segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Review: Resurrection Fest 2012


Mais um ano, mais uma peregrinação à Galiza. Destino: Resurrection Fest. Desde 2007 (?) para cá que este festival organizado na pequena cidade de Viveiro se tornou ponto de romaria da comunidade portuguesa do punk/hardcore durante a época de Verão. Digo 2007 porque se a memória não me falha foi o ano em que começou a “bater” na atenção do pessoal português, ainda que a primeira edição tenha sido em 2005 e… bom, digamos que não teve NADA a ver com aquilo que se passa hoje em dia. Tinha dito para mim mesmo “este ano não vou, não há nada que me puxe” e mais bla bla bla, mas assim que anunciaram a presença dos Descendents, foi o que bastou para mudar completamente de ideias. Afinal de contas não é todos os dias que se tem a oportunidade de ver uma das bandas mais antigas e influentes da história do punk/hardcore, certo?

Estava para ir sozinho, independentemente das dificuldades previsíveis, mas à última da hora consegui arranjar 2 pessoas que estavam enrascadas de boleia e lá fomos. Viagem tranquila durante a noite, ainda que tenhamos andado meio perdidos às voltas em Ourense às 5h da madrugada; por sorte conseguimos apanhar um velhote que estava a fazer o seu jogging matinal e nos indicou o caminho certo. Fucking roadsigns, how do they work? Após o percalço, rolámos tranquilamente sem mais demoras até ao destino e chegámos a Viveiro eram 8h e pouco da manhã. O pensamento inicial foi logo montar as tendas para dormir um pouco e compensar a noite inteira em claro, mas mesmo chegando bem cedo penámos para encontrar um espaço paras as nossas tendas, dado o “camping” estar, aparentemente, quase lotado. A custo lá conseguimos um espacinho à sombra – ou assim pensávamos – e após montarmos as tendas, recolhemos para uma merecida pausa. Um par de horas volvidas acordo com uma ligeira sensação de estufa dentro da tenda, deito a cabeça de fora e reparo que a pseudo-sombra providenciada por um ramo de árvore relativamente grande por cima da minha tenda não passava disso. Estava exposto aos elementos, mas mudar de poiso não era opção dada a lotação quase esgotada do espaço e também como não estava propriamente a contar ficar na tenda à hora do cancro, optei pelo prejuízo.

Falando do festival propriamente dito, de salientar pela negativa o preço do bilhete, que tem aumentado quase exponencialmente com o passar dos anos; depois – em 2007 foi grátis, salvo erro; o "novo" recinto – no mesmo local do ano passado, mas com uma disposição diferente – longe até dizer chega do camping, embora este ano tenha havido transporte bem organizado com venda prévia de bilhetes (1€ por viagem, ganda lucro!). Chulice, poderão dizer uns; menos uma cerveja por dia para poupar 40-45min a andar para cada lado, digo eu. All in all, creio que compensava bastante, especialmente saindo do recinto às tantas e depois de passar uma tarde/noite aos pinotes e/ou nos copos.

Quanto ao recinto, tínhamos o palco Monster gigante, a tenda secundária da Jagermeister ao fundo em posição transversal (more on that later), agora ladeada da novidade deste ano – o palco Arnette, vulgo palco “dos tristes”. Digo palco dos tristes porque, não obstante seja de valor quererem dar uma oportunidade de destaque às bandas locais da Galiza num festival desta dimensão, a maneira como fizeram a coisa foi simplesmente uma tristeza. Um belo exemplo da competência de organização neste caso foi estar a meio da tarde a tentar ver Converge com o pior som de sempre, a par e passo duma banda de merda a tocar ao lado e ouvir sons de sacrifícios de cabras a satanás e sucedâneos afins em sobreposição, com um som AINDA pior. O guitarrista com as suas formas redondas e cabelo comprido aparentava mais ser uma gaja que outra coisa; e ainda debatemos o facto durante alguns minutos, o que deu para umas boas risadas e tentar pôr de lado o facto do concerto dos americanos estar a ser simplesmente sofrível de assistir. Fecharam o concerto com a Concubine e o som tava com uma qualidade tal que nos riffs iniciais eu pensava que fosse a Saddest Day. Top notch!

Mas a maior novidade deste ano foi sem dúvida o facto de cobrarem 20% de comissão às bandas sobre a venda do merch. Como os custos intermédios são sempre reflectidos sobre o consumidor final, o preço mínimo duma tee era 15€ (as de Agnostic eram 18-20€!). Escusado será dizer que não comprei absolutamente nada, salvo dois recuerdos para pessoas que me tinham pedido expressamente. Questionei o Emanuel sobre o assunto e, segundo ele, a organização queixou-se que as vendas das entradas não chegam para pagar as despesas. Com uma audiência recorde este ano de 30.000 pessoas e entradas a 55€, I call bullshit! Pilar do festival – o pó! Escolheram tão bem o local – sem qualquer mancha de relva que fosse – que nas bandas que puxavam mais pelo pessoal, ao mínimo sururu levantava-se uma nuvem de pó sem precedentes. Claro que em minutos encostava tudo à box a morrer entupido porque nem as bandanas salvavam. Escusado será dizer que nestas condições também não dava jeito para voar por não haver massa humana para amparar o peso dum gajo a cair do céu. Ainda deu para fazer o gosto ao dedo, mas à 2ª tentativa cai-se num buraco, dá-se um toque mínimo com o pé depois fica tudo a olhar "ai estúpido, aleijaste-me!". Já ia precavido para esta situação depois da amostra do ano passado, mas mesmo com uma máscara industrial grande, confesso que não passei muito bem durante os concertos de maior agitação. Nota mental: não esquecer os óculos de soldar para o ano. 

