segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Review: Ieper Fest 2012 - Parte 1

Férias de verão... Altura de deixar o fato e a gravata de lado e aventurar-me em algo que rompesse com a minha rotina diária. Dois "miúdos", tenda e mochila às costas, convivência internacional, e um dos maiores festivais de Hardcore na Europa - o Ieper Hardcore Fest. 


As coisas não começaram bem. Ainda que o festival tivesse o seu início apenas no dia de 6ª feira, chegámos a Bruxelas 5ª, com ideia de conhecer um pouco a cidade e posteriormente seguir para Ieper. Assim que aterrámos em Bruxelas, damos conta que os senhores da Brussels Airlines haviam perdido a nossa tenda... Escusado será dizer que sem tenda, seria impossível ir para o festival. Foi-nos assegurado que até à noite nos contactariam e entregariam a tenda no hostel em Bruxelas. Não aconteceu. Os nervos e ansiedade aumentavam, o espirito não era o mais positivo, e fomo-nos deitar na 5ª feira sem saber muito bem como seria o nosso dia de 6ª. 7 da manhã de 6ª, toca o meu telemóvel. "Sorry for all the trouble, we have your tent, and it will be delivered right away at your location.". Os sorrisos voltaram, o entusiasmo apoderou-se novamente de nós, olhámos para o relógio, havia tempo para chegar a Ieper e ver o 1º concerto que nos interessava - a turma nacional, For the Glory!

DIA 1 
Chegámos a Ieper e as coisas eram de facto como nos tinham contado. Um descampado enorme, tipicamente utilizado para agricultura, e que, caso chovesse, tornaria o festival num Slide & Splash de lama. Chuva? Nem vê-la. Em 20 anos de festival, muitos disseram que foi o melhor tempo que alguma vez apanharam. Tínhamos a sorte do nosso lado, céu limpo e sol, muito sol. Exactamente ao lado do recinto do festival, encontrava-se o espaço para o acampamento. Montámos o nosso estaminé e seguimos para o recinto. Esperava algo maior, mas ao mesmo tempo algo muito menos organizado. Cartazes de sponsors? Zero. Tinha claramente acabado de entrar na maior iniciativa DIY que já presenciei. Mais tarde, em conversas com o Ricardo de FTG (já habituado a estas lides), percebi que ali tudo era organizado por malta de editoras europeias, amigos e pessoal que se dedica verdadeiramente à cena. No mínimo, impressionante. Tínhamos espaço para comprar bebidas, espaço para ir buscar comida (100% vegan), tenda de merch, tenda de debates, entrevistas e outras iniciativas, um palco exterior, e um palco dentro de uma tenda, que como seria expectável dá aquele ambiente mais cosy aos concertos. Estava impressionado com toda a logística e organização da coisa. Depois da volta de reconhecimento ao recinto, fui apanhar uma imperial para combater o calor que se fazia sentir e segui para o palco interior onde os For the Glory iriam tomar as rédeas do público durante cerca de meia hora.

FOR THE GLORY
A sensação de estar no estrangeiro e vermos amigos e conhecidos portugueses a subir ao palco e a levantar a moral de toda aquela malta desconhecida, é priceless. Já o tinha sentido antes com a tropa algarvia de Broken Distance, Pressure e Critical Point em Roterdão, mas aqui a dimensão era completamente diferente. Sendo uma das bandas que provavelmente já vi mais vezes ao vivo, sabia o que esperar da sua performance, no entanto, estava curioso para saber como o público iria reagir. Acho que ainda não tinha uma noção exacta da quão esta banda cresceu no panorama internacional desde que os vi pela primeira vez na Voz do Operário a abrir para Hatebreed. Belgas, alemães, espanhóis, franceses, todo o público se mexia e ia cantando os refrões das músicas. Desde a Fall in Disgrace, até a malhas mais recentes como a Life is a Carrousel, tudo serviu para deixar a miudagem maluca, com vontade de dançar, fazer circle pits e até navegar em cima de boias em formato de tubarão. Quando a Survival of the Fittest chegou até às colunas, o concerto atingiu o seu auge. For the Glory são sem dúvida das melhores bandas nacionais, e não tenho problemas em dizer que se batem de igual para igual com gigantes europeus. No final do concerto, os miúdos iam ter com os elementos da banda para dar os parabéns, conversar e trocar ideias, comprar t-shirts, enfim, tudo aquilo que acho que um elemento de uma banda deve idealizar para um pós concerto no estrangeiro. Tenham orgulho naquilo que se faz por terras lusas, não ficamos atrás de ninguém.

KYLESA
Mal terminou o ultimo acorde de FTG, começa no palco exterior Kylesa. Foi bom o Gonçalo (verdadeiro amigo e companheiro de concertos que me acompanha nestas lides desde à muitos anos) ter vindo comigo. Eu com um perfil mais hardcore, ele com um perfil mais metaleiro, fomo-nos completando nas escolhas que fazíamos de bandas para ver. Esta era claramente uma das suas must-see! Curioso, acompanhei-o. Acho que foi a primeira vez que vi uma banda tocar com 2 bateristas, mas estranhamente acaba por resultar bastante bem ao vivo. Não sendo fã, nem me podendo pronunciar sobre a setlist, penso que terá sido um concerto bastante bem conseguido.

SKARHEAD
Como amante da cena nova iorquina, não iria desperdiçar uma oportunidade para rever novamente esta banda. O concerto foi dentro da tenda, o que penso que terá ajudado ao ambiente, ainda assim, tirando uns quantos clássicos que meteram o pessoal a cantar, não há muito a dizer sobre este concerto. Uns pregos para contabilizar, alguma falta de energia por parte da banda, e uma postura muito do "tass bem!". Foi um concerto OK, sendo que perto do final me lembro de pensar que os senhores do palco se deveriam estar a guardar para Crown of Thornz (uff, estava quase!!).

