terça-feira, 9 de outubro de 2012

À Conversa Com... João Fonseca (ou PZ, para os amigos) - Parte III

Aqui segue a terceira e última parte da entrevista ao João Fonseca, sendo que à data da sua publicação já estarei na Argélia a fazer-lhe companhia. Quem ainda não o fez, fica desde já a saber que a maioria das cópias do livro que o PZ vai lançar têm voado das prateleiras, pelo que é melhor apressarem-se se quiserem possuir o livro. Podem encomendá-lo aqui.



Achas que a viagem te mudou de alguma forma? Mesmo que não tenha sido pessoalmente (o que também acredito que tenha acontecido), talvez por dentro, em relação à forma como vez o mundo e encaras uma realidade que antes tomavas por garantida.

Sem qualquer dúvida que sim, em todos os aspectos. Para além de ter mudado a minha forma de ver o mundo, foi também um grande crescimento a nível pessoal. Como sabes, foi a primeira vez que vivi fora da zona de conforto da casa dos meus pais. Sou de Almada, tirei o curso em Lisboa e como tal nunca tive necessidade de viver fora. Para além disso, mudou muito a minha forma de ver o mundo. Quando soube que o estágio ia ser na Palestina fiquei de pé atrás porque não sabia até que ponto iria ser rico em termos de experiência pessoal, em termos de ter algo para fazer para além do trabalho. Estar na Palestina ensinou-me que seja qual for o país para onde vais, hás-de ter sempre algo de fixe para ver, para fazer, para conhecer. 

O povo palestiniano surpreendeu-me muito pela positiva, tratam-te mesmo bem, ao ponto de até achares demais porque não fizeste nada para merecer tal tratamento. Percebi também que muitos dos problemas que às vezes temos no mundo dito civilizado são peanuts comparado com os problemas que há para o povo palestiniano, e mesmo assim eles vivem a vida de sorriso na cara. Fez-me questionar muitas das coisas que me incomodam e acho que me tornou uma pessoa mais consciente. Num último registo, mudou a minha forma de encarar o futuro em termos de viagens. Foi o primeiro país assim fora de rotas turísticas onde fui e sei que agora só vou parar quando tiver o mapa mundo todo pintado.

Ainda que eu saiba a resposta a esta, acho que era interessante explicares um pouco do processo desde decidir lançar o livro até o ter cá fora. Sei que não é um caminho fácil, mas é um extremamente interessante.

Bom, houve várias razões que me levaram a escrever o livro. Ponto um, queria ter um registo para mais tarde poder ler e recordar não só como foi a viagem mas também o que senti na altura. Confesso que tirei grande inspiração do livro que o Nuno Sousa lançou em conjunto com a Juicy Records, fez-me ver que com algum esforço e dedicação coisas que nunca antes pensaste são possíveis. No entanto, ao contrário do Nuno, pensei desde o início em escrever para lançar um livro (para quem não sabe, o Nuno escreveu um blog cujos posts foram posteriormente compilados em livro, juntamente com desenhos de sua autoria). Outra questão que me motivou a avançar com este projecto foi o facto de não ter encontrado nada do género para a Palestina. 

Antes de ir procurei relatos de viagens pela Palestina e não há nada de nada. Pensei que poderia ser um registo interessante para quem quisesse visitar a Palestina depois de mim (coisa que de facto já aconteceu: um rapaz do Porto, há certa de dois meses, mandou-me um e-mail a dizer que ia fazer o mesmo estágio que eu e mandei-lhe o rascunho que tinha do livro na altura, que segundo ele foi uma grande ajuda). Finalmente, a questão monetária. Eu fiz um estágio remunerado, mas a remuneração eram 100 euros mensais. Bem, ao ritmo de viagens a outras cidades que eu andava a fazer, para pouco mais de uma semana chegava. Bota-lhe em cima mais uns 500 euros de voos que sairam do meu bolso, um seguro contra todos os riscos para todo o estágio e mais um ou outro imprevisto. O livro vai ser uma forma de recuperar algum do dinheiro que gastei, para além de ser uma boa maneira de contar a história à família e amigos.
O processo de escrever o livro comecei-o logo na Palestina. Como tinha muito tempo livre no trabalho, fui escrevendo algumas coisas. No entanto, só o acabei de escrever aqui na Argélia, quase um ano depois. 

