Aqui segue a terceira e última parte da entrevista ao João Fonseca, sendo que à data da sua publicação já estarei na Argélia a fazer-lhe companhia. Quem ainda não o fez, fica desde já a saber que a maioria das cópias do livro que o PZ vai lançar têm voado das prateleiras, pelo que é melhor apressarem-se se quiserem possuir o livro. Podem encomendá-lo aqui.
Ainda que eu saiba a resposta a esta, acho que era interessante explicares um pouco do processo desde decidir lançar o livro até o ter cá fora. Sei que não é um caminho fácil, mas é um extremamente interessante.
Que objectivos tens ou pretendes atingir com a venda do livro. Vai haver mais? Que outras aventuras tens na calha para nos apresentar futuramente, caso seja esse o caso?
Se pudesses escolher um destino qualquer no mundo inteiro para fazeres o teu próximo estágio profissional, qual seria e porquê? Tem em conta que tem de ter alguma coisa a ver com a tua área, senão seria só férias!
Achas que a viagem te mudou de alguma forma?
Mesmo que não tenha sido pessoalmente (o que também acredito que tenha
acontecido), talvez por dentro, em relação à forma como vez o mundo e encaras
uma realidade que antes tomavas por garantida.
Sem qualquer dúvida que
sim, em todos os aspectos. Para além de ter mudado a minha forma de ver o
mundo, foi também um grande crescimento a nível pessoal. Como sabes, foi a
primeira vez que vivi fora da zona de conforto da casa dos meus pais. Sou de
Almada, tirei o curso em Lisboa e como tal nunca tive necessidade de viver
fora. Para além disso, mudou muito a minha forma de ver o mundo. Quando soube
que o estágio ia ser na Palestina fiquei de pé atrás porque não sabia até que
ponto iria ser rico em termos de experiência pessoal, em termos de ter algo
para fazer para além do trabalho. Estar na Palestina ensinou-me que seja qual
for o país para onde vais, hás-de ter sempre algo de fixe para ver, para fazer,
para conhecer.
O povo palestiniano surpreendeu-me muito pela positiva,
tratam-te mesmo bem, ao ponto de até achares demais porque não fizeste nada
para merecer tal tratamento. Percebi também que muitos dos problemas que às
vezes temos no mundo dito civilizado são peanuts comparado com os problemas que
há para o povo palestiniano, e mesmo assim eles vivem a vida de sorriso na
cara. Fez-me questionar muitas das coisas que me incomodam e acho que me tornou
uma pessoa mais consciente. Num último registo, mudou a minha forma de encarar
o futuro em termos de viagens. Foi o primeiro país assim fora de rotas
turísticas onde fui e sei que agora só vou parar quando tiver o mapa mundo todo
pintado.
Ainda que eu saiba a resposta a esta, acho que era interessante explicares um pouco do processo desde decidir lançar o livro até o ter cá fora. Sei que não é um caminho fácil, mas é um extremamente interessante.
Bom, houve várias razões
que me levaram a escrever o livro. Ponto um, queria ter um registo para mais
tarde poder ler e recordar não só como foi a viagem mas também o que senti na altura.
Confesso que tirei grande inspiração do livro que o Nuno Sousa lançou em
conjunto com a Juicy Records, fez-me ver que com algum esforço e dedicação
coisas que nunca antes pensaste são possíveis. No entanto, ao contrário do
Nuno, pensei desde o início em escrever para lançar um livro (para quem não
sabe, o Nuno escreveu um blog cujos posts foram posteriormente compilados em
livro, juntamente com desenhos de sua autoria). Outra questão que me motivou a
avançar com este projecto foi o facto de não ter encontrado nada do género para
a Palestina.
Antes de ir procurei relatos de viagens pela Palestina e não há
nada de nada. Pensei que poderia ser um registo interessante para quem quisesse
visitar a Palestina depois de mim (coisa que de facto já aconteceu: um rapaz do
Porto, há certa de dois meses, mandou-me um e-mail a dizer que ia fazer o mesmo
estágio que eu e mandei-lhe o rascunho que tinha do livro na altura, que
segundo ele foi uma grande ajuda). Finalmente, a questão monetária. Eu fiz um
estágio remunerado, mas a remuneração eram 100 euros mensais. Bem, ao ritmo de
viagens a outras cidades que eu andava a fazer, para pouco mais de uma semana
chegava. Bota-lhe em cima mais uns 500 euros de voos que sairam do meu bolso,
um seguro contra todos os riscos para todo o estágio e mais um ou outro
imprevisto. O livro vai ser uma forma de recuperar algum do dinheiro que
gastei, para além de ser uma boa maneira de contar a história à família e
amigos.
O processo de escrever o
livro comecei-o logo na Palestina. Como tinha muito tempo livre no trabalho,
fui escrevendo algumas coisas. No entanto, só o acabei de escrever aqui na
Argélia, quase um ano depois.
