sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Entrevista: Inherit

Os Inherit são uma banda de Londres/Brighton que só descobri à relativamente pouco tempo, já depois do lançamento do seu primeiro ep. Com um som a ir buscar influências ao crossover dos anos 90, se querem uma intro pesadíssima com solo de guitarra não precisam de ir mais longe, basta ouvirem a "Ritual of Dissapearance". Especial atenção ao design do disco que está bom demais. Liderados pelo Adam Malik da The Essence, ainda este mês lançarão o seu novo ep, intitulado The Crushing Wheels of Samsara, a sair pela The Essence e pela Control Records da Bélgica.
Seguem algumas questões ao guitarrista da banda, Richard Shiner, o homem dos riffs, sobre a história dos Inherit, o novo disco e planos para o futuro.

© Lukasz Targosz
Antes de mais, a pergunta costumeira: como é que vocês se juntaram e com que objectivo nasceram os Inherit?

Os Inherit foram lentamente juntando-se e evoluindo nos últimos anos. Desde início o núcleo da banda tem sido o Adam na voz, o Dave Mayes na bateria e eu na guitarra. Nós os três temos sido a principal origem das músicas, letras, gravações, etc. Felizmente para nós, os nossos amigos Pat e Roman têm-nos querido ajudar na segunda guitarra e baixo quando é preciso tocar ao vivo ou ir em tour.

Como banda não temos assim grandes objectivos que nos propomos atingir. A principal razão por trás do aparecimento da banda surgiu quando tanto eu como o Adam achámos que não existiam bandas straight edge a tocar o tipo de som que queríamos que Inherit tocásse. Ambos temos gostos similares no que diz respeito às bandas clássicas do hardcore e até do metal, e achámos que seria interessante tentar combinar esses dois mundos. No início não olhávamos assim tanto mais para o futuro para além de lançar uma demo, pelo que estar a gravar um segundo 7" é um bónus.

Há alguns anos atrás, quando se ouvia falar de bandas do Reino Unido vinha logo à nossa cabeça a ideia daquelas bandas podres do Deathcore, ou pelo menos bandas mais pesadonas, a roçar o hardcore, para além de um punhado de bandas decentes. Ultimamente parecem ter aparecido um monte de bandas porreiras, pelo menos para um olho estrangeiro, não tão próximo das ilhas britânicas como isso. Como é que vês a cena Britânica, no que diz respeito a bandas, ao público e o sentimento geral?

Eu acho que o estado das coisas actualmente é definitivamente mais saudável que à algum tempo atrás. Acho que a malta está cada vez a olhar menos para o último hype norte-americano como inspiração ou como únicas bandas que vão ver ao vivo. Há muitas bandas novas, com sonoridades diferentes, e quem não está acerca do que se passa no Reino Unido, recomendo-vos a dar um olho às seguintes bandas - Abolition, Tremors, Think Twice, Iron Curtain, Wayfarer, Breaking Point, Tyburn, The Hard Way, Final Rage, Unholy Majesty, Frustration e The Harrowed. Os Knuckledust têm novo álbum a sair em breve e as faixas que já ouvi são incríveis.

© Lukasz Targosz
O ano passado fizeram uma tour europeia com passagens pela Bélgica, Alemanha e Polónia. Como é que correu? Algumas histórias porreiras que queiras partilhar?

A tour correu muitíssimo bem. Foi também a primeira tour a sério de Inherit e a primeira vez na Europa continental, pelo que foi uma boa oportunidade de tocar para pessoal que nunca tinha ouvido falar em nós. A maioria dos shows foram marcados por pessoal que já conheciamos, pelo que foi uma oportunidade de rever amigos, bem como fazer novos.

No que a histórias diz respeito, o concerto mais memorável foi sem dúvida o que o Bjorn de Get It Done nos marcou em Oberhausen. A sala era no bar de motards local, que estava situado num antigo bunker desactivado da Segunda Guerra Mundial. Todo o local tinha um granda vibe à Sons of Anarchy e estávamos um bocado cautelosos em lá tocar e incomodar a rotina da terça-feira à noite dos membros habituais. No entanto, a meio do set começámos a reparar em cada vez mais malta a sair da zona do bar e a vir ver-nos a tocar. No fim da noite já tinhamos o dono, que mais parecia uma montanha, a tentar convencer o Adam a beber o especial da casa. É claro que ele respeitosamente recusou a oferta...São concertos como aquele que fazem valer a pena as grandes viagens e todas as horas sem dormir, que é algo que está de mão dada com as tours.

Outro ponto alto que me vem à memória foi a ida à Polónia, a primeira vez para mim, e onde pude experiênciar em primeira mão a grande cena hardcore que eles lá têm. Infelizmente não deu para grandes visitas turísticas às cidades devido à grande distância das viagens. Mas toda a malta que lá conhecemos tinha uma grande atitude, e fiquei realmente espantado com a forma como nos encaravam após cada set, para além das reacções que lá tivémos.

