quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Review: Ieper Fest 2012 - Parte 2

Segunda parte da Review feita pelo MVP Daniel Simões. Get on it!


DIA 2
Acordámos no 2º dia já com ideia de ir dar uma volta pela cidade e aproveitar a dica que nos haviam dado sobre umas piscinas municipais em que se pagam 2.50€ para lá passar o dia. Ieper fez-me lembrar um pouco Maastricht onde vivi durante 1 ano. Cidade pequena, com uma catedral engraçada e uma main square simpática. Tudo muito verde, tudo muito limpo, pode-se dizer que fiquei com uma impressão muito positiva da cidade. Após uns momentos a relaxar pela piscina e um almoço de super-mercado, lá voltámos para o recinto do festival.

REIGN SUPREME
Outra das bandas que mais curiosidade tinha para ver neste festival. Ouvi várias vezes o American Violence e prestei alguma atenção ao Testing the Limits of the Infinite, queria saber como se portavam ao vivo. Penso que estavam no final da sua tour europeia, e acima de tudo, pareceram-me cansados. Pausas demasiado longas entre as faixas, discursos clichés para os quais já não tenho muita paciência, e até uma atitude um pouco cocky perante o público europeu. Tocaram umas quantas faixas do seu novo EP que, ou já saiu, ou está para sair, não causando grande impacto no público, e tocaram também malhas dos primeiros trabalhos, estas sim já arrancando uns valentes sing alongs e causando alguma agitação no meio do pit. Overall, não fiquei muito bem impressionado, talvez num espaço fechado o impacto seja outro.

YOUR DEMISE
Queria ter visto MxPx All Stars, mas acabei por me sentar numa das escassas sombras do festival a comer umas fatias de melancia que por lá andavam a vender. Ainda no mesmo sítio, acabei por assistir novamente (de longe) a Your Demise. Vi o concerto em Portugal assim que mudaram de vocalista, e tinha ouvido os novos trabalhos. A minha opinião mantém-se. Banda que acabou assim que o antigo vocalista saiu. Não que este seja particularmente mau, mas o próprio som da banda mudou, e na minha opinião, para pior. A melhor parte do concerto foi estar à sombra.

GRAND MAGUS
Das maiores surpresas do festival. Banda sueca de heavy metal (com umas pitadas de doom aqui e ali), completamente deslocada do cartaz do fest, e que deu um espectáculo total no palco interior. Comecei a ver o concerto sentado cá atrás, naquela que era fixe estar a ouvir um heavy à maneira enquanto descansava. Aguentei apenas uma música sentado. A empatia com o público foi imediata. Riffalhões atrás riffalhões, uma bateria que acompanha como se pede, e umas mega clean vocals bem ao estilo de Maiden. Aaaahhh aquele feeling old school do heavy, adoro! Acreditem, e até pelo que já se escreveu do festival pelas internets, esta turma sueca foi provavelmente a surpresa do festival. Underdogs do festival, mestres no que ao heavy respeita, conquistaram o meu respeito e colocaram-se na minha must-download-list.

TRAPPED UNDER ICE
De volta ao hardcore a sério. Depois de um concerto em Portugal em que o público ficou a festejar os Santos (seriously…), queria mesmo voltar a ver esta banda. Ainda a mastigar o Big Kiss Goodnight, queria que este fosse o concerto que me convencesse que esta é uma das melhores bandas de hardcore da actualidade. Job well done. Que fim do mundo. É que nem consigo particularizar as melhores faixas, foi de facto tudo muito bom. Ok, talvez a Reality Unfolds a fechar o concerto tenha sido o momento que mais gostei. Pergunto-me, quão grande poderá esta banda tornar-se?

THE BLACK DHALIA MURDER
Dizia-me o Gonçalo, talvez uma das maiores desilusões para ele. Eu não conheço particularmente bem a banda, mas ao que parece a setlist foi fraca, conseguiram pegar nalgumas das suas piores malhas, e o público não estava totalmente receptivo à banda. E vice-versa. As dicas de hater do vocalista para o público do hardcore foram constantes ao longo de todo o concerto, uns aplaudiam sem saber aquilo que estava a ser dito, outros mostravam o dedo do meio para o palco. Esteve um ambiente estranho e facilmente diria que foi dos concertos que menos me motivou no palco cá de fora.

EYEHATEGOD
Mais para malta do sludge, ainda sim acompanhei o Gonçalo até à tenda para ver este concerto. Ele mais lá para a frente, eu a dar um olhinho cá de trás. Depois de umas complicações com a equipa do som, o concerto lá entrou em bom ritmo. Durante cerca de 45 minutos mantiveram a tenda consideravelmente cheia, e deram um belíssimo concerto. Tive alguma pena de não conhecer os trabalhos da banda.