Pedi uns conselhos ao Ema, pedi-te outros a ti (já
agora, para quem está a ler e não sabe, o André tem um livro bastante
interessante sobre a sua descida da Costa Oeste dos EUA em 14 dias), e editei o
livro todo, paginação, divisão por capítulos, etc. Pareceu que estava a recuar
no tempo e que estava de novo na universidade, a escrever a tese de mestrado,
mas desta vez sobre uma coisa que me dava mesmo motivação. Como não percebo
nada disso, a capa ficou a cargo do meu amigo Rui Gaiola e adoro o resultado
final. Os livros estão neste momento a ser impressos nos Estados Unidos, por
isso vou pagar mais uma batolada de portes e taxas de alfândega, mas no fim do
dia sei que vai valer a pena o esforço.
Que objectivos tens ou pretendes atingir com a venda do livro. Vai haver mais? Que outras aventuras tens na calha para nos apresentar futuramente, caso seja esse o caso?
Ooops, já respondi um bocadinho a isto na
resposta anterior, a parte dos objectivos. Sem crise. Resumindo-os de novo:
ficar com um registo para mim, serviço público a quem for à Palestina, recuperar
dinheiro que gastei e contar a história aos amigos. Se vão haver mais livros?
Não sei, mas espero que sim. Quando vim agora para a Argélia pensei em fazer o
mesmo, uma espécie de diário, mas como a estadia é três vezes maior e a minha
vida tem um carácter mais rotineiro, depressa percebi que não ia dar. Talvez
compile no fim as melhores histórias ou as melhores viagens (já tenho umas
quantas). Como já disse também anteriormente, espero conseguir visitar a maior
parte do mapa mundo que conseguir, e, sempre que se justificar, podes contar
com um relato escrito.
Se pudesses escolher um destino qualquer no mundo inteiro para fazeres o teu próximo estágio profissional, qual seria e porquê? Tem em conta que tem de ter alguma coisa a ver com a tua área, senão seria só férias!
Fogo só posso escolher um? É injusto.
Podem ser três? OK, Obrigado. Escolhia a China, depois a Austrália e depois um
qualquer país da América do Sul sem ser o Brasil. Tanto a China como a
Austrália são países muito fortes na minha área profissional e com boas
oportunidades de emprego, isto aliado ao factor turismo, são países que me
atraem muito e onde quero ir quanto antes. A América Latina fascina-me também
pelos mesmos motivos de turismo, mas em termos de sistemas de transportes são países
onde face às necessidades e às limitações financeiras se fazem coisas muito
inteligentes. Gostava muito de ter a oportunidade de trabalhar no Chile, ou no
Equador, ou na Colômbia. Vamos ver como corre o futuro.
Para já, vou para a
Dinamarca em Novembro ter com a minha cara metade e procurar um trabalho que me
permita viver lá e juntar uns cobres ao fim do mês para as próximas aventuras.
Ela tem o mesmo espírito de aventura e viver em vários países está nos planos
também, quando se tem alguém com quem dividir as experiências e no mesmo
comprimento de onda é bem melhor.
Por fim, que recomendação dás a todos aqueles
que por preguiça nunca mexeram o rabo para ir viajar ou tiveram receio de fazer
Erasmus ou um estágio profissional fora do país? Partilha um pouco da tua
sabedoria árabe!
Epah, se o motivo de não
terem mexido o rabo for mesmo preguiça... Manquem-se. Acordem! Desliguem a tv e
saiam do sofá. Mas acredito que não haja quem faça isso por preguiça. Portugal
está cada vez mais complicado para juntar uns trocos e ir viajar, eu sei. Não
tenham medo do desconhecido, porque a maior parte das vezes é bem mais
tranquilo do que o imaginamos. Vençam os vossos complexos e medos, ou receios
ou preconceitos e ideias pré-concebidas. Qualquer, repito, qualquer país do
mundo vai ter algo de bom e positivo para vos dar. Se tiverem oportunidades de
trabalho no estrangeiro, agarrem-nas com as duas mãos (ou com mais mãos, se
tiverem). O mundo está lá fora à espera e o relógio do vosso tempo de vida não
vai parar ou andar para trás. E depois de viajarem não guardem só para vocês.
Escrevam textos, façam blogs, e se quiserem ter um granda trabalhão, escrevam
um livro. Eu sou o primeiro a comprá-lo.
Queria aproveitar este
tempo de antena final para agradecer-vos a vocês, André e Tiago, pela
oportunidade dada nesta entrevista. Queria também dar-vos os parabéns pelo
blog. Nunca fui de seguir blogs porque facilmente me aborrecem, mas vocês
conseguiram mesmo fazer algo de especial aqui. Boas ideias nas diferentes
rúbricas, conteúdo interessante, e uma escrita que agarra qualquer leitor.
Força, não deixem isto morrer.
Perfect! nada a apontar, so sei que me deu um gozo enorme ler isto tudo!
ResponderEliminarObrigado!