Relativamente às bandas, o cartaz era muito diverso, mas como mais de metade também não interessava nem ao menino Jesus, apenas retive lembrança daquelas que queria mesmo ver e/ou que prestei atenção “só naquela”:

Reel Big Fish – Nunca tinha ouvido na vida. Disseram-me que "é na onda de Catch 22, assim punk ska com trompetes" e lá decidi dar o benefício da dúvida. Bazei ao fim de 15min. Cópia downtempo de Less Than Jake, aborrecido que feria os ouvidos, nem para dançar feito tontinho presta.

Set Your Goals – Mais uma fornada de punk-pop da MTV para putos, agora com com o Justin Bieber na 2ª voz. O concerto foi giro mas não passou disso.

Good Riddance - Estive no concerto do Garage em 2003 e curti imenso, mesmo sem conhecer qualquer música. Nove anos depois, arrependo-me profundamente de nunca ter prestado a devida atenção à banda, o porquê nem consigo explicar. Bons músicos, presença em palco irrepreensível, tiveram a sorte do som estar bom e mesmo a tocar ao final da tarde tiveram uma aderência do público ao nível dos headliners. Tudo ao pontapé e a cantar, é sempre bom de ver. Ponto alto da actuação foi a dedicatória que fizeram em memória do Tony Sly.

Anti-Flag - Só conhecia de nome, nunca sequer ouvi uma música. Não é banda que vá meter a tocar no carro ou na aparelhagem, mas o concerto foi muito bom. Sempre a interagirem com o público apesar da bazezice inerente ao mesmo, musicas engraçadas com alguma influência política nas letras apesar da onda sonora demasiado batida (punk-pop, estilo MTV, refrões catchy… vocês sabem). Na última música meteram a bateria no meio do pasto e tocaram uma música a abrir com um circle pit à volta da mesma. Deve ter sido giro para quem andou a comer pó, eu só vi a nuvem de longe. Ainda assim gostei de ver a prestação deles.

Suicidal Tendencies – O concerto! Melhor actuação do festival sem qualquer sombra de dúvida. Os homens tocam que se desunham e o baterista é qualquer coisa de surreal. A Institutionalized foi qualquer coisa de assombroso e a Cyco Vision foi a banda sonora da porrada gratuita, com ou sem pó. Fim do concerto com mil pessoas em cima do palco e a banda a tocar. Claro que ao fim de 30 segundos só se ouvia voz e bateria, mas a festa não parou. Épico!

Agnostic Front - Nunca vacilam, mesmo que o Stigma só lá esteja a fazer figura de corpo presente. O Roger é o pai do NYHC e demonstra-o em cada concerto. Para não variar, a conjugação som de merda+pó estragou uma prestação a que um gajo já está habituado a ver. Estava à espera que tocassem a Last Warning para poder ir dar um pezinho de dança e esquecer o pó que me fustigava, mas por outro lado, ali seria provavelmente o mesmo que a tocarem uma cover do Quim Barreiros.

Descendents - A razão que me levou a ir, fiquei um bocado triste só por causa da qualidade do som. Outro baterista que toca que é uma coisa parva, até arrepia! Tocaram praticamente todos os hits, deu para cantarolar e foi fixe ver os velhotes a rockar como se ainda estivessem em 1982. Dá-lhe, Camilo!

H2O - Uma das minhas favoritas de sempre, não desiludem mesmo nas condições que se verificaram. O Toby continua a ser grande frontman, mas estar ali a falar é bater em mortos porque os espanhóis são os maiores otários, labregos incultos atrasados à face da terra. Acho ridículo um vocalista estar a falar para o público e tentar interagir com as pessoas e ficar tudo calado quando ele perde tempo com eles. Tocaram praticamente quase todo o último álbum, quando tocavam antigas ficava tudo a apanhar papéis e a olhar para o boneco. Até a Sunday tocaram... Voltam para o encore, pergunta "querem ouvir músicas antigas ou querem das novas?", tudo a gritar "das novas! das novas!", quando se notava perfeitamente que preferiam tocar as antigas porque sabe que trazem a festa em qualquer lado. Acho que ele ficou tão atordoado que foi mesmo do "pessoal, bora tocar a What Happened para eles ficarem contentes e vamos embora daqui que estes gajos são uma merda" Banda: 4,5; público: -20.

Skarhead - A única coisa que posso dizer deste concerto é ZERO ABSOLUTO! Todos ressacados da noite anterior, o Ezec a dizer nada de jeito e a fazer um ganda frete. 30min de música com um som miserável e “that’s all, folks”. Quem os queria ver deve ter ficado bem desiludido, afinal de contas uma banda que é conhecida por ter 3 vocalistas e só 1 é apresentado em palco deixa bem a desejar. TCOB? Taking Care of Coke...
Tinha curiosidade em ver Hatebreed, apesar de saber de antemão que não os iria apreciar muito na onda estádio – talvez por achar que eles são banda de sala e a tocar só o Satisfaction is the Death of Desire – mas a tocarem às 2h da manhã na véspera da viagem de regresso foi mesmo do “maybe next year, Jamey”.

Para terminar, não posso deixar de referir a barraca das batatas fritas com Salsa Brava à porta do recinto. Nota máxima!

Review escrita por Tiago Inês AKA El Gran Capitán Tofu

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