IGNITE
Já não tenho paciência, vim ver o concerto cá para trás. Tocaram umas malhas antigas, outras mais recentes, a cover da Sunday Bloody Sunday, nada de novo. Desde que há uns anos me apanhei num concerto destes gajos a ouvir um mini set de música acústica que me desinteressei pela banda. O público pareceu ter curtido e claramente ouve movimento lá para a frente. Bom para os fãs.

PIG DESTROYER
Claramente não sabia no que me estava a meter. O Gonçalo alertou-me para a brutidade que aí vinha, mas não fiz caso. Provavelmente a música mais extrema que vi ao vivo. Tudo demasiado rápido, tudo demasiado bruto. A malta estava a curtir, mas grind não é mesmo para mim.

SICK OF IT ALL
Demasiada bagagem. Nunca vi um mau concerto destes senhores do hardcore nova iorquino. Sempre enérgicos, sempre bem-dispostos e sempre com as palavras certas para puxar pelo público. A setlist pareceu-me bastante sólida, respondendo quer à fome da malta jovem, quer à saudade da malta old school. Os clássicos tiveram lá todos, Scratch the Surface, Buil to Last, Step Down, etc, etc. Pontos negativos, só mesmo o som da guitarra do Pete que mal se ouviu durante quase todo o concerto. Obviamente o concerto terminou com invasão de palco, o que fica sempre bem num final de noite de festival. Fim do 2º dia, o cansaço começava a acumular-se.

DIA 3
A estratégia foi a mesma. Acordar cedo, ir à cidade tomar o pequeno-almoço e seguir para as piscinas. Volta feita, era hora de regressar ao recinto e gastar todas as energias no último dia de festival. Apesar dos concertos começarem sempre por volta das 11 da manhã, para mim o início estava marcado para as 14 com Cruel Hand.

CRUEL HAND
Sim, já sei o que toda gente acha e que estes gajos não são assim tao bons e bla bla bla. Right right, a verdade é que com estes gajos sentimos que são miúdos como nós, os concertos têm feeling, e digam o que disserem, o som mete-me sempre a mexer, demasiado até. Era cedo mas isso não impediu que um bom número de pessoas ali estivesse para ver a banda. Muito movimento, vários sing alongs, poeira no ar, o que se queria. O concerto em si não foi do melhor que já vi deles, mas foi bom o suficiente. Horas depois, tive ainda oportunidade ficar um pouco à conversa com os dois guitarristas que havia conhecido durante a tour de Cold Blooded (big up!). Foi porreiro ver que se lembravam das matraquilhadas que jogaram com os tugas e de alguns dos bons momentos que se passaram em tour. Pessoal 5 estrelas.

7 SECONDS
Tinha-os visto à relativamente pouco tempo em Portugal. Apesar de muitas das minhas bandas preferidas serem straight edge, esta é de facto uma banda que nunca me disse nada. A impressão com que fiquei das duas malhas que vi, foi a mesma com que fiquei em Portugal. Quem cresceu com a banda vai sempre gostar, mas no que a live performance toca, acho que estão prontíssimos para a reforma. Há bandas com formações antigas e que têm energia e passam aquele feeling para o pessoal (creio que foi o caso de Youth of Today há uns tempos em Lisboa). Não é o caso de 7 Seconds. Com pena minha, e a propósito, vi muito pouca gente de X na mão. Esperava ter visto muito mais público straight edge do que aquele que vi.

DEEZ NUTS
Apanhei a mesma sombra do dia anterior e obviamente não iria sair dali para ver esta banda. Podia estar em pé, e então vi-os de longe. Perdoem-me os fãs, mas nos dois painéis que colocaram em palco com patrocínio da Monster (única banda do festival a fazer algo deste género), se lá estivesse o logo do Azeite Galo teria sido muito mais apropriado. Grupo de azeiteiros a desfilar num palco. Cada um gosta do que gosta, e tem todo o direito a fazê-lo, só não pode é chamar Hardcore àquilo que não o é. Deez Nuts pode ser muita coisa, mas Hardcore, na maneira como eu o vejo, não é. Posto isto, o concerto foi uma festa. Os putos todos malucos a representarem os seus melhores moves, sing alongs com fartura, até parecia bom e tudo! Enfim, gosto de pensar que nem tudo está perdido neste mundo e que ainda há esperança. Mas não ali.