Pedi uns conselhos ao Ema, pedi-te outros a ti (já agora, para quem está a ler e não sabe, o André tem um livro bastante interessante sobre a sua descida da Costa Oeste dos EUA em 14 dias), e editei o livro todo, paginação, divisão por capítulos, etc. Pareceu que estava a recuar no tempo e que estava de novo na universidade, a escrever a tese de mestrado, mas desta vez sobre uma coisa que me dava mesmo motivação. Como não percebo nada disso, a capa ficou a cargo do meu amigo Rui Gaiola e adoro o resultado final. Os livros estão neste momento a ser impressos nos Estados Unidos, por isso vou pagar mais uma batolada de portes e taxas de alfândega, mas no fim do dia sei que vai valer a pena o esforço.

 
Que objectivos tens ou pretendes atingir com a venda do livro. Vai haver mais? Que outras aventuras tens na calha para nos apresentar futuramente, caso seja esse o caso?

Ooops, já respondi um bocadinho a isto na resposta anterior, a parte dos objectivos. Sem crise. Resumindo-os de novo: ficar com um registo para mim, serviço público a quem for à Palestina, recuperar dinheiro que gastei e contar a história aos amigos. Se vão haver mais livros? Não sei, mas espero que sim. Quando vim agora para a Argélia pensei em fazer o mesmo, uma espécie de diário, mas como a estadia é três vezes maior e a minha vida tem um carácter mais rotineiro, depressa percebi que não ia dar. Talvez compile no fim as melhores histórias ou as melhores viagens (já tenho umas quantas). Como já disse também anteriormente, espero conseguir visitar a maior parte do mapa mundo que conseguir, e, sempre que se justificar, podes contar com um relato escrito.

Se pudesses escolher um destino qualquer no mundo inteiro para fazeres o teu próximo estágio profissional, qual seria e porquê? Tem em conta que tem de ter alguma coisa a ver com a tua área, senão seria só férias!

Fogo só posso escolher um? É injusto. Podem ser três? OK, Obrigado. Escolhia a China, depois a Austrália e depois um qualquer país da América do Sul sem ser o Brasil. Tanto a China como a Austrália são países muito fortes na minha área profissional e com boas oportunidades de emprego, isto aliado ao factor turismo, são países que me atraem muito e onde quero ir quanto antes. A América Latina fascina-me também pelos mesmos motivos de turismo, mas em termos de sistemas de transportes são países onde face às necessidades e às limitações financeiras se fazem coisas muito inteligentes. Gostava muito de ter a oportunidade de trabalhar no Chile, ou no Equador, ou na Colômbia. Vamos ver como corre o futuro. 

Para já, vou para a Dinamarca em Novembro ter com a minha cara metade e procurar um trabalho que me permita viver lá e juntar uns cobres ao fim do mês para as próximas aventuras. Ela tem o mesmo espírito de aventura e viver em vários países está nos planos também, quando se tem alguém com quem dividir as experiências e no mesmo comprimento de onda é bem melhor.

Por fim, que recomendação dás a todos aqueles que por preguiça nunca mexeram o rabo para ir viajar ou tiveram receio de fazer Erasmus ou um estágio profissional fora do país? Partilha um pouco da tua sabedoria árabe!

Epah, se o motivo de não terem mexido o rabo for mesmo preguiça... Manquem-se. Acordem! Desliguem a tv e saiam do sofá. Mas acredito que não haja quem faça isso por preguiça. Portugal está cada vez mais complicado para juntar uns trocos e ir viajar, eu sei. Não tenham medo do desconhecido, porque a maior parte das vezes é bem mais tranquilo do que o imaginamos. Vençam os vossos complexos e medos, ou receios ou preconceitos e ideias pré-concebidas. Qualquer, repito, qualquer país do mundo vai ter algo de bom e positivo para vos dar. Se tiverem oportunidades de trabalho no estrangeiro, agarrem-nas com as duas mãos (ou com mais mãos, se tiverem). O mundo está lá fora à espera e o relógio do vosso tempo de vida não vai parar ou andar para trás. E depois de viajarem não guardem só para vocês. Escrevam textos, façam blogs, e se quiserem ter um granda trabalhão, escrevam um livro. Eu sou o primeiro a comprá-lo.

Queria aproveitar este tempo de antena final para agradecer-vos a vocês, André e Tiago, pela oportunidade dada nesta entrevista. Queria também dar-vos os parabéns pelo blog. Nunca fui de seguir blogs porque facilmente me aborrecem, mas vocês conseguiram mesmo fazer algo de especial aqui. Boas ideias nas diferentes rúbricas, conteúdo interessante, e uma escrita que agarra qualquer leitor. Força, não deixem isto morrer.

1 comentário:

  1. Perfect! nada a apontar, so sei que me deu um gozo enorme ler isto tudo!

    Obrigado!

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