quinta-feira, 19 de julho de 2012

Quem é Quem: Miguel Pimentel

Este espaço é dedicado a pequenas entrevistas ao pessoal que faz parte da nossa cena, e que de alguma forma ajuda a dinamizar o hardcore.


Esta semana o entrevistado não joga em casa mas quase, sendo um leitor assíduo e um colaborador do blog, nem que seja a tentar convencer o André de que The Boston Strangler e Minority Unit são AS bandas da actualidade. Este jovem rapaz algarviu conhecido pela sua distinta barba que lhe dá um ar sapiente, é o terror do side to side, sendo que a maioria das vezes nem se chega à frente porque alguém lhe rogou uma praga e sai sempre todo escavacado (é joelhos, sobrolhos...o que for). Ainda que seja cá dos meus e goste do old school, do "rápido e sujo", é um tipo profundamente apaixonado pela sua profissão e pela música popular portuguesa. Seguem umas perguntinhas ao Miguel Pimentel, o Boston Mike marroquino.

No seguimento da última questão da entrevista da semana passada, surgiu-me a ideia de incluir em todas as entrevistas uma questão sobre o percurso do pessoal até cair no hardcore, e mais que isso, o que é que os fez ficar. Assim, e para abrir as hostilidades, fala-me um pouco de como é que um moço de Olhão, terra de pescadores e bom marisco, veio dar aqui a estas andanças da música rápida e maluca.

É engraçado porque isto foi uma cena de família! A primeira vez que ouvi hardcore foi a partir de uns primos meus mais velhos que moravam em Lisboa e que estavam ligados ao meio punk hardcore e sempre que iam lá abaixo levavam sempre umas tapes para eu ouvir. E tinha outro primo que morava em Boston que morou nos anos 80 até inícios dos anos 90 e trouxe consigo na bagagem uns quantos discos de bandas de lá. Foram eles que me levaram aos primeiros concertos.
Eu antes de ouvir hardcore já ouvia punk rock da onda da Califórnia estás a ver, e eles só diziam "tens é de ouvir quem inspirou essas bandas". Era musica rápida e agressiva, não havia melodia, as letras eram simples e directas.  Não havia muita técnica mas estava lá uma coisa que a mim sempre me apaixonou, e acho que sem ela o punk hardcore não faz sentido, a mensagem. E neste estilo a mensagem era transmitida de uma forma rude mas honesta e sincera, tal como as gentes de Olhão.

És um tipo que não só gosta das suas raízes como as procura aprofundar. Para quem não sabe, tens uma vida "paralela" em que tocas mil e dois instrumentos e pertences a umas quantas tunas académicas. Como é que é para ti conciliar este tipo de música e instrumentos mais tradicionais com o teu gosto pelo hardcore que pouco tem a ver quer musical quer tecnicamente. Para além disso, fala-nos um pouco de como é que funciona esse straightedge num meio quase sempre associado ao consumo de álcool. Quer dizer, isto pode ser uma ideia pré-concebida, mas decerto aturas muito bebâdo e assistes a cenas hilariantes à pala dos efeitos da vinhaça, para mais tendo tu um olhar sóbrio sobre os acontecimentos, haha.

Além de ter um grande amor às minhas origens e às minhas raízes tenho também um grande amor à musica e principalmente pela musica feita por nós. Dizem que somos um país pequeno e pobre, mas para mim nós somos uns gigantes, com uma riqueza tão vasta que vai para lá da linha do horizonte! A riqueza de uma país não se abrange apenas à quantia de dinheiro que o estado tem! Para mim a verdadeira riqueza é sem duvida a herança das nossas raízes culturais! Não haja duvida que o nosso património da musica tradicional é o nosso maior bem! Bem haja a esses homens e mulheres que são a voz de uma nação que trabalhava e vivia em comunhão com a terra e os elementos, e a todos aqueles que pela sua dedicação e amor imortalizaram as nossas tradições que são a génese da nossa própria identidade como povo!

O hardcore e a música de cariz tradicional até têm algo em comum sabes? Ambos passam uma mensagem aos seus ouvintes, de formas específicas é claro. mas sempre de forma simples e honesta e mais importante ainda ambas vem da alma e do coração! Tenho o orgulho de pertencer a várias Tunas Académicas há 10 anos e apesar de normalmente este mundo estar relacionado à folia e guitarradas sempre bem "regadas" conheço muita gente ligado a este meio que não segue essa linha, e já encontrei inclusivamente SxE tunantes, por assim dizer! E o pessoal respeita imenso essa escolha! Ainda há outra coisa em comum entre tunas e a cena hardcore: amizade e união.


Está agora então na altura de desvendar um dos grandes mistérios da Humanidade: explica a toda a população portuguesa porque é que tu que dominas tantos instrumentos ainda não fizeste uma banda. Pelas conversas que tenho tido contigo, esta banda seria o equivalente ao Apocalipse, talvez daí a dificuldade em conseguir reunir todas as condições para que esse dia fatídico venha a acontecer.

Ahah! Tu és tramado, com esta já me quilhaste! Simples Mr. T., falta alguém para a bateria!

Pronto, que não seja por isso, fica então aqui o anúncio: quem souber tocar bateria e quiser fazer parte da banda que vai acelerar a chegada do fim do mundo entre em contacto. 
Bom, voltando a pegar no que falaste inicialmente sobre o teu primo de Boston, essa é a cidade de onde são provenientes grande parte das tuas bandas favoritas. Esses discos que ele te trazia e mostrava, foi aí que te começaste a interessar pelo vinil, pela cassete, enfim, pelo bicho do coleccionismo que ainda hoje mantêns?

Este bichinho do vinil veio do meu pai! Ele colecciona há muitos anos discos de vinil! Tem uma colecção impressionante e muito variada, e cassetes também. Sempre tive o fascínio pelo disco de vinil, lembro-me perfeitamente do meu pai retirar o disco com todo o cuidado, colocar no gira discos e pôr a agulha, e depois aquele som característico da agulha a tocar no vinil. Era uma espécie de ritual.
Ele está sempre a dizer "o cd é descartável mas o vinil é eterno". Este gosto pelas tapes e pelo vinil foi aprofundado pelo meu primo depois, mas lá está, a "semente" já estava lá! Eu sinto-me privilegiado nesse aspecto pela educação musical que tive.

Para terminar em beleza, fala-nos um pouco do que gostas de ouvir, a ver se convertes uma malta à boa música e deixam o azeite para fins estrictamente culinários. Para tornar o exercício mental mais complicado se disseres bandas de Boston perdes!

Deixo então aqui um top 10 de bandas que oiço regularmente, excluindo as de Boston que eu não gosto de perder nem a feijões! Bad Brains, Agnostic Front. Black Flag, Cro-Mags, Minor Threat, Gorilla Biscuits, Youth of Today, Negative Approach, Antidote e Dead Kennedys.
Fora da cena punk hardcore oiço um pouco de tudo, não sou esquisito! Amo música! Posso ouvir um fado como a seguir uma "skazada" por exemplo, no que toca à parte musical não tenho barreiras. Descobri recentemente uma label de Nova Iorque chamada Putumayo que basicamente lança compilações de musicas de várias nações, regiões e diversos estilos musicais. Resumindo, música de todo o mundo. São mais de 319 álbuns! Supostamente no dia 31 deste mês vão lançar mais um registo! Há álbuns para todos os gostos, aconselho a escutarem.

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