quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Coisas Com História: Tied Down Records (Tiago Inês AKA Tofu)


Corria o ano de 2004 quando descobri por acaso no fórum da Bridge 9 uma banda chamada Tarpit. Tinham uma demo apenas: músicas a abrir, letras furiosas e mosh parts mesmo do tipo que dá vontade dum gajo partir tudo o que estiver à volta. Como na altura ligava mais a comprar tapes do que agora, confesso, tentei em todo o lado arranjar a bendita cassete, embora sem sucesso. Até que um dia apanhei o vocalista no AIM por acaso e o gajo me disse que estava esgotado, tinham feito muito poucas e que não iam fazer mais. Bummer!

"E agora? Não há a demo?" Faz-se uma editora! O primeiro lançamento já estava mais que decidido, obviamente. Entre planeamentos e idealizações da coisa, o tema calhou em conversa com o André num concerto no HardClub. Enquanto ele montava a banca do merch, falei-lhe do assunto. Eis senão quando me conta que ia lançar em breve a demo duma banda nova que “ia rebentar”. Nem foi preciso mais dizer nada, partners in crime, siga a marinha! Primeiro passo, o nome! Nem sequer tinha pensado nisso ainda, o André sugeriu Tied Down e ficou. Também não era nada do outro mundo, por isso até se podia chamar Discos Vitória e ter um perdigueiro como símbolo. Em seguida, o primeiro release, que já estava acordado – a demo de Tarpit.

Todo este projecto foi um pouco surreal, no mínimo. Antes de mais, falei com o vocalista da banda, contei-lhe o nosso plano e os gajos disseram que era na boa, nem pediram dinheiro nem nada, embora eu tivesse prometido pagar qualquer coisa, conforme corressem as vendas. Em seguida, arranjar a capa e o layout. Pedi-lhe se nos arranjava nem que fosse uma fotocópia e… “não tenho nada, nem sei onde arranjar isso”. Bonito serviço. Valeu-nos alguém na Alemanha estar a vender uma no eBay e o André ter conseguido por sorte apanhar o leilão onde tinha uma imagem da capa (que era a cena mais sem jeito de sempre, diga-se de passagem); quanto às letras, não me lembro se fizemos com insert ou não, se tinha originalmente ou não. Se houver por aí alguém que tenha ainda uma, diga de sua justiça.

Entretanto, para meu desconhecimento inicial, já havia mais um projecto na calha – a demo de Get Lost. Para quem não sabe, os Get Lost foram a banda pré-Broken Distance. Tocavam um hardcore tipicamente Boston style, uma espécie de Stop&Think com letras tipo American Nightmare. Os poucos concertos que vi deles foram brutais e, como muitas outras bandas boas, acabaram demasiado cedo. Não sei se o fim prematuro da banda se deveu inteiramente ao facto de haver uns GetXLost em França e ter dado algum estrilho porque eles queriam ir lá fora, mas é a ideia com que fiquei. Para mais esclarecimentos falem com o David.


Ora portanto, mal tínhamos arrancado com a ideia e já tínhamos 3 lançamentos na calha: Tarpit, Get Lost e No Forgiveness. Isto começava a tornar-se mais sério do que alguma vez tinha pensado… Com a parte dos artworks tratada e os masters áudio nas mãos, faltava a peça essencial: as cassetes. Depois de muito buscar, lá encontrámos uma fábrica que nos arranjava o que pretendíamos e com um custo que permitisse um preço de venda final acessível. Finalmente, tendo as cassetes em nossa posse, estávamos prontos para arrancar para a produção.

Escusado será dizer que foi o mais DIY e ao mesmo tempo “três pancadas” possível: papel colorido para as capas comprado na Staples, fotocópias feitas ao preço da chuva na papelaria da escola, gravar 50 demos durante numa tarde/noite no quarto uma a uma, com uma aparelhagem emprestada providenciada no próprio dia… tudo porque no dia a seguir tinha de entregar metade ao Adolfo (Standpoint/Step Out/Hard To Deal) para ele levar para o Porto e dar ao pessoal de No Forgiveness.

Depois das capas impressas, o primeiro stress – o layout não tinha as as dimensões certas e a capa ficava mais pequena que a dimensão da caixa. “Que se foda, é DIY.”


Minto, houve um lançamento mais três pancadas ainda, se bem que não tivesse o nosso cunho: a demo de Lockdown. Foi uma edição de autor/IOYN, 30 CDs copiados num gravador a 4x em casa do André durante a noite depois do concerto-fantasma de Black Friday ’29 no Porto. Isto porque no dia seguinte seria o primeiro concerto de Lockdown, em Campolide junto com os benditos alemães. Capas impressas num centro de cópias em Entrecampos uma hora antes do concerto começar e embalar as demos mais o Ricardo “Banana” no carro do João Moreira a caminho do concerto? Can’t beat the feeling…

Tapes gravadas e distribuídas, começa a promoção/vendas e o interesse foi tal que esgotámos tudo num ápice. Fiquei bué contente quando o David me falou a dizer que tinha ficado satisfeito com o resultado final que “tinha sido um dos melhores lançamentos feitos em Portugal”. Tendo em conta a forma como tudo foi tratado e os percalços que ocorreram, deu-me um gozo especial ter este feedback. Afinal de contas, foi meio às três pancadas, mas as pessoas gostaram e a ideia era fazer isto só para curtir.


O pouco lucro que fizemos das vendas iniciais deu para pagar a primeira t-shirt de No Forgiveness, edição especial para o primeiro concerto que iria marcar também o lançamento da demo. Não fizemos muitas, 15 ou 20 salvo erro, mas no final desse concerto já tinham sido todas vendidas. Depois de termos vendido tudo, o projecto acabou por estagnar. Em Setembro de 2006, os No Forgiveness deram o último concerto – por sinal o primeiro e único no Algarve – os Broken Distance já estavam em fase embrionária e fora dos nossos planos e a editora acabou.

Aquilo que nos propusemos foi simplesmente lançar umas demos, fazer umas tshirts e divertir-nos com o processo entre ir a concertos. Nunca planeámos ter lucro algum nem nos aproveitar de ninguém. Olhando para trás acho que o objectivo foi atingido.


1 comentário:

  1. acho que tenho la essa demo de No Forgivness em casa! e a shirt... deve andar algures em casa dos meus pais! crássico!

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