segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Tópico de Apreciação: Minor Threat

...porque não há nada como dissecar uma boa discografia. 



Eu sei que é um assunto sujeito a debate, mas eu faço parte do grupo de pessoas que acha que as três bandas de hardcore mais influentes foram os Black Flag, os Bad Brains e os Minor Threat. As razões são óbvias: os Black Flag abriram fronteiras para todas as outras bandas fazendo tours atrás de tours (em condições péssimas), criando assim uma rede de contactos sólida - em termos de bandas, editoras e salas. Isto sem mencionar a quantidade de miúdos que, inspirados por os verem, decidiram começar uma banda. Os Bad Brains... não creio que tenha havido nada igual a eles. Para além de não serem brancos (a clara maioria na cena hardcore da altura), tocava mais, melhor e mais rápido que qualquer outra banda. Em termos de sonoridade, eles são A banda de hardcore. Mesmo com o reggae pelo meio. Por fim, os Minor Threat, que introduziram o straightedge e carimbaram um enorme espírito DIY através da editora que fundaram (a Dischord...!). Creio que sem elas, o hardcore não seria como o conhecemos.

Os Minor Threat começaram em Washington em 1980, no seguimento do fim dos Teen Idles. Lançaram dois EPs em 1981, um LP em 1983 (depois de uma curta paragem) e um último EP em 1985, dois anos depois da banda ter acabado. O som é caracteristicamente rápido, cru e com letras pessoais sobre intervenção social - evoluindo progressivamente ao longo dos discos para uma visão mais pessoal sobre os acontecimentos à volta da banda. Uma das coisas engraçadas na discografica dos Minor Threat é dar para notar perfeitamente, de disco para disco, como a banda evoluiu. Ainda que não seja do meu gosto, isto explica perfeitamente o porquê do Ian ter querido (eventualmente de forma irreflectida) elevar a fasquia um pouco depois do fim da banda.

Minor Threat - Minor Threat (1981)

O primeiro EP tem de ser um dos melhores discos de hardcore alguma vez feitos. Não dá para igualar a quantidade raiva que sai pelas colunas ao longo das oito músicas. Não é musicalmente perfeito mas é rápido e vai directo assunto. Neste disco o Ian foca-se muito nos problemas sociais e na falta de vontade de querer fazer parte da "sociedade" que nos é imposta. Acima de tudo é um disco que questiona muitas coisas, desde a religião (na Filler), a tomar drogas para "fazer parte" (na Straightedge, que viria a inspirar o movimento), passando pela violência alcoolizada (na Bottle Violence) e a acabar numa das músicas que se tornaria num autêntico clássico e hino: a Minor Threat. Para mim essa música tem uma das melhores letras de sempre (sendo "Go to college, be a man, what's the fucking deal? It's not how old I am, it's how old I feel" uma das melhores partes). Este é o disco que mais transpira a essência da banda no seu estado primário - e que estado. É raiva adolescente no seu melhor.

Trivia: O punk na imagem da capa é o irmão do Ian, que era o vocalista de The Faith. Ah!

 Minor Theat - In My Eyes (1981)

Lançado também em 1981, este segundo EP da banda tem três originais e uma cover dos Monkees. A evolução do primeiro EP para este é algo notória, com as músicas a mostrarem uma composição menos básica. A primeira música, In My Eyes, é uma critica feroz às pessoas que se "rendem" à sociedade e se deixam levar pelos padrões impostos para se "fazer parte". A Out Of Step segue um pouco as pisadas da Straightedge e a Guilty Of Being White acabaria por ser tornar numa das músicas mais polémicas da banda, ainda que o seu significado se prenda em volta dos brancos serem uma minoria na escola onde o Ian andou - sendo o reflexo de algumas experiências pelas quais ele passou. Não ajudou à polémica que os Slayer tenham feito uma cover da música e trocado a letrar Guilty Of Being Right. A última malha é uma cover dos Monkees (uma banda de rock) que já tinha também sido gravada pelos Sex Pistols e viria a ser gravada pelos SOA para a compilação Flex Your Head, lançada pela Dischord. 

   Minor Threat - Out Of Step (1983)

Depois de uma pequena interrupção que viu a banda "acabar" durante cerca de um ano, os Minor Threat voltaram-se a juntar para gravar o primeiro e único LP. A diferença dos EPs para o LP é mais que notória, tanto em termos musicais, como líricos. As letras são mais maduras, mais introspectivas e largamente baseadas nas experiências vividas desde o começo da banda. As músicas são mais compridas e têm uma composição largamente superior às dos dois primeiros discos. É neste disco que se nota melhor a forma como a banda evoluiu (e para perceber a origem das bandas que eles viriam a forma depois do fim dos Minor Threat). A presença de melodias é mais constante e o Ian tenta cantar mais do que gritar. Curiosamente, apesar de preferir o primeiro disco a qualquer outro, a minha música preferida de Minor Threat está neste disco e chama-se Little Friend. Para mim, a segunda parte da música (a partir de meio) é das melhores coisas que já aconteceram no hardcore. Talvez seja a prova de que eles estavam destinados a voos mais altos.

Minor Threat - Salad Days (1985)

O último disco de Minor Threat (gravado antes da banda acabar, mas lançado apenas dois anos depois) marca já uma mudança no som, bastante distante dos dois primeiros EPs. Guitarra acústica, sinos e mais sei lá o quê. Não que seja mau, mas é diferente. Melódico e bonito com letras ainda mais introspectivas que no LP. O EP tem duas músicas originais e uma cover de Standells (da Good Guys Don't Wear White, bastante bem conseguida - diga-se). Eventualmente este será o disco deles que menos oiço, embora lhe passe facilmente os ouvidos em cima se estiver a ouvir a discografia completa. E porque não? Eles merecem.

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