qualidade mas não serem minimamente originais, e se tornar tudo chato. Aqui ficam uns "tops" do que ouço mais regularmente: Offspring, Descendents, All Against The World, Good Riddance e Street Poison, que conheci à pouco e é uma banda francesa mesmo bacana. Fora isso, ouço Ben Howard, Bryan Adams (um gajo tem sentimentos, ahah), Tim Barry, aquela do Call Me Maybe e Mariah Carey. 

Falando muito a sério, tu és para mim um exemplo de força de vontade e motivação. Há algum tempo para cá tens-te andado a meter em planos de exercício físico e alimentar de meter respeito, sem te meteres naquelas merdas que te fodem os órgãos todos e fazem a pila mirrar. Só me lembro de ter ido jogar à bola contigo e estávamos todos já a arrastar-nos pelo campo e tu a mandares sprints. Fala-me um pouco desta tua faceta de atleta, e do que ela significa para ti.

Obrigado desde já pelas palavras. Essa dos sprints e da corrida está relacionado com os 4 meses de jogging que fiz, entre 3 a 5 vezes por semana, e depois como corria com pesos nos tornozelos e às vezes nas mãos/pulsos durante terminado tempo, aumentando assim rapidez e resistência, mas à custa disso também te lembras que a segunda vez que toquei na bola dentro do campo a bola foi parar a linha comboio, ahah!

Apesar de sempre ter sido gordo, o desporto é algo bastante importante na minha vida, tanto que agora ando um pouco em baixo com o facto do meu estado de saúde não me permitir praticar desporto, porque desde puto pratiquei, tendo sido federado em futebol uns anos, praticado volleyball no desporto, e comecei à relativamente pouco tempo a praticar surf e longboard skate também. Ainda tive na natação em puto. Acho que no fundo para além de ser algo saudável, sempre fez parte do meu conceito de diversão desde puto, daí a importancia que tem para mim, e nada mais importante do que algo ou alguém que nos faça sorrir e felizes nesta vida, certo? Caso contrário não me tinha mantido nos concertos o tempo suficiente, e nem nos teríamos conhecido.

Quanto aos programas que falaste, em termos alimentares não fiz qualquer dieta, apenas fui reduzindo as quantidades de comida que ingeria. A nivel de “vicios” reduzi bastante no tabaco (e passei a tabaco de enrolar) e já não vou tantas vezes beber copos. Por fim, quanto ao programa de treino marado é o Insanity e aconselho vivamente toda a gente a fazê-lo, porque são resultados quase imediatos, tanto em termos de resistência como em termos de aparência e acho que não é por 40 minutos de exercício 6 vezes por semana que uma pessoa morre, pelo contrário, só vai aumentar os índices de auto-confiança e conforto pessoal. Quando voltar a estar bem de saúde é a primeira coisa que volto a fazer.

Estamos cá para te ver a representar na capa da Men's Health portuguesa. Para terminar, manda aí os teus beijinhos e abraços. 

Os meus beijinhos e abraços vão para todos aqueles que contribuem genuinamente para este meio, quer eu conheça (como é o teu caso) quer não conheça, porque são esses que merecem alguma coisa de mim. Um abraço especial a malta do norte, como o Jofy e as meninas Paiva por serem as mais lindas e mais queridas, e à crew do Call Me Maybe/Group Sex? Ahah! Os poucos com quem me dou a sério cá de Lisboa e que sabem que realmente gosto deles não preciso de mandar cumprimentos que eles sabem quem são.

Por fim, quero mandar um fisting anal bem doloroso para todos os filhos da puta desde meio que querem ser os reis da macacada e passam por cima uns dos outros e que passam a vida a deteriorar isto, que podia ser bem melhor actualmente se tentassem nivelar as coisas por cima, em vez de puxar outros que fazem algo para baixo. O mesmo desejo para as bandas mal agradecidas e de/com gente de merda que há cá na tuga, que são optimos a dar facadas nas costas e a cuspir no prato que comem/comeram.

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