Acima de tudo, foram dez dias muito bem passados, apesar de termos escolhido uma das semanas mais frias de sempre para ir até à Polónia e Alemanha de Leste. A maioria dos dias foram passados a conduzir entre paisagens cobertas de neve. O nosso condutor Mean Mike ajudou-nos imensamente, várias vezes na Polónia pensei que ficássemos presos na estrada durante a madrugada, mas ele conseguiu safar-nos sempre e meter a carrinha de volta à estrada.

Que planos é que a banda tem para o futuro? Sei que têm novo disco a sair em breve, mas que mais podes adiantar? Eu vou fazendo figas para uma tour com algumas datas no oeste europeu...ahah.

O nosso segundo 7", The Crushing Wheels of Samsara, vai sair no final de Setembro, e será um lançamento partilhado entre a The Essence da Polónia e a Control da Bélgica. Se tudo correr de acordo com o planeado, faremos um fim de semana com concertos na altura do Outbreak Fest em Sheffield para coincidir com o lançamento do disco.

Depois disso iremos até à Suécia para tocar alguns concertos em Outubro, e estamos a tentar tocar em tantos concertos quanto os nossos empregos permitirem. Por enquanto não temos planos para tocar na europa ocidental em 2012, mas seria algo a pensar em 2013.

Capa do novo disco, The Crushing Wheels of Samsara
Pois, eu sei que é complicado para as bandas chegarem tão longe. Talvez seja mais fácil apanhar-vos aí no Reino Unido ou no centro da Europa. Eu tinha planeado fazer umas quantas questões sobre o que esperar do novo disco, mas o vosso press release sobre o novo disco é bastante informativo.

Assim sendo, e pegando nas referências que deste na primeira questão, que bandas achas que mais contribuíram para o vosso som? Acho que é óbvio que há granda vibe na onda do Best Wishes de 'Mags, mas que bandas sentes que mais vos influênciam e são para ti favoritas?

Para mim é sempre uma surpresa quando a malta refere o Best Wishes de Cro-Mags quando nos tentam comparar a alguma banda. Obviamente que levo isso como um grande elogio, porque são uma grande banda e para mim esse é o melhor álbum deles. No entanto, não é algo que eu ache que nos tenha influênciado musicalmente quando escrevo as músicas de Inherit. A única hipótese que encontro terá de ser pelo meu estilo habitual de fazer os riffs e as letras ter sido moldado pelo final dos anos 80, que talvez tenha ouvido e sido influênciado pelas mesmas bandas que os Cro-Mags quando escreveram esse disco? Até porque o Crush The Demoniac basicamente pega no riff principal da Aces High the Iron Maiden, nota por nota, ahah. Acho que a maioria das bandas hardcore dos anos 80 e início de 90 com mais influências rock ou metal safam-se graças ao facto da maioria do pessoal que as ouvia não conhecia, nem conhece, as bandas às quais elas iam discretamente buscar o seu som.

Voltando à questão, eu sou sempre reluctante no que diz respeito a listar as banda que inspiram Inherit ou que me inspiram a mim, pois isso cria nas pessoas falsas espectativas sobre o que depois acabam por ouvir. Nesta altura é tão fácil ir à Internet e ouvir o som da banda que acho que é preferível dizer para elas o fazerem e criarem a sua própria ideia do que é que acabaram de ouvir. Para além disso, um dos meus novos ódios de estimação é ver bandas a darem listas enormes de bandas ou discos às quais soam , mas que depois acabam por não ter nada a ver com o que acabaram de listar como influência.

© Lukasz Targosz
Para terminar, tens algum conselho ou ideia que gostásses de deixar ao pessoal que pensa em se tornar mais activo dentro da cena hardcore, qualquer que seja a forma com o que o façam?

Eu sou sempre ligeiramente cauteloso no que diz respeito a dizer às pessoas a melhor maneira de serem activas no hardcore, pois uma das razões principais que atraíram nele foi acima de tudo o lado do it yourself e o facto de encontrares tu próprio uma maneira de fazer as coisas. Com isto em mente, se eu tivésse de dar um conselho a alguém que tivésse acabado de descobrir o hardcore e quisésse ter um papel mais activo seriam simplesmente dizendo-lhe para começar alguma cena. Pode ser qualquer coisa, desde marcar concertos, a fazer parte de uma banda ou a escrever fanzines. Tentem não se preocupar muito com a qualidade delas, pois eu sei que os primeiros números da fanzine que fiz não eram nada de jeito, nem as primeiras bandas em que toquei o eram.

Das três coisas que listei em cima, decididamente encorajava-vos a fazer uma fanzine, porque eu acho que são um aspecto muito importante no hardcore que tem estado a desaparecer nos últimos anos. Um blog ou um site são fixes, mas nada ganha a um zine impressa. Para além disso, quando o host do site expirar, ou quando o blog deixar de ser actualizado essas coisas tendem a desaparecer, e o seu contéudo perde-se.

Bom, para acabar, obrigado Tiago pela entrevista e se alguém ainda não nos ouviu e gostava de o fazer visite-nos no bandcamp. Para informação sobre concertos e tudo isso, temos uma página no facebook e um tumblr.

Sem comentários:

Enviar um comentário