KNUCKLEDUST
Não sou fã da banda. Não devo ter ouvido os álbuns mais que uma ou duas vezes, mas sou sincero, tinha uma curiosidade brutal para ver esta banda ao vivo (uma sala para 50 pessoas em Londres teria sido ideal). Não demorou muito a perceber que uma larga comunidade inglesa se havia deslocado até Ieper para o festival. Cá fora, o palco exterior estava super bem composto. Desde o início do concerto que se viu um festival de chapadaria! Muita energia, uns quantos ninjas a desfilar na parada, e uma banda em palco que me parecia motivada e satisfeita com o seu concerto. Não desapontaram!

THE CHARRIOT
Surprise, surprise! Ainda tão cedo no festival, e já era tempo de uma das melhores performances a que iria assistir durante todo o fest. Isto vindo de alguém que pouco conhece da banda. É simplesmente de loucos, a performance de cada um dos elementos dos The Charriot. Consta que já no Musicbox em Lisboa as coisas ganharam proporções históricas. Quando vejo o vocalista pegar numa cadeira, dirigir-se para o meio do pit antes de iniciar uma nova malha, pensei que era maluco. Em 5 segundos subiu para cima da cadeira, gritou algo que seriam as lyrics da faixa, e gerou-se um pile-on gigante. Mais 15 segundos, o vocalista continuava em cima da cadeira, e à sua volta um circle pit gigante. De loucos. Lá atrás a malta de Nova Iorque olhava incrédula de boca aberta... Pois é, o ambiente era de facto diferente daquele que haviam proporcionado 1 hora antes.

CROWN OF THORNZ
Antes deste concerto fui descansar. Trocar uns dedos de conversa e beber umas imperiais com o Congas e o João, sentar na relva a ver o desfile de t-shirts do pessoal, não num mau sentido, curto mesmo ver as t-shirts da malta e ver prints e designs de bandas que ainda não conheço (no final acabou por ganhar um rapaz já mais velho com uma tshirt do David Lynch e do seu Mulholland Drive), enfim, garantir que as pernas estavam em ordem para Crown of Thornz.

O concerto. Bom, era provavelmente a banda que mais queria ver do festival, mas por outro lado temia que as coisas dessem para o torto e as minhas expectativas saíssem defraudadas. Tive em conta as circunstâncias e desci à terra. Não estava num local club em Nova Iorque, estava num palco de festival, com um público dividido entre fãs da banda e bartolos com t-shirt de Crown of Thornz acabada de comprar e uns calções de Deez Nuts. A formação era a mesma que havia tocado em Skarhead, e felizmente, encontravam-se sóbrios (o Ezec fez questão de frisar as 24h sem coca... serious shit...). Tendo tudo isto em conta, acho que foi um bom concerto. Não, não era o concerto de reunion que todos os fãs queriam, mas ainda assim foi bom poder ver alguns clássicos ao vivo. Nos primeiros acordes da Icepick, lembro-me de olhar para o lado e ver o vocalista de Knuckledust possuído a distribuir fruta pelo pessoal. Era o que se queria, mas que faltou. Exigia-se mais do público, exigia-se um pouco mais da banda. Acordem-me quando voltarem a tocar num espaço fechado.

CONGRESS 
Lembram-se do gajo que falei com a t-shirt do David Lynch!? Que chefe, tratava-se do guitarrista de Congress. Não sei o seu nome, passei a chamar-lhe Lynch. É ele quem fala, é ele quem acerta o sound check, é ele quem dá a cara pela banda (pelo menos neste show foi assim), e era na cara dele que estava espelhado o feeling e a mística deste concerto. A minha alma ficou parva. "The H8000 kings" como vi numa ou duas t-shirts, foram de facto reis. A tenda encheu como não haveria de encher para mais nenhum show do festival, e os belgas, especialmente a malta mais velha e não tanto os miúdos, ficaram completamente possuídos para o regresso de Congress após 6 anos de terem terminado a banda. É indiscutível que este foi um dos melhores, se não mesmo o melhor (a par de The Charriot) concerto do festival. Os riffs e solos do Lynch fizeram-me fã. Foi tão bom que tiveram direito a encore, e tocaram mais do que o tempo estipulado (provavelmente dos concertos mais longos do fest), enquanto do outro lado do recinto o Roger e o Stigma tinham mais era que esperar para subir ao palco. Numa palavra, monstruoso.

AGNOSTIC FRONT
O que se pode esperar de Agnostic Front, depois de já os ter visto tantas vezes? Eu não esperava muito, e ainda bem. Saí surpreendido e a perguntar-me há quantos anos não meto um álbum de Agnostic a tocar. Dando um desconto à voz do Roger, o concerto foi um óptimo final de noite. Não tem que enganar quando se abre com a Victim in Pain! Seguiram-se outras malhas da velha guarda, aqui e ali interrompidas por trabalhos mais recentes, que no final compuseram uma setlist muito satisfatória. O público curtia como se não houvesse amanhã, com dives, circle pits e o bom antigo pogo. Eu que estava mais resguardado cá para trás, tive que dar uns passos em frente e aquecer a voz para a Friend or Foe ou a Crucified, não há como evitar. Houve direito ainda a uma Gotta Go com participação do Danny Diablo, e por último uma coverzinha de Ramones que gerou invasão de palco e meteu todo o fest a cantar. Para mim estava feito o 1º dia.

Review feita pelo Daniel Simões, aka MVP Limpa Vias. A segunda parte será publicada brevemente. Não se esqueçam de lhe pagar uma birra quando o virem num concerto!

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