TERROR
Digam lá que quando têm oportunidade de ver de novo a Lowest of the Low ou a Keep Your Mouth Shut ao vivo, não lá vão dar olhinho!? Terror é quase garantia de bom concerto de hardcore, e assim foi. Não gostei particularmente do Keepers of the Faith, e tive pena que várias das faixas do set se tenham baseado neste novo álbum. Ainda assim, deu tempo para malhas mais velhinhas, onde naturalmente o pit ficou caótico. É Terror. O Scott sabe o que faz e diz em palco, e os miúdos seguem-no em qualquer palavra que meta cá para fora. Deu para mexer mais um bocadinho, mas por esta altura sentia de facto que o cansaço do último dia de festival se estava apoderar de mim.

CROWBAR
Tive oportunidade de comentar isto com o Gonçalo, esta banda, para mim que não sou um seguidor, pedia uma poltrona bem lá para trás, umas folhas sequinhas da planta de Jah, e depois, bem depois é headbang ao som daqueles riffs mais lentos e arrastados. Penso que por momentos fechei os olhos e fiquei simplesmente sentado a disfrutar do som. Creio não ter tido um impacto como os Eyehategod, por exemplo, mas quis-me parecer que deram um excelente concerto.

RISE AND FALL
Bom, para mim isto era praticamente o fim do festival. Faltavam ainda cerca de 2 ou3 bandas, mas aquelas que queria realmente ver ou rever terminavam aqui. Já os tendo visto ao vivo, sabia o que esperar de Rise and Fall, no entanto, as expectativas estavam um degrau a cima uma vez que aqui jogavam em casa. E notou-se. O público caseiro não os deixou ficar mal. Do princípio ao fim, este foi um concerto exemplar! O vocalista tem uma presença brutal em palco, e o resto são todos bons músicos, não há nada a apontar. Lembro-me particularmente da Forked Tongues em que ficou tudo maluco! Penso que foi um óptimo final de tour (com Converge) para esta turma belga. Estão, sem dúvida, no top daquilo que se faz na Europa.

CONVERGE
Quem já viu ao vivo, e tal como eu não gosta particularmente da banda, tem que no mínimo concordar que estes gajos têm um estilo ímpar, e que o vocalista é um monstro de palco. O set arrancou de forma improvável com uma faixa bastante longa (Jane Doe se não estou em erro), e foi ganhando ritmo ao longo do show. Ia-me dizendo o Gonçalo que o concerto estava a ser muito bom, e eu não via motivo por onde não concordar. Acima de tudo, é uma banda completa e que sabe marcar a sua posição. É Hardcore? Não. É Metal? Não. É Converge. Tenho pena de não conseguir gostar mais do som desta malta, mas há que reconhecer, em palco, é um luxo vê-los.

BOLT THROWER
Em honra ao meu amigo André, a quem desde já agradeço o convite para participar com este post para o blog, tinha que guardar umas palavras para a banda que fechou o festival. Para um público bem menos numeroso, coube aos Bolt Thrower a difícil tarefa de fechar o festival. Death Metal para fecho de festival? Desejei-lhes sorte. Para minha surpresa, não precisavam de qualquer tipo de sorte. Via-se que era malta já rodada, e muito rapidamente se souberam posicionar de forma a criar uma rápida empatia com o público. Bem, a música, essa a mim não me diz muito. Um paredão de som como me lembro de ouvir o Gonçalo comentar. Death Metal para mim resume-se a At the Gates e pouco mais, ainda assim, há que dar valor a estes gajos. Despretensiosos, tomaram a rédea do público e deram um bom concerto! Estávamos claramente no final do festival, tempo para as últimas loucuras. Pensei já ter visto tudo ou quase tudo em concertos, mas um stage dive de um gajo completamente nu foi algo novo para o repertório. O próprio vocalista não se conteve, e pelo meio do fumo branco, que aliás foi uma constante em palco durante todo o concerto, lá se viram uns sorrisos e umas gargalhadas. Foi nesta toada de festa e boa disposição que terminou o concerto de Bolt Thrower e que terminou o Ieper Hardcore Fest de 2012.

No final das contas, não foram certamente 3 dias de férias para descanso. Acho que nunca tinha visto tantos concertos num tão curto espaço de tempo, e acreditem, a experiência valeu cada momento. Desde a boa música, as boas performances em palco, o ambiente do festival, a enormidade de uma iniciativa DIY, a camaradagem com o meu melhor tropa metaleiro Gonçalo, tudo valeu a pena. Como nota final, gostava de dizer que voltei a Portugal, sabendo que nos encontramos atrasados em muita coisa, mas no que ao feeling de um concerto de hardcore concerne, estamos no topo, e que ao vivo, vivemos a coisa com um feeling que poucos têm. Se tiverem oportunidade, e se o sol estiver do vosso lado, vale bem a pena a visita à Bélgica para este festival. Stay young!

Review gentilmente feita pelo Daniel Simões, aka MVP Limpa Vias. Não se esqueçam de lhe pagar uma birra quando o virem num concerto!

3 comentários: