segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Review: Overpower Overcome #4



Nunca fiz uma review de uma zine, por isso nem sei bem como começar, mas se tivésse de escolher uma para fazer review era mesmo esta. Começando pela história, esta zine fez Lisboa-Porto-Londres-Argel-Ghardaia até eu começar a lê-la. Pode-se dizer que é uma zine viajada e que a li integralmente no deserto, as fotos comprovam-no. Acho que dos números anteriores só li o primeiro. Lembro-me que houve uma com um poster do Benfica que - por razões óbvias - boicotei, olha a merda. À parte de alguns erros ortográficos aqui e ali, bem como algumas das páginas com muito texto (de um lado ao outro da página, sem estar dividido por colunas) que dificulta um pouco a leitura, no que interessa não falha: conteúdo. Na introdução dá logo para perceber o amor e dedicação com que é feita, coisa que é de valorizar numa era em que tudo é de plástico.

A zine começa com uma rubrica que me despertou muita curiosidade: uma secção com fotos do Valter Simões e comentários dele sobre as mesmas, sobre o que sentiu quando as tirou. Li com muito interesse porque, verdade seja dita, nunca percebi como é que alguém que gosta de hardcore consegue estar um concerto inteiro a olhar pela objectiva, sem curtir o concerto. É algo que não me cabe na cabeça, mas ainda bem que temos pessoas como ele senão depois não haviam fotos do Cabeças a voar por cima da malta. Espero que o Congas continue com esta rubrica, é bastante interessante e nunca tinha visto nada do género em zines cá na tuga.

Segue-se um texto do meu brother Emanuel “Words of Hate” wifebeater Matos, que fala sobre a facilidade em obter informação sobre bandas, sobre os downloads estarem a dois clicks de distância, e sobre como isso influencia negativamente o sentido de comunidade no hardcore. O Ema pegou no que tinha e deu tudo à Juicy, lutando contra este conformismo de que fala. Um texto inspirador que espero que vá ter algum impacto na malta mais nova na cena, para que façam algo para além de moldar o sofá ao formato do cú.

O texto que nos aparece logo de seguida é um texto mais sério e no qual fiquei a reflectir durante um bocado. É um texto do Congas onde explica porque vai deixar de fazer concertos. Neste aspecto temos de ser realistas. Portugal está na merda. Na merda mesmo. Cada vez é mais fodido as famílias terem guito para comer, pagar contas, pagar casas, etc. É normal que isto tenha algum impacto na quantidade de gente que vai aos concertos, é normal que mais vezes dê buraco. Trazer bandas de fora é sempre um risco e grande parte das vezes não corre bem. Portugal tem uma boa quantidade de gente que vai a concertos, mas por vezes há três concertos numa semana. É muito? Não, mas fica muito caro para quem vai a todos. Se falarmos de Londres ou de Berlim, podemos ter uma semana em que há concertos em todos os sete dias da semana, e então? A malta tem guito para os ir ver e vão todos estar ao barrote. Preferia que houvesse menos concertos de bandas internacionais em Portugal mas que os que houvesse fossem mesmo bons. Em vez de trazer tantas bandas de fora, podemos apostar mais nos concertos apenas com bandas nacionais. Há bandas em Portugal com muito mais valor que muitas bandas que às vezes trazem. Se tiverem amigos que têm uma casa grande, falem com os pais deles e façam um concerto em casa, assim não pagam o espaço.

O Congas escreve logo depois outro texto sobre o que mudou durante dez anos de hardcore. Escreve não, tinha escrito. É um texto que já tinha sido publicado na RocknHeavy há uns tempos, mas segundo o autor com bastante actualidade. Tem algumas histórias interessantes de coisas que aconteceram back in the days e foi uma leitura agradável. 

Pausa para descer uma duna a escorregar.

Entrevista aos All For Nothing. Desculpa aí Congas, mas esta foi só encher chouriço. Nem tanto da tua parte, mas da parte da miúda que respondeu. As respostas são fraquinhas, pequenas, e sem muito sumo depois de espremer. Nunca ouvi a banda e não fiquei com curiosidade para. Se estiver a perder algo de bom digam-me.

Chamem-me homem das cavernas, digam que vivo debaixo de um calhau, mas nem sabia que a Backwash Recs era do Tiago e que já tinha lançamentos em cassete. Ganda falha, mas compreendam um gajo, entre a Palestina e a Argélia, com ligações de net de 56k, é complicado chegar a informação toda. Gostei da entrevista, o Tiago é um miúdo à maneira e não o deixem ficar com cassetes por vender.
Segue-se uma entrevista aos Challenge, outra banda que nunca ouvi nem vi. Penso que só começaram a dar concertos depois de eu sair de Portugal por isso nunca consegui apanhá-los ao vivo. No entanto do que tenho visto de fotos de concertos tem corrido bem para eles, ainda bem. Depois de ler a entrevista fiquei com bastante vontade de botar atenção neles, props por manterem viva a cena das Caldas.
Bem, ler esta zine foi um pouco reality check para mim. Se calhar estou a ficar um pouco comodista como o Ema disse no texto dele, mas também ainda não dei uma ouvidela no trabalho dos Northern Blue. 

Sempre gostei de Day of the Dead e o Gaiola é um grande amigo meu, lembro-me de ouvir umas cenas que ele me mostrou há uns tempos quando a banda ainda estava no início, mas não cheguei a ouvir o resultado final. A ver se compro a cena quando estiver com ele agora em Portugal. Pelas iniciais acho que foi o Nuno que respondeu (e bem) à entrevista, um dos meus companheiros de bola em Alvalade até ao ano passado, antes de eu ter dado uma de emigrante. Abraço para ti.

A entrevista de Look My Way não deu mesmo. Permitam-me um pouco de trash talk. Na terceira pergunta o Congas pergunta sobre as trends andarem em círculos e diz que os miúdos apenas ouvem cenas melódicas, ao que o rapaz responde que hoje em dia quer tudo ser tough e andam de boné e etc. Depois olhei para as fotos da banda e estão todos com ar de tough e de boné. Soltei uma risada e virei a página. Talvez numa próxima oportunidade.

O André escreveu um livro sobre a sua descidada costa oeste dos Estados Unidos em pouco mais de duas semanas e é sobre isso a entrevista que se segue. Para quem leu o livro, este é um complemento perfeito visto que algumas das histórias que são retratadas na história estão aqui mais desenvolvidas, por exemplo o concerto de Agnostic Front. Para além disso, há perguntas sobre a vida no UK (o André vive em Londres há cinco anos), a adaptação a uma vida fora de Portugal, e a próxima viagem do André, uma volta ao mundo de ano e meio. Estive com ele aqui na Argélia há uns dias e por isso foi apenas (outra vez) um complemento ao que já sabia. Muita força para o planeamento dessa viagem e aguardo ansiosamente o livro que aí vem. Ponham os olhos no exemplo, façam a mala e vão ver o mundo. Vale a pena.

A zine termina com uma review “roubada” a este mesmo blog, que já tinha lido. Como quem está a ler isto já está na página, não vale a pena fazer pub ao blog. Congas, boa cena ainda teres estes amor pelas zines. Continua com a Overpower Overcome e eu prometo que a vou continuar a ler, desde que não me inpinjas mais cenas do Benfica, dá-me descanso à cabeça. Não deixes isto morrer como o Diogo deixou a Wake up and Live. Força!


Review escrita pelo viajante do deserto João Fonseca AKA Grande PZ Master. O quê? O PZ lançou um livro sobre o tempo que passou na Palestina. A leitura do Inverno? Possível, possível. Comprem aqui, fácil e barato.


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